Mistakes escrita por Niina Cullen


Capítulo 35
Capítulo TRINTA E QUATRO


Notas iniciais do capítulo

WTF!!! Vocês são maravilhosas.

Tenho que agradecer aos capítulo do último capítulo e como eu posso sentir que a maioria de vocês estão com a Bella. E estão comigo. Sim, porque eu precisava colocar uns avisos (e confesso que tive que acrescentar nas configurações de Mistakes, como violência).

A verdade é que quando eu iniciei Mistakes lá atrás (quem é ainda daquela old época rs?) eu não podia imaginar a dimensão que ela se transformaria nas minhas mãos.

E antes que vocês perguntem: sou Beward, mas Mistakes não é uma história de amor, talvez só de um lado. Mas sim de arrependimentos e superações. Vamos, lá?



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Capítulo
TRINTA E QUATRO

 

Edward bateu as mãos em punho firme sobre a mesa do seu escritório, furioso com a coragem que o seu empregado tinha de lhe afrontar.

— Você é pago para isso - Edward pontuou ralhando cada palavra, encarando Emmett a sua frente, sentado em uma das suas poltronas de couro.

— Eu sei, e muito bem pago devo reconhecer - Emmett ajeitou o colarinho do seu paletó, satisfeito. -  Mas não vejo motivos para continuar vigiando a sua esposa - ele continuou falando.

Mesmo depois de todos os relatórios tediosos, McCarthy sabia que seus dotes como detetive, ou seja lá como eles ainda chamavam aqui, estão sendo desperdiçados.

A mulher não fazia nada demais a não ser fazer compras - compras essas que diga-se de passagem não a deixavam feliz. Era como ir a uma excursão a força.  

 - É muito tedioso - Emmett afastou um mosquito que circulava naquele momento bem próximo ao seu rosto. - Não que eu esteja reclamando - ele levantou as mãos em redenção ainda sentado tranquilamente na poltrona confortável do escritório da casa de Edward Cullen. - Mas sinto saudades da adrenalina que eu tinha na polícia.

Emmett estava com uma cara pensativa, nostálgica se divertindo com a fúria do seu patrão que não o interrompeu nenhuma vez sequer. Palmas para ele.

Edward suspirou aborrecido e apertou o osso do seu nariz com a mão boa enquanto a outra, a que latejava devido a força que exerceu durante o choque contra a mesa, repousava ao lado do seu corpo.

— Você tem certeza que ela não conversou com ninguém?

— Olha, com o médico e as enfermeiras eu tenho certeza que sim.

Ela também ia ao médico, periodicamente. 

— Não estou falando disso - Edward disse irritado com todo aquele atrevimento do seu empregado.

— Deixa de ser paranoico, Bella nunca te trairia.

— O nome dela é Isabella - ele grunhiu, fazendo com que Emmett se refastelasse na poltrona, um pouco apreensivo.

Desde que ele tinha concordado e aceitou a tarefa que Edward estava lhe oferecendo, de vigiar a sua esposa e reportar qualquer deslize - palavras dele - Emmett temia que seria ele a dar-lhe péssimas notícias sobre o comportamento infiel da mulher que Edward estava se envolvendo. Mas desde que colocou os olhos em Isabella ele soube que estava errado tanto quanto Edward estava sobre a desconfiança que tinha da moça.

Mas até hoje, passado tanto tempo e depois o casamento, Edward continuava não lhe escutando. 

Ele parecia querer que Isabella o traisse, como uma revelação de que ele estava certo desde o começo.

Ele acreditava que a qualquer momento Emmett descobriria algo o que provaria enfim a sua resolução inquestionável sobre a infidelidade, a imoralidade das mulheres, daquela mulher.

Mas Emmett não podia mais convencer Edward de que ele estava errado. Ele temia pela moça, mas tentaria protegê-la do marido, porque de alguma forma inexplicável Emmett a via como uma pessoa que precisaria de ajuda, em algum momento, e ele queria muito estar por perto quando isso acontecesse. Ele havia se tornado cúmplice desde que ele resolveu não contar para Edward sobre o encontro, lá atrás, de Bella e Alice, irmã de Edward. Naquela época ele não achava relevante, as duas logo seriam cunhadas, que mal haveria na amizade delas?

