Kissu´s escrita por LiLiSaN


Capítulo 34
Chi


Notas iniciais do capítulo

*Chi: Sangue.



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...

“Como você ousou recusar a se casar com a minha filha?!”. Deu uma rabissaca a Shaoran,

“Senhor...”. Shaoran sorria sem graça.

“Papai, por favor, para com isso!”. Meilin balançava a cabeça negativamente. O senhor, baixinho, de cabelos pretos, presos em um coque, irritado, cruzou os braços.

“Querido, não trate assim o nosso adorado líder. Veja como ele está crescido, está à cara de Lang, lindo como o pai”. A mulher de cabelos negros, compridos, abraçava Shaoran, o apertando. Shaoran tentava sair do abraço de urso dela.

“Mamãe...” – Meilin suspirou inconformada – “Pelos deuses... Que vergonha...”. Meilin não notava que tinha a quem puxar. 

“Irmão e cunhada, que bom que puderem vim!”.

“Yelan, querida! Como está linda! A cada ano fica mais jovem!”- Soltou Shaoran, que aliviado, recuperava o ar. Ela ficou frente a frente à Yelan, a admirando – “Não é à toa que Lang acabou casando-se com você entre tantas pretendentes”. Sorriu. 

Yelan desconversou. Passaram-se anos, mas parece que a cunhada nunca esqueceu. Yuga, mãe de Meilin e prima de Lang, foi uma das pretendentes que Lang havia rejeitado: “Como vão?”.

“Irritado e é culpa sua! Seu filho recusou minha filha e você não fez nada!”.

“Irmão, Xiaolang é livre”.

“Papai, pare de falar sobre isso. É passado!”.

“E você deveria voltar para casa! Não têm mais motivos para morar com a sua tia. Foi criada para ser esposa e, no final, não deu em nada!”.

“Não vou não!”. Geniosa, cruzou os braços, encarou o pai.

“Mas o que é isso menina, não tem orgulho próprio? Além disso, deve obedecer a mim, não esqueça de que sou seu pai!”.

Meilin abriu a boca para retrucar, mas Shaoran se pôs a sua frente: “Senhor, meu tio, com todo respeito, eu reconheço a sua autoridade, mas não vou permitir que obrigue Meilin a ir embora por causa de uma bobagem. Eu amo a sua filha como se ela fosse uma irmã para mim. Crescemos juntos e ficamos separados por um bom tempo, não é justo que o senhor a tire daqui agora que retornei”.

O senhor ficou pensativo e olhou para Shaoran: “Tudo bem! Quem sabe assim, você não se apaixone por ela! Ela é linda, não consegue ver, seu tolo?”. Apontou para filha.

“Papai!”. Meilin o repreendeu, com as bochechas coradas.

“Sim, ela é sim”. Shaoran a olhou sorrindo. Meilin corou ainda mais e nem notou o largo sorrido esperançoso de seu pai.

 

..........................................

Sentada em um banco de madeira, repousou seu olhar sobre as flores do enorme jardim da mansão. O som de alguns grilos e a luz das estrelas enfeitava o lindo jardim.

Esperava por ele. Minutos atrás, Kurogane veio ao seu encontro dando o recado para que ela esperasse por Shaoran ali, afastada de todos e da festa.

Ficou feliz, assim teria oportunidade de parabeniza-lo e entregar seu presente.

Olhou para o embrulho sobre suas pernas, e sorriu. Torcia para que ele gostasse do presente.  

O som de passos a fez olhar para trás.

“O que está fazendo aqui, tão solitária?”.

“Olá, de novo!” – Era o homem com quem havia conversado mais cedo. Ele andou até ela – “E-estou esperando uma pessoa”. Respondeu timidamente.

“Posso até imaginar quem seja... Então vou indo, não quero atrapalhar nada”. Deu as costas.

“Espera! Fique! Shaoran não vai ser importar se o senhor ficar”. Ela levantou-se do banco, abruptamente. Não gostaria que ele fosse embora.

“Tenho minhas dúvidas”.

“Por qual motivo o senhor diz isso?”.

“Digamos que não sou uma pessoa muito agradável quando quero”.

“O senhor parece ser uma pessoa sábia”.

“Nem tanto, jovem. Já cometi muitos erros no passado. Se eu fosse mesmo sábio, não voltaria a cometê-los no presente”.

