Interrompidos escrita por MaNa


Capítulo 16
Capítulo 16: Especial de natal e ano novo!!!


Notas iniciais do capítulo

Oi gente! Saudades de mim? O capítulo desse mês é especial e espero que gostem. Eu sei que estão ansiosos pelo fim da história, mas não poderia ter uma época melhor de dar essa parte dessa fic. Como eu sigo apenas o filme, e não os livros, essa história aqui é uma viajem sobre como eu assumi q o Papai Noel nasceu. Espero que gostem. Feliz ANO NOVO PARA TODOS VOCÊS!!!



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Especial de natal

Morrer e renascer como uma criatura mágica é uma experiência incrível, fazer com que as crianças sejam felizes, pelos menos uma vez ao ano, e ser parte da melhor comemoração de todos os tempos... isso era uma benção pela qual eu agradecia todos os dias.

Afinal, ser o papai Noel é a melhor profissão do mundo.

Mas, às vezes, o passado volta a me assombrar e eu lembro da minha outra vida. Aquela em que eu era apenas eu, um rapaz sonhador e que via encantamento em tudo. Aquela em que ainda era chamado de Nicolau e, mais importante de tudo, que dividia com Maria.

Ah, Maria, éramos tão jovens... brincávamos de namorar quando nos conhecemos: eu todo desengonçado, com uma barba que mal crescia, e ela com seus cabelos castanhos, que mantinha sempre amarrado em um coque, e olhos gentis. Maria vinha de uma família conservadora, que possuíam uma certa fortuna. Eu também não estava mal de vida, de modo que nossos pais nunca implicaram com o namoro.

Ah, a amava muito.

Um dia a brincadeira ficou séria e, em uma noite de natal, a pedi em casamento. Estávamos em baixo de um visgo, na varanda de sua casa, ainda consigo me lembrar do brilho de felicidade que parecia emanar dela. Maria se ajoelhou em minha frente, do mesmo jeito que eu estava ajoelhado para pedi-la e disse baixinho: eu aceito. Eu e você ficaremos juntos pelo resto de nossas vidas, meu amor. E iremos nos respeitar e estarmos sempre no mesmo patamar, nenhum abaixo do outro. Estaremos sempre na mesma altura.

Eu amo demais essa mulher.

Ainda me lembro de como começamos a fazer aquilo, dar presentes para as crianças necessitadas no natal.  Ela foi quem teve a ideia, nossos vizinhos eram muito pobres e tinham trigêmeos, dois meninos e uma menina. Consigo ver nitidamente o olhar de minha esposa, pensativo, no primeiro natal após nosso casamento.

—Temos de fazer algo, Nicolau! - Ela afirmara.

—O quê, meu bem? Do que está falando?

Estávamos deitados em nossa cama, eu fumando meu cachimbo (graças ao Homem da Lua abandonei esse hábito) e ela com o livro esquecido nas mãos.

—Aquelas crianças, meu querido, os pais delas não podem dar nada a elas.

—Que crianças, Maria?

—As dos nossos vizinhos. Nós temos tanto, por que não ajudar?

— Meu bem, você ajuda a cidade toda o ano todo. O que mais quer fazer?

E era verdade, Maria usava praticamente toda a sua herança, deixada pelos pais, para ajudar o máximo de pessoas que conseguia com alimentos e roupas. Além disso, eu era dono de uma loja de brinquedos e também detinha uma fortuna considerável devido a minha família, por essa razão, nunca nos faltou nada e Maria sempre me lembrava disso, fazendo questão de separar parte da renda conjunta para auxiliar quem precisasse.

O que mais me impressionava é que ninguém sabia que as doações eram dela.  Maria não desejava ser identificada, só queria ajudar, ao contrário das outras “benfeitoras” da cidade que doavam como se fosse uma obrigação muito desgastante e faziam questão de avisar quem enviara os mantimentos e quantos exatamente foram.

— Mas, Nicolau, é Natal! E podemos trazer alegria para essa e outras famílias.

—Outras?

—Sim, somos donos da “loja de brinquedos encantada”, da cidade! Você é praticamente uma criança que brinca de ser adulto.

—Ei!

Ela se empolgou e começou a falar animada.

—Nicolau, podemos separar brinquedos para as crianças pobres da cidade! Vamos, por favor?

Eu me lembro que pensei por um minuto, mas acenei que não com a cabeça.

—Não podemos, meu bem. O natal é a época em que mais lucramos e eu separei todo o estoque para as vendas desse ano. Com o dinheiro que ganharmos você poderá dar alimento a essas famílias.

—Mas, Nicolau, é natal! - Ela se virou indignada me encarando.- Você, que sempre viu magia em tudo, logo você, deveria entender que oferecer sorrisos nessa época vale mais que qualquer lucro!