Esconder aquilo de Edward Cullen talvez seria o mesmo que acobertar um crime, mas Emmett não se importava.

— Bom, mas se você só me chamou para isso, só o que tenho a lhe dizer é que Bella foi de casa para o hospital, e do hospital para casa. Não foi ao supermercado hoje, nem mesmo a lavanderia ou...

— Vá embora. - Edward interrompeu, indo até a porta de correr do seu escritório, abrindo-a para que Emmett, ainda sentado, saísse.

— Ok.

Ele saiu, não antes sem falar:

— Expediente noturno hoje chefe?

— Não será necessário - Edward respondeu impassível fechando a porta na cara do seu subalterno quando este já estava fora.

Ele estava cansado. Foi até a imensa janela que ia do chão ao teto, de uma parede a outra no fundo do seu escritório, de frente para o jardim, onde avistou Isabella segurando algumas rosas em um braço enquanto tomava cuidado ao cortar mais uma para o seus arranjos matinais. Ela se machucaria se continuasse tão distraída como parecia estar.

No que ela estava pensando?

Aos poucos ele tinha lhe tirado tudo, aquela atividade insignificante talvez fosse uma das poucas que tinha lhe restado.

Primeiro ele lhe deu liberdade, ainda que não precisasse daquilo, ainda que não precisasse provar nada para ela ou para ninguém, mas era seu dever manter as aparências, e sendo o maior apoiador para a sua nova esposa a convenceu de que seria melhor ir devagar no ritmo da suas próprias conquistas e da sua independência a fazendo pensar que ele só estava pensando neles como um casal perfeito que eram e na família que eles formariam.

As suas conquistas, uma a uma seriam cortadas, estraçalhadas e isso tudo depois do casamento. Cada incentivo, cada corda que ele desenrolava era só um pretexto, um trunfo que ele precisaria para colocá-la nos trilhos, quando precisasse. Que ela tomasse cuidado para não se enforcar, porque os incentivos simulados tinham acabado.

Emmett McCarthy tinha acabado de descer as escadas da varanda quando viu que ele apressou os passos em direção a sua esposa. Algo tinha acontecido, mas o que perturbou mais Edward, fazendo com que tudo o mais fosse pintando num tom de vermelho puro e fosse esquecido quando Emmett se aproximou dela e tocou em seu braço, pegando no braço dela.

Ele não queria saber o que tinha acontecido, ele acabaria com isso agora.

***

Assim como as flores do jardim murchavam e secavam, Bella também começou a morrer, um pouquinho mais a cada dia.

De quantas formas possíveis uma pessoa pode se perder em si mesma no espaço tão curto de tempo e ainda assim não ver sentido em sua vida sem aquele que um dia tinha lhe jurado amor eterno?

Bella estava no jardim. Fazia um dia lindo. O sol brilhava sem nenhuma nuvem para atrapalhae e seus joelhos estavam repousados na grama que tinha acabado de ser aparada pelo senhor que cuidava disso. Ele já tinha ido embora, sempre era um novo senhor. Quando Bella achava que já estava se acostumando àquele, Edward dizia que era hora de contratar um novo para os serviços. Apenas Jasper continuava ali, o seu motorista agora particular que tinha sido promovido a seu guia, e um outro homem alto que sempre a cumprimentava de uma forma esquisita, como se estivesse interpretando de baixo daqueles ternos pretos que usava - Emmett era o nome dele.

A verdade era que Edward nunca tinha lhe jurado nada. Ela que fantasiou aquilo tudo, aqueles momentos, aquele amor, e agora não podia imaginar a sua vida sem ele, quando Edward mesmo parecia tão bem sem ela, como sempre esteve antes de... Antes dela aparecer na sua vida.

