Kissu´s escrita por LiLiSaN


Capítulo 33
Otanjōbiomedetō


Notas iniciais do capítulo

*Otanjōbiomedetō = Feliz aniversário.


Músicas do capítulo:
1ª Música: Yui - Again: https://www.youtube.com/watch?v=-deyGl3D9Cc - Anime = Fullmetal Alchemist Brotherhood.
2ª Música: Haruka Tomatsu - Q&A Recital: https://www.youtube.com/watch?v=gR5wyI_KuRY - Anime = Tonari no Kaibutsu-kun.



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...

“E então, como estou?”. Shaoran mostrava o traje ao, recém-chegado, amigo.

Tomoyo sorriu ao ver Shaoran descontraído. Ela, junto de duas costureiras, ajudava nos últimos ajustes do traje típico de Shaoran, que vestia para a sua festa de aniversário.

Ela fez questão de ajudar o amigo a se vestir, seria um momento único para ela. Ao ouvi-lo, se distanciou, permitindo que ele abrisse os braços e mostrasse o traje a Fay que entrou no quarto, com o sorriso habitual.

“Está perfeito, líder Li”.

“E o motivo dessa formalidade toda é...?”.

Sorriu sem graça: “Desculpe, é que vê-lo vestido dessa forma deixa sua hierarquia nítida”.

“Menos, Fay. Bem menos!”.

“Irmãozinho! Feliz aniversário!”. As irmãs de Shaoran adentraram no quarto, afoitas, e ficaram estarrecidas ao ver o irmão vestindo o traje típico chinês, que um dia pertenceu ao pai. Era um pouco diferente do que usou no dia da cerimônia como líder supremo, pois as mangas eram longas, e o traje arrastava no chão, mas continuava nas cores, verde e detalhes dourados. O brasão da família Li estava bordado em seu peito e na cauda, da frente, de sua veste. Usava uma calça branca por baixo, e um chapéu tradicional. Uma faixa amarela estava presa a sua cintura.

“Parem de me apertar!”. Elas abraçavam o irmão. Tomoyo sorria com a cena. Percebeu a feição séria de Fay.

“Algum problema?”.

“N-não, não é nada! Feliz aniversário Shaoran. Eu...”.

“Senhor Fay, necessitam de sua presença”. Uma jovem funcionária ao falar interrompeu Fay,  ao terminar de falar ela pediu licença e se retirou do quarto. Fay sorriu a todos e saiu.

“E você Kurogane, não vai dizer nada? Não estou bonitão?”. Kurogane, antes lendo um jornal, sentado no sofá do quarto, o olhou.

“Está ridículo”. Voltou a ler. Shaoran fez cara feia com a rispidez do amigo.

“Seu... O que você faz sentado aí, mesmo? Não devia verificar a minha segurança?”.

“E por isso que inventaram esses comunicadores”. Tirou um fone do ouvido, uma espécie de rádio comunicador.

“Kurogane, como se atreve a falar assim do nosso irmãozinho?!”.

A porta foi aberta e Shaoran olhou quem entrava e estranhou. Não conhecia a garota ao lado de Fay: “Voltou rápido Fay! Quem é essa linda jovem? Não me vai dizer que é sua namorada?”.

Ele sorriu, e disse: “Ela se chama Chii, minha irmã, e eu...”.

“Irmã? Você não tinha me falado que tinha uma irmã, idiota! Ficou com medo de mim?” – Deu língua para ele – “Olá, chamo-me Li Xiaolang, é um prazer conhece-la” - Cumprimentou a moça de cabelos louros, longos, e pele branquinha. Seus olhos castanhos eram serenos e receptivos. Ela sorriu e curvou-se. Shaoran notou o quanto ela era fofa e gentil. Aproximou-se de Fay e deu um tapa em suas costas, dizendo baixinho – “Escondendo ela de mim? Sorte a sua que eu amo outra pessoa, se não fosse por isso, você seria um potencial cunhado!”.

“Fico feliz em saber que ama alguém, líder Li”.

“De novo com essa formalidade?”. Shaoran revirou os olhos.

“Ele não é o Fay. É o irmão gêmeo dele”. Kurogane praguejou, e voltou a ler o mesmo jornal. Tomoyo e as irmãs de Shaoran olharam surpresas “Fay”, e olhando minuciosamente, tentavam notar alguma diferença entre ele e o verdadeiro Fay.

Shaoran ficou boquiaberto: “Q-que, q-que...?”.

“Prazer em conhecê-lo líder li, chamo-me Yuui, irmão gêmeo de Fay, seu assistente”. Curvou-se. Shaoran ainda permanecia surpreso, tentando assimilar o que estava acontecendo ali. Fay tinha dito que tinha irmãos, mas sempre achou que fossem homens e nenhum era seu gêmeo.

