Narrador: Onisciente

O que aquilo queria dizer? Jack ficou paralisado. Ele voltou? Como poderia ter voltado? Não, isso seria impossível.

—Noel!- gritou se levantando em um rompante e correndo até o escritório do bom-velhinho. Ainda estava aos berros quando escancarou a porta. -Noel!!!

—Meu bom menino Jesus, que susto!- Exclamou levando a mão esquerda ao peito. Ele estava sentado em sua poltrona atrás da mesa repleta de brinquedos, papeis e alguns globos de neve.

—Noel o que raios significa isso?-  O garoto falou abanando o velho caderno perto do rosto.

A expressão do senhor do natal ficou séria.

—Você finalmente acabou a leitura, – constatou- significa, Jack, que você voltou.

—Voltei? O que isso quer dizer? Como seria possível?

—Sente-se, meu jovem, temos muito a conversar.

Jack puxou uma cadeira, mas não conseguia ficar quieto. Parecia que o assento estava com formigas e o menino não parava de se mexer. A ansiedade o enlouquecia.

—Quer um chocolate quente?

—Ah, pela lua, fale logo Norte!

Noel nunca vira o amigo assim. Pela primeira vez assistia à um Frost sério, sem um pingo de humor ou ironia no rosto. Sua expressão só revelava tensão. O velhinho não sabia o que entender disso e, pelo Homem da Lua, não esperava ter de lidar com corações partidos tantos séculos desde que ele próprio deixara de ser jovem.

—Veja bem, - começou com cuidado- existe um meio de voltar.

—O que quer dizer?

—Há alguns anos eu desenvolvi os meus globos de neve, esses mágicos que nos levam a qualquer lugar no mundo... sabe, Jack, eu já fui bem mais ambicioso e nessa época eu quis fazer algo diferente. Eu quis criar um globo que...

—... viajasse no tempo. – Completou Frost.

—Isso. Você entendeu rápido, hem? Há, há. Contudo a magia utilizada é muito forte e eu só consegui criar dois. Um que usei há muito tempo para visitar uma pessoa que ficou no meu passado- Noel riu de um jeito estranho- e outro que ainda guardo.

—Isso quer dizer que posso voltar. Posso ver Elsa e me desculpar. - O garoto se levantou em um pulo e abriu o maior sorriso que Norte já vira em toda a sua vida ( que não era pequena, vale ressaltar...) . Ele começou a andar de um lado para o outro no cômodo fazendo planos- Ah, Norte, isso será maravilhoso! Eu posso ficar com ela, posso mudar tudo, posso cuidar dela, nada vai nos separar de novo. Nada!

—Jack...

—Mas temos de arrumar alguém para ajudar aqui. Não posso largar o meu posto de guardião, posso? Como as crianças se divertirão durante o inverno, como posso cuidar delas? Ah, mas deve ter um jeito, precisamos falar com o Coelhão, a Fada e o Sandman também.

—Jack...

—Eu sei Noel, precisamos pensar nisso com calma, mas tenho de dar um jeito. Preciso dar um jeito.

—Jack, você não pode ficar com a Elsa.

Silêncio.

—Claro que posso. O que está dizendo? Você disse que tem um globo mágico que vai me levar de volta, não é?

—Frost, sente-se.

Jack parou bruscamente e, meio a contragosto, sentou.

— Meu globo pode lhe levar lá. Mas você não pode ficar. Naquela época você já existia congelado ou não, não sei se já havia despertado, e não pode haver dois Jack Frosts no mesmo período. Isso causaria uma confusão no espaço-tempo.

—Mas...

—Não tem "mas" Jack. Eu posso lhe mandar para lá. Você vai. Porém não poderá ficar para sempre. Em três dias, contando com o que você chegou, o portal que lhe levou o trará de volta, nem que seja a força. Você não pode existir duas vezes em uma mesma época.

Jack ficou mudo. Então ele não poderia ficar com ela, ele não poderia...

—O que me leva a pergunta: você quer mesmo voltar?

O garoto o fitou confuso e Noel suspirou.

