Melodia escrita por Hoshi


Capítulo 20
Vinte




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– MÔNICA, ROLOU o que exatamente

– Marina, já disse isso. Aliás não quero mais falar sobre isso.

– Tá, tá. A gente tá sabendo que ele ficou...- A Aninha começa.

– Mas agora não é a hora de falarmos sobre isso. - Interrompo-a. - Estamos no recreio. E faltam poucos minutos para acabar.

– Vamos parar mesmo,- A Magá diz- ele está vindo ali.

Eu viro e vejo o Cebola vindo. A cara dele está amarrotada, eu diria chateado com algo, que, bem, eu sei bem o que é. Ele diz um "oi" rápido para nós e ignora as meninas indo direto ao ponto.

– Mônica, posso saber o...

– Olha, Cebola, aqui não é o lugar nem o melhor momento para discutirmos isso. Falamo-nos no recreio, o.k.

Ele assentiu surpreendido.

E passaram-se tempos de Português e Matemática até que eu criasse coragem. No último tempo, me envolvi nas poesias de Fernando Pessoa.

A professora resolveu organizar um pequeno sarau na nossa sala sobre ele. Era um sarau surpresa. Estávamos estudando sobre ele esse semestre. Peguei um dos livros em cima de uma mesa posta com várias poesias. Recitei essa que me fez pensar e gostar mais:

"Todas as cartas de amor são
Ridículas.
Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas.

Também escrevi em meu tempo cartas de amor,
Como as outras,
Ridículas.

As cartas de amor, se há amor,
Têm de ser
Ridículas.

Mas, afinal,
Só as criaturas que nunca escreveram
Cartas de amor
É que são
Ridículas.

Quem me dera no tempo em que escrevia
Sem dar por isso
Cartas de amor
Ridículas.

A verdade é que hoje
As minhas memórias
Dessas cartas de amor
É que são
Ridículas.

(Todas as palavras esdrúxulas,
Como os sentimentos esdrúxulos,
São naturalmente
Ridículas.)"

Fernando Pessoa é conhecido por seus heterônimos e nesse assinou como: Álvaro de Campos. Gosto dessa poesia, pois fala do amor. Não como ele é mágico e envolvente, mas sua crítica. Como é ridículo. E sinceramente, concordo com ele. Esse negócio de amar, apaixonar é, simplesmente, ridículo.

Queria que a vida fosse diferente. Por que temos que amar? O amor não é algo que dói? Por que tantos amam e dizem que ele é muito bom.

Não vamos deixar de pensar naqueles livros que dizem que o amor salva e cura tudo. As vezes as história são tão óbvias que dão-me raiva.

Outras pessoas recitaram enquanto eu pensava.

– Gente, alguém mais quer recitar alguma poesia. Olha que vale nota!- Ela brincou e nós rimos. - Mas agora vamos pessoal. Alguém se habilita?

A professora é bem liberal e tomei coragem. Acho que nem sei de onde a tirei. Só estava um pouco chateada e queria desabafar.

– Professora...Er....Eu- Respiro fundo - eu sei uma música de uma das minhas bandas favoritas que tem a ver com a poesia que eu li. Ela é da banda Evanescence. Eu posso...

– Cantar?- Ela pergunta surpresa- Claro vá em frente!

Fui rapidamente na carteira do Cebola.

– Você pode me emprestar seu violão?

Ele levava todos os dias. E disse que sim. Peguei-o rápido antes que esse meu momento de coragem passasse.

Fui até na frente, onde estavam recitando e ajeitei o banco.

Mais uma respirada.

"Playground school bell rings again
Rain clouds come to play again
Has no one told you she's not breathing?

Hello, I'm your mind giving you someone to talk to
Hello!

If I smile and don't believe
Soon, I know I'll wake from this dream
Don't try to fix me, I'm not broken

Hello! I'm the lie living for you so you can hide
Don't cry

Suddenly, I know I'm not sleeping
Hello! I'm still here
All that's left of yesterday"*

Abri os olhos e só então percebe que os havia fechado.

Todos estão aplaudindo. Sorrio agradecida.

– Gente! Que voz é essa! Parabéns, Mônica!- A professora fala.- Mas gente, alguém mais? Qualquer movimento cultural que tenha a ver com a poesia, é claro, está valendo.

– Ah, profs, então este sarau está virando uma roda cultural. - Alguém fala.

– Roda cultural?- A professora questiona.

– É. Ocorre de 15 em 15 dias.- Ele fala. Reconheço ser o Titi. Ele é do Grêmio Estudantil. Ele é ex ou atual da Aninha. Eu não sei direito. Sei que eles vão e voltam, que ela desabafa conosco. Mas dessa vez, terminaram de vez. Todos dizem que ele é um verdadeiro galinha e estava até naquele grupo idiota, Pops. Mas não sei se saiu, como o Cebola. Só sei que não os vejo mais juntos. Ele é amigo do Cebola também.

– Explica mais sobre isso, Titi. Vem aqui..

Quando ele passa surge um coro uníssono das meninas.

– Oi, gente. Como vocês sabem, o grêmio estudantil, que eu faço parte, sempre tenta organizar essas coisas e tal. De cultura. Nós temos a Roda Cultural, que é um movimento que vale qualquer tipo de cultura, contanto que apresentada. Tem o povo que canta e toca. Ah, se quiser pode aparecer, tá, Mônica. - Eu fico envergonhada.- E tem o grupo de artes, os que pintam, fazem pichações... Essas coisas. Ela estava meia parada, mas nós voltamos. Ah, agora vai acontecer toda sexta-feira. Tamo perto do final do ano e resolvemos que vai ser assim.

