Narrador: Elsa

Muito, muito, muito tempo atrás...

Olhei para o nada pela décima vez em somente meia hora. Tentava escrever em meu diário, porém, ao invés disso, me pegava o tempo inteiro lendo o que já havia escrito. Voltei quase um ano de existência, até aqueles relatos de quando fugi de minha própria coroação, quando quase me mataram, quase matei minha irmã e congelei meu reino.

O amor me salvou. De novo.

Não queria, mas à medida que folheava às páginas era impossível não lembrar. O amor dele também me salvou, mesmo que por apenas um período.

Não desejava recordar. Odiava pensar naqueles dias antes de tudo virar um pesadelo. Acho que porquê Jack fora meu paraíso em meio ao inferno. O tempo que passei com ele tinha sido um dos mais belos de minha existência solitária. Pensar nele significava lembrar-me de um dos piores dias da minha vida, lado-a-lado com a morte de meus pais e a vez em que quase matei Anna, quando éramos pequenas.

O dia que perdi Jack Frost foi o dia em que meu coração desistiu. E passei longos anos trancada em meu quarto, gelada e sozinha. Até Anna me salvar com o amor, até ela me lembrar o que era tocar em uma pessoa, esquentar minha existência.

Jack... o amor dele também me salvou, ainda que por pouco tempo. Eu fui capaz de ficar ao lado de uma pessoa, por anos, mesmo que somente ele. Jack trazia a diversão e jogava para longe o medo. Lembrar disso me trouxe lágrimas aos olhos.

Levantei e segui até a sacada de minha janela. O dia estava agradavelmente nublado. Parecia refletir meus sentimentos. Ridículo, eu sei. Porém parecia.

—Ah, Jack, ainda sinto sua falta, sabia? Meu amigo... meu amor.- Falei para o nada e suspirei- Nunca achei que você quebraria sua promessa. Sei que não foi sua culpa, mas só de pensar que... não sei. Você poderia estar aqui. Poderia estar crescido, com seus 23, assim como eu.

Fitei minhas mãos frias.

—Ridículo, - sussurrei- ainda me lembrar tão fortemente e ainda nutrir um amor adolescente. – Eu sabia, no entanto, que essa afirmação nada significava. Ele havia sido uma das pessoas mais importantes da minha vida. Jamais o esqueceria, mesmo que tentasse loucamente, como tentei por todos aqueles anos desde a sua morte.

—Elsa?

—Oh, oi Anna,- enxuguei as lágrimas rapidamente de forma discreta e virei para vê-la - o que foi? Algum problema?

—Eu que pergunto, estava chorando?- Anna me fitou preocupada e curiosa.

—Um pouco, sim.

— O que houve, Elsa? – Ela se aproximou e colocou suas mãos sobre as minhas. – Sabe que pode me contar, não é?

—Lembranças. Só isso. Elas machucam as vezes.

—Lembranças daquela época?

“Daquela época”, fazia um ano e já nos referíamos aquele passado, um ano atrás, como algo distante.

—Sim, mas não quero falar sobre isso.

—Tem certeza?

—Tenho, mas obrigada por se preocupar. Está tudo sob controle.- Sorri de forma agradecida.

—Tá bem... Bom, então venho lhe contar as novidades!

—Que novidades? – Nós duas começamos a entrar no quarto. Anna pulava animadamente, com a excitação gritante de quem achava que ia me dizer a coisa mais incrível do mundo estampada em sua expressão.

Sorri, tudo para Anna era uma novidade grandiosa. Sentei-me calmamente e a assisti, inquieta, procurar as palavras para contar a notícia.

— Elsa eu vou me casar!!!- Soltou de uma vez e tapou a boca, como quem se repreende por ter falado de modo tão impulsivo.

—Parabéns! Eu achei que ele ia demorar mais...- comemorei.

— O quê? Você não está surpresa?

—Só que ele não demorou mais uns meses. De resto, todos sabíamos que Kristoff iria pedi-la.

Anna gritou animada.

—Elsa, você vai me ajudar em tudo, entendeu? Em cada detalhe!

—Claro que vou,- levantei e a abracei apertado- o casamento de minha única irmã será um dos dias mais especiais da minha vida!

—Até o seu, não é?

Dei um meio sorriso e a fitei nos olhos.

—Duvido que eu me case algum dia. Graças a Deus tenho você para gerar o futuro rei ou rainha de Arendelle.

—Elsa, não fale bobagens, um dia você encontrará o seu grande amor. E ele vai te dar aquele beijo e tudo parecerá certo! Então você vai ter muitos filhos.

Ri alto.

—Anna... todos os rapazes tem medo de se envolver comigo por causa de meus poderes e, sinceramente, prefiro assim. Não vou fazer ninguém feliz, sou muito chata.- Sorri- Não existe ninguém lá fora para mim, irmã.

“Pelo menos não mais”,  pensei.

— Pare com isso, Elsa, você só é um pouco introvertida, mas é maravilhosa  e algum dia alguém verá isso.- Disse com uma convicção de quem sabe das coisas. Apenas neguei com a cabeça. Ah, Anna, alguém já viu...

—Chega, não aguento mais falar de mim, afinal é o seu casamento! Vamos, me conte mais sobre o pedido. Como Kristoff fez?

—Ah, foi lindo, Elsa, ele trouxe o Sven e um anel e o Olaf trouxe flores, ah vou lhe mostra o anel e..

À medida que minha irmã falava eu sorria e escutava cada pedaço da história com bastante interesse, divertia-me com a animação dela.

No entanto, em dado momento me distraí e olhei para a varanda.

Anna falara em um beijo. Eu já tivera tantos... um floco de neve caiu em minha sacada e me dei conta de que estava fazendo nevar. “Tantos anos e você ainda brinca com minhas emoções, Frost?” Pensei. “Definitivamente não há mais ninguém que me faça feliz como você me fez”.

Espantei as memorias e voltei a prestar atenção em Anna que quase pulava na cama de tanta alegria.