Suspirei.

—Maria, eu estou pensando com a cabeça e você com o coração. Nem sempre o coração acerta, meu bem.

Nessa noite eu dormi no sofá.

(...)

 A semana passou e Maria parecia ter se conformado, apesar de continuar me mostrando suas piores expressões de indignação e raiva. Na véspera do natal, eu tinha acabado de largar e estava a meio caminho de casa, quando lembrei que havia esquecido o presente de minha esposa na loja. Voltei apressado, mas quando cheguei tive uma estranha surpresa: a porta estava aberta. E eu tinha certeza de tê-la fechado.

Entrei cauteloso, preocupado que estivessem roubando a loja. O que mais me intrigava é como teriam entrado, já que a fechadura não apresentava sinais de arrombamento.

Um barulho de brinquedos sendo embrulhados.

—Quem está aí? - Perguntei. Foi quando ela apareceu atrás do balcão.

— Ah, olá, Nicolau.

—Maria?

Os cabelos estavam arrumados em seu coque tradicional, porém bem mais preso, e por alguma razão estranha, ela trocara o vestido por uma calça masculina, apertada em sua cintura com uma corda.

—Mas o quê...?

— Vim pegar os brinquedos para levar para as crianças.

Respirei fundo.

—Maria, já falamos sobre isso. Além do mais, vendi tudo.

—Não vendeu não. - Ela puxou uma caixa de brinquedos escondida no depósito. - Eu reservei esses aqui durante a semana.

—Maria!

Ela sorriu.

—Nicolau, a loja também é minha. Meus doces são vendidos aqui! Tenho direitos, considere isso minha parte dos lucros. - Ela começou a pegar várias bolsinhas com doces e foi colocando junto aos brinquedos. - Pronto. Só preciso arrumar um jeito de levar tudo isso...

Se virou para mim.

—Meu querido, eu vou fazer isso com ou sem você. Você tem se enfiado demais nessa loja e deixado sua criança, sua magia, dormir por tempo demais. Se quiser despertar o seu cerne, venha comigo, se não, a ceia está servida em casa.

Eu não sabia se concordava com a atitude de minha mulher. Um lado meu queria discutir, pegar todos os brinquedos de volta e ter o quê hoje chamam de “dr”. Porém, um lado mais forte, o lado que a amava e admirava o que ela estava tentando realizar, me fez pegar uma grande sacola vermelha debaixo do balcão, me aproximar dela, beijar-lhe os lábios e dizer: precisamos ir rápido se quisermos fazer isso em uma noite.

Os olhos dela pareciam estrelas.

Naquele momento, da véspera para o natal, andamos por toda a vizinhança, entre os mais necessitados, e deixamos os presentes perto das janelas. Em algumas eu até tive que colocar pela chaminé, com uma cordinha, porque as janelas não tinham parapeito.

Voltamos para casa de 5 horas da manhã, ceamos e fomos dormir satisfeitos com nosso trabalho.

No dia seguinte a vizinhança inteira estava em polvorosa com os “presentes misteriosos”. As crianças brincavam na rua, sorriam, estavam felicíssimas. Algo em mim acordou e me senti mais vivo do que jamais fora antes.

—Você estava certa, Maria.

—Sempre estou, meu bem.

Sorri, não, ela nem sempre estava, mas naquele natal acertara em cheio. Os presentes noturnos viraram uma tradição e em todos os natais seguintes criei o hábito de separar brinquedos para as crianças mais necessitadas e os entregar a noite na surdina, junto a minha esposa.

Os pais começaram a desconfiar que os brinquedos vinham da loja de Nicolau. E, por mais que nunca confessássemos, as crianças passaram a nos chamar de Papai Noel e Mamãe Noel. Maria ria com o apelido em nossas noites de conversa fiada.

Nunca conseguimos ter filhos, não sabíamos o porquê. Então adotamos uma menina e a chamamos de Lucy. Fomos nós três, minha adorada família, por muitos anos, até a nossa velhice.

Lucy já estava casada e eu e minha velha, com os cabelos completamente brancos, da mesma cor de minha enorme barba, ainda tentávamos levar os presentes na véspera de natal.

Infelizmente a idade começava a pesar.

—Nicolau, você não pode ir! Lucy, diga a ele que ele não pode...- Maria não viria, ela estava com problema na coluna, já fazia dois anos que parara, pois, a dor a enlouquecia quando fazia muito esforço.

—Pai, a mamãe está certa. Você não pode ir e eu acabei de ter meu filho, não poderei lhe ajudar esse ano! Deixe assim, meu pai. Ano que vem eu prometo que vou em seu lugar.

—Seu marido poderia ajudar!

—O Lucas está longe, pai, precisou viajar a negócios e ficou preso por causa da neve. Vamos ficar em casa...

