Melodia escrita por Hoshi


Capítulo 5
Cinco




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Liguei meu abajur. Peguei as canetas que estavam estrategicamente ao meu lado. Debaixo de meus travesseiros, vive um grande e velho amigo. Passei meu dedo levemente pela sua capa preta gasta. Minha cabeça estava rodeada de diversos pensamentos.

Em vez de ir diretamente ás páginas em branco, como sempre fazia quando estava inspirada, li a primeira página. Era tradicional de minha parte por a primeira página como título daquele determinado caderno. E lá estava ela. Escrita com minha caligrafia de quando tinha nove anos:

🐇🐇🐇♥♥ Caderninho de Compor Músicas!!! ♥♥🐇🐇🐇(amo coelhos).

E logo atrás vinha minha primeira música. E assim iam até chegar as páginas em branco que deveriam estar surgindo uma música, como quando eu fazia quando estava sentindo muito forte. Agora era um sentimento idiota que nunca senti antes. Confusão. Isto, estou confusa.

Sinto uma súbita falta de ar e ignoro as janelas, pois podem acordar as meninas que, aliás, dormiam profundamente. Resolvi sair do quarto, vi que tem uma sacada próxima ao nosso quarto. Ir para o jardim seria arriscado, pois poderiam me encontrar passando do horário do toque de recolher. Levantei o menos ruidoso possível e calcei as pantufas de coelhinhos( já mencionei que amo coelhos?). Levei comigo meu caderninho e uma caneta. Desci as escadas pensando na possibilidade da porta estar fechada. O tintilar da minha caneta da sorte caindo me fez sair desse pensamento. Fui para debaixo da escada. Esperei alguns segundos e vi que ninguém tinha acordado. Eu já estava me sentindo tonta e meus lábios estavam totalmente secos. Meu corpo todo tremia.

Toquei a maçaneta gélida levemente torcendo para a porta estar aberta. Abri-la devagar ao descobrir que estava. Fiquei um pouco tonta com o ar ali. Fui para a sacada e apoie o caderninho e a caneta em sua beirada. Insistentemente minhas pernas tremiam, senti elas cambalearem e meus quadris cairem sob o chão enregelado. Meu braço apoiou meu tronco. Minha cabeça caiu em algo, digamos, macio. Escuto uma voz. Tento me mexer, me levantar e sair correndo para o quarto, mas é em vão. É horrível esse estado de inconsciência.

Quando acordo, tento me recobrar dos sentidos. Estou na sacada, que, se me recordo é perto do meu quarto. É de noite... aí lembro da noite, de escrever no meu caderno de compor, de vir para cá. Nesse instante percebo que estou sendo segurada. Olho para cima e vejo a cara de quem menos queria ver agora.

–Ponha-me no chão!- Ordeno.

–Shh! Quer que nos peguem?

– O que está fazendo aqui, Cebola Azeda?

–Ihh já veio de implicância? Eu te segurei quando estava desmaiando, o.k.?

– Tá! Agora me solta!

Ele cuidadosamente me põe no chão.

– De nada, viu?

–Tá, tá obrigada. O que tá fazendo aqui?

– O que você tá fazendo aqui!

– Eu perguntei primeiro.-Protesto. - Aliás pelo que eu me lembre, sua ala é distante daqui.

– Não é nada. Você é que se perdeu. Meu quarto é nesse andar abaixo de nós, minha ala é á esquerda

– Tá, tanto faz.

O silêncio paira sobre nós.

– Respondendo sua pergunta - Cebola começa, quebrando o silêncio - eu venho aqui todas as noites. E você? Por que desmaiou?

– Eu...tive uma crise de claustrofobia.

– Uhum.

Comecei a aproveitar o vento que passou por ali. De repente eu esqueci que o Cebola estava lá e comecei a cantarolar.

Eu sei que lá no fundo
Há tanta beleza no mundo
Eu só queria enxergar

Eu eu lembrei de como eu conheci essa música. Eu estava me perguntando o porquê de tudo isso, aí escutei essa música no computador. Me fez rever me modo olhar as coisas. O Cebola me fez sair dos meus breves pensamentos:

As tardes de domingo
O dia me sorrindo
Eu só queria enxergar

Ele sorriu para mim. Isso mostrava que ele conhecia a música. E o sorriso...aí,Mônica, não caia na dele. Mas...uma música eu podia cantar com ele. Continuei e cantamos baixo, quase como sussurros.

Qualquer coisa pra domar o peito em fogo.
Algo pra justificar uma vida morna.

O mundo acaba hoje eu estarei dançando
O mundo acaba hoje eu estarei dançando
O mundo acaba hoje eu estarei dançando com você

O mundo acaba hoje eu estarei dançando
O mundo acaba hoje eu estarei dançando
O mundo acaba hoje eu estarei dançando com você

Não esqueço aquela esquina
A graça da menina
Eu só queria enxergar
Por isso eu me entrego
A um imediatismo cego
Pronta pro mundo acabar

Você acredita no depois?
Prefiro o agora.
Se no fim formos só nós dois, que seja lá fora

O mundo acaba hoje eu estarei dançando
O mundo acaba hoje eu estarei dançando
O mundo acaba hoje eu estarei dançando com você

O mundo acaba hoje eu estarei dançando
O mundo acaba hoje eu estarei dançando
O mundo acaba hoje eu estarei dançando com você*

Link: http://www.vagalume.com.br/pitty/dancando.html#ixzz3fVos379I

Quando percebi eu estava bem próxima do Cebola, milímetros nos separavam. Eu olhei-o nos olhos. Por segundos me perdi naqueles olhos negros. Me lembrei de uma coisa. E fiz a primeira coisa que deu na minha cabeça...

Eu lhe dei um tapa. Digamos... um pouco forte...

–Você está louca? Meu rosto tá vermelho e... você deixou marcas!

– Você é que está! - Explodo em voz baixa. - Você acha que é assim? Só chegar, cantar uma musiquinha, me agarrar, olhar nos olhinhos para eu distribuir beijinhos? Você pensa que eu sou idiota ou quê? Eu conheço gente da sua laia. Os famosinhos, pops...

– Peraí...- Ele me interrompeu - Quem te falou dos"pops"?

– As minhas colegas de quarto, as meninas. Mas isso não importa! Não mude de assunto! Eu não sou como aquelas menininhas que você fica, pronto e acabou. Aliás, nem ficamos!

– Aquele beijo não significou nada para você?

–Não!- Digo firmemente, quase convencendo a mim mesma. - E eu sei que para você também não. Mais uma para sua lista. Ai, que ódio de mim mesma daquele momento! E um aviso: não me procure!

Peguei meu caderninho e adentrei o quarto. Subi com cuidado para que não acordasse as meninas. Pus meu caderninho em seu esconderijo. Adormeci pensando no menino de cabelo espetado...


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Notas finais do capítulo

* Música: Dançando - Álbum: Agridoce - Compositor(a): Pitty Leone e Martin Mendezz