Kissu´s escrita por LiLiSaN


Capítulo 35
Tsuma


Notas iniciais do capítulo

*Tsuma = Esposa



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...

A claridade do quarto o fez piscar os olhos repetidamente. Ao parar de piscar repetidas vezes, sentiu a leve brisa que vinha da janela do quarto, exageradamente, branco. Notou a figura de um homem de costas, tentava enxerga-lo com nitidez, mas não conseguia. Sentia-se zonzo.

“Kurogane?”. O homem parou de olhar o céu ensolarado, e olhou para trás, fitando Shaoran.

“Não”.

A figura do homem que cobria parte da claridade, ainda era desconhecida, apertou os olhos, mas sentiu-se estranho.

Perdeu os sentidos.

...

Abriu os olhos lentamente, percebeu a movimentação e o som de muitas vozes ao seu redor. Quem tanto estava ali? Sua visão estava embaçada, não conseguia enxergar ninguém.

“Olha só! Ele está abrindo os olhos! Xiaolanggg!”

Por que as vozes pareciam estar tão longe?

“Para de gritar, estamos em um hospital!”.

“Shaoran? Pode nos ouvir?”.

“Xiaolang?”.

Que droga era essa? Sentia-se tão fraco, não conseguia manter os olhos abertos.

“Ele está perdendo os sentidos de novo...”.

.......................................................................

“Você não está mentindo pra mim, não é?”. Sakura sorriu com a indagação do pai, que não disfarçava a preocupação que sentia. Havia perguntado, pela décima vez, se ela já havia comido alguma coisa.

Sentada na cadeira da lanchonete do hospital, falava com o pai por vídeo-chamada. Tinha falado mais cedo com pai e o irmão pelo telefone, mas Fujitaka insistiu em vê-la.

“Não, papai! Eu já comi sim, olhe...”- Mostrou a bandeja com o resto do almoço – “Acabei de comer!”. Sorriu.

“Fico mais aliviado, minha filha”- Devolveu o sorriso a filha— “Quero que você se alimente bem e se cuide também”.

“Estou me cuidando, papai. Já disse que não precisa ficar preocupado”.

“Ele já acordou?”- Havia contado ao pai o que ocorreu com Shaoran. Sakura balançou a cabeça negativamente – “Então vá para lá, ele pode acordar enquanto você está falando comigo”.

Sakura nada disse, ficou com o olhar distante, mas ao perceber o semblante de preocupação do pai, desfez o olhar receoso – “É que a prioridade é a família dele. Eu não quero incomodar”.

“Filha, tenho certeza de que quando ele acordar, a primeira pessoa que ele gostará de ver será você. Até a mãe dele, deve saber disso”.

“Papai!”. Ficou vermelha, nervosa.

“Já sabe quando volta para o Japão? Como as aulas da sua faculdade estão prestem a começar, posso ir até a sua faculdade em Tóquio e explicar sobre suas faltas, caso você precise faltar”.

“Não precisa, não perderei nenhuma aula, papai! Tenho certeza de que Shaoran ficará bom antes de elas começarem! Além disso, não vejo a hora de cursar a faculdade”. Percebeu que o pai olhou para baixo sorrindo, e ele saiu de frente da tela do IPAD, apoiado em algum utensílio encima da mesa da cozinha.

“Olhe só quem resolveu acordar”. Sakura abriu um largo sorriso ao ver o pai, que nos braços dele, segurava Kerberus, que bocejava.

“Quantas saudades desse gordinho!”. Segurou o choro. Já estava sensível com toda a situação que a rodeava, e ver o seu gato de estimação que sentia tanta falta, a fez estremecer.

“Como falei para você, ele está de dieta! Anda rabugento e dorminhoco”- Falava olhando para ele que lambia a pata esquerda – “Filha, ele vai ficar bem”.

Sakura arregalou os olhos ao ouvir o pai, nunca conseguia esconder nada dele. Naquele momento, não conseguiu esconder que estava aflita e nervosa.

Ela apenas sorriu, e conteve as lágrimas. Kerberus bocejando a fez sorrir ainda mais.

............................

Apertou os olhos, e outra vez a claridade daquele local incomodava. Piscou diversas vezes até sentir que estava com o controle de seus sentidos. Sentiu a garganta seca e um gosto estranho na boca, parecia ser de sangue.