—Você vai vê-la sim, mas também a perderá pela segunda vez. Está preparado para isso?

O menino travou. Ele teria de dizer adeus antes mesmo de matar as saudades, ele teria de quebrar a promessa de novo. Estava preparado para isso? Estava disposto a deixa-la pela segunda vez?

—E se...- começou hesitante- eu a trouxer para a nossa época?

—O quê?

—Ela não existe aqui. Não terão duas Elsas vagando pelo nosso tempo.

—Sim, Jack, mas ela é humana, o portal do tempo a destruiria. Acredite-me... tentei uma vez. Não me pergunte, não quero falar sobre isso. – O semblante do velho ficou triste. - E também não quero que você carregue a culpa por matar a pessoa que ama, pois é isso que vai acontecer se aquela Rainha entrar no portal. Mesmo tendo poderes a Elsa não é imortal.

Silêncio.

— Guardião, a escolha é difícil, mas tem de ser feita por você. Quer vê-la mais uma vez? Eu lhe mandarei para um ano depois da confusão de Arendelle. Você deve ter lido no diário, o rapaz Hans tentando usurpar o trono e etc... não posso garantir o dia em que chegará lá, mas definitivamente verá a Elsa.

—Por que não posso voltar na época em que morri? Seria como se nunca a tivesse deixado.

—É muito perigoso. Aquela época moldou os grandes momentos futuros de Elsa. Se mudarmos essa parte todo o resto pode mudar. Elsa pode mudar e com isso a história. Por exemplo, se você voltar naquela época e, juntos, você continuar a fazer o trabalho de ajuda-la a se envolver com as pessoas, ela pode dar uma chance a irmã. Na coroação ela não fugiria, Anna nunca conheceria Kristoff, Olaf não nasceria e o curso de Arendelle e do mundo poderia mudar drasticamente.

—Como sabe tanto sobre a vida dela?

—Eu li o diário, já disse. Na época não sabia que o Jack que ela citava era você. Ora, só entendi isso quando você chegou todo choroso aqui.

Mais silêncio.

—E por que um ano depois?

—Bom, nesse ano não aconteceu nada demais em Arendelle. Foi um ano calmo, exceto pelo desaparecimento de Elsa no fim e isso, eu acho, você poderá me explicar quando voltar. Fiquei muito curioso.

—E se eu for parar no momento em que ela desapareceu? Não a verei.

— Então, eu tenho certeza que você poderá encontrá-la.

—Ninguém conseguiu pelo que você disse.

—Nenhum deles tinha poderes como ela ou entendia tão bem seu coração. Sinto em minha barriga que você vai achá-la, se for o caso.

Os dois riram.

—E então, Frost, qual é a sua decisão?

Jack pensou. Não queria passar pela dor de ter de deixá-la de novo, perder a mulher que ama pela segunda vez, contudo...

—Tenho de explicar. Dizer no mínimo adeus.

Noel assentiu.

—Então vamos começar os preparativos. Ah Jack, quase ia me esquecendo. Você vai ter um grande desafio nessa viagem.

—Mais um?

O velho riu.

—Sim, você tem de fazê-la acreditar.

—Como assim?

—Elsa não é mais criança, na verdade é uma mulher feita. Como ela acreditaria no guardião da diversão? E se...

—... ela não acreditar não poderá me enxergar.

—Exatamente! É meio chato esse seu recém-tique por terminar as minhas frases, porém fico satisfeito em ver que entendeu tudo rápido. - Sorriu caminhando até a porta do escritório. Jack o seguiu.

— Eu vou fazê-la acreditar, Noel- O velho se virou para o rapaz e surpreendeu-se ao vê-lo com um sorriso enorme e alegre. Seus olhos brilhavam. - Eu vou fazê-la acreditar e quando isso acontecer...

—... vai compensa-la por todos esses séculos e nunca mais esquecê-la.

—Agora foi você quem completou minha frase. - O senhor do natal sorriu dando de ombros e Jack sentiu um frio na barriga ao pensar que veria Elsa de novo.