Seu chapéu que usava para proteger do sol estava quase voando com a força do vento. Ela estava ali para cortar algumas rosas - algo que ela tinha aprendido com os jardineiros anteriores, observando pela janela do seu quarto aquela tarefa que um dia não tinha significado nada para ela. Não como agora, quando aquilo podia ocupar a sua cabeça enquanto tomava cuidado para não espetar o seu dedo no espinho ou errar o corte da tesoura e acertar o seu dedo, isso tudo junto e em um único dia.

Passado o inverno, um ano já tinha se formado desde o seu casamento e Edward nem ao menos se deu ao trabalho de lembrar.

Talvez não existisse mesmo o que comemorar - um ano e nenhuma gravidez, nem ao menos uma chance perdida com um aborto involuntário para ao menos dar a alegria da esperança para Edward. Para eles.

— Droga - ela não tinha tirado todos os espinhos daquela rosa que juntou como as outras a seu antebraço esquerdo, o que fez com que o espinho deslizasse por ele, fazendo um caminho perigoso pelo pulso, pegando um pouco da sua mão no processo.

Tinha se distraído. Devia ser pego a cesta que ficou em cima da mesa da cozinha e que tinha esquecido lá quando saiu para o jardim.

— Eu sou uma desastrada mesmo... Uma burra. - Bella grunhiu para si mesma quando ouviu passos apressados vindo em sua direção.

— Sra. Cullen por favor me deixe ajudá-la.

Era o Sr. McCarthy que descia as escadas da varanda e corria a passos largos em seu encontro, e não Edward que devia estar muito ocupado lá dentro, mesmo depois de ter dispensado aquele homem que agora tirava as rosas de seus braços e olhava para o corte que vinha da parte de cima da palma da sua mão e se estendia uns três dedos acima de seu pulso esquerdo.

Poderia ter sido pior.

Enquanto Bella afastava os olhos daquilo, ele examinava o corte como se soubesse o que fazer se realmente precisasse. Mas assim como Bella imaginava, o corte não tinha sido muito sério.

— O corte não foi profundo - ele murmurou, respondendo aos seus pensamentos, enquanto continuava a examinar o seu braço. - Mas é bom que a Sra. passe um remédio e...

— Isabella? - alguém a chamou, e Bella quis afastar as mãos daquele homem imediatamente, mas talvez já tivesse sido tarde demais.

Bella olhou para cima assustada na mesma direção que o Sr. McCarthy tinha vindo.

Edward desceu as escadas e num átimo estava ao seu lado, puxando-a para longe de Emmett, ficando entre os dois. Bella quase caiu devido a urgência de Edward em colocá-la atrás das suas costas, como se ela fosse uma menina que tinha acabado de se comportar mal. Muito mal. E não a sua esposa, a quem ele devia respeito também.

O que ele tinha imaginado na sua cabeça quando viu que um dos seus funcionários - Bella não sabia ao certo qual era o papel daquele homem - segurava o braço de sua esposa?

Se fosse em outros tempos, como havia sido em sua rápida passagem pela faculdade, tanto Bella quanto qualquer outra pessoa teria achado que aquela cena era ciúmes. Mas não. Aquilo era posse.

Bella não pôde ver muito bem a cara de Edward, já que ele a mantinha atrás dele, depois de arrancá-la pelo braço para longe do homem estático que podia ser mais alto do que ele com certeza e mais forte.

— Eu estava tentando ajudá-la - essa foi a resposta que Bella teria dado se não tivesse se sentido tão envergonhada, quando era completamente uma loucura se sentir assim, porque aquilo era uma verdade não importava o que Edward pensasse.

— Eu quero que você suma da minha casa. Nesse exato momento - Edward grunhiu a última frase como se estivesse se preparando para pular no pescoço dele.

— Eu já estou indo, mas cuide da sua esposa, o corte não parece profundo mas continuará escorrendo sangue se não for estancado.

Emmett McCarthy de afastou de costas e depois seguiu rumo a porta de entrada onde estava o seu carro preto, entregando antes as rosas para Edward num olhar desafiador, que o ignorou e em resposta Emmett as deixou ao chão.