Do nada, uma dor, latejante, surgiu. Ainda não sabia identificar de onde vinha. Achou que era nas pernas, mas sentia a costela doer também, e o peito. Até o ombro doía. A figura de uma mulher ruiva, sentada no sofá no canto do quarto, o fez apertar mais ainda os olhos.

“Mizuki? É você?” - Em um instante, ela largou a revista que lia, e andou sorrindo até a cama - “Você é a última pessoa que eu achei que iria ver aqui”. Ela nada disse, o abraçou com cuidado e, carinhosamente, deu um beijo em sua testa.

“Como se sente?”.

“Não sei ao certo. Tudo dói”.

“Sentir dor é um bom sinal, quer dizer que cada canto do seu corpo está vivo”.

“Só estão sendo desnecessárias essas dores” - Tentou se sentar na cama, mas Mizuki o impediu. Ela acionou um botão, e a cama, elétrica, se mexeu. Percebeu o olhar emocionado que ela lhe lançava – “Qual é? Achou que eu ia morrer tão jovem?”. Ela sorriu, e mais uma vez o abraçou.

“Ficamos muito preocupados com você”- Disse sussurrando, ainda o abraçando. Deu um longo suspiro, e voltou a encara-lo – “Até mesmo esse seu humor irritante, é reconfortante”.

“Quantos dias estou aqui?”.

“Três dias”. Ela segurou o rosto dele entre as mãos e deu um beijo em seu rosto, e o encarou com carinho. A porta do quarto foi aberta, chamando a atenção dos dois.

Kurogane ao terminar de fechar a porta, arregalou os olhos ao ver Shaoran.

“Viu um fantasma, Kurogane?”. Perguntou, sorrindo. Kurogane nada disse, abaixou o olhar e se ajoelhou.

“M-me me perdoe líder Li...”. No chão, curvou-se.

“Mas o que você está fazendo? Está gozando da minha cara?”. Via aquela cena, de forma descontraída, não a encarava como algo que era sério.

Kurogane permaneceu, de joelhos, curvado: “Eu não sou digno de protegê-lo, falhei miseravelmente e nunca vou me perdoar por isso. Aceito que me exile ou que mande me prender”.

“Kurogane, é sério isso?” – Shaoran custava a entender que aquilo era sério. Ao olhar Mizuki e notar seu olhar de pesar, finalmente percebeu que Kurogane, a quem considerava um amigo, humilhava-se por um perdão imaginário. Ele não tinha culpa de nada, não o entendia. A irritação foi instantânea - “Kurogane, levanta desse chão e para com essa cena. Você perdeu o juízo? Eu não tenho que te perdoar de nada”. Kurogane permaneceu ajoelhado.

“Não sou digno de sua presença, líder. Peço apenas que me perdoe, e que me dê à sentença que achar digna”.

“Mas que merda Kurogane, levanta desse chão!”. Shaoran se movimentou na cama, e sentiu uma fisgada, foi contido por Mizuki.

“Sr. Kurogane, por favor, Shaoran acabou de acordar. Levante-se do chão e saia. Shaoran falará com você quando estiver melhor”.

Kurogane ficou minutos em silêncio, mas, no fim, escutou Mizuki. Levantou-se e sem encarar os dois, saiu da sala. Shaoran tentou impedi-lo, mas mais uma vez, foi contido por Mizuki.

“Mas que droga, foi essa?”. Estava surpreso, nunca imaginou que Kurogane, um homem tão orgulhoso, sério e cheio si, faria uma cena daquela. O mundo tinha virado do avesso enquanto ficou um tempo desacordado?

“Não esqueça de que você está envolvido em tradições milenares. Você é considerado um líder supremo para seu clã, quase um deus. Alguém que deve ser seguido e protegido. Kurogane acha que falhou na missão a qual foi designado desde que era garoto”.

“Mas ele não tem culpa nenhuma!”.

“Eu sei, você sabe, mas ele acredita que teve” – Ela o olhou com um sorriso – “Quando você estiver se sentindo melhor, vocês voltaram a conversar. Agora, tente se acalmar. Você não pode se exaltar dessa forma”.

“Que irritante...! Se eu estivesse em boas condições, teria chutado a bunda dele!” – Suspirou inconformado - “E onde estão todos...?”. Pensou na mãe, nas irmãs, Meiling, nos amigos e principalmente em... Sakura.

“A maioria está aqui. Suas irmãs e Meiling estão cuidando da imprensa e dos negócios. Há uma pessoa que quer muito te ver desde que chegou” - Pensou em Sakura – “Não, não é a Sakura” – Ela sorriu ao ver o rosto vermelho de Shaoran – “Espere aqui. Vou chamar”.