“Não somos perfeitos. Às vezes aprendemos com erros, mas outras vezes precisamos repeti-los” – Ela o fitou – “Senhor... Aquilo que o senhor me disse, sobre a vida sem amor não ser lá essas coisas...”.

“De onde tirei? Eu me apaixonei aos 15 anos de idade, mas ela casou-se com meu melhor amigo. Eu me casei também, mas minha falecida esposa sempre soube dos meus sentimentos, e mesmo assim, ela me amou, me deu um filho e cuidou de mim até o seu último dia de vida. Era alguém que eu deveria ter amado mais. Tive que aprender a conviver com a solidão e o arrependimento”. Sakura reparou nos olhos marejados dele.

“Se ela sempre soube, ela não viveu em uma mentira”- Ele arregalou os olhos, e depois sorriu- “O senhor não me disse seu nome. Eu o vi sentado próximo ao Shaoran, mas ninguém disse o seu nome”.

“Mas que má educação a minha... Eu me chamo...”

“O que você está fazendo aqui?”.

“Líder li! Eu já estava indo embora. Apenas vi esta bela criatura sozinha, e me preocupei com seu bem-estar”.

Shaoran andou até eles, e ficou cara a cara com ele: “Já pode ir embora”.

“Shaoran, porque você está sendo tão rude?”.

“Ah, não se incomode por mim, Srta. Kinomoto. Líder Li e eu temos algumas opiniões divergentes sobre determinados assuntos”.  

“Não se deixe enganar, Sakura. Wang é um lobo em pele de cordeiro”.

“Wang?”.

“Eu me chamo Wang Fei, senhorita. Desculpe por não ter me apresentado mais cedo”.

 “Vocês já tinham se falado?”. Shaoran encarou Sakura, surpreso. Não queria ele perto dela.

“Sim, fiquei curioso em conhecer a mulher que nosso líder tanto ama e que tanto sofreu por ela” – Wang sorriu, tomou a atenção de Shaoran para si – “Vocês dois formam um belo casal. Terão lindos filhos quando casarem”.

“É melhor você ir embora!”.

“O que foi? Eu disse alguma besteira?” – Notou a feição entristecida de Sakura – “Não me diga que vocês decidiram não ficar juntos?”.

“Isso não é da sua conta! Vai embora de uma vez!”.

“Não seja orgulhoso, líder Li. Vá embora com ela! Vivam esse amor que nutrem um pelo outro. Não perca sua juventude atrás de uma mesa e vivendo a frustração de um amor não realizado”.

“Que comovente! Acreditaria em suas palavras, de autor de novela romântica, se sua real intenção não fosse ficar com a liderança”.

Wang deu uma risada alta: “A quem eu quero enganar, não é mesmo? Que se dane! Mas a parte de você ir embora são palavras sinceras, que saem do fundo do meu coração”. Sakura ficou perplexa pela frieza do homem que minutos atrás transbordava gentileza. Parecia que naquele momento, ele interpretava um personagem.

Uma sombra saiu detrás de umas das arvores do jardim e se aproximou dos três. Os deixando surpresos.

Ele gritou: “LÍDER WANG!”.

 

..........................................

“Kurogane, onde está Shaoran?”. Fay aproximou-se de Kurogane, que olhava de relance em direção ao jardim. Minutos atrás acompanhou Shaoran com o olhar até perdê-lo de vista.

“Não sei”. Desconfiado, evitou olha-lo.

“Não minta para mim, kuro-kuro!”. Fay insistiu, beliscando sua bochecha.

“Argh! Não me irrita! Ele foi se encontrar com a Sakura!”. Gritou.

“Justo agora? Daqui a pouco, faremos o brinde entre os líderes”. Disse inconformado.

“Ele estava inquieto. Queria ficar com ela um pouco e ter uma conversa...”.

“Entendo. Deve ser sufocante para ele estar em uma festa tão formal como essa. Sorte a nossa que os amigos deles estão aqui... Mas tanto eles, como Sakura, irão embora daqui uns dias...”. Olhou para os amigos dele, que conversavam animadamente.

“É...”.

“E que milagre é esse que você está aqui, e não lá?”. Ficou surpreso ao constatar o que acabará de falar. Kurogane raramente saia do lado de Shaoran. 

“Ele me pediu... Como amigo”. Ficou vermelho.

Fay riu: “Que bonitinho Kuro-kuro!”.

“Não enche!” – Ficou sério - “Só não estou com um bom pressentimento”.