Observou Yuui a sua frente, ainda curvado. Ele voltou a ficar ereto, e lhe sorria. Pôde notar que ele era diferente de Fay no jeito de se portar, era sorridente, mas não era nenhum um pouco afoito, brincalhão ou atrapalhado.

“P-prazer...”. Retribuiu o gesto.

“Desculpe a confusão, meu irmão pediu que viéssemos cumprimenta-lo. Meus parabéns, Líder Li” – Depois de felicita-lo, Yuui cumprimentou Tomoyo, as costureiras, as irmãs de Shaoran e fitou Kurogane – “Já faz um bom tempo, Kurogane”.

“É”. Kurogane disse sem encará-lo.

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“Tudo pronto?”. Não esperou Fay fechar a porta, e já perguntou. Estava nervosa.

“Sim, senhora Yelan. Acabei de confirmar com o motorista”.

“Senhora Li, ainda acho que esse seu plano é muito perigoso. A senhora pode ser presa, acusada de traição. E se isso acontecer, Xiaolang não hesitará em voltar, dará no mesmo, não acha?”.

“Não tenho outra saída, Líder Zhang. Se eu não fizer isso, meu filho permanecerá aqui, preso a compromissos e sem poder ficar com a mulher que ama. Com essa brecha que achei nos livros antigos, que regem nossas tradições, eu e meu cunhado Wei, ocupamos a liderança e passamos a você”.

Wulong releu novamente o trecho do Livro dos Clãs: “Ao completar 25 anos, o líder supremo poderá desistir da liderança, devendo abandonar seu lar com a roupa do corpo. Os membros deste clã deverão passar a liderança, automaticamente, para o líder mais velho de outro clã, desde que seja na presença de outro herdeiro, de sangue, do clã do líder supremo. Não havendo herdeiros vivos, a liderança será decidida em votação. Outro herdeiro, de sangue, seria o senhor Li Wei?” - Meilin confirmou com a cabeça - “Mas, Xiaolang, sabe disso?”.

“Não líder Wulong, e prefiro que continue sem saber até chegar o momento”. Disse Yelan.

“Ele vai ficar uma fera!”. Disse imaginando o chinês enraivecido.

“Isso é o de menos, líder Wulong. Só temos que garantir que os outros líderes acreditem que ele abandonou a liderança por vontade própria e não de que foi forçado”.

“Tia, e se a senhora acabar sendo presa? O Sr. Zhang tem razão, é perigoso!”.

“Prefiro ir presa a ver seu primo infeliz, Meilin”.

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Sentia-se desconfortável no meio de todas aquelas pessoas que a olhavam como se fossem arrancar um pedaço. Percebeu que alguns cochichavam quando ela passava. Seria seu traje? Vestia um quimono, chinês longo de seda rosa, com as mangas na altura dos cotovelos, tinha flores de lótus estampadas. Seus cabelos estavam presos em uma fita vermelha, com acessórios chineses. O batom vermelho se sobressaia em seus delicados lábios.

Pergunta-se onde estavam Tomoyo e os outros. A música chinesa, que ecoava pela mansão, era tocada por uma pequena orquestra. A decoração a lembrava cerimonias de coroações de reis e rainhas dos filmes europeus que já assistiu. A cor vermelha e dourada era predominante, mas notou o verde nas decorações das mesas de jantar. Notou uma poltrona de madeira, certamente era ali que Shaoran sentaria.

“Kinomoto Sakura! Zhè shì yīgè wúfǎ gūliàng hěn gāoxìng jiàn dào nǐ” (É um prazer imensurável conhecê-la.)— Ele notou a confusão em sua face enquanto ele falava – “Shénme? Nǐ bù míngbái wǒ shuō shénme? (O que foi? Não entende o que eu digo?)”— Sakura sorriu sem graça, não sabia o que dizer muito menos o que fazer – “Duìbùqǐ! Wǒ rènwéi yǔ wǒmen de lǐngdǎo néng jiǎng bié de dōngxī de guānxì...... Wǒ bǎochí zhōngguó shuōhuà...” (Desculpe! Achei que por ter um relacionamento com o nosso líder sabia falar algo coisa... E eu continuo falando em chinês)  - Ele sorriu – “Deixe-me começar novamente, prazer em conhece-la Kinomoto Sakura”. Curvou-se.

Ficou aliviada: “O p-prazer é meu, senhor, me desculpa! E-eu não sei falar chinês!”. Respondeu ao homem gentil, a sua frente, curvando-se de forma atrapalhada. Era alto e sua presença era marcante.

