Alexa e a Guerra da Irmandade escrita por Priscila Luciani


Capítulo 5
Ventania




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O ruído era ensurdecedor, e os olhos simplesmente não conseguiam se abrir. Pensou em gritar, mas concluiu que seria inútil, pois som algum seria mais alto que aquele furacão repentino. Tentou, sem sucesso, procurar suas companhias, mas a única coisa que sentiu foi a madeira rústica da porta. De repente, teve outra sensação, duas mãos fortes a puxavam, e, como estivesse vulnerável, foi arrastada.

A ventania cessou, e o silêncio passou a reinar subitamente. Alexa ouvia apenas as batidas violentas e descompassadas de seu coração, suas pernas vacilaram e ela tropeçou, caindo logo em seguida. Por puro reflexo, seus olhos, que até então estavam fechados por medo, se abriram e uma mulher ruiva apareceu em sua frente, acompanhada por um rapaz.

— Como você está? – perguntou a mulher.

— Anda Lexie, fale de uma vez! – gritou o rapaz, visivelmente impaciente.

Alexa piscou algumas vezes, depois coçou os olhos, tentando lembrar-se de alguma coisa. O rapaz empurrou a ruiva e chegou mais perto da garota, sacudindo-a desesperadamente.

— Lexie, por favor reaja.

— Es-tou b-em. – foi o que ela conseguiu dizer.

— Traga ela para cá. – falou a ruiva.

Bernardo pegou Alexa no colo e acompanhou a mulher até a sala, onde depositou a garota sobre o sofá.

— Irei buscar um chá. – avisou a mulher.

Enquanto a ruiva estava ausente, Bernardo tentava fazer Anlexa voltar a si, sacudindo-a, chamando ininterruptamente seu nome, e, por fim tentando fazer uma respiração boca a boca.

— E-está maluco?

Alexa empurrou o garoto e sentou-se, ainda um pouco tonta, mas forte o suficiente para não deixar transparecer.

— Você não está vendo que eu já acordei, seu tolo?

— Agora estou. – ele respondeu.

— Que bom! E não ouse se aproximar de mim novamente.

— Fique tranquila, não farei isso.

— Acho bom! – ela disse, depois virou-se tentando assimilar onde estava.

O lugar era encantador. Nas paredes, quadros de fadas, duendes e unicórnios teciam um ar mágico ao ambiente, os móveis de madeira rústica, perfeitamente detalhados transmitiam aconchego, os objetos eram simples, porém de extremo bom gosto, estampas suaves e florais por toda parte, e as flores. Ah, as flores! Davam ao ambiente sua beleza e seu adorável perfume. A garota ficou perplexa com tantos detalhes e acabou se distraindo por alguns longos minutos, até recobrar a consciência.

— O que aconteceu? – perguntou.

— Estávamos lá fora e de repente começou a ventar forte. Eu fiquei desnorteado, até que essa mulher me puxou para dentro. Depois que eu me recuperei, ela puxou você também. Mas você demorou a voltar a si, fiquei preocupado.

— Estou bem, Bê, não se preocupe. – tranquilizou-o Alexa. – Mas, me conte quem é essa mulher?

— Não sei direito.

Os dois silenciaram quando ouviram os passos da mulher se aproximando.

— Fiz um chá de erva cidreira. Ele é calmante. – disse a mulher, abaixando-se próximo da jovem.

— Perfeito para Alexa. – respondeu Bernardo.

A garota o encarou, mas não respondeu, depois olhou desconfiada para a xícara azul em suas mãos.

— Beba. - aconselhou a ruiva.

Alexa olhou para Bernardo e depois para a xícara novamente.

— Não se preocupe, é apenas chá.

Ainda com receio, a garota finalmente levou a xícara até a boca, e por alguns segundos manteve-se em silêncio, mas acabou não se contendo e acabou fazendo a pergunta que surgira em sua mente:

— Foi você que provocou essa ventania?

A mulher, pega de surpresa, arregalou os olhos e ficou calada por alguns instantes.

— Infelizmente, não.

— Como assim?

— Essa ventania é apenas um aviso do que está por vir.

— Do que você está falando? – perguntou Bernardo.

— Vocês já devem conhecer a lenda que originou nosso reino, não é mesmo?

— É claro que sim. A lenda da Irmandade.

— Exatamente. – afirmou a ruiva.

— Do que vocês estão falando? – questionou Alexa.

— Você não sabe da lenda? – assustou-se Bernardo – Lexie, você é conhecida como “a devoradora de livros”, é curiosa até demais, vive procurando por lendas e histórias que o povo conta, seu pai mesmo diz que você não pára um minuto quando se trata de “acalmar” a sua curiosidade. Como pode não saber da lenda?

— Meu pai não gosta dessa história. Toda vez que eu tocava no assunto ele dava um jeito de se esquivar. Até tentei pesquisar, perguntei para algumas pessoas, procurei em livros, mas não encontrei nada que fizesse sentido. Depois, acabei esquecendo o assunto.

— Mas por que seu pai não lhe contou a história?

— Porque ele sofreu muito com as consequências. – disse a mulher.

— O que? Do que você está falando?

A mulher abaixou a cabeça e fitou as rosas sobre a mesinha, depois saiu em direção a cozinha, parando no meio do caminho. De repente, a porta se abriu e um homem encapuzado entrou. Ela correu desesperadamente, abraçando o recém-chegado, que retribuiu o carinho sem hesitar.

— Ainda bem que Lua conseguiu trazê-lo em segurança.

— Está uma loucura lá fora.

— Ela está cada vez mais poderosa.

— Sim. Lua quase não teve forças para me proteger. Sua magia está enfraquecendo.

— Eu sei.

— Acha que elas sabem que você está aqui?

— Não sei. Mas parece que a barreira está se rompendo.

Os dois ficaram em silêncio. Era perceptível a tristeza com que suas palavras foram pronunciadas, e mais nítida ainda a preocupação infiltrada. De repente, o homem pegou as mãos da ruiva.

— Você precisa levar Alexa.

— Não. – ela respondeu, dando as costas para o visitante.

— É necessário.

— Eu sei, mas não quero arriscar a vida dela.

— Mas somente ela poderá acabar com isso, a profecia foi clara.

Alexa assustou-se com a conversa e mais ainda com o fato de seu nome ter sido mencionado por dois estranhos. Levantou-se do sofá e foi até a cozinha.

— Eu posso saber do que vocês estão falando?

O casal entreolhou-se, a mulher abaixou a cabeça, segurando as lágrimas há tanto contidas, e então, o homem tirou o capuz.


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Notas finais do capítulo

E então, quem será o homem misterioso?