Premonição - O Início escrita por Victor Crype


Capítulo 9
Capítulo 9 - Fim dos Dias de Dentista


Notas iniciais do capítulo

Desculpe a demora para postar o novo capítulo, mas tive uns atrasos no meu cronograma. Por favor continuem avaliando :)



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Paloma foi rápida em se esgueirar para dentro do Salão novamente para vestir suas roupas. Foi bem a tempo de a polícia chegar ao local e começar a cercá-lo e procurar testemunhas. Murilo puxou Paloma para fora dali e sentenciou:

− Maria é a próxima. Podemos salvá-la.

Paloma o encarou:

− Você disse que ouviu antecipadamente as músicas... – a garota terminou a frase sem saber como terminar a pergunta.

Murilo parecia muito assustado quando explicou:

− Toda vez que ligo o rádio, ouço a música da minha morte. Só que nunca havia tentado mudar os canais antes, quer dizer, até hoje. Eu sei quando a morte vai parar. Antes da meia noite de hoje a lista vai ter terminado pela segunda vez. Sei como salvar a Maria.

Paloma lançou um olhar perscrutante no garoto então concordou:

− Vamos salvá-la.

*

Maria ajeitou os instrumentos do Dr. Paulo sobre a mesa móvel da cadeira odontológica. Era o fim de mais uma tarde no consultório e o paciente fazia uma obturação particularmente difícil. A música tocava baixinho num computador mais antigo. A garota puxou a luz da cadeira e a apontou para o paciente de forma a facilitar o trabalho do dentista.

O dentista tirou o equipamento perfurante da boca do paciente e perguntou:

− Qual o nível da sua dor?

O paciente desdenhou com um som nada educado:

− O nível da morte doutor.

Maria sentiu um arrepio na coluna. Ela se virou tentando evitar o paciente. Se a garota não soubesse que ainda era a vez da Sâmea, talvez se sentisse com muito medo.

A garota pegou uma pequena espátula e colocou um pouco do pó que formava a resina para a restauração do dente e colocou água. Começou a mexer vigorosamente a massa e sem querer deixou cair um pouco sobre a bancada. Ao olhar para a sujeira que acabara de fazer, Maria viu que havia derrubado massa sobre um jornal. Ela leu a manchete: “Mulher morre asfixiada em dentista”.

Maria estancou amedrontada. Ela respirou fundo. Ainda não era a vez dela. Ela se virou, então de repente com um estalido e soltando uma faísca, a lâmpada sobre o paciente despencou caindo sobre a mesa móvel. O paciente estalou os olhos com medo. A haste metálica não o havia atingido por muito pouco.

− Doutor... – a voz de Maria morreu na garganta.

− O rapaz que vai arrumar o refletor vem amanhã cedo – o dentista tentou se desculpar então apontou para a bancada e deu uma ordem para Maria – Tem uma presilha de plástico, use-a na dobra do refletor para segurá-lo em pé.

Maria obedeceu à instrução do dentista, levou a mão sobre a bancada pegando a presilha, mas sem querer sua mão roçou numa bandeja de instrumentos que ela havia esterilizado há pouco, fazendo a bandeja deslizar para o lado e cair dentro da pia.

Maria fez uma careta feia para os instrumentos odontológicos que ela teria que esterilizar novamente. Paulo apenas lhe lançou um olhar com ar de riso deixando a garota ainda mais irritada. Ela começou a colocar os instrumentos novamente na bandeja e depois os depositou sobre a bancada novamente.

A garota se virou novamente e foi até o refletor colocando um pedaço de plástico sob a dobra do braço da haste metálica. Imediatamente o plástico se curvou com o peso do braço metálico. Aquilo não ia durar muito. A garota se voltou para seus instrumentos odontológicos sujos.

Ela jogou o jornal na frente do troféu do seu patrão. Ela olhou para o prêmio tosco. Era um suporte negro com uma lupa inclinada para frente. A lente estava mais inclinada que o habitual por conta de seu patrão ficar mostrando o prêmio para os clientes.

A garota olhou para o prêmio onde se lia:

6º lugar

66º. Concurso de Pensamento Dedutivo

Amostra de Odontologia

Revirou os olhos e entregou a massinha para seu patrão. Enquanto o dentista aplicava o produto no paciente a garota se dirigiu para a salinha lateral e preparou a autoclave para esterilizar os equipamentos. Ela colocou a tomada no plugue e teve que esperar uns minutos até que a luz verde indicando que a máquina podia ser usada acendesse.

Quando voltou para a sala de atendimento, seu patrão havia terminado o trabalho na boca do cliente e se retirava da sala com sua maleta. Maria perguntou:

− Doutor você está indo embora?

− Sim – o dentista respondeu suspirando – foi meu último paciente. Tenho que ajudar o legista a fazer o reconhecimento de uma paciente que morreu. A garota foi torrada numa máquina de estética minutos atrás.

Maria acenou com a cabeça em concordância. E esperou o patrão sair dali caminhando. Ela sorriu. Ela tinha uma ideia perfeita em mente que simplificava e muito a limpeza dos instrumentos que acabara de sujar.

O telefone tocou, Maria o atendeu ainda pensando no seu plano maroto:

− Consultório de odontologia – Maria disse distraída.

− Alô é da funerária? – uma voz indistinguível pelo chiado falou do outro lado.

