Melodia escrita por Hoshi


Capítulo 15
Quinze




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Acordei completamente antônita. Eu não via mais as árvores, tampouco sentia o vento. Eu não estava na quadra.

Ali era tudo branco. E eu estava rodeada de travesseiros numa maca. As lâmpadas fluorescentes compactas me deixaram mais tonta ainda. Eu sentia que podia vomitar a qualquer momento.

Resolvi levantar. Com cuidado desci os pequeno degraus da maca. Um zumbido me veio no ouvido. Conforme eu segui pra o fim do corredor ele foi aumentando. E vi a primeira sala, onde ocorria o término do corredor. A sala da enfermeira. O zumbido viera de lá. Ela assistia televisão.

– Oh, querida, já acordou. Está bem?- Ela me perguntou. Na mesa dela estava a placa escrita "Ana Oliveira".

– Mais ou menos, enfermeira...Ana

– Mônica, você desmaiou devido ao calor. Quero que você tome bastante água e que descanse pela tarde.

– Mas eu tenho atividades!

– Eu lhe darei uma autorização.

– Uhum.

– Ah, peça obrigada ao seu amigo. Caso contrário não estaria melhor.

Saí dali com o papel na mão. Minha mochila estava nos bancos que ficam do lado de fora da enfermaria. Ao lado dela estava uma silhueta que reconheci logo.

– Oi,Cebola.

– Oi. Você já está melhor? Como está? Tudo bem?

– Não me rodeie de perguntas. Não como se fosse meu amigo, já que isso você não é, né? Já que tem vergonha de mim.

– Mônica, não fala assim comigo. Eu estou periciado com você, merda!

– Não use palavras de baixo- calão!- Gritei.

– Desculpe. Eu estou preocupado com você. Eu me importo.

– Está bem. Desculpas. Estou bem. Satisfeito?

– Melhor.- Ele sorriu amargamente.

– Eu já vou indo.- Peguei minha mochila.

De repente ela se tornou tão pesada. Eu não suportei o peso e ela caiu.

– Ai.

– Deixa que eu levo. O professor Aroldo, me deu o passe de te acompanhar mesmo.

– Hum...obrigada.

– Vejamos! Ela sabe ser educada.

– Não tire proveito.

Eu não estava intendendo-o. Ele não era meu amigo, nem se importava comigo. Senão não teria me ignorado.

– Desculpa, tá.- O Cebola fala depois de um breve silêncio.

– Ah,tá. O.k. Você me insulta, você se faz de amiguinho. Rola um acidente que é o ponta pé inicial. E depois colega e diz que não "pode" ser meu amigo.

Sério que você acha que um "desculpa" vai resolver tudo? Só por causa dos seus amiguinhos de...

Droga! O céu pareceu tão azul e o sol...Oh, o sol está tão quente... Eu perdi o controle. Caí novamente. Só que dessa vez eu não desmaiei. O Cebola me segurou.

– Depois a gente conversa melhor. Você ainda tá mal.

Ele pega nas minhas pernas e nas minhas costas.

– O que você...- Falei, no entanto saiu mais como um sussurro.

– Quieta. Você está fraca. Só se segure.

Ele me pegou no colo com todo cuidado. Eu segurava sua blusa. O

caminho pareceu meio turvo. Algumas vezes eu sentia uns apagões, mas duravam segundos. Eu reconhecia o caminho.

Ele bateu na porta. Então já tinha batido o sinal. Talvez a algum tempo.

– Cebola?- A Denise atendeu.- O que rolou?...

E todas as meninas surgiram na porta preocupadas e fazendo perguntas.

– Depois eu explico. Mas ela bateu a cabeça e no jogo desmaiou. Posso entrar? Eu tenho o passe.

– Pode. - A Magá falou.

Fiquei um pouco tonta ao subir a escada sendo carregada pelo Cebola.

A Marina apontou para a minha cama e ele me colocou enquanto a Aninha me rodeava de travesseiros coloridos.

– Gente, eu estou bem. De verdade.

Tentei levantar, mas não consegui.

– Quer dizer, melhorando.- Consertei.

– Você não vai ao ensaio hoje. - A Magá falou.

– Ah, mas...

– Nada de mi-mi-mi, fofa! De verdade você tá mal e tem que descansar.- A Denise falou.

Depois me arranjaram um copo d'água que eu tomei num instante.

Eu sairia mais tarde com a promessa de um soneca e um remédio. E nem foi preciso muita discussão da minha parte. Tomei o remédio, mal deitei a cabeça e já não lembro de mais nada.

Eu acordei com um completo gosto ruim na boca. Não me lembro quando tomei o remédio. Ao lado da minha cama estava o Cebola. Ele estava numa cadeira cochilando. Quando tentei sair da cama, ele acordou.

– Ô, vai com calma! Deixa que eu te ajudo.