Mizuki saiu do quarto, e não demorou muito. Não teve nem tempo de pensar em quem seria a “pessoa misteriosa”.

Quando eles entraram em seu quarto, a surpresa foi instantânea. Ficou surpreso ao ver seu tio, Wei, ao lado da sua mãe. Não teve tempo de dizer nada, pois Yelan adentrou no quarto afoita, e abraçou o filho, fortemente.

“Aí, senhora minha mãe...”. Disse ao sentir o ombro doer.

“D-desculpe, meu filho! C-como você se sente?”.

“Com dores, e a senhora, como vai?” – Ele deu língua, e ela sorriu apertando o rosto do filho. Ele olhou para Wei e sorriu – “Tio! Quer dizer, que eu tenho que levar um tiro para o senhor vir me ver?”. Wei ficou sem graça, aproximou-se de Shaoran, e beijou sua cabeça.

“Você nos deixou bem preocupados, jovem Shaoran”.

...

Olhou mais uma vez para porta do quarto em que Shaoran estava. Estava ansiosa, desde que soube que ele tinha acordado não conseguia disfarçar a ansiedade, já havia olhado para aquela porta incontáveis vezes. Notou Kurogane parado do lado da porta de Shaoran, que estava ali desde hora que saiu do quarto.

A risada baixinha de Tomoyo, a fez parar de olhar para lá mais uma vez, parecia que tinha sido pega em flagrante cometendo algum delito: “Não precisa ficar assim, Sakura! Já, já você irá vê-lo”.

“N-não sei se é uma boa ideia. Ele deve estar cansado”.

“Não seja boba, Sakura-chan! Ele vai adorar te ver!”.

Passaram-se minutos, e notou a entrada de um enfermeiro e logo em seguida houve a saída Yelan, Wei e Mizuki do quarto. Os três foram ao encontro delas.

“A hora de visitas acabou, amanhã às 08h30min será, novamente, permitido visitas” - Sakura não conseguiu esconder o desanimo em ouvir Yelan. Apesar de querer que Shaoran ficasse o tempo que fosse com a família, não negava a vontade de querer vê-lo – “Mas é permitido que fique um acompanhante. Você poderia ficar Sakura?”.

Sakura arregalou os olhos, surpresa: “Quê?!”.

“Eu estou muito cansada, e preciso ver o que Meilin e minhas filhas andam fazendo, confio em Fay, mas prefiro supervisionar de perto. A Srta. Mizuki também está cansada por ter chegado de viagem hoje e irei precisar da companhia de meu cunhado Wei, temos muito que conversar” - Ele assentiu com a cabeça – “Você faria esse favor, por mim?”.

“E-eu...e-eu...”.

“Quer que eu me ajoelhe?”. Yelan fez menção de se ajoelhar, e Sakura levantou da cadeira, atordoada.

“N-não, não! E-eu fico, eu fico!”.

“Ótimo! Vamos?” – Olhou para Mizuki e Wei, que concordaram – “Não vou dizer ‘cuide bem dele’, pois sei que ele estará em boas mãos, por isso, apenas boa noite”.

Wei, antes de ir, olhou minuciosamente Sakura, mais uma vez: “Tem certeza de que não conheço você de algum lugar?”. Havia perguntado isso a ela, horas antes, quando foram apresentados.

“E-eu realmente também tenho a mesma impressão de que já nos conhecemos, senhor”.

Ele sorriu: “Já disse, me chame de tio. Você é praticamente da família”. Ela corou e ele curvou-se e seguiu Yelan e Mizuki, que acenaram para elas.

“Bem, eu vou indo! Darei a boa notícia ao pessoal, ainda estão aflitos!”- Sakura segurou o braço de Tomoyo, e a olhou suplicando para que ela não a deixasse sozinha. Queria ver Shaoran, mas tinha vergonha de passar a noite inteira com ele- “Ora, Sakura-chan! Não seja boba! Além disso, só é permitido um acompanhante”.

“Mas o Kurogane não foi embora...”.

“Ele é o segurança pessoal de Shaoran, e do jeito que ele está não sei se toparia ir embora”. Olhou preocupada para ele. Sakura seguiu seu olhar.

Um enfermeiro, carregando em sua mão uma prancheta, aproximou-se delas: “Desculpem, o meu japonês, mas vim saber quem será a acompanhante do Senhor líder Li”. Por vergonha, nada disse. Tomoyo a empurrou para frente – “Qual é seu nome, senhorita?”.