“Ah tudo bem! Não fique envergonhada. Tive que aprender o japonês por causa dos negócios, se não fosse por isso, também não saberia” – Ele notou o quanto ela era bonita – “Seus olhos verdes não são tão comuns no Japão, ou são?”.

Ela sorriu, sem graça: “Não muito”.

“Então você é um espécime rara, Sakura. A única entre todas, inclusive para nosso líder” – Não soube o que dizer. Suas bochechas ficaram vermelhas – “Ah, mas que indelicadeza a minha” – Disse ao notar que a deixou envergonhada- “Mas todos nós sabemos o quanto o líder Li gosta de você. Ele ficou bem triste quando teve que voltar a morar aqui”.

“E-eu também fiquei...”.

“Pretendem se casar? Continuar o relacionamento?” – Percebeu que ela ficou incomodada com as perguntas – “Outra vez, peço desculpa pela inconveniência”.

“N-não, t-tudo bem!” – Ficou distante – “É só que, eu não sei a resposta para suas perguntas. Shaoran tem uma vida aqui e eu tenho outra no Japão, então...”.

“Hum... Entendo” – Ele a olhou sério – “Há um provérbio chinês que diz: Se você não mudar a direção, terminará exatamente onde partiu” – Sakura sentiu uma fisgada no peito ao ouvi-lo. Lembrou-se de tudo o que tinha acontecido até chegar ali. – “Como pode notar, sou mais velho que você, portanto, tenho certa experiência de vida, e posso lhe dizer, por experiência própria, que a vida sem amor, não é lá essas coisas” – Um homem de terno e gravata se aproximou dele e cochichou algo em seu ouvido. Sakura notou que ele ficou surpreso com algo. Ele notou seus olhares e sorriu – “Desculpe, Srta Kinomoto, mas tenho que ir. Foi um prazer conhece-la”. Ele começou a andar, afastando-se.

“E-espera, eu não sei o seu nome...!”. A voz de alguém gritando pelo seu nome, a fez olhar para trás, e quando voltou a olhar sua frente, o viu cada vez mais distante.

“Sakura-chan! Acabei de ajudar Shaoran! Sakura-chan, você está linda!” – Tomoyo admirava a amiga, mas notou os olhares dela, que pareciam procurar por alguém – “Algum problema?”.

“É que eu estava conversando com um senhor, mas ele foi embora sem me dizer seu nome”.

Tomoyo olhava na mesma direção que ela: “A festa ainda está no seu início, antes de termina-la você o reencontra!”. Viu o aceno de Yukito, segurou na mão de Sakura e andou até ele.

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Minutos depois...

“A festa já está prestes a começar, melhor irmos. Podem desconfiar de alguma coisa”. Disse Meilin, olhando para todos. O semblante deles era de preocupação.

O bater na porta, os deixou apreensivos. Ficaram em silêncio. Mais uma vez, bateram dessa vez com mais força.

“Sei que estão aí, abram”. Surpresos, entreolharam-se, era a voz de Wang Fei.

“O que quer líder Wang? Agora não posso atendê-lo, estou me trocando para a cerimônia, volte mais tarde...”. Não ouviram nenhum ruído, mas, repentinamente, a porta foi aberta bruscamente, assustando a todos.

Um dos seguranças de Fei, a abriu com uso da força, Fei entrou logo em seguida: “Ora, ora. Quantas pessoas presentes nesta reunião da conspiração”.

“Como se atreve a invadir o quarto da mãe do líder supremo?”. Fay gritou.

“Você quer dizer, da traidora?” – Wang encarou Yelan – “Que coisa feia, Yelan. Tramando pelas nossas costas...”.

“D-do que você está falando?”. O indagou assustada.

“Poupe-me tempo. Eu sei que você é uma mulher esperta e que iria encontrar uma saída”.

“Como você ....?”.

“Sempre me subestimando. Achei estranha sua atitude, querida Senhora Li: Tão tranquila durante todo esse tempo, enquanto o filho estava dia após dia preso nessa vida que você nunca desejou a ele. Então, um belo dia, folheei os velhos livros dos clãs e suspeitei do motivo de sua calmaria. Mas, confesso que não acreditei muito que você fosse capaz de tamanha façanha. Estou surpreso com a sua coragem. Mesmo correndo o risco de ser presa, arquitetou seu plano” – Olhou para todos os presentes – “Fiquei na incerteza até hoje, mesmo depois da conversa que tivemos. Mas seu motorista, que tem uma linda família e que depende do salário dele, nos confirmou”.

Um dos seguranças entrou e jogou o motorista no chão, para espanto de todos. Ele curvava-se repetidamente dizendo: “Me perdoe senhora, me perdoe!”.

“Você é um cretino QUE NÃO TEM LIMITES!”. Meilin gritou, sendo contida por Fay.

