Mein Herz ist auf dem See escrita por Peter C Smith


Capítulo 3
A Estranha Mulher




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“Ela te preservará da mulher estranha que emprega palavras lisonjeiras.”

Provérbios 2.16

°°°

Ernest despertou, seus olhos ardiam devido a uma ofuscante luz branca que emanava de todas as direções. Estava no Céu? Ou no Purgatório? Tentou se erguer; aos poucos os olhos se acostumaram com a luz. Olhou ao redor, estava em uma praia, suas roupas estavam secas; seus ferimentos se foram e sua espada estava na bainha, embora não se lembrasse de embainhá-la antes de ser atingido pela granada.

– Mas como? - perguntou.

Areias brancas sob os seus pés descalços, mãos nuas, nem sequer enrugadas, seu chapéu e seu casaco se foram; à frente, mar e céu cinzentos, separados pela tênue linha do horizonte, atrás, campos verdes com algumas árvores dispersas. Não estava morto, de alguma forma sobrevivera, e agora estava em algum lugar na costa da Grã-Bretanha. Mas como? E o que viria agora? Ernest se deixou cair sentado na areia e desabou para trás, fitando o céu cinzento e sentindo a maciez e o calor da areia em suas costas... Ele permaneceu assim um bom tempo, certo alguém voltar aos seus pensamentos... Ernest se dera conta do que acontecera...

“Mina...” pensou.

Ergueu-se num salto; ele sobrevivera ao naufrágio e agora poderia voltar para a sua amada. Teria ele recebido uma segunda chance? Não importa. Estava vivo, isso que importa, vivo. Ernest precisava voltar para a Alemanha imediatamente, para o seu lar, para a sua amada... Para Mina...

Os pensamentos de Ernest foram interrompidos por sons de passos na água em meio às pedras na beira do mar, alguém o observava.

Ernest desembainhou a espada.

– Quem está aí!? - gritou; sem respostas.

Caminhou até a fonte do som vagarosamente, de súbito, alguém saiu correndo rumo a uns escombros navais; Ernest perseguiu o estranho. Ao sair das pedras, ele se deparou com destroços navais e nada mais que isso, mas sabia que havia alguém ali. Ernest se aproximou... Cada vez mais lento... Ouviu um choro baixinho, um pequeno lamento agudo, talvez feminino.

Sentiu uma dor intensa na testa e o mundo escureceu.

•••

– Ernest! - chamou uma voz chorosa.

Ernest escutou soluços e choros, seus olhos ardiam e coçavam, sentiu frio em sua pele úmida. Sentiu pressões violentas e frequentes em seu peito.

Começou a tossir, a garganta ardeu. Ernest se pôs violentamente sobre as mãos e joelhos, abalando o pequeno bote, e expeliu a água em seus pulmões e se pôs sentado. Seu pai estava molhado e ofegante, Mina chorava.

Mina finalmente se manifestou:

– Ernest! Pensei que fosse te perder!

– Me perder...? - Ernest começou, mas mina se lançou sobre ele, abraçando e beijando-o.

– Nein! Não faça isso! É nojento!

O pai de Ernest riu alegremente ao notar que o episódio assustador passara, voltando tudo ao normal.

•••

– Minha cabeça...

Ernest estava atordoado. Após recuperar parcialmente a consciência, percebeu que alquem limpava o seu ferimento, seus olhos doíam, embora a luminosidade agora se mostrava baixa, percebeu que estava em uma caverna.

– Sinto muito por isso, - disse uma voz feminina, que, para a sua surpresa, falava em alemão - apenas tive medo que você me machucasse.

Ernest notou a ironia.

– Eu também... E você o fez... - riu de leve, a moça também, quão doce era aquela risada.

– Afinal, - prosseguiu - quem é você?

– Pode me chamar de Palas – respondeu a voz, tão melodiosa, tão suave, talvez a mais bela que já ouvira

– Palas... Por que estava me espionando?

– Não estava... Eu apenas salvei você do naufrágio, mas tive medo quando vi que você ia acordar.

Ernest se espantou, abriu os olhos e fez menção de levantar, mas não teve forças.

– Ei, com calma, poupe sua energia - disse ela ao tentar impedi-lo de levantar, sua pele era estranhamente lisa e fria, um tanto úmida, mas sua voz transmitia um estranho conforto.

– Mas como...? - Ernest tentou vê-la, mas estava muito escuro, apenas viu uma silhueta esbelta.

– Descanse; se acalme...