– Nossa, eu estou tão mal assim?

– Não. Você já está bem melhor.

– Cadê as meninas?

– Todas eu não sei. Mas a Magali foi para o ensaio e Marina foi para o clube de Desenho. O resto se espalhou, eu não sei. Ah, teve a Cascuda que foi para o de Álgebra.

– Que horas são?

–São...- Ele olhou para o celular - 15:15. Há.

– Que foi?

– Nada é que eu gosto quando isso acontece. Tipo a hora e os minutos iguais.

– Eu também.

Eu sorri e ele também.

– Ah, agora que você já está bem- Ele fala depois de um súbito silêncio - eu vou indo. Não posso ficar muito tempo na ala das meninas.

– Ah, tudo bem. Eu te acompanho até a porta.

– Tá bom.

O Cebola estava certo. Eu estava bem melhor. Me impressionei por levantar. Senti uma leve tontura que fora passageira.

Descemos as escadas em silêncio. Eu cheguei na porta e resolvi falar quando ele já estava no lado de fora.

– Cebola.

– Sim?

– Mesmo eu te odiando por tudo obrigado pelo que você fez. Sério foi como um amigo.

– Você me vê como seu amigo?

– Não abusa.

– Podemos ser.

– Só quando você me assumir para seus amiguinhos hipócritas. - Dei um suspiro- Mas eu queria agradecer de verdade. Obrigada. Mas eu ainda tenho repulsa por você.

– Tchau, Mônica. Até amanhã na sala.

– Tchau, Cebola.

E ele virou a esquina e desceu as escadas indo para a ala de baixo.


• • •



Já era a terceira vez que eu ligava. O Cascão quase chutou a porta.

– Cascão! - Eu o repreendi.

– Foi mals! É que a porta da sala de música tá trancada.

– Disso a gente já sabe, né, cabeção!- O Cebola falou e lhe deu um tapa na cabeça.

– A Alice me deu o número dela, mas não tá atendendo.- Eu falei. - Cadê a Magá e o Dc que não voltam da secretaria?

– Buh!

Uma mão no meu ombro me fez quase saltar de susto.

– Que susto, Dc!- Todos começam a rir e eu reclamo.

– Desculpa, amiga. Ah, e a gente foi na secretaria e ninguém sabe da Alice. Hoje ela não dá aula, viria só pela gente. Acho que ela não veio.

– Maneiro. E agora o que a gente vai fazer?- O Cascão perguntou.

– Ah, tive uma ideia.- Eu falei.- Podemos resolver assuntos pendentes da banda que não precisaremos da Alice.

– Como assim?- Cascão perguntou.

– Ah, gente podia ver primeiramente um nome.

– Da nossa banda?- O Dc perguntou.

– Exato.

– Hum... Aqui não rola. - O Cebola fala.

– O que sugere?- A Magali perguntou.

– A gente tem que ir para um lugar tranquilo. - Eu falei.

– Já sei! A arquibancada do campão. Não tá tendo aula lá.

O campão foi apelidado assim, por causa do outro campo que tem, só que é bem menor, menor que a metade do campão, por isso recebe o nome de campinho. É mais para o pessoal do ensino fundamental I. O campão fica no fundo da escola. E seria bem tranquilo.

Em um mês que eu tenho aqui, deu para notar que a escola é bem agitada. Ter um lugar tranquilo era reconfortante e inspirador.
Suspirei fundo. O ar dali também era bom.

– Gente. Agora vamos lá, foco. Temos...ideias? Assim tem que ser boas.

– Qual a nossa identidade?- O Dc perguntou.

– Isso tem a ver com o nome da nossa banda.

– Pera...a gente não decidiu que iríamos tocar mais Rock Alternativo?- A Magali falou.

– Sim, Magali, mas a identidade tem a ver com o nome da banda.

– Já sei.- O Cascão falou- Alternativo.

– Achei simples demais.- Falei.

– Os alternativistas..- Ele falou.

– Não viaja, Cascão.- O Cebola falou.

– E é alternativos. Só por um "s" no final.

Continuamos a pensar.

– Para saber nossa identidade precisamos do nome da banda e para o nome da banda precisamos da nossa identidade. Ferrou. Estamos presos no...

– Onde? - O Dc falou.

– Paradoxo. No paradoxo.

– Boa, Mônica!- O Cascão falou.

– O que?

– É eu gostei. Paradoxo.- A Magali falou.- Dá uma cara de mistério.

– Eu também. - O Cebola.

– Para nome da banda? Eu só falei espontaneamente. Nem pensei.

– Mas são assim que nascem os melhores nomes. A banda Capital Inicial, por exemplo, para começar a banda eles não tinham dinheiro. Faltava o capital inicial. Um dos caras falou isso e gostaram.