“Sa-as-sakura...”

“Nome completo, por favor”.

“Ki-kinomoto Sakura”.

“A senhorita é o que do paciente?”.

Ela ficou calada, sem saber o que dizer, achou que a palavra “amiga” se encaixaria bem.

“Futura esposa!”. Ao escutar Tomoyo, tomou um susto, não tendo tempo de negar.

O enfermeiro sorriu: “Pois bem, futura Sra. Li, assine aqui, por favor”. Entregou a prancheta para ela que sem graça, assinou. Antes de devolver a prancheta ao enfermeiro, notou o quadradinho marcado ‘noiva’ – “A senhorita pode entrar a hora que quiser, o líder Li está passando por alguns exames, fique à vontade” – Ele olhou para Tomoyo – “Peço que vá para o andar debaixo, senhorita, as visitas já foram encerradas”.

Tomoyo assentiu com a cabeça, curvou-se para eles e deu de costas. Sentiu a mão de Sakura a segurar mais uma vez: “Sakura, pare de tanta vergonha. É o Shaoran. O homem que você ama está detrás daquela porta. Lembre-se de que ele poderia não ter sobrevivido”. Sakura a soltou lentamente. Tomoyo sorriu – “Eu odeio saber que, às vezes, eu preciso ser dura com você”.

...

Estava entediado, mal havia acordado e tinha que passar por aquela série de exames. O médico do plantão, e dois enfermeiros, checavam o seu batimento cardíaco e colhiam o seu sangue.

“Estamos acabando, Líder Li”. Disse o médico de plantão, com um largo sorriso.

“Eu só quero comer, estou morrendo de fome!”. Suspirou.

“Sabia que essa cara feia era de fome”. Disse uns dos enfermeiros, de forma descontraída.

“Han, veja como fala com o líder...!”.

“Ah não, pelo amor dos deuses, acabei de acordar”- Shaoran interrompeu a chamada de atenção do médico no enfermeiro – “Não me venham com os formalismos! Eles me irritam! Vocês não vão querer me ver irritado! Mando todos para guilhotina”. Fez todos rirem, se sentiram mais à vontade.

“Prontinho, esfomeado! Outro enfermeiro trará seu jantar”.

“E o que será? Chop Suey? Ou talvez um Frango Xadrez?”.

“Um caldo bem leve com verduras”.

“O quê? Essa é a hora que uso a minha condição de líder de uma dinastia para exigir comer algo melhor?!”.

“Não, essa é hora que o senhor comerá o que seu médico e nutricionista do hospital mandarem. Não queremos o líder passando mal, seria muito ruim o senhor, com essas dores, golfar. Demanda um tremendo esforço”.

Sentiu um leve arrepio ao imaginar o esforço que demandaria comer Frango Xadrez – “Bem, acho melhor confiar em vocês”. Notou uma enfermeira entrando no quarto, trazendo lençol, cobertor e um travesseiro. Ela foi até o sofá e puxou um compartimento, demonstrando que era um sofá cama.

“Para quem é isso?”. A enfermeira que antes arrumava, olhou para ele, sorridente.

“Para seu acompanhante, senhor”.

Franziu a sobrancelha, sua mãe disse que iria para casa junto de Mizuki e de seu tio. Pensou um pouco, talvez fosse Eriol, o seu acompanhante.

“Bem, acabamos! Tenha uma excelente noite. Qualquer coisa aperte aquele botão ali, e uma enfermeira virá ao seu encontro”.

“Obrigado. Doutor... Foi grave?” – O médico pareceu não entender a indagação – “Eu poderia ter morrido?”.

“Não é hora de pensar nessas coisas. Agora, é a hora de focar em sua recuperação total” – Percebeu a feição contrariada de Shaoran, pôs a mão em seu ombro – “Sim, foi grave. O senhor poderia não ter sobrevivido. Você chegou praticamente desfalecido, perdeu muito sangue, duas artérias foram rompidas, a mais grave foi a que está interligada ao seu coração. Foi uma cirurgia de 10 horas, saímos exaustos, mas felizes que tudo deu certo. A sua força de vontade em viver ajudou muito nisso”.

“Força de vontade?”.

“O senhor teve três paradas cardíacas” - Shaoran arregalou os olhos. O susto foi grande ao ouvir aquilo – “Mas agora, já está tudo bem! Não faça essa cara” - Tentou anima-lo – “Peço que evite conversar muito, isso fará que não sinta dores em demasia”.

