Mistakes escrita por Niina Cullen


Capítulo 4
Capítulo TRÊS


Notas iniciais do capítulo

"Para ter o poder sobre algo, algo que pudesse chamar de seu, ele agora era capaz de tudo."
Estava rerererelendo (sim, exageradamente assim) o capítulo anterior e resolvi destacar a frase do Edward aqui *------*.

Vamos ler???



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Capítulo

TRÊS

— Eu não acredito que aconteceu isso – seu murmúrio de indignação se devia a água em temperatura glacial que saia em jatos violentos do chuveiro.

Isso não era novidade.

Parecia que a água quente tinha dias e horários alternados, ainda não certos, para converter-se e supostamente nunca estava disponível nas manhãs que antecediam o trabalho.

Aquilo era desastroso a fazendo evocar dias úmidos e nebulosos na cidade que mais chovia no estado de Washington, só para lastimar os banhos quentes que tinha. Até mesmo na fraternidade da SW, de Seattle, onde o frio parecia comandar boa parte do ano, ela podia atribuir boas lembranças de banhos curtos, mas sempre aquecidos.

Se rendendo, infiltrou-se no box de vidro de aparência grosseira e duvidosa e tentou divagar, sem fazer consideração alguma, pelo seu novo emprego e do quão impreciso parecia aquilo tudo.

Tinha acabado de sair do Café que estava precisando de atendente e de ter virado as costas para o sem noção do gerente quando viu a vaga de recepcionista destacada na vitrine de uma agência de empregos e da sensação que sentiu assim que recebeu um sinal positivo, no mesmo dia, para que comparecesse a seleção que seria feita em alguns dias na própria empresa.

Via aquilo tudo como um aviso, de que estava fazendo a coisa certa.

Que a mudança para uma cidade desconhecida, deixando para trás tudo o que conhecia, até então lhe parecia apropriada. O correto a se fazer. Mas até então não sentia essa confiança no atrevimento que teve por ter abandonado a vida que conhecia. Seu pai também não.

Mas ali estava ela, finalmente tendo uma entrevista de emprego, deixando de lado as cantinas e os restaurantes com seus proprietários abusivos de lado.

Claro que poderia ter dado um passo maior que as próprias pernas, ainda mais em Nova York, sem diploma algum. E embora o pessimismo estivesse rondando-a, podia ouvir o consentimento das palavras da sua mãe sequestrando os seus medos.

“- Tudo ficará bem, sweetheart¹.” – A voz melódica de sua mãe reverberava em sua consciência.

Ainda existia uma boa razão para que tudo desse certo. Isabella tinha plena confiança disso.

E essa razão se fez vigente quando, diante de tantas candidatas ela foi à única que tivera o seu anseio atendido. Faria parte do quadro de funcionários de uma das Indústrias de porte mundial mais conceituada do âmbito comercial.

Isabella sentia-se encabulada pelo desconhecimento e ignorância no assunto, mas sabia que com o tempo, se familiarizaria com o trabalho. E também não precisaria se preocupar com o porte da empresa. Candidatara-se para a vaga de recepcionista e não para a vaga, que nem ao menos sabia se estava desocupada, de relações públicas. Ou a uma vaga que fosse na sua área. Porque ela não tinha uma. Até teria. Daqui a dois anos, se não tivesse desistido de tudo.

Afugentou essa embaraçosa objeção e não esperando pelo o que viria a seguir, sorriu com as oportunidades que surgiriam. Finalmente a vida estava lhe sorrindo. Se melhorasse, estragava. Ela deveria ter cuidado com a sua linha de pensamento, com os caminhos traiçoeiros que estes seguiam.

Foi com muito assombro que recebeu a noticia que houvera um engano e que ela tinha sido contratada para a vaga de secretária executiva do CEO das Indústrias Cullen e não para recepcionista. Como se já não bastasse o espanto com aquela novidade, teria que lidar com a preocupação de que algo lhe fugia a compreensão. Se fosse esperta demais teria dado mais importância para a estranheza da pasta com letras garrafais e não teria se dado o próprio mérito pela conquista da vaga.

