Melodia escrita por Hoshi


Capítulo 25
Vinte e cinco




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MINHA VIDA nunca foi um exemplo de vida. Ao contrário, antes de vir pra cá, eu achava que nem tinha vida. Eu tinha uma rotina por anos e anos que se repetia continuamente e monotonamente. Até minha tia se casar. O marido dela convenceu de me por em um colégio interno, para se livrar de mim, eu sei. 

Aliás eu sempre fui isso, um estorvo, uma decepção. Eu me achava isso, até me tocar que eu era realmente isso. Minha mãe morreu por mim, meu pai me agrediu sem motivo...minha tia me colocou em atividades e aulas e não deixava eu sair de casa na maioria das vezes... Só fico me perguntando o porque disso tudo...

O por quê de um colégio interno no Brasil eu não sabia o motivo... Só sabia que isso mudaria minha vida completamente e me deixaria de cabeça para baixo... Só de pensar nessas mudanças, decidi não aceitar... Mas minha opinião não tinha grande valia, não mesmo. E eu vim para São Paulo, para esse colégio interno chamado Lemon School. Um colégio internacional e diferente de tudo que eu tinha imaginado. Não era gigantesco, tampouco pequeno. Era grande á sua maneira.

E eu fui chegando... Quando eu vi já tinha cinco amigas fiéis, divertidas e bem diferentes, que têm paciência para me ensinar coisas simples de meninas. 

A música sempre foi algo que me encantou por completo e agora eu faço parte de uma banda que já teve quatro shows! No primeiro eu fiquei muito nervosa, mas muito mesmo, e tive apoio dos meus amigos. Das meninas e do pessoal da banda, o Cascão que é uma figura(!), do Dc e do Cebola. 

Nós já tínhamos tocado perto da escola e alguns nos viram e fomos para a internet sem eu saber. Fiquei com a maior vergonha, como sempre. Mas esse sempre está acabando... É como se aos poucos eu estivesse me soltando. Eu estou numa realidade totalmente diferente do que eu vivi nesses 10 com a minha tia, já que fui morar com ela aos 6. 

Uma nova Mônica está crescendo?

Talvez. Eu não sei. É muita coisa para assimilar e pensar corretamente. E agora...bom... agora eu deveria estar prestando mais atenção na aula de física.

Senti a Isa, minha amiga de classe, me cutucar antes de eu me assustar:

— Mônica! Já que está prestando bastante atenção na aula, poderia me responder quais unidades de potência mais usadas na eletricidade?- O professor Marcos perguntou-me. 

"Droga! Eu tinha mesmo que responder? A classe toda está te olhando, Mônica. Vamos lá respire fundo...coragem! Ele implica com todo o mundo... Vamos lá! Responda."

Respirei fundo... O que eu estava pensando me deu coragem para falar isso:

— Bom, professor, gostaria de saber o por quê da pergunta está sendo direcionada diretamente para mim. 

— Simples. A senhorita estava olhando para a janela. Não prestando atenção assim na minha aula.

— Bom, acho que olhar para a janela ou não, não impede de estar prestando atenção na sua aula, professor. A distração é algo importa para o melhor aprendizado, pois já deveria saber que o cérebro não consegue se concentrar, tampouco aprender mais do que 20 minutos no mesmo assunto.- Uau! Da onde eu tirei essa coragem de falar isso? Estou me assustando comigo mesma.

— Da mesma forma... Poderia responder? Ou quer que eu repita, pois não consegue se concentrar...

Ironia... Isso é uma coisa que estou odiando e que o professor está fazendo... Mas é só responder.

— São o WATT e o HP, que significa Horse Power, ou cavalo de força, o WATT corresponde ao trabalho, ou energia, de um joule efetuado no tempo de um segundo.- Respondo.

— Prestando atenção pessoal.- Ele fala  me cortando. 

Depois de todos na sala me olharem surpresos, eu aprendi a ignorar. Continuei olhando para a janela e pensando... "Nossa, como o tempo passa rápido..."

 

                  •  •  •

 

Eu já estava jogada na cama quando ouço o barulho de uma carta caindo no assoalho. Provavelmente o inspetor que a pôs por debaixo da festa da porta.

Desço rapidamente as escadas, pois a Denise falou antes que estava ocupada, a Cascuda, a Aninha e a Magali fazendo dever de casa. A Marina estava treinando ou fazendo um dever da aula dela de Desenho. Esse era um dos raros momentos que nós seis estávamos juntas de tarde no quarto sem ninguém voltando de algum trabalho, atividade, aula extra, ensaio. Era a nossa sexta-feira. Nem me ocupei de chamar alguém para ver a tal carta que havia chegado.

