Alexa e a Guerra da Irmandade escrita por Priscila Luciani
Notas iniciais do capítulo
Mais um pedacinho da história da nossa jovem levada. Ela ainda irá nos surpreender!
Vila Dourada era realmente bonita. Seus poucos habitantes sobreviviam do campo e a mãe natureza lhes era generosa. Em todo o reino não havia tanta fartura quanto ali, naquele povoado que acolhia a entrada da floresta. A neblina pertinente encantava os olhos atentos, que podiam enxergar um enorme véu cobrindo as ruas, como se alguma noiva gigante estivesse passando por ali.
Era fim de tarde quando a campainha da livraria tocou, anunciando a chegada de alguém. Ferdinando estava na cozinha, retirando uma torta de pêssego recém assada do forno. O cheirinho tomava conta da casa, e a fumacinha que evaporava do bolo tecia desenhos disformes no ar. O livreiro desfez-se das luvas e correu até a sala, onde um rapaz de cabelos negros o esperava com uma caixa nas mãos.
— Vejo que seus dons de cozinheiro estão ficando cada vez melhores.
— Ora, ora, Bernardo!
Ferdinando cumprimentou o recém-chegado com dois tapinhas nas costas. E o conduziu até a cozinha. Além de seu entregador, Bernardo era seu amigo, mais do que isso, era considerado um filho, a quem ele muito estimava.
— Sente-se, acabei de tirar uma torta do forno. Conte-me como foi a viagem.
— Ah. Como sempre. Um pouco cansativa... Mas você sabe, eu adoro!
— Trouxe novidades?
— Sim, alguns exemplares exclusivos, direto do mercado. - ele depositou a caixa sobre a mesa - Seus clientes irão gostar.
— Ótimo! - ele anuiu com a cabeça abrindo a encomenda - Você conseguiu os cinco livros que pedi?
— Infelizmente, apenas dois deles, e ainda por pura sorte. A cidade está um caos.
— O que houve? - perguntou Ferdinando, intrigado.
— Parece que o príncipe desapareceu.
— Desapareceu? Como?
— Ninguém sabe. Foi há dois dias. Parece que ele fugiu para não se casar com a princesa Loren.
— Mas por que ele fugiria?
— O rei havia obrigando-o a casar para salvar o reino. As minas reais já não possuem mais ouro como outrora, e logo o povo morreria de fome. A união entre os dois reinos seria a salvação.
— Nossa! Então, se o príncipe não aparecer logo, nosso reino sucumbirá. - disse Alexa, que acabara de aparecer na cozinha, acompanhada de Lua.
— Creio que sim, minha cara. - argumentou Bernardo.
A garota sentou-se ao lado do visitante, enquanto Lua tentava pular em seu colo.
— Nosso reino está de pernas pro ar. Primeiro aquela chuvarada de ontem e este dia nublado em plena primavera, depois o príncipe desaparece. Daqui a pouco fadas e ogros invadirão a vila.
O pai e o jovem amigo começaram a rir. Alexa tinha uma imaginação que garota alguma da sua idade jamais conseguiria atingir.
— Você está cada vez mais lelé da cuca, Lexie. – disse Bernardo - Talvez tenha sido por causa daquele tombo que você levou quando éramos crianças.
— Eu não levei um tombo. VOCÊ que me empurrou. Seu ogro!
— E você escondeu minhas botas. Tive que andar pelos espinhos. Foi horrível! Sua...
— Chega, chega! Vocês não são mais crianças para terem discussões bobas.
— Tudo bem, papai. É este ogr...
— Alexa!
— Esse rapaz me tira do sério.
— Ora, ora. A sua sorte é que eu respeito o seu pai.
— Acho bom! - retrucou a garota.
Enquanto os dois discutiam, Ferdinando revirava a caixa dos livros, sabia que, embora agissem como cão e gato, no fundo os dois se adoravam. Alexa cuidou de Bernardo quando ele teve febre por dois dias, e este chorara desesperadamente quando aquela desmaiou após cair da árvore. O livreiro já estava acostumado com as "brigas", tanto que já não dava mais importância, apenas advertia caso passassem dos limites.
Entre os três últimos livros, Ferdinando encontrou o qual a mulher ruiva havia pedido há três dias. Tinha uma capa vermelho carmim e detalhes estranhos. "Cada louco com sua mania.", pensou ele, e então, resolveu acabar com a discussão.
— Lexie, olhe só. - ele mostrou o livro para a garota.
— O que é isso, papai?
— Um livro, sua besta! - intrometeu-se Bernardo.
— Eu sei, seu tolo!
— Chega de elogios, pessoal. - falou Ferdinando - Filha, esse é o livro que aquela mulher ruiva pediu.
— Hum. E?
— E será que você poderia levá-lo para mim? Ela ficou de passar aqui, mas creio que será difícil com essa neblina. Ela mora na ultima casa da Vila, a que fica mais próxima da floresta.
— Ora, papai. Se ela veio com aquela chuvarada, não virá com uma neblinazinha?
— Faça um favor para o seu pai, sua preguiçosa.
— Pra você é fácil falar, anda de carroça pra cima e pra baixo.
— Acalmem-se garotos.
— Dê-me o livro, papai. Eu não sou preguiçosa. - levantando-se, continuou - Anda Lua, vamos mostrar para este daí que nós não somos preguiçosas.
— Eu posso dar uma carona, estou indo para as bandas de lá.
— Não precisa.
— Não seja tão cabeça dura.
— Não quero.
— Filha, será melhor, aceite a gentileza de Bernardo.
— Gentileza? De Bernardo? Eis aí duas palavras que não combinam.
— Bom, eu já vou. Se decidir, estou na carroça. - o moço levantou-se - Até logo, Ferdinando. Voltarei amanhã para tratarmos de negócios.
— Até logo, garotos. Façam uma boa viagem.
— Papai!
— Ah, desculpe. Até logo, garotos e Lua.
E assim, os três partiram.
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