Todavia é mais confortável a insipiência dos fatos ao conhecimento da realidade.

Conheceu a amável mulher que nem ao menos sabia o nome, e isso deveria lhe ter chamado a atenção. E chamou. Mas não a ponto de concentrar-se na estranheza dos acontecimentos.

Compadecia-se pela situação da simpática senhora e que parecia dizer coisas distantes da sua compreensão, mas precisava do emprego e se negava a acreditar que fora a culpada pela demissão da mesma.

Por Deus, Isabella nem ao menos conhecia as Indústrias Cullen, não sabia o que eles gerenciavam. Sabia que era algo de suma importância, e que eventualmente se estendia por vários campos comerciais. Então, não tinha que se auto-incriminar.

A vaga tinha sido desocupada por algum desentendimento que não dizia respeito a ela.

E ela, presumivelmente tinha sido a única candidata escolhida para ocupar o cargo.

— Deve haver algum engano – manifestou o seu espanto. – Eu não tenho ensino superior que a vaga exige. – Fora clara com a sua perplexidade e objeção ao que a mulher elegante e de olhar aéreo, deixando bem claro o seu desinteresse e frivolidade, acabara de dizer.

— Você receberá todo o auxilio necessário para que se torne qualificada para a área – sua aspereza era falsamente latente. – É uma nova norma da empresa – leu o papel em uma escrita fluida, fazendo com que tudo aquilo parecesse encenado. – Como se aqui fosse uma empresa que presta obra de caridade. – Aquilo, Isabella tinha certeza que ela tinha tirado de sua língua venenosa, não estava no script.

Sorriu e afastando a cadeira giratória levantou-se, dando a volta na mesa seguiu para a porta e abrindo-a esperou impacientemente que Isabella se levantasse, mas esta ainda estava muito entorpecida com a mudança dos eventos e quando ouviu um pigarreio agudamente firme, se virou em direção ao mesmo.

— Preciso apresentá-la para os seus serviços agora e para a pessoa que pagará o seu, devo ressaltar, altíssimo salário. São normas da empresa – revirou os olhos, dando a entender que fora obrigada a dizer aquilo, e que não estava muito satisfeita.

As coisas não pareciam tão boas agora.

E tratou de colocar um sorriso no rosto, não poderia ser ingrata quando agora a vida lhe estava dando uma ótima oportunidade.

Não se importou com a carranca da assistente do RH e seguiu para fora da sala, tendo que esperar a mesma anunciar a sua presença para o CEO das Indústrias Cullen. E foi aqui que conheceu a senhora recém desempregada e que as coisas pareceram mais estranhas do que já estavam sendo. Mas agora precisava se recompor, pois ao que sugeria, o senhor Cullen estava disponível para receber a sua mais nova secretária executiva. Pensar naquele título já lhe era tão fora do normal, imagina quando tivesse de dizê-lo em voz alta para o pai?

Anuviou aquele pensamento, se preocuparia com ele mais tarde.

Alisou o mesmo vestido puído de ontem, aprumou a bolsa pequena que apoiada a um lado do ombro, se mantinha na cintura do outro lado do corpo. Olhando para a indiferença da mulher a sua frente e da forma que a mesma se vestia, se sentiu inadequada, não só para a vaga, mas para a vida. Era injusto ela ter escolhido a sapatilha confortável e deixado o salto alto que nunca pensou em usar em seu tempo de estudante e de faz tudo na livraria perto do Campus. Era injusto ser pálida, mesmo com a leve batida de base que passara mais cedo, enquanto a modelo a sua frente ostentava um bronzeado fora do normal. Podia ser primavera em Nova York, mas aquele bronzeado era artificial. E mesmo sendo artificial parecia a coisa certa a se fazer. Se Isabella realmente se importasse com a sua aparência. Futilidades que pessoas como aquela mulher que abria a porta, dando passagem para ela, se dedicavam.