“Como assim?”

“Não sei. Acho que não foi uma boa ideia deixa-lo fora da minha visão”.

“Não se preocupe, Kurogane! Eles vão ficar bem!”. Bateu nas costas do amigo, com força, fazendo Kurogane desequilibrar para frente, logo, irritou-se.

 

..........................................

“Quem deixou você entrar?!”. Wang indagou, furioso.

“Encontrei alguns conhecidos e menti que esqueci o convite e me deixaram entrar como convidado!” – Ele olhou para Shaoran que, assustado, se pôs em frente à Sakura, que estava nervosa – “Desculpe, líder Li. Wang me obrigou a fazer isso, e-ele não me recebia e não atendia minhas ligações!”. Curvou-se na direção de Shaoran.

“Você é um carrapato repugnante! Eu não vou recontratar você, seu idiota!”. Wang gritou, andando na direção dele, mas Shaoran segurou seu braço. Wang parou de andar e olhou, surpreso, a reação de Shaoran.

Shaoran fitou o homem nervoso, que passou a encarar, de forma ameaçadora, Wang. Era o funcionário de Wang, que ele havia demitido na sua frente. O tinha visto mais cedo na festa, mas não tinha ideia do que estava acontecendo ali.

“Mas, o que significa tudo isso?”. Shaoran perguntou ao homem, que deixou de olhar Wang.

“E-e-esse maldito! Trabalhei vários anos naquela empresa, dei tudo de mim, e ele me demitiu por nada! Minha mulher está doente! E-e-ele sabe disso! Estou sem condições de continuar pagando o tratamento da minha esposa!”.

“Não me importo com seus problemas pessoais! Foi culpa sua! Você cometeu aquele erro grotesco!”.

“E-eu fiquei a noite toda acordado no hospital com a minha mulher! Estava cansado e por isso eu cometi aquele erro de digitação...”.

“Não tenho nada a ver com isso, seu idiota! Que trabalhasse o dobro!”.

“Como você pode ser tão insensível, Wang?!”. Shaoran o encarou, irritado.

Wang o encarou também irritado: “Não se intrometa, criança...”.

Shaoran e Wang pararam de discutir ao ouvir Sakura soltar um grito e vê-la cobrir a boca, arregalando os olhos. Eles seguiram os olhares dela, e também arregalaram os olhos. O homem irritado apontava uma arma na direção de Wang.

“O que você pretende fazer? Abaixa essa arma, idiota!”. Wang ficou parado.

“E-eu vou acabar com você! Alguém como você, não merece viver!”- O homem falava enquanto chorava – “Seu filho merecia! E-e-e-e-eu fui mentor do seu filho, e-e-e-eu ensinei tudo para ele, e cuidei dele desde criança! Ele era como se fosse um filho para mim! Eu o amava! Ele era tão bom, gentil e tinha um coração puro. Diferente de você, que sempre só pensou no poder e no dinheiro!”.

“Você era um empregado! Não se sinta como se fosse alguém importante para ele!”.

“Mentira! E-eu e-eu fui um segundo pai para ele!” – Ele chacoalhou a arma, os assustando – “Eu cuidei dele até ele morrer. Onde o senhor estava mesmo?” – Wang ficou calado, nervoso – “Não lembra? Estava ocupado demais trabalhando, ao invés de passar os últimos dias do seu filho ao lado dele!”.

Wang se descontrolou e gritou: “ACHAVA QUE ELE IA FICAR BEM!”.

“Só porque você pagou por todos aqueles médicos e aqueles tratamentos? Dinheiro não pode comprar tudo, desgraçado!” – A mão em que segurava a arma, tremia, com a outra mão, enxugava as lágrimas – “Sabe o que ele me disse, no dia anterior, antes de morrer?”.

“Cala a boca!”.

Sakura presenciava toda a cena assustada, e a cada vez que ele balançava a arma, fechava os olhos. Olhou para os lados, e pensou em uma maneira de puxar os dois e correrem dali. Mas era perigoso. Aquele homem tinha um alvo certo.

“Wang, acalma-se! Ele pode acabar atirando em nós!”. Shaoran gritou, sem paciência com a prepotência de Wang, que nem alvo de uma arma ficava quieto.

“Não, não, Líder Li! Eu jamais atiraria no senhor e na moça. Peço perdão, mas esse é o único jeito que encontrei de resolver as coisas... Não vou machucar vocês. Eu só quero matar esse desgraçado e me vingar!”