Maria bateu o telefone no gancho sentindo um medo incontrolável passar por ela. Ela se dirigiu para a sala do seu patrão ignorando o telefone tocando.

A garota abriu a porta da bancada pegando um grande galão de álcool. Então a garota pegou um pano e embebeu o pano em álcool, passando em seguida em cada uma das peças que sujara. Ela não pensava mais em sua preguiça marota que podia custar seu emprego, mas no telefonema. Ela estava sentindo uma sensação horrível.

O telefone tocou novamente e a garota quase virou o galão, encharcando o mesmo e ao pano com álcool. A garota jogou o pano entre o jornal e o galão, em seguida colocou a bandeja com os afiado artefatos odontológicos em frente ao galão, na beira da bancada. Atendeu ao telefone móvel da sala do dentista.

A luz do sol incidiu nesse momento sobre a lupa inclinada. Um filete concentrado de luz incidiu sobre o jornal. A voz do dentista soou do outro lado do aparelho:

− Maria, acabei de receber um telefonema. A garota que eu te disse... – o doutor fez uma pausa triste – era a Sâmea. Você era amiga dela, achei que devia saber.

O som do computador aumentou repentinamente, Taylor Swift cantou Blank Space:

Levaremos isso longe demais

Vou te deixar sem fôlego, ou com cicatrizes horríveis.

Tenho uma longa lista com outros

Eles te dirão que sou maluca

Mas tenho um espaço em branco

Vou escrever seu nome

Maria deixou o telefone cair no chão lentamente. O fogo tomou o jornal rapidamente se espalhando para o pano encharcado de álcool então para o próprio galão. Maria se virou e deu um passo para trás ao mesmo tempo em que o galão explodiu.

A garota levantou os braços protegendo o rosto enquanto instrumentos afiadíssimos a atingiam por todo o corpo. A garota caiu para trás com a explosão e com os golpes cortantes. Ela caiu sobre a cadeira do dentista, mas ao tentar se apoiar na mesa móvel, esta veio em sua direção atingindo-a no pescoço. Sem aviso e com um estalo quando a presilha se partiu o braço metálico caiu sobre a mesa móvel travando-a naquela posição.

Maria sentiu o ar ser cortado de e sumir de seus pulmões. Seu nariz e boca puxavam o ar, mas ele não passava pela sua garganta. A garota começou a chutar com pés no chão escorregadio. A cadeira odontológica lhe dava uma chave de pescoço, literalmente.

A visão da garota começou a escurecer e suas pernas a bambear. Ela grasnou um gemido doloroso pedindo por ar. Ela estava morrendo aos poucos sem seu precioso oxigênio. Seus olhos ficaram vermelhos pela falta de oxigenação. O fogo se espalhou pelo chão aos pés da menina.

As pernas de Maria caíram molemente contra o chão e lentamente as mãos que empurravam a mesa móvel começaram a escorregar em direção ao chão. A visão da menina escureceu.

Ela sentiu quando seu corpo caiu repentinamente no chão duro e o ar entrou com força em seus pulmões fazendo-a a arfar. Murilo a levantou e a chacoalhou fazendo uma nesga de luz invadir sua visão. Ela estava tonta, mas podia ver o rosto de seus amigos duplicados.

O rádio mudou dessa vez. Primeiro Firework explodiu num som absurdo. Então a música foi decrescendo até mudar para Dog Days Are Over da Florence:

A felicidade o atingiu como um trem nos trilhos

Vindo em sua direção, parado, sem volta

− Droga! – Murilo berrou passando o braço de Maria sobre seus ombros – temos que sair daqui agora.

Paloma passou o outro braço de Maria por seus ombros e os dois começaram a arrastar Maria, cuja tontura passava lentamente. Eles saíram para a calçada. Maria sentiu uma leve brisa passar por ela. Ela podia ouvir Murilo falando desenfreadamente sobre ser sua vez. O garoto estava desesperado.

Maria olhou para a janela espelhada do consultório. Ela viu o reflexo de um ônibus de turismo cuja identificação era TR3M. Ela o viu passar rapidamente pela janela. Ela olhou para a rua vazia e entendeu.

Quando Murilo deu um passo para trás em direção a rua Maria berrou:

− Murilo, cuidado!

O garoto estancou e se virou ao mesmo tempo em que o ônibus passava a milímetros de seu corpo. O garoto cambaleou para frente e caiu com as mãos espalmadas, vomitando bile em seguida.

Maria estava quase totalmente recuperada. Ela já conseguia enxergar bem e respirar pelo menos. Ela caiu ao lado do amigo abraçando-o:

− Acabou, fique calmo.

Murilo começou a chorar:

− Eu estou com medo demais, mas sei que não acabou. Eu sei q a lista vai passar uma vez mais ainda essa noite. O Erick é o próximo. Ele corre perigo.

Maria se juntou ao amigo e começou a chorar também.

Paloma respirou fundo prendendo o choro e perguntou:

− Onde o Erick está?

− Ele está na 18º. Encontro de Inverno da cidade, ele vai trabalhar lá como ajudante da banda – Maria soluçou.

Paloma puxou os amigos do chão e sentenciou:

− Vamos até lá, temos que salvá-lo.

Os garotos iniciaram sua corrida em direção ao sol poente.


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Notas finais do capítulo

Estamos na reta final. No encontro final os garotos enfrentarão a ira da morte e o que ela guarda especialmente para aqueles que a enganam.



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