Shaoran deu um meio sorriso, e acenou para os enfermeiros e o médico que se despediam.

Certamente, não foi uma boa ideia ter perguntado sobre seu estado anterior. Não estava feliz e nem triste. Sentia medo em saber que poderia ter morrido. Ainda não tinha se dado conta que a vida é um sopro.

O bater na porta o fez dispersar os pensamentos sobre a vida e sua quase morte.

“Pode entrar”. A figura de Sakura adentrando no quarto acalentou seu coração de uma forma, que todo o medo e angustia que sentia sumiu. Não conteve o sorriso. Lá estava ela, retraída, com as bochechas coradas em um misto de olhá-lo e de desviar o olhar. Como a amava. Amava cada parte sua, cada gesto, até a cor das suas bochechas rosadas, ele tinha certeza de que não tinha cores como aquela em mais ninguém.

Mordeu o lábio inferior, a vontade que sentia era de ir correndo abraça-lo, isso explicava as bochechas rosadas, que só em imaginar a cena, a deixava envergonhada. Era tão bom vê-lo bem. Notou que ele estava um pouco abatido, mas a beleza e o sorriso sedutor continuavam intactos. Estava sem jeito com os olhares dele, e decidiu quebrar o silêncio.

“F-fico muito feliz em ter ver tão bem Shaoran”. Disse olhando para baixo.

“E você, consegue me ver a essa distância?” – Sorriu e esticou a mão – “Eu não mordo Sakura. Não, depois de levar um tiro”. Por segundos ficou brava, lá estava ele, fazendo gozação do que havia acontecido, mas a mão estendida dele a fez andar em sua direção.

Ela segurou sua mão, com carinho, e ficou ao seu lado: “Ficamos muito aflitos, e e-eu fiquei com muito medo”.

“Eu entendo, Sakura. Quem quer perder um partidão como eu?”.

“Shaoran!”.

Ele riu e encarou Sakura: “Eu só estou matando as saudades de você. Já vi você envergonhada, agora brava”.

“Você é um bobão!” – Deu língua – “Como se sente?”.

“Bem, apenas dolorido”.

“Lembra-se do que aconteceu?”.

“Vagamente... Ei! O que aconteceu com ele? E o Wang, ele está bem?”.

“O homem que atirou em você?”- Shaoran confirmou – “Eu não sei direito, o senhor Wang disse que ia cuidar disso. A propósito, ele está bem, o tiro pegou somente em você”. Entristeceu ao lembrar-se da cena – “Por que você fez aquilo, Shaoran?”.

“Não queria que ninguém se machucasse. Eu preciso falar com o Wang. Não quero que aquele cara seja preso”. Sakura ficou atônita ao ouvi-lo.

“Mas, Shaoran...?”.

“Foi um ato de desespero, Sakura. Ele tem uma esposa doente para cuidar, o que vai ser dela com ele preso?”- Estava surpresa. Shaoran era incrível. Ele tossiu um pouco e sentiu dores, Sakura fez menção de chamar a enfermeira, mas ele a impediu – “Apenas me dê agua, estou com a garganta seca”. Apontou para a jarra, no criado mudo, ao lado da cama.

“É uma decisão que cabe a você. Mas sua mãe e Wang não vão concordar”. Ela lhe deu o copo com água.

“Com a minha mãe, eu me entendo. Wang me deve uma” – Agradeceu pela agua – “Você sabe quem ficará como meu acompanhante?” – Sakura mais uma vez ruborizou, o que deixou Shaoran sem entender – “O que foi?”.

“É-é-é-é que achei que sua mãe tinha comentado”.

“Não, ela não disse nada”.

A porta foi aberta, e a enfermeira sorridente pediu licença, trazia consigo o jantar: “Vamos comer, Senhor Li?”.

“Sim, sim! Estou faminto!”. Sakura deu espaço para que a enfermeira ajustasse a mesa de refeição e colocasse o jantar.

“Qualquer coisa, é só chamar. Senhorita, aqui está o cartão. Peço que use, é uma forma de mantermos o controle”. Sakura pegou da mão da enfermeira, e pôs no pescoço. Shaoran olhou a cena, curioso, e quando, por fim, entendeu o que acontecia, seus olhos brilharam. Ela seria sua acompanhante! Passaria uma noite inteira a sós com ela. Não queria que fosse daquele jeito, mas estava bom mesmo assim.