O sinal toca anunciado o fim das aulas daquele dia e o fim do pequeno sarau. Também significa outra coisa: vou ter que falar com o Cebola.

Estou arrumando meu material, pois sou sempre a última.

As meninas e eu não nos encontramos logo após as aulas. Esperávamos umas às outras, mas era raro e quando ocorria geralmente marcamos. Então eu sei que a pessoa que está na porta, que eu posso sentir e saber, não é uma delas. O que me faz crer que é o Cebola.

Mas quando eu termino e caminho até a porta fico ligeiramente surpresa.

– Di...diretora Maria Paula?

– Olá, Mônica. Não nos falamos já faz tempo, em? Ah, e por favor só Maria Paula.

– É já faz dire...er... Maria.

– Mônica, eu sei que você tem o encontro com sua banda agora, mas eu já falei com a Alice e ela permitiu. Poderia me acompanhar até a minha sala, Mônica?- Sim, claro.- Respondi formalmente demais. Ela está falando mais informalmente.

"Nada de ficar nervosa, Mônica. Nada de ficar nervosa"

– Relaxa, Mônica. Você não fez nada demais. Pera, posso chamar só de Mônica, né?

– Pode. À vontade.

Passamos por um prédio e chegamos na diretoria. Eu nunca havia estado aqui. Era um andar inteiro de diretoria. A sala dela é bem descontraída assim como sua personalidade.

– Senta, aí, Mônica. Ou fica de pé. Você quem sabe. Só fique confortável. "Mi casa és su casa".- Ela fala e nós duas rimos.

– Mas então, né, Mônica. Já descontraímos bastante e vamos ao que interessa. Não quero ser agressiva, ou invasiva. Não é minha intenção. É que eu tenho um custe de conhecer os alunos desse colégio. Acho legal essa ideia. Como você pode imaginar esse colégio não é como os outros. É um colégio interno e integral, nossas aulas vão até 12:30 e nós temos mais tempo que outras escolas, além de ser menos alunos. Só no nosso segundo ano, nós temos 102 alunos enquanto a maioria tem 140...por aí.

– Hum...a diferença é gritante.

– Sim. Mas, então, eu sempre gosto de fazer isso com as pessoas novas, e com o ensino médio, por que vocês são meus amores. Pode ficar tranquila, eu sou formada em psicologia e tudo que você quiser me falar fica aqui, o.k? Quando eu estiver invasiva demais, por favor, me avise.

– Sim. Pode deixar.

– Vamos lá então. Mônica, quantos anos você tem?

– Eu... Tenho 16.

– Nossa que fofa! Você era adiantada na sua antiga cidade?

– Eu? Não. Quer dizer, antes de vir para cá, eu nunca tinha estado em um colégio, ou sequer mesmo entrado ou participado.

– Não e como você estudava? Ah, era por...

– Professores particulares. Eu fazia aula de muitas coisas.

– Eles iam na sua casa ou você ia até eles?

– Não. Era minha tia que arrumava todas as minhas aulas, aí ela me avisava qual eu iria fazer e ver se eu concordava.

– Aí, você fazia todas essas matérias particularmente.

– Sim, sim.

Ela me ouviu atentamente. Não tenho muito o que falar. Mas nós conversamos. E rimos, porque ela é muito engraçada. No final ela falou que se considera como uma mãe nossa.

Foi muito legal essa conversa que tive com ela.

Quando eu cheguei no quarto já eram 16:00. A Cascuda estava fazendo dever e a Denise tirando um cochilo. Ambas já haviam lanchado.

E as outras devem estar espalhadas por aí. Se bem que, a Magá, com certeza está com a banda lanchando ou conversando.

Entro no refeitório e não encontro ninguém lá. Lancho apressadamente e quando estou levando minha bandeja vejo o Cebola.

– Oi, Cebola.

– Oi, Mônica. Você não foi ao ensaio e ficamos preocupados. Tudo bem na direção?

– Ah, sim. A Maria Paula só quis conversar mesmo.

– Ah, sei. Ela sempre faz isso com a gente. Quando preciso de um conselho, eu falo com ela, por que "cê" sabe, né? Ela também é psicóloga.

– Fiquei sabendo hoje.

Caminhamos juntos em silêncio até sairmos do refeitório.

– Mônica, você quer conversar agora?

– Hum...pode ser.

– Ah, então vamos no banco embaixo do Carvalho?

Assinto concordando com sua proposta.


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Notas finais do capítulo

* Hello, Evanescence
++++++++++++++++++++++++++++++++

Olá, gente!

Eu, sério, quero pedir mil, milhares, até bilhares de perdões pela demora.

Sei que vocês podem até ter suspeitado que eu abandou a fic, e quero dizer que isso não vai acontecer! Tipo, estou uns 45 dias sem postar nada e eu sei disso.

Ah, quero desejar um Feliz Natal bem atrasado e que esse nosso ano de 2016 seja melhor. É o que a gente precisa acreditar!

Bom, eu queria dizer que eu realmente queria dar um tempinho da fic, mas eu pretendia dar uma semana apenas. Mas aconteceram muitas coisas nesses dias e eu viajei... Enfim, eventos malucos da minha extraordinária...

Eu vou revisar rapidamente o próximo capítulo, o VINTE E UM. Vou tentar postar hoje.

Gente, quero que vocês sejam pacientes comigo, e ah, eu tô participando do Desafio do Nyah! Fanfiction: Desconstruindo um Estigma. E vocês? Estão? Se tiverem, comentem a história de vocês! Vale lembrar que o prazo é até dia 24 de janeiro. Eu ainda não terminei...

Ah, claro, comentem a opinião de vocês sobre o capítulo!

Até o próximo capítulo!

Beijokas da Pietra



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