“Eu?! Eu poderia muito bem descer essas escadas e gritar para todos o que vocês estavam pretendendo fazer. Não só a mãe do líder seria presa, mas até você mocinha. O inútil um, o inútil dois e o velho” - Disse olhando Wulong, Fay e Zhang, na sequência – “Estavam conspirando contra o nosso líder supremo, contra todos nós”.

“CINICO!”.

“Você realmente estava tramando algo, sempre com um passo a frente...”. Disse Zhang o encarando.

“Eu já falei para você não se intrometer, velho! Você é uma vergonha para todos nós. Cumplice desse plano ridículo!”.

“A ideia foi minha, ninguém aqui tem culpa de nada. Se você vai contar para todos, me responsabilize!”.

“Acha mesmo que seu filho não vai optar pela japonesa para chegar a esse ponto, Yelan? Nem se você pedir? Que líder é esse que não escuta a própria mãe? É totalmente o oposto do meu filho que sempre ouviu a mim. Ele, sim, seria um grande líder”.

 “Meu neto nunca quis ser líder! Você sabe disso, você que praticamente o obrigou...”.

“Ora, cale a boca! Meu filho tinha o sonho de ser líder! Eu o realizarei!”.

“Não seja hipócrita. O sonho é seu! Sempre foi!”. Zhang retrucou.

“Já chega!” – Yelan encarou Wang, e andou até ele, parando em sua frente – “Já disse que a culpa é apenas minha! Vamos descer! Diga a todos o que eu, sozinha, pretendia fazer e vamos acabar logo com isso!”.

“Tia!”.

Ele riu: “Não seja tão radical. Acha mesmo que eu seria capaz de denuncia-la? Apenas, não aja pelas minhas costas. Quero seu filho longe daqui tanto como você, mesmo que tenhamos motivos diferentes”- O som de um sino, ecoou por toda a mansão, chegando até eles – “Escutem, nosso líder já vai nos brindar com a sua presença, vamos?” - Sorrindo, ele ofereceu o braço para que ela o segurasse. Ela o olhava com raiva – “Eu ficaria muito chateado se você recusasse minha companhia. Tão chateado que avisaria a todos sobre a chegada de seu cunhado, Li Wei. Ele não chega hoje, de madrugada?”. Mostrou um largo sorriso, para o espanto de todos.

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 “Que estranho...”. Shaoran andava ao lado de Kurogane e alguns empregados, lembrava uma comitiva. As irmãs de Shaoran, Yuui e Chii, andavam um pouco mais atrás.

“O quê?”.

“Minha mãe, Fay e Meilin sumiram”.

“Eles devem estar cuidando de alguma coisa”.

“Fay me disse que iria encontrar com a senhora sua mãe, líder Li”.

“Disse?” – Olhou para trás e fitou o irmão gêmeo de Fay, sorridente. Como estava sendo bizarro se acostumar com dois Fay’s – “Já falei para não me chamar assim, me chame pelo primeiro nome, sim?”.

“Ah, desculpe!”.

Shaoran sorriu, mas ao olhar para frente, desfez o sorriso. A imagem da mãe ao lado de Fei, o deixou irritado. Ela segurava o braço dele. Notou a feição contrariada da mãe. Notou Zhang, Wulong, Fay e Meilin que aparentavam preocupação.

Será que tinha acontecido, alguma coisa? Shaoran parou de andar, e todos, que o acompanhavam, fizeram o mesmo que ele.

“Líder Li!” – Wang Fei caminhou até ele, com Yelan ao seu lado – “Você está magnifico. A figura de um grande líder está enraizada em você”.

“Porque você está com ele, mãe?”.

“Ah! Entrego a você” – Ele beijou a mão dela, irritando ainda mais Shaoran. A sua mãe inerte, o irritava ainda mais – “Vou aguardar o nosso líder, lá embaixo. Vejo você lá. E feliz aniversário, líder Li”. Xing foi ao encontro de Wang, antes procurava por ele. Depois foi até Shaoran, o parabenizando, e só por causa desse gesto, ele sorriu.

Ao se despedir de Xing, olhou para sua mãe: “Porque a senhora estava com aquele idiota?”.

“Por nada. Vamos”. O puxou e ele não andou.

“Não, até a senhora me dizer o porquê de estar...”.

“Xiaolang me obedeça! Continue a andar, e vamos descer para sua festa de aniversário! Há várias pessoas esperando por você”. Shaoran estremeceu, achou melhor obedecer à mãe autoritária.

...

