Melodia escrita por Hoshi


Capítulo 6
Seis




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– Acorda, dorminhoca!

– AAAAAHHHHH!

Acordei com as meninas em minha volta.

– Que susto! Não tinha maneira melhor de se acordar uma pessoa, não?

– Estamos te chamando há horas! Literalmente.- A Magali falou.

– Que dia é hoje?- Perguntei me levantando, já preparada para um novo evento.

– Dia de conhecer a escola! - A Denise falou.

– Eu já conheci. Me perco, mas só ás vezes.

– Sempre, né? - A Marina falou brincando.

Rimos.

– Fofa, hoje é o dia que você vai se impor pela sociedade. Tem que aprender os cantos que a secretária não mostra. - A Denise falou com tom de seriedade.

– Uou. "Impor". "Sociedade". Nem parece a Denise que conhecemos. - A Aninha falou.

– É, ficou esquisito. Mas enfim, vamos te apresentar ao povão! Hoje é o dia que vai te marcar, por isso comporte-se.

"Já vi que hoje vai ser um dia daqueles..."

E realmente foi. Elas me acordaram lá pelas oito da manhã. O café é ás 10:00 e a Dê, diz ela, tem "muito o que fazer".

– Mônica, minha linda... Qual foi a última vez que você escovou esse cabelo, ou passou pelo menos uma prancha? - A Denise perguntou.

– Hum... nunca.

– O quê? - Ela falou quase puxando meus cabelos enquanto a s meninas ficavam em nossa volta. Eu sentada olhando para o mesmo reflexo que todas as outras: eu no espelho da penteadeira.

– Calma, Dê! Tá sendo muito ríspida com ela. - A Magali me defendeu.

– Termos muito o que fazer... - A Dê pôs a mão na testa.

– Dê, olha eu quase não saía de casa em Nolita. Eu tinha professores particulares, fazia as refeições em casa. Minha tia tem um cinema particular e isso era minha diversão. No jardim tinha algumas distrações.

– Então você não frequentava a escola? - A Marina me perguntou.

– Não saía de casa? - A Cascuda me perguntou.

– Nunca fez atividades? - A Aninha perguntou.

– Não tinha amigos? - A Magali perguntou.

Todos com carinha de pena. Isso me deixa irritada. Mas vamos lá. Pense, Mônica, elas estão preucupadas. E curiosas.

–Bom, lá eu quase não saía de casa. Eu fazia aulas de violoncelo e teclado. E canto. Eu tinha professores para qualquer coisa que eu faria na escola. E nas outras também eram professores particulares. Se eu não saía, não falava com ninguém logo...

–Não tinha amigos. - A Magali completou.

–Tá, tá. Já acabou o melodrama? Temos muito o que fazer...

– Que grossa, Denise.- A Marina resmungou e saiu.

Magali saiu atrás dela e trouxe-a.

– Moniquinha, ma chère... Precisamos deixar você apresentável. Vamos lá. Como você quer seu cabelo? Trança, coque, rabo de cavalo, solto...

–Dê, olha, não viaja, o.k? Eu tenho cabelo curto.

–Chanel. - Ela me cortou.

– Tanto faz. Não dá para fazer tantos penteados. Eu gosto dele como está.

– Uma pranchazinha? - Ela fez uma carinha de cachorrinho sem dono.

– Ai, eu vou me arrepender...

– Isso é um sim! - As meninas comemoraram.

– Ah, e vou te vestir também.

E realmente me arrependi.

– Está todo mundo olhando para mim.

– Isso é uma coisa ótima. - A Aninha falou.

Eu passei por um espelho do prédio dois.

Eu realmente estava diferente. Bem diferente.Se elas queriam que eu irritasse os pops, eu estava conseguindo. Elas me disseram que lá há subdivisões.

– Mônica, preste atenção: se você se envolveu com um pop...

–Primeiro, eu não me envolvi. Fora só um beijo, Aninha.- Eu interrompi-a. Já estava irritada com aquela conversa.

– Para tudo! - A Denise falou - Ela falou "fora"?

Ignoramos-a.

– Aninha, sério foi só um beijo! Oh, céus! O que um beijo pode significar?

– Moniquinha, minha querida: "oh, céus"? Onde "cê" tem andado?

–Denise! - As meninas falaram em uníssono.

