Premonição - O Início escrita por Victor Crype


Capítulo 10
Capítulo 10 - O Presente da Morte


Notas iniciais do capítulo

Indo para a reta final. Espero que gostem.



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− Erick você pode ajudar o cara dos fogos de artifício a montar o carrinho para os fogos desse fim de semana?

Erick acenou com a cabeça e se dirigiu para uma carretinha de carro, agora desconectada e cheia de fogos de artifício colocados de forma decrescente como degraus. Erick reparou no nome gravado ao lado da carretinha. Destino.

O grande barracão onde o Festival de Inverno iria acontecer estava quase vazio se não fosse pelo palco de metal pré-montado. O festival iria acontecer naquele fim de semana e por isso haviam contratado Erick para ajudar com os preparativos.

O garoto passou a mão pelo desenho de estrelas coloridas da carretinha, então saltou de susto quando um vulto de capuz negro saltou das sombras. O garoto levou as mãos ao coração com o susto. O homem por trás do capuz começou a rir escandalosamente enquanto tirava o capuz negro.

− Que menino assustado! – riu Malcolm, o promotor do festival que o contratara.

Erick sentia certa afeição por Malcolm, uma vez que Erick o achou parecido com sua namorada, mas o cara era simplesmente um idiota. Ele adorava pregar peças nos outros.

Malcolm resmungou:

− Melhor a gente começar a mexer logo com os fogos, pois o ar está muito seco... Uma faísca causaria um acidente terrível.

Erick engoliu em seco, mas seguiu Malcolm. Malcolm deu alguns chutes de leve para ter certeza que a madeira que mantinha o carro nivelado não estava solto. Erick ajudou então o homem a colocar os fogos dentro de seus recipientes, Malcolm o ensinou a colocar os longos pavios em cada fogo de artifício enrolando todos os fios juntos no fim.

− Pronto – Malcolm comentou – Agora quando acendermos o pavio todos vão queimar ao mesmo tempo.

Erick tossiu chamando a atenção de Malcolm e perguntou:

− Qual o nome da banda que vai tocar no festival?

Malcolm fez uma careta:

− Normalmente apenas bandas de música clássica – Malcolm lançou um ar travesso para Erick – acontece que sem querer contrataram uma banda de rock esse ano.

− Sem querer – duvidou Erick.

Malcolm riu da perspicácia do rapaz e lhe deu tapinhas nas costas. Ele apontou para duas bandeiras no chão.

− O nome da banda é Flag Hate, eles vão abrir o festival. Pegue as bandeiras e as coloque em pé ao lado do palco.

Erick sorriu e pegou as duas bandeiras do chão, levando-as perto do palco. Havia dois suportes para as mesmas, ele colocou uma em cada um deixando as duas bandeiras em pé. Ele olhou para a ponta triangular e afiada da ponta do mastro e sentiu um arrepio.

Uma brisa atravessou o barracão, vindo da porta de entrada. Ela varreu as costas do garoto fazendo-o sentir uma vontade quase incontrolável de correr dali. A bandeira se mexeu um pouco revelando o nome da banda. O garoto percebeu que faltava um “L” no primeiro nome, formando a palavra “fag”.

− Malcolm, uma das bandeiras tem uma letra faltando.

Malcolm se aproximou e olhou para a bandeira tendo um acesso de riso. Ele deu um soco amigável no ombro de Erick e brincou:

− Tudo bem cara, não faz diferença para mim – vendo que o garoto não havia entendido Malcolm ordenou – coloque essa bandeira do lado esquerdo do palco, perto de onde estão os fogos. As pessoas nem vão perceber nada ali.

Malcolm começou a se afastar dali, então pareceu se lembrar de algo e ordenou:

− Quando terminar com as bandeiras, pegue o maçarico dentro da caixa de ferramentas e solde a lâmpada no extremo esquerdo, ela está meio quebrada, não queremos que aquilo caia lá de cima não é?

− Tudo bem – Erick resmungou irritado.

Ele levou as bandeiras para seus respectivos cantos, então pegou o maçarico na caixa de ferramentas e começou sua escalada pelos canos metálicos do palco, indo em direção ao topo da estrutura.

No topo do palco, por trás dos focos de iluminação havia um pequeno espaço que dava para o rapaz andar a pé, seu cabelo roçava no teto do barracão. Ele passou pelas primeiras caixas de iluminação e chegou à última, onde uma faixa estava amarrada. Nela estava escrito: 18º. Festival de Inverno.

O garoto avaliou o estrago do aparelho. Uma das hastes que prendiam o equipamento possuía uma rachadura que quase rompia a haste. Ele ligou o maçarico e começou a soldar o aparelho, mas rapidamente parou, o maçarico estava esquentando a traseira do foco, o garoto ficou com medo de estragar o equipamento.

Erick estava tão absorto em soldar que quase caiu dali quando Murilo o chamou sob o palco:

− Erick desça daí! Você corre perigo!