Os convidados curvavam-se ao vê-lo à medida que ele se aproximava. Andava por um tapete vermelho, no meio do salão, entre os convidados. Via os olhares encantados e felizes que o encaravam enquanto andava. Tudo o que fazia era acenar com a cabeça, procurando agradecer pela receptividade. Franziu a sobrancelha ao ver um senhor entre os convidados, ele virou o rosto, lembrava-se dele. Era o homem que Fei havia demitido na sua frente. Ficou contente, pelo jeito, ele havia sido readmitido.

Quando viu Eriol, ao lado de Tomoyo, abriu o sorriso. Yue sorriu, discretamente, Nakuru e Yukito acenaram, animadamente. Ren dava tchau ao lado do avô sorridente, e de sua guarda-costas de feição séria. Sorriu para ele, que ficou empolgado e acenou mais ainda.

Sentiu as bochechas esquentarem ao ver Sakura e desviou o olhar. Ficou com vergonha da roupa, pensava se ela o estava achando ridículo vestido daquela forma. Voltou a olha-la, e ela continuava sorrindo. Ele levou a mão até o rosto e tinha certeza de que suas bochechas estavam mais vermelhas que o habitual.

“Ele não está bonito, Sakura-chan?”. Tomoyo perguntou a Sakura que não tirava os olhos dele.

“Muito! Parece um príncipe”. Respondeu ainda encantada.

...

Shaoran seguiu o protocolo, fez um pronunciamento agradecendo pelos presentes e pela presença de todos, e reafirmando, para infelicidade de sua mãe e de Wang, que continuaria sendo líder. Yelan encarava o chão, e com os olhos marejados, sentia-se triste por não ter conseguido colocar o plano em prática antes do discurso do filho.

Depois de discursar, sentou-se na poltrona. Logo em seguida, começou dança do dragão típica, ele divertia-se em olha-la. A dança era de fantoches de dragão de tecido e bambu, manipulados por uma equipe de pessoas, que carregavam o dragão com varas no centro de atração e executam movimentos coreografados ao acompanhamento de tambor e música. Na dança do dragão, há uma bola importante, que fica sempre em frente do dragão, tendo por função dirigir a dança. Esta bola é chamada de "a bola do dragão". A pessoa que carrega a bola na dança é o comandante do grupo. Durante a dança, o dragão deve seguir a bola e mostrar que é ele quem está jogando a bola. Por isso, as atividades do dragão dependem totalmente da bola.  Os dançarinos levantavam, mergulhavam, empurravam, e moviam a cabeça, todo o corpo e a cauda do dragão de acordo com os movimentos da bola.  

Avistou Sakura que, radiante, tirava fotos do espetáculo de dança.

Fay o explicou que os chineses acreditam que os dragões trazem boa sorte as pessoas, por isso seria de bom presságio ter esta dança em sua festa de aniversário.  

Após a dança, houve outra dança tradicional chinesa. Para sua surpresa, eram suas irmãs e Xing que dançariam. Elas adentraram elegantemente no salão e ao som da música chinesa, dançavam graciosamente, enfatizando a integração de todo o corpo. Mexiam as mãos para cima e para baixo, como o corpo, a cabeça e os olhos. Utilizavam a respiração na composição de um único movimento. Executavam os passos de forma simples, agradável e graciosa, cheios de expressão e significado. Os presentes ficaram extasiados com elas.

Ao terminarem foram aplaudidas em demasia, Shaoran as aplaudiu de pé. E todos fizeram o mesmo.

Sakura percebeu o quanto Shaoran era respeitado e seguido. Com aquela festa estava entendendo um pouco da responsabilidade que ele tinha. Esperava ter uma oportunidade de falar com ele, pois ainda não tinha o parabenizado e nem dado o seu presente. Ele ficou o dia inteiro ocupado.

O anúncio do jantar foi dado, e ela mais uma vez notou que ele continuaria distante deles. Queria que ele jantasse ao lado dos amigos e dela. Mas eram as tradições.

Olhou para a mesa dos amigos que depois do jantar, conversavam animadamente e riam entre si. Sakura cobria a boca, rindo. Gostaria de estar lá com eles.

Percebeu os olhares da mãe, sobre si, e sorriu, tentando disfarçar o desânimo. A formalidade sempre o sufocava.

...

“Tomoyo-chan, onde eles estão indo? Ao encontro de Nakuru-chan?”. Sakura percebeu que Eriol, Yukito e Yue levantaram-se e as deixaram sem dizer nada. Nakuru tinha feito isso antes. Tomoyo apenas sorriu.

As luzes apagaram-se, fazendo os convidados, surpresos, cochicharem. Shaoran se assustou, olhava envolta, não sabia que haveria outra apresentação.