Bella nunca tinha visto aquilo. Alguém que pudesse desafiar o seu marido.

Quando eles entraram na casa, Bella sendo escoltada por um Edward furioso, ela quase podia sentir a ira dele evaporar a olho nu, como uma névoa que nunca se dissipava. 

Tentando se afastar Bella se dirigiu direto para o quarto, tomando cuidado para que seu sangue que escorria como a lentidão de um molho sobre a massa não deslizasse até o carpete.

Ela foi até o armário do banheiro onde tirou um kit de primeiros socorros. Ela já tinha precisado dele outras vezes.

Bella se lembrava de como havia sido difícil se acostumar aquela casa no começo, mas agora ela já sabia onde ficava cada coisa em cada milímetro daquela mansão. Ela só não tinha permissão para entrar no maldito escritório que tinha se tornado a extensão do quarto deles para Edward.

Quando ela voltou ao quarto e viu que Edward estava parado próximo a porta aberta ela se assustou, pensava que ele tivesse ficado no escritório mesmo e não subido atrás dela.

— Você não precisa ficar aqui e ver isso - ela disse, sentindo coisas que não queria sentir, esperanças que não existiam para ela.

— Não preciso mesmo - ele assentiu, frio.

Algumas coisas não mudavam nunca.

Embora o quarto fosse imenso e Bella agora estivesse sentada no chão com as costas encostada na lateral da cama, ela conseguiu ouvir os passos deles se aproximando.

Ela abriu a caixa de primeiros socorros ao seu lado e começou a fazer o curativo, primeiro limpando e depois passando o remédio. Não conseguiria colocar um curativo que não fosse um esparadrapo enrolado a sua mão e entre o seu polegar que ia até o começo do seu pulso, onde o corte parecia um pouco menos superficial do que ela tinha imaginado.

Ela não esperava que Edward se sentasse próximo a ela, ali no recamier aos pés da cama, mas foi exatamente o que ele fez. Se sentou e ao se inclinar colocou os cotovelos sobre os joelhos.

— O que vocês estavam conversando? - sua voz era apenas um suspiro, mas tão ameaçadora quanto um grito exasperado quando ele tinha gritado o seu nome lá fora.

— Nada.

— Se você estiver mentindo para mim...

Ele não terminou a maldita frase. Se levantou e passou as mãos sobre os cabelos, como se pudesse arrancá-los. Ele fazia isso quando estava perdendo o controle, Bella já conhecia cada ruga que se formava no canto dos olhos dele e o que vinha a seguir.

— Me fala e não se finja de muda. - Ele agora tinha gritado, fazendo com Bella se encolhesse. Ela precisava passar o remédio naquele corte. Ela odiava sangue e gritos.

— Você acredita naquilo que quer acreditar e não na verdade. Não adianta eu falar pra você que ele estava só me aj...

— Eu. Disse. Não. Minta. Para. Mim - ele susurrou cada palavra pausadamente quando se agachou a sua frente colocando o braço apoiado no colchão atrás dela, bem próximo a sua cabeça.

— Eu não estou mentindo - o nó em sua garganta, as lágrimas escorrendo pelo seu rosto. Aquilo não era o suficiente para ele?

Era a mesma coisa sempre. 

A história sempre se repetia. Por algum motivo que ela desconhecia, Edward desconfiava dela, foi assim no trabalho, nos encontros sociais que ele ainda a levava mas agora unicamente como sua esposa, ou uma peça perdida que ele queria exibir para os amigos, e isso acontecia também na faculdade. O último incidente, o pior deles, Bella não podia esquecer, foi antes dele a convencer de que o melhor seria que ela deixasse a faculdade de lado e pensasse na família que eles queriam construir e que já vinham tentando sem sucesso.

— Por que Emmett estava pegando o seu braço com tanta intimidade?

