Alexa e a Guerra da Irmandade escrita por Priscila Luciani


Capítulo 2
O entregador


Notas iniciais do capítulo

Mais um pedacinho da história da nossa jovem levada. Ela ainda irá nos surpreender!



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Vila Dourada era realmente bonita. Seus poucos habitantes sobreviviam do campo e a mãe natureza lhes era generosa. Em todo o reino não havia tanta fartura quanto ali, naquele povoado que acolhia a entrada da floresta. A neblina pertinente encantava os olhos atentos, que podiam enxergar um enorme véu cobrindo as ruas, como se alguma noiva gigante estivesse passando por ali.

Era fim de tarde quando a campainha da livraria tocou, anunciando a chegada de alguém. Ferdinando estava na cozinha, retirando uma torta de pêssego recém assada do forno. O cheirinho tomava conta da casa, e a fumacinha que evaporava do bolo tecia desenhos disformes no ar. O livreiro desfez-se das luvas e correu até a sala, onde um rapaz de cabelos negros o esperava com uma caixa nas mãos.

— Vejo que seus dons de cozinheiro estão ficando cada vez melhores.

— Ora, ora, Bernardo!

Ferdinando cumprimentou o recém-chegado com dois tapinhas nas costas. E o conduziu até a cozinha. Além de seu entregador, Bernardo era seu amigo, mais do que isso, era considerado um filho, a quem ele muito estimava.

— Sente-se, acabei de tirar uma torta do forno. Conte-me como foi a viagem.

— Ah. Como sempre. Um pouco cansativa... Mas você sabe, eu adoro!

— Trouxe novidades?

— Sim, alguns exemplares exclusivos, direto do mercado. - ele depositou a caixa sobre a mesa - Seus clientes irão gostar.

— Ótimo! - ele anuiu com a cabeça abrindo a encomenda - Você conseguiu os cinco livros que pedi?

— Infelizmente, apenas dois deles, e ainda por pura sorte. A cidade está um caos.

— O que houve? - perguntou Ferdinando, intrigado.

— Parece que o príncipe desapareceu.

— Desapareceu? Como?

— Ninguém sabe. Foi há dois dias. Parece que ele fugiu para não se casar com a princesa Loren.

— Mas por que ele fugiria?

— O rei havia obrigando-o a casar para salvar o reino. As minas reais já não possuem mais ouro como outrora, e logo o povo morreria de fome. A união entre os dois reinos seria a salvação.

— Nossa! Então, se o príncipe não aparecer logo, nosso reino sucumbirá. - disse Alexa, que acabara de aparecer na cozinha, acompanhada de Lua.

— Creio que sim, minha cara. - argumentou Bernardo.

A garota sentou-se ao lado do visitante, enquanto Lua tentava pular em seu colo.

— Nosso reino está de pernas pro ar. Primeiro aquela chuvarada de ontem e este dia nublado em plena primavera, depois o príncipe desaparece. Daqui a pouco fadas e ogros invadirão a vila.

O pai e o jovem amigo começaram a rir. Alexa tinha uma imaginação que garota alguma da sua idade jamais conseguiria atingir.

— Você está cada vez mais lelé da cuca, Lexie. – disse Bernardo - Talvez tenha sido por causa daquele tombo que você levou quando éramos crianças.

— Eu não levei um tombo. VOCÊ que me empurrou. Seu ogro!

— E você escondeu minhas botas. Tive que andar pelos espinhos. Foi horrível! Sua...

— Chega, chega! Vocês não são mais crianças para terem discussões bobas.

— Tudo bem, papai. É este ogr...

— Alexa!

— Esse rapaz me tira do sério.

— Ora, ora. A sua sorte é que eu respeito o seu pai.

— Acho bom! - retrucou a garota.

Enquanto os dois discutiam, Ferdinando revirava a caixa dos livros, sabia que, embora agissem como cão e gato, no fundo os dois se adoravam. Alexa cuidou de Bernardo quando ele teve febre por dois dias, e este chorara desesperadamente quando aquela desmaiou após cair da árvore. O livreiro já estava acostumado com as "brigas", tanto que já não dava mais importância, apenas advertia caso passassem dos limites.

Entre os três últimos livros, Ferdinando encontrou o qual a mulher ruiva havia pedido há três dias. Tinha uma capa vermelho carmim e detalhes estranhos. "Cada louco com sua mania.", pensou ele, e então, resolveu acabar com a discussão.

— Lexie, olhe só. - ele mostrou o livro para a garota.

— O que é isso, papai?

— Um livro, sua besta! - intrometeu-se Bernardo.

— Eu sei, seu tolo!

— Chega de elogios, pessoal. - falou Ferdinando - Filha, esse é o livro que aquela mulher ruiva pediu.

— Hum. E?

— E será que você poderia levá-lo para mim? Ela ficou de passar aqui, mas creio que será difícil com essa neblina. Ela mora na ultima casa da Vila, a que fica mais próxima da floresta.

— Ora, papai. Se ela veio com aquela chuvarada, não virá com uma neblinazinha?

— Faça um favor para o seu pai, sua preguiçosa.

— Pra você é fácil falar, anda de carroça pra cima e pra baixo.

— Acalmem-se garotos.

— Dê-me o livro, papai. Eu não sou preguiçosa. - levantando-se, continuou - Anda Lua, vamos mostrar para este daí que nós não somos preguiçosas.

— Eu posso dar uma carona, estou indo para as bandas de lá.

— Não precisa.

— Não seja tão cabeça dura.

— Não quero.

— Filha, será melhor, aceite a gentileza de Bernardo.

— Gentileza? De Bernardo? Eis aí duas palavras que não combinam.

— Bom, eu já vou. Se decidir, estou na carroça. - o moço levantou-se - Até logo, Ferdinando. Voltarei amanhã para tratarmos de negócios.

— Até logo, garotos. Façam uma boa viagem.

— Papai!

— Ah, desculpe. Até logo, garotos e Lua.

E assim, os três partiram.


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