Shaoran-chan! Essas notas lembram algo?” – Era a voz de Nakuru, algumas luzes foram acesas, mas só se escutava sua voz e o violão. Ele procurava por ela, entre os convidados que faziam o mesmo. Alguns não entendiam o que ela dizia – “Nós escrevemos essa música no Natal. Eu estava brigada com meu pai e você com saudades de casa, lembra?”­ ­— Shaoran sorriu de lado, e lembrou-se com carinho daquela noite – “Você disse que apesar da tristeza, nós deveríamos sorrir, porque tínhamos um ao outro, Eriol-chan, Yue-chan e Yukito-chan. Nunca esqueci disso”.

Nakuru se pôs a cantar, ainda não era vista por ninguém.

 

 Yume no tsuzuki oikakete ita hazu nano ni

Eu estava seguindo meus sonhos
Magari kunetta hosoi michi hito ni tsumazuku

Esbarrando nas pessoas pela estrada tortuosa
Ano koro mitai nitte modoritai wake ja nai no

Não é que eu queira voltar para aquele tempo
Nakushite kita sora wo sagashiteru

Eu só estou procurando o céu que eu perdi

Wakatte kure masu youni

Pare de fazer essa cara triste
Gisei ni natta youna kanashii kao wa yamete yo

Para que pensem que é a vítima

 

O holofote ficou encima de Nakuru, que andava entre as mesas dos convidados, ao mesmo tempo em que tocava e cantava. A olhavam admirados.

Ao vê-la, Shaoran sorriu.

 
Tsumi no saigo wa namida ja nai yo

Nossas faltas não terminam em lágrimas
Zutto Kuroshiku Seottekunda

Sempre teremos que carregá-las nas costas
Ideguchi mienai kanjou meiro ni

Nesse labirinto sem fim de emoções
Dare wo matteru no?

Por quem você está esperando?

Shiroi nooto ni tsudzutta youni

Como se escrevesse num caderno em branco
Motto sunao ni hakidashitai yo

Eu queria desabafar mais honestamente
Nani kara nogaretainda

Do que exatamente eu quero fugir
Genjitsutte yatsu?

Da tal de realidade?

 

 

 Nakuru, tocando o violão preto, expressava todo o carinho pela música, ao cantar os versos com vontade e rapidamente.

Deixou de andar, o casal de idosos, sentados à mesa, ao seu lado, batiam palmas timidamente.

Wang olhava a performance ressabiado, não sabia que algum membro da banda de Shaoran iria tocar algo. Olhou para os lados, e ao notar os olhares surpresos e hipnotizados dos outros líderes, sentados ao seu lado, fez cara de tédio.


Kanaeru tame ni ikiterun datte

Vivemos para realizar nossos desejos
Wasure chai sou na yoru no mannaka

Mas na escuridão da noite esquecemos disso
Bunan ni nante yatterarenai kara

Por não fazer as coisas com mais segurança
Kaeru basho mo nai no

Não tenho nem um lugar para voltar

Kono omoi wo keshite shimau ni wa

A vida ainda é muito longa
Mada jinsei nagai desho?

Para apagar esses sentimentos
Natsukashiku naru konna itami mo kangei jan

Tornou-se nostálgico, já até aceitei essa dor.

 

 Tocou o solo e voltou a caminhar, posou o olhar, fixamente, no amigo chinês, que lhe sorria, emocionado.

Ela andou em sua direção, sobre o tapete vermelho.

 

Ayamara nakucha ikenai yone ah gomen ne

Tenho que me desculpar, ah, me perdoe
Umaku ienakute shinpai kaketa mama datta ne

Por não conseguir me expressar, eu te preocupei
Ano hi kakaeta zenbu ashita kakaeru zenbu

Tudo o que aconteceu e o que vem amanhã
Junban tsuketari wa shinai kara

As coisas não seguem em ordem

Wakatte kure masu youni

Eu rezo para que você entenda
Sotto me wo tojitanda mitakunai mono made mienda mon

Eu silenciosamente fecho meus olhos, pois estou vendo coisas que não quero ver
Iranai uwasa ni chotto

Esses rumores desnecessários
Hajimete kiku hatsugen docchi?

De quem ouviu algo pela primeira vez?
Futakai attara tomodachi datte

Mesmo sendo amigo ou inimigo
Uso wa yamete ne

Pare de mentir

Akai haato ga iradatsu youni

O coração vermelho está queimando
Karadan naka moete irunda

 Irritado dentro de mim
Honto wa kitai shiten no

A verdade é que eu anseio
Genjitsutte yatsu?

Por essa tal de realidade?

  

Já próximo a ele, colocou somente um pé no degrau, e balançou a cabeça, enquanto tocava e cantava.

 

Kanaeru tame ni ikiterun datte

Vivemos para realizar nossos desejos
Sakebi taku naru yo kikoete imasuka?

