Mein Herz ist auf dem See escrita por Peter C Smith


Capítulo 2
A Divina Penitência




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“Eles sofrerão como castigo a perdição eterna, longe da face do Senhor, e da sua suprema glória.”

2 Tessalonicenses 1.9

°°°

Ernest, Bauer e os demais oficiais marchavam pelos imponentemete corredoeres do navio, floretes em mão, pistolas no sinto.

– Relatório comandante! - exclamou Ernest

– É uma belonave, mein Herr, vinte canhões em cada lateral. Emergiu da escuridão da noite e destruiu o leme. Não sabemos quem são.

– Onde está Hoffmannn? - perguntou capitão.

– Está morto. Recebeu o primeiro tiro.

Ao chegar ao convés, Ernest se deparou com a cena agitada: homens armados com espadas e lanças corriam por todos os cantos do convés, alguns traziam rifles e bacamartes nas costas. As naves trocavam tiros intensamente. Ernest subiu à popa, era possível ver a silhueta do navio inimigo sob a pálida luz da lua. Ergueu sua luneta, em busca da bandeira... E a encontrou.

– Pela Virgem Santíssima...

– Quem são eles? - indagou Bauer.

– Piratas!

Bauer tomou a luneta e mirou o mastro inimigo. Avistou uma bandeira negra.

– Mas como? - perguntou Bauer ao abaixar a luneta - que diabos eles estão fazendo no Mar do Norte, achei que só agissem nas Índias Ocidentais e no Mediterrâneo?

– Esses nojentos estão em todo lugar que tenha navios mercantes! Devem ser corsários franceses.

Bauer fez que sim com a cabeça e prosseguiu:

– Ordens capitão?

– Sim. - respondeu - Homens aos canhões a bombordo! Estejam prontos para o combate! Mosqueteiros ao porão! Defendam a carga!

Cerca de dez mosqueteiros navais desceram ao porão, brandindo seus mosquetes; rajadas de tiros emergiram de ambos os lados, escutavam-se explosões e choques de metal contra madeira, não tardou muito para que um tiro derrubasse o mastro principal; a imponente estrutura de madeira tombou, derrubando mais dois mastros menores. Os tiros cessaram e o navio inimigo se aproximou.

O capitão dos piratas bradou ordens em francês aos seus homens:

Cessez l’feu! Préparer des crochets pour l'approche!

Oui, mon capitaine!

Bauer notou o cessar-fogo e pode escutar as ordens do capitão.

– O que ele disse? – indagou o comandante.

– Ele ordenou o assédio ao navio – respondeu - prepare o florete Herr Bauer!

Verstanden!

Ernest desceu ao convés e se direcionou aos marujos:

– Preparem os rifles homens! Mirem nos piratas e atirem ao meu sinal!

Jawohl! – exclamou um dos marujos aos sacar o bacamarte.

Os inimigos estavam aos postos nas cordas, apenas aguardando a ordem.

Attaque! – Bradou o líder pirata. Cerca de vinte homens se lançaram ao Siegfried, balançando-se nas cordas.

Feuer! – Ordenou Ernest. Então, uma rajada de tiros irregulares disparou contra os invasores. Carne contra metal. Todavia apenas cerca de sete homens foram atingidos, caindo nas águas negras. O restante caiu sobre os homens de Ernest, apunhalando-os; três homens morreram na investida.

– Às armas! – bradou Ernest, iniciando um feroz combate; O silencio da noite fora quebrado pelos sons dos choques metálicos e pelo tiro das pistolas; aço contra aço, aço contra carne, sangue sobre lâmina. Ernest lutava, sua espada abanava-se no ar, provocando desde choques metálicos a gritos de dor; a límpida lâmina esta banhada de sangue. Em pouco tempo, quase todos os piratas foram mortos e uns poucos, rendidos; os homens bradaram a vitória.

Seguro em sua popa, o capitão inimigo, emanando ira por todos os poros, rosnava palavrões em francês e algumas ordens aos seus homens, ordens que Ernest não conseguiu identificar; ele era um homem velho e sujo, cabelos despenteados e barba sebosa debaixo de um chapéu velho com resquícios decrépitos do que um dia foram penas, usava um casaco surrado e imundo, que um dia pertencera a um oficial da Marinha Francesa. Ao cessar das ordens, alguns piratas, ainda no navio inimigo, lançaram pequenos objetos negros no Siegfried, os quais não faziam quaisquer danos no navio, apenas incomodando os homens. Estavam jogando pedras? Não! Não eram pedras! Ernest logo identificou o que eram:

– Granadas! – Alertou ele.