“Pense em sua esposa! Ela precisa do senhor. Se você mata-lo, quem cuidará dela?”. Shaoran tentava manter a calma.

“É por ela, é por ela que estou fazendo isso! Ela vai me entender!” – Olhou Wang – “Seu filho me disse que nunca quis ser líder! Que só fazia tudo aquilo para passar o tempo ao seu lado” - Wang arregalou os olhos ao ouvi-lo – “Você praticamente o abandonou quando ele era criança! Só vivia para o trabalho! Queria construir um império para ele assumir. E que ironia, hoje o senhor construiu, mas não tem ninguém da família para cuidar dele quando eu o matar! Como se sente, hein? Como é ser um bastardo infeliz?”.

Wang abaixou a cabeça: “Eu amava meu filho, e quando ele morreu, eu estava ao lado dele! Eu me despedi dele! Posso não ter conseguido salva-lo, mas dei toda a assistência e puder pagar os melhores médicos e enfermeiras para cuidar dele” – Wang levantou a cabeça e sorriu de lado – “Já a sua mulher vai morrer na sarjeta!”. Shaoran teve a certeza de que Wang queria morrer.

“DESGRAÇADO!”. Ele gritou e Wang fechou os olhos.

“Espera! Espera, não atira!” – Shaoran gritou e levantou os braços para o alto – “E-ele não vale a pena. Wang é uma pessoa amarga, que precisa superar as perdas que sofreu, e entender que a vida não se constrói só com dinheiro e ganância” – O homem ainda apontava a arma para Wang – “Você e eu, sabemos disso. Mas ele não. Não desgrace a sua vida. E-e-eu posso ajudar você! Eu pago o tratamento da sua esposa e dou um trabalho para você! Mas você tem que me entregar essa arma”.

“É um caminho sem volta, Líder Li. Eu não sou bobo. O senhor jamais confiaria em uma pessoa que tentou matar seu ex-líder para trabalhar com o senhor”.

“Você não me conhece! E-eu entendo essa raiva que você está sentindo. Wang é alguém que age sem se importar com os sentimentos de alguém, e ele também me machucou”.

“É verdade?”.

“Sim”

“É por isso que esse desgraçado tem que morrer!”

“Li...”

“Não, claro que não!”. Shaoran gritou.

“Li...”- Shaoran olhou Wang – “Pare” – Wang deu curtos passos para frente – “Se você quer me matar e se isso vai te fazer se sentir melhor. Vai em frente”.

“O quê?”. Shaoran o indagou assustado, o que ele estava tentando fazer? Morrer?

“Não estou com saco para ficar aqui ouvindo sobre os meus defeitos. A verdade é que...” – Wang encarou o homem armado – “Eu já morri há muito tempo quando minha esposa e, depois, meu filho morrerão. Não tenho medo de morrer” - O homem engoliu seco e por milésimos, fez menção de abaixar a arma – “Por isso, vai em frente. Se você me deixar vivo, você vai ser preso e eu não vou te recontratar”.

O homem, enfurecido, apontou a arma para ele. E sem pensar duas vezes, puxou o gatilho.

 

..........................................

Yukito e Nakuru se viraram para trás, notando o barulho que veio do jardim: “O que foi isso?”. Pararam de comer.

“Não sei... Deve ter sido algum problema na caixa de som”. Nakuru respondeu.

 

..........................................

Wang fechou os olhos. Sua vida tinha acabado. A imagem da esposa e do filho, lado a lado, veio em mente. Será que iria ficar junto deles? Apostava que não. Eles eram bons demais.

Os gritos desesperadores de Sakura, o fez abrir os olhos. O peso do corpo de Shaoran caindo sobre ele, desacordado, o fez desequilibrar-se e cair para trás, sentado.

Sakura continuava a gritar desesperadamente.

“O-o-o-o que eu fiz?! Pelos deuses! E-e-e-eu atirei no Wang, porque ele pulou na frente dele?!”. O homem ajoelhou-se e soltou a arma, desesperado.

Ao ouvi-lo, Wang, arregalou os olhos. Demorou a perceber que Shaoran o tinha protegido do tiro. Mas, por quê? Por que aquele pirralho fez aquilo?

Sentiu algo quente, e percebeu que Shaoran começou a sangrar muito. Com cuidado, saiu debaixo dele, e notou que Shaoran levou um tiro no ombro, próximo ao peito.