Peguei a embalagem que dizia ser do próprio colégio. Rasguei-a sem me preocupar muito. Nela vinha um envelope contendo seis papéis dentro. Peguei um deles e vi que era uma planilha. Li a primeira coisa que estava escrita e vi que era a planilha com matéria é dia das provas. Junto dela, uns convites com nome de cada uma de nós.

— Meninas!- Chamei-as.- Venham logo, chegou a planilha das provas do fim do ano.

— Ai, Mônica! Trás aqui para gente.- A Magali gritou de volta.

— Acho que vão querer vir rápido agora então... Há convites aqui também.

— Quê?- A Magali perguntou.

— Sério?- A Marina perguntou surpresa.

— Ai, venham, tá?! - Respondi.

Esperei todas descerem e chegarem aqui em baixo para entregar a cada uma, o convite e a planilha.

— Você já abriu, Mônica? - A Denise perguntou.

— A planilha já. Como, pelo menos na minha sala, os professores já vem avisando a data e as matérias, aqui só tá confirmando.- Falei.

— E os convites?- A Cascuda falou lendo os papéis.

Neguei com cabeça. 

— Esperei para vermos juntas.- Declarei.

— Ai, que fofis! Se fosse eu não teria o feito!- A Denise falou ironicamente.

— Ai, Dê que insensível.- A Aninha brigou.

— É mesmo.- A Marina concordou.

— Esperei para vermos junt...- Falei.

— Ah! É uma festa!- A Dê me interrompeu. - Uma, não. É "a" festa! Festa de Natal! 

— E lá se vai a magia de abrirmos juntas e desvendarmos o mistério.- Magá murmurou.

— Ai, vocês estão com uma cabecinha muito avoada, tá? Eu e minha preciosa curiosidade não aguentamos tanto tempo...- A Dê disse.

— Tá, né? Agora já foi.- Murmurei.

Rasguei o envelope pequeno e abri o convite. 

 

 

O Colégio Internacional Lemon School terá a honra de receber o(a) aluno(a) (normal) MÔNICA DE SOUZA (itálico) na festa de Natal do colégio. Que será realizada no dia 24 e 25 de Dezembro, das 21h do dia 23, até às 02h do dia 25.

Contamos com sua presença!

Á direção

 

Maria Paula dos Santos Kimnet

 

 

Terminei de ler e olhei para as meninas. Os feriados e datas comemorativas eu não sabia muito bem. No dia das bruxas, por exemplo, eu pensei que todos iriam colocar alguma fantasia de terror idiota, ou pelo menos sair pedindo doces de brincadeira por aí. Quando eu falei isso para as meninas elas riram, claro. Mas me explicaram que nesse ano não teria Festa do dia das Bruxas ou como é no Brasil, Dia do Saci, que elas me explicaram pela cultura Folclórica local. Eu até fui na biblioteca ler sobre esse tal de Saci. E vou dizer que me assustei e fiquei com pena por ele ter uma perna só. Uma bibliotecária me deu uma versão mais legal e animada sobre uma "história de crianças" ela disse. Uma coleção chamada "Sítio do Pica-Pau Amarelo". Ele li algumas histórias e livros do Sítio do Pica-pau Amarelo  e achei tão divertido que falei que não eram "história de crianças". 

Para encurtar, eu estou por fora dos feriados. 

— Eu não sabia que tinha festa de Natal aqui... Eu sempre tive jantar. E foi só isso. Para falar a verdade, meninas, eu pensei que nem iria ter nada como no Halloween.- Falei cortando o silêncio.

— Bom, Mônica... Sempre tem essas festa de Natal aqui. Mas eu não venho todo ano. Por que passa o Natal aqui, aí meus pais implicam. Na verdade, eles só não implicam quando estão viajando a trabalho. Os natais que passei na escola sempre foram nos quais meus  pais não estavam aqui para passar comigo. - A Marina falou. 

— É, mas eu passo todos os anos. E vocês me deixam aqui. Humpf, sozinha! - A Magá reclama.

— Ei, Magá, a Dê sempre fica com você, né? E ás vezes a Mari. - A Cascuda comenta.

— É, mas a Denise, sabe!.. - Ela faz indireta. Ou direta mesmo. - some nas festas. Me deixando sozinha quando a Mari não fica. Se bem que de vez em quando a Mari some também. - A Magali fala.