– Acontece, Mônica, que você será um alvo deles. Se o Cebola contar 'pra' alguém...

Minhas lembranças foram levadas com o sopro de um vento gélido. Ele levou um susto assim quando me viu. Claro, eu estava maquiada, com roupas da Denise e alguns garotos que passavam falam comentários como: "Uau, que gatinha". Nem eu me reconheceria.

E ontem/ hoje de madrugada eu lhe dei um tapa. Vi algumas marcas em seu rosto. Com certeza ele diria que brigou com alguém. O Cebola cruzou seu olhar com o meu. Depois ambos desviamos. Tentei me concentrar na apresentação das meninas.

– E aqui, Mônica, é o Jardim de Baixo é onde...

Depois não escutei nada. Denise me apresentava para as pessoas, vi que ela era "a popular" e queria ficar mais me promovendo. Tentei não ligar, mas eu já estava farta daquilo. Depois do café da manhã, Cascuda e a Marina saíram, e enquanto elas iam em direção ao um prédio, eu saí rapidamente na direção oposta. Não sabia direito para onde eu estava indo, só corri naquela direção sem olhar para trás.

Passei por dois prédios e depois por um jardim e um laguinho. Passei por um outro prédio só que esse é mal cuidado. E de repente vi um cenário maravilhoso: tinha um lago que parecia que continuava além das propriedades da escola, um banco e em sua volta um arco de flores, a maioria já murcha. Tinha um Jequitibá Rosa e um balanço, enferrujado em algumas partes. Mas para mim era perfeito.

Sentei no banco e tirei aqueles saltos que estavam me fazendo tropeçar. Olhei meu reflexo no lago. Aquele cabelo ultra liso e aquela maquiagem não fazia parte de mim. Lavei meu rosto no lago e passei a mão molhado no meu cabelo. Me sentia bem melhor assim.

Lembrei de uma música de uma banda favorita minha:

Tenho andado distraído

Impaciente e indeciso
E ainda estou confuso
Só que agora é diferente
Estou tão tranquilo
E tão contente

Quantas chances
desperdicei
Quando o que eu mais queria
Era provar pra todo o mundo
Que eu não precisava
Provar nada pra ninguém

Me fiz em mil pedaços
Pra você juntar
E queria sempre achar
Explicação pro que eu sentia

Como um anjo caído
Fiz questão de esquecer
Que mentir pra si mesmo
É sempre a pior mentira

Mas não sou mais
Tão criança a ponto de saber tudo

Já não me preocupo
Se eu não sei porquê
Às vezes o que eu vejo
Quase ninguém vê
E eu sei que você sabe
Quase sem querer
Que eu vejo o mesmo que você

Tão correto e tão bonito
O infinito é realmente
Um dos deuses mais lindos

Sei que às vezes uso
Palavras repetidas
Mas quais são as palavras
Que nunca são ditas?

Me disseram que você
estava chorando
E foi então que percebi
Como lhe quero tanto

Já não me preocupo
Se eu não sei porquê
Às vezes o que eu vejo
Quase ninguém vê
E eu sei que você sabe
Quase sem querer
Que eu quero o mesmo que você*

– Linda música.

Levei um susto.

– Quem está aí? Quem é você?

– E quem é você?

– Desculpe, não falo com estranhos. - Falei pegando os saltos e já saindo.

– Não vá!

– Saia, então. Como podes me ver?

– Vendo. Se disser quem é você direi quem sou.

– Eu sou a ilusão.

– Então como posso te ver? Te sentir?

– Posso ser um desvairo.

– Então, senhorita desvairada, quem é você?

– Eu posso ser uma menina que ama a música mais do que tudo. Tenha se agarrado a ela por ser seu único apoio. Ou não. Agora me conte, quem é você?


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Notas finais do capítulo

*Link:http://www.vagalume.com.br/legiao-urbana/quase-sem-querer.html#ixzz3gBy1oMCy
Música: Quase sem querer - Álbum: Dois - Banda: Legião Urbana - Compositor: Renato Russo
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Até o próximo capítulo, povão!
Ah, vão se acostumando com a legenda, Mônica é uma menina que ama cantar, ama a música. E, é claro, haverão vezes que não será uma música que ela tenha cantado.

Beijokas da Pietra