E me dá vontade de gritar, você pode ouvir?
Bunan ni nante yatterarenai kara

Por não fazer as coisas com mais segurança
Kaeru basho mo nai no

Não tenho nem um lugar para voltar

Yasashisa ni wa itsumo kansha shiteru

Sou sempre grato à sua gentileza
Dakara tsuyoku naritai

Por isso quero ser mais forte
Susumu tame ni teki mo mikata mo kangei jan

Sigo em frente, aceito amigos e inimigos

 Dou yatte tsugi no doa akerun dakke kangaeteru

Fico pensando em como abrir a próxima porta
Mou hiki kaesenai monogatari hajimatterunda

A história que não volta mais já começou
Me wo samase me wo samase

Acorde, acorde

 

Cantou alto, mostrando toda sua potência vocal. Subiu os degraus que o separavam dele, e ficou frente a frente a ele, que permaneceu sentado, sorrindo e com os olhos trêmulos.

Dedilhou o solo da música, de olhos fechados.

Aproximou-se de Shaoran, encostou a sua testa na testa do amigo, e juntos, fecharam os olhos. Ela cantou baixinho:

 

Kono omoi wo keshite shimau ni amada jinsei nagai desho?

Eu não posso apagar esse sentimento agora, pois tem muita vida pela frente, não é?

Yari nokoshiteru koto yari naoshite mitai kara

Pois gostaria de terminar
Mou ichido yukou

Tudo que deixei inacabado

 

Ela se afastou de Shaoran, e ficou a sua frente, e outra vez cantou o refrão, pela última vez.

Os aplausos à fez abrir os olhos, e sorrindo, curvou-se em direção aos convidados. Shaoran, de pé, a aplaudia, ao verem o líder supremo em pé, todos os convidados fizeram o mesmo.

Sorrindo, Nakuru falou ao microfone, em chinês: “Muito obrigada a todos!”- Curvou-se repetidas vezes. Olhou para o amigo, carinhosamente, que continuava a aplaudindo. Estendeu a mão em sua direção, o deixando intrigado – “Vamos?” – Ele continuou sem reação – “O quê? Você está achando que já acabou? Qual é Shaoran-chan!”. Ela esticou a mão, mais uma vez. Shaoran olhou para a mãe, sentada próximo a ele, que acenou positivamente, e mesmo sem entender nada, ele segurou a mão da amiga. Nakuru falou ao microfone: “Um, dois, três...!”. Ao terminar a contagem, as portas da lateral da mansão que dava para o jardim, foram abertas.

Shaoran pôde ouvir o som animado que da guitarra de Yue, do saxofone de Yukito, e da bateria que Eriol tocava. O som saia dos caixas-falantes, presos ao pequeno palco, montado do lado de fora da mansão.

Ele e Nakuru corriam na direção deles, passando entre os convidados. Não notou as feições de espantos e de incredulidade dos convidados, que pouco a pouco, começaram a sair para o jardim.  

Sakura olhou toda a cena, sorrindo ao lado de Tomoyo, com Fay, Kurogane e Meilin, lado a lado.

Do lado de fora, Shaoran arregalou os olhos com a surpresa.Sentia muitas saudades da vida que levava, dos shows, de compor, de tocar e principalmente de cantar. Olhava os amigos tocando, e uma nostalgia gostosa surgiu, mas não teve tempo de senti-la direito, Nakuru o puxou para cima do palco e o entregou a sua guitarra, que antes estava no pedestal. Shaoran não conhecia aquela canção, mas tentaria tocá-la.

Sorrindo, Nakuru começou a cantar, balançando o corpo, animadamente, enquanto assistia os amigos tocando.

 

Kyou mo kono mune wa haritsumeta mama

Hoje também, meu coração se sente tão constrangido.

Houkago ni tsutsumarete kimi wo miteru lady,ready?

É como olhar para você, quando o horário de aula acabou. Senhorita está pronta?

Zutto ashinami wa sorowanai mama

Nosso ritmo de caminhar nunca combina...

Tsuzuku kara naisho da yo sukoshi zutsune lady,ready?

O que vem a partir de agora é um segredo, então eu caminho devagar. Senhorita está pronta?

Shiri sugite shiranai kara

Eu não sei por que sei coisas demais

Kikoenai furi ga jouzu ni natte

E começo a ser boa em fingir que não estou ouvindo nada

Nee shinkokyuu hitotsu shitara me wo akete

Depois de respirar fundo, abro meus olhos.

Jimon jitou yamete nani genaku ohayou tte icchatteru

Paro de fazer perguntas a mim mesma e tento, casualmente, dizer: "Bom dia!"