Subitamente, pequenas explosões irromperam do convés. Fazendo buracos nas tábuas, Ernest foi atingido, o chão se abriu sob seus pés e ele caiu nos fundos do porão. Sua cabeça girava, os mosqueteiros estavam debaixo de escombros, uns feridos, uns mortos; Ernest abriu o casaco, sangue salpicava de sua camisa branca, brotando dos buracos feitos pelos estilhaços da granada. Estava paralisado pela dor. Viu alguns piratas andando pelo porão, roubando as caixas de mercadorias e matando os sobreviventes que tentavam se reerguer, executando-os com tiros de pistola, ou retalhando-os com os punhais; Ernest pode apenas escutar os gritos agonizantes dos mosqueteiros enquanto suas gargantas eram lentamente cortadas, em seguida vendo-os sagrar lentamente com os olhos arregalados de agonia, sem ao menos conseguir agonizar de dor enquanto esperavam desesperadamente pela morte, que tardava em leva-los, talvez até zombando dos pobres homens. Viu os mesmos piratas espalhando pólvora pelo chão.

Os piratas se retiram, deixando Ernest sozinho. Cada um de seus últimos segundos parecia ser uma eternidade; segundos de solidão, segundos de agonia, segundos de lembranças... Segundos de tristeza... De dor... De tormento. Um nome invadiu seus pensamentos. Um nome, um rosto, um cheiro, um par de olhos... Uma doce risada... Ernest chorou.

“Mina!” exclamou em seus pensamentos, pois não tinha mais forças para gritar.

Chorou lágrimas amargas, soluçou, sentia um nó em sua garganta, esqueceu-se da dor física, causada pelos estilhaços, cortes e costelas quebradas. Deixando só o arrependimento... Lembranças de Mina invadiram seus pensamentos, tão nítidas... Viu Mina, ainda criança correto e rindo descalça na praia, a viu tremendo de frio debaixo do cais, a viu nua ao seu lado, sendo enxugada pela sua mãe. A viu mais velha, tocando violino, com suas mãos delicadas, seu corpo esbelto, seus cabelos já crescidos.

•••

Ernest e Mina estavam em um bote de pesca com um homem o conduzindo. O sol da primavera brilhava forte no céu.

– Passe as minhocas filho. – ordenou o homem.

– Eca pai! São nojentas! – reclamou Ernest.

– Não são nojentas filho! São nossas iscas!

– Tome aqui Herr Diefendorf – disse Mina ao entregar algumas minhocas ao pai de Ernest. Elas se remexiam nas palmas das mãozinhas da menina.

Ernest quase vomitou.

– Que nojo Mina! – disse ele

– Viu só Ernest, até a Mina não as acha nojentas.

– É porque vocês dois são nojentos!

Mina e Herr Diefendorf riram muito, Ernest se sentiu envergonhado.

– Qual é Ernest! – disse Mina – São só minhocas!

Dizendo isso, Mina atirou uma minhoca contra Ernest, levando-o a um ataque de pânico.

– Ah! – gritou de pavor - Nein! Nein! Nein! Nein! Nein! Tira isso de mim! - E caiu no mar.

•••

Ernest sentia cada gota de sua vida escorrendo pelos ferimentos.

“Mina...” pensou “Por quê...? Por que eu fui tão difícil? Por que resisti às suas carícias? Por que nunca disse que eu te amo?”.

Arrependia-se amarga e profundamente. Arrependia-se por não ter dado à amiga o devido valor, sabendo que agora jamais poderia retribuir... Voltar atrás. E sabendo que Mina sofreria por isso, e ele a veria sofrer, impotente. Será esse o seu castigo por não retribuir um amor tão puro e sincero? Por ter sido rejeitado o presente de Deus? Seus pensamentos o atormentavam, o acusavam; sentia que nem a morte poderia lhe trazer paz, apenas uma eternidade de arrependimentos amargos, de lembranças da mulher que um dia tivera a oportunidade de amar. A mulher que nunca a abandonaria, que nunca se zangaria, houvesse o que houver... Que sempre o amaria...

O navio explodiu em fim.

•••

Ele caia lentamente, imergindo nas densas trevas do mar, mas não sentida o frio das águas, nem os pulmões implorando por oxigênio. Será isso uma cena real? Será que já morrera? Será um devaneio? Uma lembrança de seu passado?

A sombra de um pequeno bote podia ser vista na superfície, não mais que um bote de pesca.

– Ernest! – gritava um homem a bordo do bote. Será seu pai preste a pular em seu resgate?

Viu um corpo se lançando ao mar, o som fora abafado pelas águas.

•••

Mas o resgate não veio, não passara de um sonho. Ernest afundava no mar, rumo ao seu eterno castigo.

“Mina...” pensou uma última vez.

E seus olhos se fecharam para a escuridão.


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