Aquela era a sua única preocupação. Não importava o corte que ela tinha feito e o quão perto de ter sido fatal ele podia ter sido. Não, nada daquilo importava a não ser se o Sr. McCarthy e ela estavam tendo um caso. Como todos os outros homens que de aproximavam. Jasper tinha ficado ainda mais afastado quando entendeu o que estava acontecendo, não querendo complicar a vida dele, ela imaginava.

Quando Bella não respondeu, Edward pegou o seu queixo com uma das mãos com brutalidade e trouxe o seu rosto relutante em direção ao seu. Segurando com força.

Bella achou que ele a beijaria e pela primeira vez ela pensou que poderia virar o rosto para longe se não fosse a pressão que ele exercia sobre o seu queixo.

— Olhe para mim quando eu estiver falando com você.

Então ela olhou.

Tudo o que ela mais queria era que ele pudesse ver a dor que estava causando a ela, vendo em seus olhos inchados devido a lágrimas que nunca secavam e rosto molhado o quanto ele a estava matando, aos poucos por dentro. O quanto ele a machucava.

Ela queria perguntar aonde estava o Edward que ela tinha conhecido. Se é que tinha mesmo conhecido. Um Edward que dizia que a amava e que faria qualquer coisa por ela. Que não tinha desistido dela mesmo quando ela se afastava dele, quando ainda tinha medo do que não conhecia, querendo tirar os sentimentos que já estavam impregnados em seu âmago. Talvez naquele tempo os avisos não tinham faltado para que ela se afastasse de Edward, mas o amor que sentia por ele era maior do que qualquer coisa. Tinha que ser.

Ela tinha lido uma vez em um livro estrangeiro que um homem vivia uma vida imaginária, uma fantasia que tinha criado em sua cabeça de uma vida perfeita ao lado da mulher que amava. Será que ela não sofria da mesma doença? Ela não tinha tido tempo de entrar a fundo nos distúrbios psicológicos na faculdade. Mas ela gostaria de saber.

— Você não entende não é? - ela fez o melhor que pôde com o aperto agressivo em seu queixo para perguntar algo que não tinha resposta.

— O que eu não entendo Isabella? - os olhos dele estavam ainda mais verdes, zangados. Ela conhecia aquele olhar. Ele seria capaz de fazer uma loucura.

Bella não sabia, mas talvez aquele homem do livro fosse Edward, e diferente dela, ele sempre viveu no inferno da sua própria imaginação e nunca a tinha amado verdadeiramente.

Erguendo a sua mão para colocar sobre o pulso dele, tentando afrouxar inutilmente o aperto que ele exercia sobre o seu queixo e fechando os olhos ela disse:

— Que pra você nada importa - sua voz era apenas um suspiro. - Nada do que eu for te dizer vai importar.

Naquele mesmo segundo, como se sua pele o tivesse repelido, queimando-o pelo contato ele largou o seu queixo e se levantou.

Bella levou a mão que segurava o pulso de Edward inutilmente a sua pele, massageando quando o aperto tinha ido embora, mas o incomodo em seu maxilar continuava.

Talvez aquilo tudo não tenha sido o pior.

Mas a raiva, o medo que ela sentia toda a vez que Edward se tornava alguém agressivo, alguém que ela não conhecia como ela um dia pensou conhecer, bastava para ela entender que em algum momento ela deixaria de existir e de sentir a dor que alimentava em seu coração, em um lugar que Edward não conseguiria chegar nunca.

***

Algumas noites eram sempre iguais.

Jantavam em silêncio, isso quando Edward estava em casa quando ele logo trataria de se trancar naquele escritório que ela não tinha permissão de entrar. As coisas ficaram mais difíceis conforme o tempo ia passando e o filho que eles tanto esperavam não vinha.

Até quando ela viveria aquele sofrimento?

Um filho resolveria mesmo tudo?

Fingindo uma felicidade que só existia para os expectadores da sua vida, sentada agora dentro daquele imenso closet, com roupas de grife que ela não conhecia, compradas com um cartão de crédito sem limite, presentes que ela não queria receber do seu marido quando este estava apenas preocupado com as aparências que deveriam manter, Bella pensou no que poderia ter errado?