“Acorda Shaoran, Shaoran, por favor!”. Sakura chorava e gritava, tocando nele, sujando-se de sangue. Wang tirou o paletó, e colocou sobre o ferimento ocasionado pela bala, na tentativa de estancar o sangue.

“Vá chamar alguém, corra! Depressa!”- Sakura hesitou por alguns instantes - “Vá! Eu cuido dele!”. Ao escuta-lo, ela saiu correndo, sem olhar para trás.

“Porque ele protegeu, porque ele fez isso, porque ele protegeu... Ele não merecia, ele não merecia ser protegido... Eu não queria... Eu não queria...”. O homem repetia, em estado de choque.

 Ao ouvi-lo, Wang encarou Shaoran desacordado.

“Ele tem razão, eu não merecia garoto”.

 

..........................................

Sakura segurava a barra do vestido, tentando correr o mais depressa possível. Seus sapatos de salto alto tinham ficado pelo caminho. Não notou, mas seu vestido estava sujo de sangue.

Avistou as luzes da decoração da festa e correu ainda mais rápido. Viu Kurogane, ao lado de Fay, e começou a gritar, balançando os braços. Seus gritos, antes abafados, foram ficando cada vez mais nítidos à medida que se aproximava, chamando atenção de todos. O som da festa foi interrompido.

“KUROGANE!”. Ao escutar seu nome, seguiu a voz. Ele e todos os outros. Ficou espantado ao ver Sakura suja de sangue. No mesmo instante soube que tinha acontecido algo com Shaoran – “Shaoran, levou um tiro!”. Sakura gritou para o espanto geral.  

“O que foi que ela disse?”. O desespero tomou conta da festa.

“Fay, chama a ambulância! Agora!”. Kurogane pediu e foi em direção a Sakura, que juntos correram até o jardim.

Yelan, ao lado de Meilin, do outro lado da festa, percebeu o movimento: “O que está acontecendo?”.

Uma das funcionárias veio correndo e ofegante disse: “Senhora, senhora! Líder Li levou um tiro!”. Yelan ficou paralisada, Meilin ao seu lado, horrorizada.

 

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Wang verificou a respiração de Shaoran, e percebeu que estava ficando fraca. Apesar de ter conseguindo estancar o sangue, ele precisava ir a um hospital com urgência.  

“Seu moleque! Porque você tinha que fazer isso!”. Gritou com Shaoran.

“Eu não queria... Eu não queria... Eu não queria”.

“Cala a boca! Se ele morrer, eu acabo com você, ouviu bem?”.

Os seguranças de Wang, junto de Kurogane e Sakura, vieram correndo.

Kurogane em um pulo se pôs ao lado de Shaoran: “Shaoran!”. Ficou assustado ao ver o amigo, pálido e desacordado, sujo de sangue. Logo, olhou envolta e percebeu o que havia acontecido.

Wang se afastou um pouco, e olhou para os seguranças: “Segurem esse idiota e chamem a polícia”. O homem ainda permanecia, no chão, em choque.

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Ao abrir os olhos, perguntou-se que lugar era aquele. Não sabia explicar, mas não sentia medo ou preocupação por estar ali. Tampouco se lembrava do que aconteceu.

“Hum? O que aquele banco está fazendo no meio do lago?”. Perguntava-se como o banco de madeira, branco, flutuava no meio do lago. Forçou a vista, e viu que havia alguém sentado nele. Seria Zhang?

Caminhou na direção do lago, e ao chegar até ele, parou. Não havia nenhuma estrutura que permitisse ir até o banco branco. Gritou por Zhang, mas o homem não olhou para trás. Parecia não o ouvir.

Impaciente, tirou os sapatos, iria entrar no lago e nadar até o homem. O que será que o homem entretido fazia?

Ao colocar o pé direito na agua, deu passos para trás, assustado. Parecia ter pisado sobre um vidro. Recuperou-se do susto, e mais uma vez, pisou. Deu outro passo e mais outro, ele estava andando sobre as aguas? Mas o que estava acontecendo?

Como um relâmpago, chegou à resposta: Ele tinha morrido. Lembrava vagamente do que tinha acontecido.

Olhou mais uma vez o homem, e encheu o pulmão de ar e começou a andar na direção dele. Andava em passos lentos, como se estivesse andando em uma camada fina de gelo que estava prestes a se partir. Pelo menos era essa a impressão que tinha.