Expeliu o ar que nem ao menos pensou que estivera segurando e encaminhou-se na direção da porta aberta, sentindo a desordem do seu estomago felizmente vazio, protestar, porque do contrario seria capaz de colocar tudo o que deveria ter comido no café da manhã para fora.

Aquela sensação era diferente. Nem mesmo nas semanas de provas da SW sentia o seu estomago revirar, como se o tivesse colocado em uma máquina de lavar super potente.

Mal sabia ela que aquilo era um presságio, um aviso para o que viria.

Estava na boca do leão e mal desconfiava que aquele fosse um caminho sem volta, porque quando sentiu aqueles ternos olhos verdes pousarem na sua estatura mediana e assim seguir cada centímetro do seu corpo, para depois enterrá-los junto aos seus, sentiu que ele era capaz de ver a sua alma apenas com aquele febril olhar. Como se pudesse realmente conhecê-la.

O que Isabella não desconfiava era que o homem a sua frente estava fincando as suas próprias garras e parecia tão seguro de si quando levantou da cadeira giratória e abotôo o botão central de seu terno Armani. Jamais deixando o sorriso de lado, tanto quanto o momento permitia.

Aquilo bastou para trazer Isabella de volta ao tempo atual, agora fora do box e podendo ter uma hipotermia naquele roupão.

Isabella não poderia negar que naquele curto espaço de tempo aqueles olhos a mantiveram em uma prisão particular. Aqueles olhos eram a prisão particular. Sentia que podia se afogar facilmente neles sem nem ao menos se colocar na defensiva e dispor-se a considerar uma última ligação de emergência. Como se tivesse mesmo direito a uma.

Naquele momento pôde rememorar aquele lampejo indescritível.

Não era mais uma adolescente.

Como ainda podia ser pega suspirando, só com a breve lembrança do ar que lhe foi roubado no segundo em que seus olhos se encontraram?

Ficara sem ar, de fato ficara. E estava claro que por um motivo oculto e que foi disperso quando se deu conta que ele era o seu chefe, e não apenas isso, era o dono daquele império toda que ela mal podia contar mentalmente o que aquilo tudo significava. Não podia se dar conta do que tudo aquilo implicava e do que implicaria futuramente. Apenas mantinha em mente, depois da abstração toda, que nada de bom advém de uma paixão adolescente. Nunca tivera uma em sua época de auge e não seria agora.

Qualquer coisa para se manter no fulgor da sua estabilidade.

E sendo assim, podia admirar o ilustre e, ao que tudo indicava, odiado CEO das Indústrias Cullen e receber ajuda do mesmo com o trabalho de uma secretária executiva. Mas agora se sentia tranquila para assumir as suas próprias responsabilidades dentro da empresa, só lamentava não poderem mais compartilhar de momentos silenciosos que pareciam se comunicar fervorosamente com as suas células ou de ter a atenção que ele dedicava a ela.

Balançou a cabeça e abstraiu-se daquele pensamento infundado.

Sua atenção era voltada para o trabalho que ela precisava exercer.

Não existia mais nada além disso.

Mas não podia negar que aquela dedicação toda só dizia respeito a ela.

Era no mínimo confuso aquilo diante de tanta amargura com que ele tratava a todos, e com ela parecia sempre ter um sorriso no rosto e aparentar bom humor.

Se recusava a acreditar que o motivo daquela consideração era por sua causa, como se ela tivesse mesmo essa influência toda sobre uma pessoa. Ainda mais, quando essa pessoa era o magnata e que de certo detinha em suas mãos toda a afluência de poder ter a mulher que desejava aos seus pés. Talvez a mulher elegante que não fora nada educada com ela.

Aquilo era ridículo.

Pensar nisso era ridículo.

Apanhou-se sorrindo para o espelho sobre a bancada torta da pia e quase esqueceu que estava a ponto de congelar e que, do contrário, se não saísse de casa em quinze minutos, perderia o metrô e chegaria atrasada na sua segunda semana como secretária executiva das Indústrias Cullen.