— Bom, Magá, agora você tem uma companhia fiel e encalhada com você. - Eu falo.

— Ai, querida! Chamou a Magá de encalhada? - A Denise pergunta.

— Er...e-eu não. Só quis dizer que eu não tenho ninguém para ficar e nem razões para "sumir". - Gaguejo. 

— Tá...sei. - A Denise diz. - Ei, Aninha, por que a sua planilha é diferente da nossa.- Ela aponta.

— A minha...? Não... -  A Aninha esconde o papel.

— Diferente...como? - A Mari pergunta. 

A Cascuda tenta arrancar o papel da mão da Aninha sem sucesso. A mesma pede ajuda com os olhos para mim e no mesmo estante vejo que se trata da planilha do tal Supletivo dela.

— Ai, meninas deixa-a. - Falo.

Quando estávamos ledo mais sobre o convite, que exigia traje e um par, a Denise fala:

— Aninha, o que significa esse negócio de "Supletivo" - Ela fala com papel em mãos.

Aninha corre para me pedir ajuda e mas eu, assim como ela, com gestos quase mínimos, falo para ela que não dava e que tinha de contá-las.

O papel passou de mão em mão até parar nas minhas e eu me aproximo da Aninha e toco seu ombro, na espera de ser uma ato confortante.

— Gente, a Aninha tem algo para contar para vocês. - Eu digo.

As meninas já estavam esperando uma resposta.

— Er... Meninas...e-eu... - Ela suspira - Como vocês já viram... É isso mesmo.. Eu estou fazendo um Supletivo.

— Aninha... - A Magá é a primeira a falar. - isso significa que ano que vem...você não vai mais estar com a gente?

— É. - Ela confirma de cabeça baixa. 

— Como... Você começou? Quer, dizer... - A Cascuda reformula a pergunta- Desde quando...?

— É... Bom... Foram meus pais que insistiram nisso. Eles acharam que era melhor para mim, já que souberam que tinha esse programa no segundo ano do ensino médio.

— Ah, gente... Vamos ver pelo lado bom... A Aninha vai ficar direitinha nos anos escolares, vai começar logo a 'facu' que deseja... Vai ser melhor para ela.- A Marina fala.

— É, gente! Não vamos chorar as pitangas! Vamos aproveitar enquanto ela ainda 'tá' aqui! - A Denise sorri ao dizer.

— Vamos aproveitar essas festas como a nossa despedida. - A Marina fala.

— Isso, Má! Boa ideia. - A Cascuda fala.

— Isso, mesmo! Vamos aproveitar a festa de Natal e Ano-novo e usar como despedida da Aninha! - A Dê exclama.

— Mas foi isso que eu quis...- A Marina começa.

— Meninas, - A Aninha interrompe. - eu estou fazendo dois anos juntos, não quer dizer que eu vou sair da vida de vocês. Até por que vou ser monitora daqui enquanto faço o primeiro período. 

— Sério? - A Cascuda pergunta.

— Que legal, Aninha! - A Magali sorri.

— Er... Gente... O que quer dizer com "ser monitora daqui"? - Pergunto confusa.

— Quando você é monitora daqui, ué. - A Denise diz enquanto olha as unhas.

— Argh, não dê ouvidos a Denise. Ser monitora daqui durante o primeiro períodos da faculdade conta como bônus, entende? Se você fizer uma faculdade pública que são as melhores. As faculdades públicas são melhores que as particulares. O nosso colégio tem um programa para jovens que estudam aqui e depois vão para uma faculdade pública. Quer dizer... Acho que todas os colégios internos tem isso. Ou colégios com formações artísticas.

— Nossa, não sabia. Brigada, Cascuda. - Agradeci.

— Foi isso que eu quis dizer, professora Cascuda. Humpf! - A Denise fala. - Hum... Mensagem!

— Mensagem? De quem, em, Dê? Algum "boy magia" novo? - A Aninha pergunta.

— É, A Denise está trocando mensagens a tarde inteirinha. - A Magali falou. 

— Ih, bando de fofoqueiras. - A Denise esconde o celular.

— Olha quem fala, Denise. - Digo.

— Vocês são umas bisbilhoteiras, eu trabalho na área de informar as notícias e babados, o.k.? E não é "boy magia", essa expressão é usadas por gays para se falar de outros meninos gays, entendeu? - Dê explica. 