Ao chegar próximo do banco e do homem, chamou por ele: “Zhang?”. Ao escutar Shaoran, o homem se virou. E sorriu.

“Filho? Quer pescar?”.

“Pescar? O senhor está pescando?”. Ele mostrou a vara de pescar, ainda sorrindo. Era seu pai. Mas era tudo muito estranho, não ficou surpreso, emocionado ou tão contente em vê-lo. Parecia que o já tinha visto várias, várias, e várias vezes, sua presença parecia ser rotineira.

“Claro! É um ótimo hobby!”.

“Parece até Zhang falando, pai!”.

“E ele tem razão. Aliás, ele sempre tem razão” — Gesticulou— “Venha, sente-se! Não fique parado aí, vai assustar os peixes”— Sorrindo, Shaoran fez o que o pai pediu – “Então, o que faz aqui?”.

Shaoran olhou envolta, e viu o campo florido e sentiu a brisa refrescante daquela tarde de verão: “Não sei pai... Será que morri? Nem sei exatamente o que aconteceu”

“Quê?!” – Parou de prestar atenção na pescaria e encarou Shaoran e ficou atordoado— “Claro que não! Eu saberia disso. Aonde você acha que está? No paraíso?”.

“E não é?”.

Lang riu: “Claro que não, isso é um sonho filho. Um dos vários que você tem comigo e depois não se lembra”.

“Vários?”.

“Sim. Você não lembra porque é assim que tem que ser. Você pensa em que quando desencarnamos? Que sumimos? Bem... Não é bem assim... Estamos sempre presentes. Aparecemos nos sonhos, já que as pessoas vivas não têm permissão para ir ao outro plano, onde ficamos. Por isso os sonhos, entende? E olhe para você, está brilhando como um farol!”. Ao ouvir o pai, olhou para as mãos, para seus braços, que brilhavam, não tinha percebido isso antes. Olhou seu pai, ele não tinha nenhum brilho, estava como uma pessoa normal.

“O que é isso?”

“Isso significa que você está vivo. Agora me diga o que você veio fazer aqui?”.

“E-eu não sei, pai. Estou confuso agora. Se eu venho sempre aqui, devo ter perdido a memória”.

“Deve ser por causa do incidente que aconteceu com você, e talvez inconscientemente você veio para cá. Mas não se preocupe, você ficará bem”.

“Aqui é tão cheio de paz, acho que gostaria de ficar aqui por um tempo”.

“Às vezes é bem chato, vai por mim, filho” – Suspirou inconformado, o que fez Shaoran sorrir. O humor do pai parecia com o seu. Como um homem tão risonho conquistou o coração de sua mãe, que sempre foi tão séria?— “E sua mãe e suas irmãs ainda precisam muito de você”.

“Você fala com elas também?” – Ele confirmou com a cabeça – “Sente saudades?”.

“Não existe esse tipo de sentimento aqui, apenas nutrimos carinho. Não sofremos ou sentimos as dores dos nossos entes”.

“É melhor assim...” – Olhou para ele – “Pai, porque que será que vim para cá?”.

“Talvez para ouvir mais uma vez que você vai continuar sendo um grande líder, casar com ela e ter filhos”.

“Com ela?”

“Ora, com a sua alma gêmea”.

“Caramba, pai, você insiste em falar como o Zhang”. Ele riu e bagunçou os cabelos de Shaoran.

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Wang deixou de falar ao celular, ao notar Yelan andar em sua direção, ela tinha os olhos vermelhos. Ficou com o coração apertado, mais ainda, ao vê-la naquele estado, mas não teve tempo de falar nada. Sentiu o rosto arder. Ela o esbofeteou.

“Se algo de grave acontecer com meu filho, eu juro, Wang Fei, eu juro em nome dos deuses que eu mato você! Eu o mato!”. Gritou ferozmente, foi contida pelo irmão que a segurou.

Wang ficou inerte e apenas acariciou o rosto que ardia. Era um ciclo? Ele mataria seu ex-funcionário, e depois seria morto pelo amor da sua vida se algo acontecesse a Shaoran?

“Senhora Li, senhor Li, vamos todos para o hospital, os carros estão prontos”.

“Wang, vá para casa. Você precisa descansar. Eu vou para o hospital”. Disse Xing, aflita com a situação.

“Não. Eu vou”.

“Wang, você detesta hospital, eu o manterei informado, você precisa tomar um banho...”.