—Nicolau, - Maria se aproximou e colocou as mãos em meu rosto- eu, mais do que ninguém, sei o que significa para você levar esses presentes. Eu sei que é a coisa que você mais ama fazer no mundo, porém, precisamos aceitar nossas idades. Não temos mais condições físicas!

Eu a beijei.

—Mas, meu bem, “papai Noel nunca esquece”, lembra? - Esse era um trecho de uma das músicas que as crianças da vizinhança tinham criado para o “bom velhinho”. Ela suspirou e assentiu, percebendo que não me faria mudar de ideia.

Naquela noite eu saí carregando meu saco vermelho com a mesma felicidade de todos os anos, apesar de mais cansado. Tudo estava correndo bem, exceto por uma dor no meu braço esquerdo que começou no meio do caminho e não parecia diminuir. Quando eu já tinha terminado e estava na esquina de casa, a dor intensificou. Acelerei o paço, mas, infelizmente, não aguentei e, próximo a varanda de casa, caí.

Ainda escutei minha filha gritando e Maria correndo o máximo que suas pernas cansadas permitiam, mas meus olhos se fecharam antes que eu pudesse vê-la pela última vez.

(...)

Quando os abri novamente, descobri que Papai Noel viveria para sempre, apesar de Nicolau ter falecido naquela noite. E, se por um lado, ser o escolhido do Homem da Lua era uma honra e um prazer enorme, por outro, eu nunca mais veria Maria. Ela faleceu no dia seguinte a minha morte.

Lucy ainda vivia quando acordei e me disse que as últimas palavras de minha Maria foram "quero estar com Nicolau". Lembro-me de ter me despedido de minha filha e de meu neto, que acreditavam em “papai Noel”.

Eu ainda os vi por algum tempo, acompanhei meu neto, mas, ao longo dos séculos, tive de me desvincular. Ser um guardião tinha suas obrigações.

Infelizmente, as palavras de Maria me assombravam. Ela não me encontrara aonde quer que seu espirito tivesse ido. E foi por causa dessa angustia e da saudade excruciante de ter minha companheira de volta que criei os globos do tempo e voltei ao passado. A noite em que morri.

—Nicolau? - Me lembro da expressão sonolenta dela na cama, quando apareci meia hora antes de meu eu antigo retornar de sua jornada para a morte. - O-o quê?

—Maria! – Beijei-a com toda a saudade que senti ao longo dos séculos,

—Meu amor, o que está acontecendo? Conseguiu entregar os presentes? Você está diferente... mais forte e o que é isso no seu braço? Esses desenhos saem, não é? Onde fez isso?

Sorri e expliquei o que iria acontecer daqui a meia hora. Expliquei o que eu viraria e implorei que ela acreditasse em mim. Estranhamente ela aceitou minha história de primeira e concordou em vir para o futuro comigo.

Eu estava inundado de alegria. Porém, antes de irmos, Maria me pediu para ver o meu eu antigo, na varanda, e ter um tempo para velá-lo. Eu concordei. Me escondi por um dia inteiro antes de procurar Maria de novo. Ela disse que se despedira de Lucy, dizendo que queria estar comigo. Perguntei-lhe se tinha certeza, poderia querer ficar com Lucy, e ela sorriu dizendo que nossa filha já estava criada, com a vida dela feita, que ela a amava demais, mas que sua missão já fora cumprida. Lucy era prioridade em sua vida, mas a filha agora não precisava mais da mãe.

Nós voltamos para minha época, contudo, quando chegamos, Maria imediatamente caiu em meus braços. O temor tomou meu peito e eu percebi que jamais deveria ter feito o que fiz. Maria morrera um dia depois, mas Lucy não tinha contado que a causa da morte da mãe fora porque escolhera ficar comigo.

Ela sorriu para mim uma última vez. Disse que não se arrependia, que tinha vivido bastante e feito tudo que queria fazer, que a única coisa que lamentava era não ser forte o suficiente para poder me acompanhar pelo resto de minha vida, como tinha prometido.

Implorei ao Homem da Lua que intercedesse por ela, mas parece que a jornada de Maria não poderia ser a minha.

Ela partiu.

Seu corpo desapareceu e eu assumi que voltara para sua época original.

Hoje, sempre que volto de minha excursão no natal, sento sozinho em meu escritório e lembro de Maria, lembro que foi ela quem começou tudo isso, que despertou meu cerne. E lembro que, por um erro imbecil, acabei matando a mulher que amo.

Porque eu ainda a amo muito. E continuarei amando pelo resto dos meus dias, ou por toda a eternidade.


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Notas finais do capítulo

E então? Entenderam agora por quê ele sofre tanto com a situação do Jack? Me digam o que acharam! Bjão e boas festas!!!



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