— Nossa, entendi, professora Denise. - A Cascuda falou. 

— Falar em "boys"... Gente, hoje é sexta-feira! Se ligou? São... 16:00. - A Aninha confere.

— Isso! Sexta-feira... Dia de se divertir! - A Cascuda fala.

— Nossa, vocês estão bem animadinhas, pro meu gosto, viu? - Magá fala sentando. 

— É, digo o mesmo. - Concordo.

— Nossa, é que vocês são muito paradas... Muito mesmo! - A Aninha diz. 

— Er, meninas, também concordo que a gente deve sair para algum lugar. - A Marina diz.

— Ei, até você, Marina?! - Eu falo. 

— Ei, animadinhas! Eu tenho uma proposta para vocês. Que tal a gente ir ao shopping.

— Fazer compras de novo, Denise? A gente não foi na semana, passada, retrasada... - A Aninha recorda. 

— Não dessa vez a gente vai com os meninos. - Ela diz.

— Os meninos? - A Marina pergunta. 

— É, eu estava conversando com eles...- Ela começa.

— Desde quando você é tão íntima e "conversa com eles"? - A Cascuda faz sinal de aspas com as mãos.

— Eu falo contigo todo mundo, o.k.? Eu sou uma pessoa da área da informação, tá? Mantenho contato com todo mundo. Ah, e falo com eles desde quando criaram um grupo nesse aplicativo de mensagens e nos colocaram lá. - Denise explica.

— Tá, né? - A Aninha fala. 

— Enfim algumas pessoas do nosso ano vão. Ah, 'pera' eles mudaram o destino. Estão marcando enfrente aquela balada perto da praça às 19:00. Vão ser uma edição especial de 16 até 22 anos. Vai rolar tudo o que temos direto. Mandaram uma foto do flyer*. Vamos!

— Ei, ei, não marca nada sem o nosso consentimento. - Eu falo.

— Bem, acho que todas nós queremos ir, Mônica, menos você. - A Aninha fala.

— Tem a Magali, né, Magá?- Pergunto.

— Então, né, Mônica...- Ela começa.

— Ah! Até você Magali? Estou desolada, inconformada... Abandonada pelas minhas  próprias amigas.

Elas riram enquanto eu fazia uma cara de triste.

— Não faz esse biquinho, Mônica. Vamos que vai ser legal.- A Magali aperta minhas bochechas.

— Tá bom. - Respondo vencida.

— Eu vou tomar banho primeiro! - A Denise se prontifica.

— Nananinanão, querida. Pode voltando aqui. - A Cascuda puxa a Denise. 

— Ai, que trogloditissa! Pareceu a Mônica agora, né, Moniquinha? 

— É troglodita, Denise. E se você quiser continuar com esse seu sorrisinho bonitinho, sugiro que não fale mais nada, senão os dentes da sua arca dentária vão voar! - A Ameacei-a com meu sou punhos.

— Ai, céus, coitada de mim.- A Denise resmungou. -  Já calei, já fiquei. 

— Foi só brincadeirinha, né, Mônica? - A Magali tenta apaziguar.

— Aham, paga para ver... - Eu falo baixo, porém de forma audível.

— Er... Então, né? Agora vamos fazer de forma séria e totalmente legal não burocrática ou meios termos. - A Marina fala. 

— Isso aí, meninas, todas prontas? - A Cascuda pergunta.

— Sim! - Respondemos em uníssono.

— Então, vamos logo com isso, cabecinhas avoadas. - A Denise fala.

— Pedra, papel e tesoura...! - Entoamos em uníssono. 

E rimos. Rimos muito. Afinal, temos entre 16 e 18 anos. Somos adolescentes com mentes de crianças de 7. 


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Notas finais do capítulo

Pietra Traduções:

*Flyer= Folheto, panfleto. [Inglês] * Kombawa= Boa Tarde [Japonês]
+++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++

Kombawa*, pessoal.

Er... O que dizer...

Eu sei que muitos de vocês estão com vontade de comer meu fígado, tirar meus órgãos e usar meu corpo para atributos sexuais...Mas...

Estou aqui postando um capítulo depois de muito tempo. E para não reclamarem é um capítulo grande.

(Por favor, não me matem!)

Avaliem o meu esforço e minha vontade enquanto eu escolho se mudo para me esconder no Groenlândia, Ilha distante da Dinamarca, Alasca, um dos estados dos Estados Unidos, ou o monte Tibet, na China.

Até o próximo capítulo!

Beijokas da Pietra



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