Ele não deu ouvido, olhou para ela: “Acompanhe esse idiota até a delegacia, eu quero ele preso!”.

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Observava suas lágrimas caírem no azulejo azul-celeste daquele hospital. A demora em saber sobre o estado de saúde dele era agoniante. Estava sentada no banco, olhando para o chão e sentia as mãos carinhosas de Tomoyo em suas costas, que tentavam lhe dar apoio naquele momento tão horrível.

Encostou as costas no apoio da cadeira e olhou envolta. Observou todos os olhares perdidos e preocupados como os delas.

Yukito, triste, em pé ao lado do bebedouro conversava com Eriol, com semblante preocupado. Yue abraçava Nakuru que chorava baixinho, também estava nervosa com a falta de notícias. Fitou a mãe de Shaoran que tinha feição séria e abatida, Meilin, ao lado da tia, chorava encostada no ombro da tia.

Fay, sentado ao lado de Yelan, e as irmãs de Shaoran, olhava preocupado para o fim do corredor.

Viu que Kurogane permanecia, em pé, encostado na parede da porta de emergência. Minutos antes, Fay tentou tirá-lo dali, mas ele relutou, queria ser o primeiro a saber notícias do estado de saúde de Shaoran. Ele sentia-se culpado pelo que havia acontecido.

Ao olhar envolta, o que mais lhe chamou atenção, foi o olhar perdido de Wang. Notou que ele não havia ido para casa, pois suas roupas estavam sujas de sangue do Shaoran, e havia respingos de sangue em seu rosto.

Ela se levantou da cadeira e andou até ele.

“Não se dê o trabalho de me xingar, eu sei que a culpa é minha”.

“Ele vai ficar bem” – Ela lhe estendeu um lenço. Wang sentiu uma pontada no coração, arregalou os olhos de leve. Ele aceitou o lenço e limpou o rosto – “E não foi culpa sua, você não puxou o gatilho”.

“Mas eu o ajudei, fui praticamente cúmplice...”.

Sakura apertou sua mão e sorriu: “Guarde a sua culpa, e mostre a sua fé”.

Wang estava entendendo o motivo de a japonesa ser tão especial para o líder Li.

Meilin, sentada ao lado de sua tia, murmurou, irritada, ao presenciar a cena: “Não sei como Sakura consegue ficar perto dele...”.

Yelan, ao ouvir a sobrinha, olhou para eles: “Também não entendo, Meilin. É a qualidade que não temos, mas que Lang, ela e seu primo têm...”.

Fay enrijeceu ao perceber a inquietude de Kurogane com saída do médico, levantou da cadeira para olhar a conversa entre os dois, acabou chamando a atenção de todos. Fez menção de ir até os dois, mas os dois vieram andando em direção a eles, apressados. Uma enfermeira se juntou ao médico, ficando ao seu lado.

O médico curvou-se e se pôs a falar em chinês: “Boa noite! Sou médico responsável por esse hospital. O estado de saúde do Líder Li, infelizmente, é considerado gravíssimo” – Ao ouvi-lo todos se espantaram. Sakura não entendeu uma palavra, ela olhou para Wang que traduziu o que ele havia dito, ela sentiu a perna ficar bamba. Wang a segurou – “A bala ficou retida no corpo, e ela rompeu duas veias, o que o fez perder muito sangue! Nosso banco de sangues está escasso, por isso, nós vamos precisar de doadores. O tipo sanguíneo do líder é O+, quem tiver esse tipo sanguíneo ou O-, por favor, acompanhe a enfermeira, urgentemente!”.

Wang tirou o paletó e entregou a um de seus seguranças. As irmãs de Shaoran se prontificaram.

“Líder Wang, acho que não terá necessidade, além disso, o senhor tem aicmofobia...”. Disse um de seus seguranças.

Sakura ficou surpresa ao ouvir aquilo, tentou argumentar, mas Wang a interrompeu, antes mesmo que ela dissesse algo.

“Não tenho tempo para essas coisas, avise Xing”. Andou apressado em direção à enfermeira.

Yelan arregalou os olhos ao vê-lo fazer aquilo, mas permaneceu sentada. Escolheu não dizer nada e não deixar que Meilin dissesse.

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Notas finais do capítulo

Olá! Obrigada pela leitura! *.*
Estou me preparando para terminar essa história depois de anos kkkkk
Kisu´s =*



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