 

Shaoran tocava algumas notas, observando Yue. Aproximou-se dele, e ao trocar algumas palavras, soube dos acordes básicos e em um instante, dominou a canção. Olhou envolta, e sentia-se completo em estar reunido com os amigos, depois de meses separados.

Não notou que os convidados chegavam para assisti-los.

...

Contrariado, desceu do palco. Fay insistia que descesse, o chamando, pedindo que ele descesse e fosse cumprimentar autoridades e líderes. Respirou fundo e deixou sua guitarra no pedestal.

Bateu nas costas de Yue, e com um sorriso no rosto disse: “Volto já”. Desceu do palco, logo Kurogane juntou-se a ele, seguindo Fay.

Eriol anunciou uma pausa na música, e logo uma banda chinesa, preparava-se para tocar músicas típicas.

“Líder Li, líder Li!”- Ren correu em sua direção e pulou em sua frente – “Me ensina a tocar guitarra? Por favor! Por favor!”. Curvou-se, repetidas vezes. Tao Jun, a mal-encarada guarda-costas, estava ao lado do afoito Ren. Ela fuzilava Shaoran com o olhar. Shaoran não tinha dúvidas de que ela não gostava da amizade dos dois.

Shaoran deixou de prestar atenção nela, e sorriu para Ren: “Só se você me ensinar a lutar como seu avô”.

“É, eu posso tentar!”. Disse encabulado.

“Então combinado!”. Estendeu o punho fechado, e Ren o tocou.

Shaoran o segurou rapidamente, e em questão de segundos, pôs Ren, sentado, envolta de sua cabeça, em seus ombros. Algumas pessoas olhavam curiosas aquela cena.

“M-mas o que você pensa que está fazendo?! Ele pode cair!”. Jun apertou os dentes, furiosa.

Ren ria, divertindo-se em estar em um lugar tão alto, pôs as mãos na cabeça de Shaoran.

“Não seja chata Jun, estou dando diversão a uma criança que está em uma festa careta de adultos”- Deu língua para ela e olhou para cima – “Tudo bem aí, Ren?”.

Ren ria, olhando para todos os lados: “Posso ver todo mundo daqui! Olha meu avô! Vovô!”. Apontava para frente e acenava, tentando chamar a atenção do avô, que conversava com alguns dos líderes.

“Vamos até ele!”. Shaoran disse e começou a andar com Ren, encima dele. Fay chamou por eles.  

“Como eu o detesto!”. Praguejou Jun, os seguindo contrariada.

“Você deveria prestar atenção nos sorrisos de Ren” – Disse Kurogane – “Antes de Shaoran chegar, Ren era um garoto totalmente triste. Você sabe mais disso que eu”.

Jun olhou para cima, e notou os sorrisos de Ren e em suas mãozinhas que seguravam os cabelos do líder, com carinho. Sorriu de lado. Considerava Xiaolang um homem sem tradições, mal-educado e inconsequente. Mas, Kurogane tinha razão. Os sorrisos de Ren eram mais frequentes por causa dele: “Mesmo assim, ele não deixa de ser um líder idiota”. Bufou.

Shaoran olhou para os lados, a procura de Kurogane, notou que estava atrás de si: “Kurogane” – Ao ouvir seu nome, andou mais rápido e ficou ao lado de Shaoran. Andavam entre os convidados que sorriam para Ren, contagiados pela sua inocência e alegria – “Depois que eu cumprimentar a todos, quero que vá até a Sakura, e diga a ela que me espere próximo ao jardim. Quero falar com ela, a sós.”.

“A sós?”.

“Algum problema?”. Shaoran sorria para os convidados, ao mesmo tempo em quem falava com ele.

“Meu dever é estar sempre ao seu lado, cuidando de sua segurança...”. Disse sério. Deixar ele sem sua proteção não o agradava nem um pouco.

“Não exagere, eu vou ficar bem sem sua proteção por pequenos instantes, Kurogane”.

“Mas...”. Tentou argumentar.

“Kurogane, faça o que eu pedi, sim? Não se esqueça de que antes de ser designado para cuidar de minha segurança e do meu bem-estar, você é meu amigo. Como meu amigo, você me aconselhou a dar o primeiro passo... Então, deixe seu amigo, alguns minutos, a sós com a mulher que ele ama, tudo bem?”.

“Tudo bem, líder idiota”. Shaoran sorriu.

...

“Shaoran será um grande pai”. Tomoyo olhava para ele, observava o modo carinhoso que ele tratava o pequeno Ren.

Meilin observou o primo, com Ren em seus ombros: “É verdade. Shaoran sempre gostou de crianças”.

Tomoyo olhou para Sakura e percebeu que ela estava encantada com a cena: “Assim como você, Sakura-chan”.

Sakura corou e balançou a cabeça, as fazendo rirem.

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