Alexa e a Guerra da Irmandade escrita por Priscila Luciani


Capítulo 6
Confie em mim




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Alexa não estava acreditando em seus olhos­­­. O mundo à sua volta parecia um borrão tecido por uma criança em processo de obtenção de coordenação motora. Tonalidades singulares se fundiam em seu redor, e por longos minutos sentiu como se o mundo tivesse parado. Em sua mente, vários “porquês” vagavam, enquanto seus lábios continuavam estáticos. Por mais que quisesse, ou melhor ansiasse, sua voz continuava presa na garganta, engolida sempre que ousava subir até a boca. Desejou que seus pensamentos fossem ouvidos, mas sabia que nem assim conseguiria expressar a confusão que a estava dominando. Um gesto com mais afinco fez com que uma palavra enfim fosse proferida:

— Pai?

O homem abraçou-a desesperadamente, como se disso dependesse sua própria vida, e talvez dependesse mesmo.

— Oh, minha filha! Fiquei tão preocupado.

Alexa, ainda um pouco tonta com tantos acontecimentos em um único dia, recobrou um pouco de sua noção e resolveu sanar suas dúvidas, desvencilhou-se cuidadosamente do abraço do pai e o encarou.

— Papai, de onde você conhece essa mulher? Do que vocês estão falando? Quem está ficando mais forte?

Ferdinando abaixou a cabeça, pondo a mão na nuca, sem saber por onde começar a explicar tudo o que estava submerso nos escombros que criou para proteger a filha. Vinte e um anos haviam se passado, mas em sua memória as lembranças terríveis que desejou por diversas vezes esquecer continuavam cristalinas como um diamante. Agarrou-se a única alegria que lhe restara, que por sua vez, era seu tudo. Pegou delicadamente o rosto de Alexa em suas mãos trêmulas, e com lágrimas nos olhos, disse:

— Filha, não importa o que aconteça, tenha certeza de que és muito amada.

A garota arregalou os olhos espantada.

— Do que você está falando, pai?

As lágrimas rolaram, impulsionadas pela angústia.

— Filha...

— Ferdinando, não há tempo. – interferiu a ruiva.

Ele fechou os olhos e deu um beijo prolongado na testa da filha.

— Filha, você precisa ir.

— Ir para onde?

— Aurora irá lhe mostrar o lugar.

— Mas...

— Confie nela, querida, é só o que posso dizer.

Embora quisesse relutar, e cogitasse um mínimo gesto de resistência, seu pai a abraçou novamente, desta vez com ainda mais urgência. Em seu íntimo tentava desprender-se da dor da separação, e de uma possível perda, agarrando-se à esperança de que tudo acabasse bem. Enquanto isso, a ruiva, que agora havia sido denominada Aurora, correu até um quadro onde a sombra de uma garota com sua cachorrinha se encontravam sob a luz da lua e o retirou da parede, abrindo uma portinhola, pequena o bastante para não conseguir passar de pé, mas suficiente. Atravessou-a e, com uma chave que carregava em seu pescoço destrancou um baú de onde tirou uma sacola azul de tamanho médio. Depois, apressou-se em sair e colocar o quadro no mesmo lugar, trancando a pequena porta. Passou pela mesinha onde estavam suas poções e pegou seu livro.

— Agora vá, filha. – disse Ferdinando, desprendendo-se de Alexa.

— Pai...

— Eu a amo muito, e é por isso que você precisa ir.

— Eu também amo você, pai. – retribuiu a garota, entre lágrimas e soluços.

— Então vá.

Aurora estendeu a mão para a garota, com um meio sorriso, de certo por causa da tristeza do momento. Alexa aceitou o gesto e deu um passo em direção à mulher, que por sua vez também a abraçou.

— Não tenha medo, querida, eu protegerei você.

Mesmo sem entender o que estava acontecendo, muito menos do que deveria ser protegida, Alexa resolveu confiar em seu pai, e se ele confiava em Aurora, ela também o faria.

A ruiva resolveu tresmalhar-se da garota, dirigindo-se a Ferdinando, que se uniu a ela em outro abraço.

— Tudo ficara bem. – disse a ruiva.

— Confio em você. – respondeu ele.

— Você nunca vai estar sozinho.

— Eu sei.

Então, Ferdinando despediu-se de Aurora e logo em seguida dirigiu-se a Bernardo que assistia a tudo aquilo perplexo e inexpressivo.

— Rapaz, preciso que você cuide de minha filha como sempre fez, ainda mais agora.

— Jamais deixarei Alexa sozinha.

E dizendo isso, aproximou-se da garota.

— Existem coisas entre o céu e a terra que estão além de nossa compreensão, e...

A casa começou a tremer, interrompendo a fala do jovem.

— Precisamos ir, a ventania está atingindo a casa. – disse Aurora.

— Mas... E papai? – questionou Alexa.

— Não se preocupe, Lua irá protegê-lo. Agora temos que ir.

E então, Aurora levantou o tapete que cobria o assoalho da cozinha revelando um alçapão, que rapidamente abriu com mãos ágeis, exibindo uma escada que rumava à escuridão.

— Por favor, entrem rápido. Não temos muito tempo. – pronunciou a ruiva.

Assim, todos desceram, e, com um olhar aflito, Ferdinando observou.


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