O crepitar de algo fritando na frigideira enquanto ela descia as escadas que rangiam sob os seus saltos a fizeram estacar no último degrau da escada ruidosa.

Era bacon, e só moravam duas pessoas naquele apartamento de dois andares localizado no Brooklyn, e uma delas estava estritamente proibida, sobre prescrição médica de comer bacon.

Aquela era a última coisa que poderia acontecer.

Largou de qualquer jeito a bolsa de alça comprida junto com o casaco pesado que trazia debaixo do braço e disparou para a cozinha a pouquíssimos passos da escada e deu de cara com seu pai colocando duas tiras de bacon em um prato de porcelana cuidadosamente ao lado de duas torradas com a já costumeira torta de amendoim espalhada.

— Pai? – o seu desespero era visível e mesmo com o pouco esforço que fez, sentia a sua garganta seca, ofegante só por pensar no que poderia acontecer.

Charlie, alheio a reação impetuosa da filha, exibindo total descaso sorriu apoiando o prato sobre a bancada da cozinha.

— Você demorou – anunciou. – Achei que se atrasaria para o seu novo emprego. – Charlie frisara a última frase com a tamanha resistência que vinha adotando desde o dia em que a filha o comunicara da grande novidade.

Isabella nem ao menos se incomodou com a provocação do pai e ainda matinha os olhos presos no prato a frente dele. Viu quando Charlie resmungou com a bengala que estava ao lado, a mesma que não poderia ignorar em suas curtas passadas pelo pequeno apartamento. E contemplou com espanto o engano que acabara de cometer quando o pai deslizou o prato sobre a bancada de granito desgasta em sua direção e disse:

— Pensei que você não teria tempo de preparar algo, então... – deixou no ar o obvio e percebeu o espanto da filha e se deu conta do que ela pensou quando o viu há um minuto. – Você não pensou que fosse para mim, não é mesmo? – Franziu a testa em total hesitação. – Porque você sabe que eu fui proibido de comer essas coisas.

— É, eu sei, eu não pensei isso quando eu... Corri pela escada. Apenas pensei que... Algo estivesse queimando, sabe? – Sorriu numa tentativa falha de contornar o seu leve tom encabulado.

Charlie sabia quando sua Bella estava mentindo ou tentando disfarçar o óbvio.

— Acho que você deveria dar um credito para o seu velho pai.

— Ah pai, qual é? Você nunca foi bom no fogão.

E assim tiveram cinco minutos de divertimento, sem pressão alguma os rondando ou lembranças de momentos obscuros vividos.

Isabella podia ver a preocupação nos olhos do pai quando a porta da frente se fechou após a despedida dos dois. E podia ver algo mais, algo que ele tentava esconder, mas que Isabella podia ouvir no meio da noite quando descia com sede e da porta fechada do quarto do pai, no térreo, ouvia o choro taciturno dele.


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Notas finais do capítulo

sweetheart¹ é algo como: amorzinho, coração. É uma forma carinhosa de se expressar para com alguém que a muito apreciamos. Tendo o sentido literal de coração doce.

Certo, certo, certo, certo... Tive que me ausentar durante esse tempo. E essa "ausência" continuará.
Eu não tenho dias exatos para postagens, muito menos para me dedicar a escrever. É uma coisa de momento. Eu não posso dizer que hoje eu peguei o notebook e me veio o próximo capítulo, porque não é assim.

Deu pra sentir que esse capítulo meio que continuaria?
Então, eu tive que interromper - mas não vai ter continuação no próximo, é algo que eu estou planejando como abordar ainda.
É isso, espero que gostem e agradeço pelos comentários de vocês garotas no capítulo anterior. Espero que isso incentive a mais comentários aparecerem. É sempre bom saber o que estão achando. E posso estar demorando para responder, mas eu leio assim que os vejo.
Próximo capítulo teremos "novos" personagens e tanto mais ;).

Obrigada por estarem aqui!!!