Erick viu Maria logo ao lado de Murilo, ela ainda vestia um jaleco esfarrapado do consultório em que trabalhava, mas seus braços estavam sujos de sangue seco e tinham cortes feios. Paloma estava ao lado de Maria, parecendo um fantasma exausto.

− O que? – Erick perguntou confuso – por que eu faria isso?

Erick não havia reparado que sem querer se descuidara do maçarico e que este aquecia diretamente o foco de luz. Um som veio do palco nesse instante.

− Quem ligou o som? – Malcolm berrou de uma porta lateral ao palco que dava para o lado de fora.

Pedaço de Pano

Tire do mastro e enfie no seu traseiro

Agora é hora do massacre

Foda-se a bandeira e foda-se você

− Anti-Flag – Erick estranhou.

Erick olhou para os amigos que olhavam espantados para o palco vazio. Paloma se virou para ele.

− Saia daí, é a sua vez! – Paloma berrou.

Erick se levantou ao mesmo tempo em que a luminária entrou em curto e explodiu. Erick berrou quando a carne de seu rosto começou a chiar. Ele não conseguia abrir seus olhos, grudados pelas queimaduras, ele levou a mão ao rosto e se arrependeu quando sentiu a pele se soltar como queijo quando afastou a mão. Ele estava desfigurado assim como seu ego inflado.

Erick berrou e tentou se mover, mas acabou enfiando o pé entre as ferragens, então despencou ainda em pé do palco. Ele caiu sobre a ponta afiada do mastro da bandeira que entrou pelo seu traseiro, e saiu pelo topo de sua cabeça jorrando miolos para o ar. O sangue escorreu sobre a palavra “fag”.

Com o peso do espeto humano a bandeira caiu sobre o carro de fogos de artifício desprendendo a madeira de suporte, e o maçarico da mão de Erick acendeu o pavio dos fogos de artifício.

O espeto humano rolou para o chão e o carrinho inclinou para frente virando os fogos de artifício como canhões em direção aos outros três. Murilo, Maria Júlia e Paloma olharam chocados para o que parecia ser seu fim. O pavio único se dividiu indo em direção ao fogos. Quando chegou a hora de explodir os fogos na cara dos garotos, todos os pavios se apagaram.

O som mudou lentamente e começou a tocar Firework do início. Murilo sentiu uma lágrima escorrer pelo seu olho. Ele sabia o que tinha que fazer para que a morte não levasse todos. Ela guardara aquele presente especialmente para ele. Ele devia ter até o fim da música para escolher.

− Acabou? – Maria perguntou – a lista terminou outra vez?

Paloma fez menção em sair de trás de Maria Júlia, mas Murilo berrou:

− Não se mecham!

Ele sentiu o olhar das duas fitarem sua nuca.

− Não perceberam? A ordem. Paloma é a próxima. Não tem como a morte nos matar seguindo a ordem, se ela nos atacasse agora ela quebraria a lista. Enquanto estivermos assim ela não pode nos atacar, mas também não podemos sair. É uma armadilha.

A música chegou ao coro. Murilo informou:

− Atrás das duas tem uma saída lateral. Saiam por ali. Assim que fecharem a porta, a morte pula vocês duas e será a minha vez.

− Não vamos deixar você aqui! – Paloma protestou.

− Sim – Maria concordou – E se corrermos todos juntos?

− A morte vai pegar nós três. Não precisa ser assim, vocês duas podem sobreviver – Murilo soluçou.

− Mas e se corrermos até a porta e esperarmos você?

− Ainda assim a morte nos pegaria – Murilo cortou, cessando o choro – eu previ que seria assim, eu enganei a morte e ela guardou isso para mim. Ela vai me matar com minha música favorita.

As duas fizeram um longa pausa sem saber o que fazer. Murilo se virou de costas para a armadilha e encarou as duas atrás dele.

− Eu amo vocês duas, obrigado por tudo – ele conteve as lágrimas – agora vão!

Maria e Paloma correram desabaladas em direção à porta. Murilo entre elas e o canhão. O fim da música se aproximava. Maria chorava muito quando acenou e fechou a porta atrás de si.

Bom, Bom, Bom, mais brilhante até que a lua

Bom, Bom, Bom, mais brilhante até que a lua

Eram os acordes finais de sua vida Murilo percebeu. Finalmente a morte o pegara. Então ele sussurrou:

− Eu venci você diversas vezes morte, como meu último pedido quero que as duas ganhem mais um mês de vida por cada um da lista que você conseguiu pegar.

A música acabou os fogos de artifício explodiram em sua direção incinerando seu corpo. Murilo foi atirado para o ar como um fogo de artifício, mas entre o limiar entre a vida e a morte pareceu ouvir um “sim”.


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Notas finais do capítulo

Comentem dúvidas se tiverem ou algo mais.



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