A misteriosa mulher ergueu a cabeça do capitão com bastante cuidado e a pousou sobre o seu colo. Ele sentiu a pele nua de suas coxas em sua nuca, também era fria e lisa e cheirava como a brisa marítima. Ela o acariciou, mãos lisas e geladas. Ernest se acalmou, fechou os olhos e respirou profundamente. A moça começou a cantar baixinho. Uma canção sem letra, mas ainda sim bela, sublime, suave, solene... Cantou por algum tempo. Ernest se acalmava... Era uma bela voz... As carícias de suas mãos frias e lisas acalmavam o capitão. Música, carícias, escuro, ele sentia-se como uma criança no colo da mãe, que tentava consola-lo de madrugada após despertar de um pesadelo. Ele quase adormeceu. A música cessou.

– Quem é você? - Perguntou sua salvadora numa voz suave e calmante.

– Ernest Diefendorf - respondeu, sentindo as mãos da moça em seus cabelos.

– O que aconteceu com você?

– Piratas...

– Eles machucaram você?

– Sim...

Fez-se uma pausa.

– Quando eu vi você no mar, você estava chorando - prosseguiu - Por que estava chorando? Sentiu medo?

– Não... Eu apenas... - não terminou, começou a chorar.

– Ei... Ei... Calma...

A estranha mulher tentou acalmá-lo, ergueu o seu corpo e o aninhou contra o peito. Ernest sentiu um par de seios desnudos em sua face. Ela estava nua? A moça tornou a cantar. Ernest não respondeu, mas tinha a resposta em mente: ele só pensava em sua amada, chorou por que sentiu que nunca mais a veria, achou que estava perdido para sempre nas profundezas do mar, era este o seu medo. De alguma maneira, a voz da moça o acalmou, seu choro cessou devagar, reduzindo-se a soluços. Sua voz, seu coração batendo, seu corpo nu contra o seu. Era uma sensação boa, sensação de segurança em meio à tormenta. Ernest sentia-se nos braços de sua mãe, Sophie, como em um sonho, ou lembrança, há muito tempo...

•••

Uma voz suave cantava. Uma canção sem letra, mas ainda sim bela, sublime, suave, solene... Cantou por algum tempo. Ernest se acalmava... Era uma bela voz...

Ernest espirrou, seu corpo doía e tremia de frio, estava resfriado. Fora pela chuva ou pela queda no mar? Não se lembrava

Espirrou novamente. A música cessou.

– Sente se melhor?

– Um pouco. – respondeu trêmulo; espirrou novamente.

Ernest começou a chorar baixinho. Como um simples resfriado poderia ter feito aquele menino impetuoso chorar desse jeito? Não se lembrava.

– Acalme-se filho, - disse Sophie – já passou, foi apenas um sonho ruim. Mamãe está aqui com você meu querido.

Ernest tivera um pesadelo. E do que se tratava o pesadelo? Não se lembrava.

•••

Ernest despertou, quase havia se esquecido do mundo ao seu redor. Só havia ele e aquela mulher estranha. A moça começou a tossir, como se sufocasse. Ernest se desvencilhou de seus braços.

– Estás bem? – perguntou ele.

– Sim, eu só preciso ir agora.

Essas palavras apertaram o coração de Ernest, de alguma forma. Mas ele nem a conhecia? Quem se importa se ela fosse embora? Afastou o pensamento, e tornou o seu foco à Mina. Precisava voltar para ela. A mulher se levantou e se dirigiu à boca da caverna, Ernest observou sua silhueta negra e delgada contra a luz lá fora. Ela realmente estava nua, e sairia assim? Ela era realmente muito esquisita.

– Espere! – chamou-a, sem saber o que dizer.

Ela já estava perto da luz do sol quando virou o rosto para Ernest. Ernest se chocou, ficou assustado e maravilhado perante a bela e assombrosa criatura que ela era. Uma criatura que não era humana. Sua pele era branca, totalmente; cabelos azuis, olhos meigos, todavia como olhos de serpente; suas orelhas eram como as de um cavalo marinho; havia nadadeiras azul-marinho em seu corpo, nadadeiras como as de peixe-voador, elas estavam em seus antebraços, coxas, panturrilhas e uma grande em sua espinha dorsal, se misturavam à pele branca em regiões escamosas. Azul fundido ao branco como aquarela. Olhou para Ernest, esperando para ouvi-lo.

Perguntou ele em fim:

– O que é você?

Ela se virou para ele, visivelmente abalada, com uma cativante e comovente expressão de tristeza.

E respondeu:

– Eu sou uma sereia.


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