Aquela seria mais uma noite como todas as outras.

Edward no andar de baixo, em seu escritório trancado e ela sozinha naquele imenso quarto, sozinha pensando em coisas e em tudo o que poderia ter sido o casamento deles. Se é que um dia realmente podia ter sido alguma coisa.

Ela olhou para baixo, para o curativo em seu braço que tinha feito da melhor forma que conseguiu e imaginou por um momento como aquilo poderia ter sido pior e ao mesmo tempo atenuante. Quase tentador.

***

Eles tinham que entregar o trabalho em duas semanas, seria o último antes das férias de verão e Bella estava realmente empolgada com tudo o que já tinham desenvolvido até aquele momento, há poucas semanas da entrega final. Se o próximo período do curso fosse um pouco parecido com o que tinha sido esse, seria ótimo porque ela tinha encontrado pessoas maravilhosas.

Angela havia sido a primeira, um pouco mais jovem do que ela, era de Nova York e foi ela quem apresentou Bella aos amigos. Eric e Mike. Ela era a única casada na turma, o que fez com que ela se sentisse ainda mais deslocada. Foi Edward que a incentivou a ir, mas naquela altura ele já  não parecia mais o mesmo, talvez desde quando eles voltaram da curta lua de mel em Chicago. Ele parecia muito mais preocupado em levá-la para os eventos depois que voltaram para casa do que com o fato de que eles eram recém casados.

Aquilo não a preocupava tanto.

Assim como não a preocupava mais o fato dela ser a única casada e de ter passado por comentários do tipo:

"Mas você engravidou cedo? Porque se sim, isso é ridículo, afinal estamos no século XXI."

Pessoas que não eram seus amigos, como Angela havia se tornado. Eric e Mike também eram legais, mas Angela parecia sempre estar em sintonia com as ideias de Bella, o que a deixava ainda mais otimista e confiante.

Isso tudo tinha sido perfeito durante o tempo que durou, porque Edward estava transtornado, muito transtornado. 

Mike estava tentando provar a sua teoria sobre o contato físico em comparação ao olhar. Algo sobre atenção e reação, por isso segurava as mãos de Bella sobre a mesa de estudos no espaço aberto da NYU.

— Sua aliança talvez atrapalhe um pouco o processo - ele riu fazendo com que Angela e Eric o acompanhassem.

Aquilo deixou Bella um pouco tensa, e ela não entendia bem o porquê. Aquele era só um momento descontraído entre amigos, depois de finalizarem uma parte importante da dissertação deles. Faltava pouco para eles terminarem no prazo previsto pelo professor.

Bella apenas balançou a cabeça, sorrindo.

Ela voltaria aquela tarde para a Cullen Enterprise. Estava indo cada vez menos, depois que Edward a tirou da presidência e a deixou responsável pelo setor do Departamento Pessoal - algo que fosse mais condizente com o seu curso, ele tinha dito.

— Ou talvez eu possa estar errado Bella, mas com certeza você sente algo por mim - ele piscou convencido, mas foi tudo tão rápido que de repente Mike estava no chão e por um segundo Bella pensou que ele tivesse se desequilibrado da cadeira, já que ele tinha um dos joelhos apoiados na cadeira de plástico enquanto estava em pé, inclinado sobre a mesa em sua direção, com as mãos de Bella na sua.

Bella demorou um pouco pra entender o que tinha acontecido, mas quando ela viu Eric e Angela correrem para ajudar Mike ela entendeu tudo porque agora Edward a arrastava furioso pelo braço enquanto rugia os piores insultos que Bella poderia ouvir.

Já no carro Edward dizia coisas do tipo que "não podia confiar nela", em coisas como "vagabundas como ela". Que todas as mulheres eram iguais - Bella não sabia ao certo a quais ele estava se referindo.

Seus soluços eram desesperados enquanto ela fechava os olhos mais forte a cada exclamação exaltada de Edward.

Quando finalmente chegaram em casa, Bella pensou que ele tinha acabado com aquela gritaria.