– Dc, você concorda, então?- Perguntei, pois ele fora o único que não havia dado opinião.

Ele olhou para nós e deu um sorriso.

– Tá...isto não dá para contrariar.

Então gritamos em uníssono:

– Ehhhhhh!

E ficamos rindo. Parecíamos loucos. Mas pude perceber a cara de irritado do Cebola. Não intendi.

Depois de acertarmos os arranjos de algumas músicas e letras o grupo se dispersou. Os únicos que ficaram foram eu e o Cebola.

– Cebola, está tudo bem?

– Como assim?

– Não se responde uma pergunta com outra, sabia?

– O que quer dizer?

Nós dois rimos.

– Eu estou dizendo que parece irritado. Com alguma coisa que eu não sei qual.

– Nossa, você é bem observadora!

– De verdade, fala para mim.

Eu toquei na mão dele e olhei no fundo dos seus olhos. Queria passar segurança.

– O Dc...bom, por que você perguntou para ele sobre...o nome da banda...?

– Por que ele é um membro da banda e também tem que concordar, ué. Só isso?

– Tá, mas a minha opinião não conta?

– Cebola! Espera...você tá com ciúmes?

– Ciúmes?

– De colega.

– Amigo- Ele me corrigiu.

– Não. E alías...isso me fez lembrar que eu estou brava com você. Do tipo muito mesmo.

– Mesmo? Não parece...

– É por que eu estou feliz como o nome da banda... o Dc concordou...

Ele ficou com a expressão irritadiça novamente.

– Só isso mesmo?- Retornei com a pergunta limpando a garganta.

– Por que você se preocupa? Nem a Magali, que gosta de agradar a todos de sua maneira comentou...aliás ela fala comigo como uma amiga, só que ela é meio distante. Não, amiga, não. Uma colega atenciosa. Enfim, você acabou de dizer que não somos amigos e que está brava comigo.

– Preocupação de colega. E integrante da banda Paradoxo!

– Agora podemos chamá-la assim!

E rimos. Até que duram pouco nossas risadas e rimos sem saber o porquê. Quando elas cessam,adquirimos expressões pesadas e eu falo novamente:

– Vou retomar na minha pergunta: Só isso mesmo?

– Eu...hum... só estou cansado. As matérias estão ficando puxadas. Como você consegue? Tipo, um mês atrás nem era daqui.

– Ah, é que quando eu morava com a minha tia, eu tinha um monte de professores particulares e tudo mais. Fazia várias aulas.

– O.k., senhorita sabe tudo. Vou pegar umas aulas com você. Agora eu tenho que ir.

– Tudo bem. Vou terminar umas músicas e depois reviso com a Magá. Esse lugar é bem inspirador.

Nos despedimos e ele foi embora.

Eu respirei fundo mais uma vez. O cheiro da natureza me inundou. Era um cheiro muito bom. Eu coloquei meus fones de ouvido e peguei meu caderninho.

Não me entendo. Eu estou com raiva do Cebola, não deveria rir tanto assim com ele. Deveria ser mais durona como as outras meninas. Esse é mais um defeito meu para acrescentar na minha enorme lista de defeitos.

"Se o Cebola quiser realmente ser meu amigo terá que provar" penso " Mas de que forma...ah, se bem que isso não me interessa. Ele que quebre a cabeça pensando nisso.".

De repente vejo uma silhueta se formando num sombra surgindo no meu caderno. Eu tiro meus fones rapidamente e olho.

– Carmem? O que você tá...

– Qual é a tua, em garota? Você surge do nada e já tá tomando espaço?

– Como?

– Não se faça de desentendida. Eu sei que você tá de olho no Cebola. Entrou na bandinha dele, foi? Mas não pensa que é por causa disso que você vai se apossar do meu Cebola.

– Olha, Carmem. Não te conheço direito e você já vem falando assim...o.k. Mas me insultar eu não permito. Quem pensas que é?

– Eu sou alguém. E você quem é você? Uma ninguém? Há, há!
Ela falou alguma coisa que eu não intendi. Mas aquela frase entrou em mim.

" Quem sou eu?"

Pode parecer bem clichê, mas eu tenho bastante dificuldade com essa frase. Mas não iria me deixar abalar.

– Se diz que o Cebola é seu, acho que ele não acha o mesmo de você. Nem menciona em você. Uma garota mimada. Com licença eu não vou perder meu tempo com você. Tenho mais do que fazer do que ficar numa discussão inútil.

– Grrr! Ninguém vira as costas pra mim duas vezes! Você vai ver!

Peguei minhas coisas e fui andando sem olhar para trás.


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Notas finais do capítulo

Oi, povão!

Consegui! Promessa comprida!

Se vocês perceberem bem, acrescentei um novo estilo ao texto. Estava há tempos querendo pô-los e não sabia como. Consegui finalmente.

Beijokas da Pietra



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