Sua cabeça doía e seu rosto estava encharcado com as lágrimas que não conseguia conter, e que continuavam a escorrer sem a sua permissão.

Uma semana tinha se passado. Um semana sem que Bella tivesse coragem de atender Angela - Edward tinha jogado o seu celular fora, mas o telefone de casa ainda tocava, e Bella agradecia internamente por ser em horários que Edward não estava perto, só a nova empregada que Bella mal conhecia devido ao costume de Edward de substituí-los constantemente.

Preocupada com as faltas que estava tendo ela se surpreendeu com a atenção que teve do reitor da faculdade em deixar que ela voltasse para a faculdade quando pudesse, que isso não lhe traria nenhum prejuízo.

E foi assim que Bella retornou as ligações de Angela, ela parecia entender muito melhor do que Bella o que a amiga estava vivendo, e por isso não deixava mensagens na secretária eletrônica. As coisas poderiam piorar se ela fizesse isso.

Quando Bella tomou coragem e ligou para Angela, no dia anterior que ela voltaria para a faculdade, ela disse que eles tinham que tirar o seu nome do grupo e que ela faria os trabalhos sozinha dali para frente. Angela não tinha questionado a sua decisão, o que Bella agradeceu internamente.

Bella se lembrava disso porque foi na mesma semana que ela e Edward tinham se deitado, depois do que tinha parecido anos. E na mesma semana que ele tinha concordado em deixá-la voltar para a faculdade.

Noites de reconciliações. 

Era quando ela achava que tudo ficaria bem.

Aquilo não tinha durado muito, aquele clima de concessões tinha terminado logo quando Edward tinha a convencido de deixar a faculdade, com argumentos que na maioria das vezes Bella se questionava internamente a razão para aquilo. No entanto não queria deixar que isso saísse de dentro dela, se libertasse das amarras que Edward a estava envolvendo.

Ele queria um filho, ele queria começar uma família e Bella mal podia acreditar em tudo aquilo. Talvez fosse cedo de mais, mas não importava. Ela queria aquilo também. Queria tudo com Edward. Até ser mãe, algo que ela de verdade nunca tinha se questionado, porque nunca teve alguém com que ela quisesse compartilhar algo assim.

Deixar os estudos, parar com os anticoncepcionais tinha sido apenas o começo. Bella não conseguia ver ou não queria ver, mas as coisas não pioraram porque a gravidez não acontecia, mas sim porque tinha algo de errado com Edward, algo que poderia custar-lhe a vida.

Mas o que mais assustava Bella não tinha sido a reação de Edward, o ciúmes ou a maneira que ele a tinha tratado na frente de todos na universidade, mas sim em como ninguém veio interferir, em como ninguém, nem mesmo os seguranças que estava no campus e viram a cena impediram que algo de pior tivesse acontecido.

Ela tinha encerrado aquele semestre com notas altas, notas que ela desconfiava que se não tivesse se esforçado muito para tal, não teria impedido dela continuar. Mas tudo aquilo não importava mais, nem mesmo o fato da doação de livros para a biblioteca da universidade que ela tinha descoberto um pouco depois de voltar e de ter se afastado dos seus amigos. Dos únicos que ela tinha feito.


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Notas finais do capítulo

Comentem aqui em baixo qual frase mais marcou vocês nesse capítulo. Vou adorar saber.


E quem decidiu terminar Mistakes por aqui, eu agradeço demais, espero ver vocês em próximas histórias (só não sei se menos dramáticas, eu sou uma pessoa dramática poxa rs).

Obrigada e nos vemos rapidinho, só basta vocês colaborarem. 2 capítulos por semana tá bom pra vocês? Fiz o teste com e deu certo né?! :))) Continuem assim plIIIISSS!

Beeeijo e recomendem, até mesmo se a sua decisão é sair, é muito importante que você deixe a sua opinião e é super rápido!!!

***Do lado direito de todo capítulo aparece "Opções da História" aí você pode clicar em "Recomendar esta história" ;)