“Que grata surpresa! Então é você que me fará companhia?”.

“S-sim e te ajudarei no que for necessário!”. Sorriu, timidamente.

“Bem, então poderia começar me dando sopa na boca?”

“Shaoran!”

“Eu falo sério! Eu sou destro, não consigo movimentar meu braço, ele dói” – Ele fez o movimento, e fez cara de dor – “Viu só?”.

“Tudo bem, então. Vamos lá, abra a boca Líder Li”. Aproximou-se e pegou a colher. Cuidadosamente, o servia. Nem em seus sonhos, poderia sonhar que aquilo acontecesse.

...

“O que foi? Você parece preocupado”. Sakura tirou a bandeja da mesinha e pós no móvel ao lado da cama.

“Kurogane... Ele veio mais cedo, com uma atitude esquisita”.

“Ele não saiu do seu lado. Ele tem sentido muita culpa”.

“Culpa de quê? Não foi ele quem puxou o gatilho!”.

“Mas ele acredita que poderia ter evitado”.

“É um idiota”.

“Não, ele não é. Antes de ser seu amigo, Kurogane é seu segurança. Tenha paciência, e tente entender o lado dele. E se fosse ao contrário? Você não se sentiria culpado também?”.

A imagem de Kurogane e seu companheirismo vieram em sua mente. Desde que chegou a China havia passado por muitas coisas, e na maioria delas Kurogane estava ao seu lado passando a confiança, que na maioria das vezes lhe faltava.

“É... Você tem razão. O que seria de mim, sem você?”

“Shaoran!”

“O que eu fiz?”

“Você lembrou o Shaoran galanteador, o enrolado na toalha!”.

“E isso é ruim?”.

“Não, não é isso! É só que...”.

“I lose control... Togireta kokoro... Sotto kaze ni sarawarete boku wa ten wo aogu...” – Sakura ficou surpresa ao ouvi-lo cantar – “Não lembra? Eu estava cantarolando essa música quando te vi”.

“Sua voz... É tão bonita”. Desmanchou-se em elogios.

Ele a olhou de forma sedutora, aproximando-se dela e sussurrou: “Não mais do que seus olhos”.

“Shaoran!”

“O que eu fiz dessa vez?!”.

..............................................................

“Hoje, finalmente eu vou ter uma boa noite de sono. Saber que Shaoran acordou e está bem, foi um grande alívio!”.

“Todos nós teremos Yuki!”- Disse Nakuru, sorrindo - “Vamos pela manhã cedo, vê-lo?”.

“Por mim, sim!” – Eriol olhou ao redor, e todos acenaram com a cabeça, concordando. Percebeu que Tomoyo estava quieta, pensativa – “O que foi? Posso saber onde está cabecinha encontra-se?”.

“Eu queria está lá filmando os dois: Sakura e Shaoran!”. Disse chateada, fazendo todos sorrirem sem graça.

“Tomoyo, você não existe!”. Meilin ria entre as mãos.

“Aqueles dois... Eles têm que ficar juntos”.

“A vida, infelizmente não é um conto de fadas, Nakuru”.

“Claro que é! Eu, finalmente, estou ao lado do meu príncipe!”. Yue corou. E todos sorriram com a cena.

“Não se preocupe Nakuru. No final, tudo dá certo”.

“Vamos dormir?”. O barulho na sala chamou a atenção deles.

“Isso foi a campainha?”.

Meilin levantou-se e saiu da biblioteca, viu Fay que por meio do vídeo porteiro, autorizava alguém a entrar.

“Quem é?” - Fay nada disse, para a sua irritação. Ela se pôs ao seu lado. Não demorou minutos, e a porta foi aberta pela secretária da casa. Ao ver Wang, franziu as sobrancelhas e apontou para ele, indignada – “Mas o que ele faz aqui?!”.

“Ele pediu uma reunião com a Senhora Li, Meilin”. Sussurrou.

“Boa noite para você também, Srta. Li. Vejo que a educação ainda não é seu ponto forte”.

“Com pessoas como você, faço questão de ser mal-educada!”.

“Meilin!” – Fay tentou repreende-la – “Por favor, me siga, a Senhora Li e o Senhor Li os aguarda”.

“Eu não entendo o motivo de você está sendo tão educado com esse aí, esqueceu-se de quem ele é?”.

“Parece que ele veio propor uma trégua”. Fay sussurrou ligeiramente, deixando Meilin ressabiada.

“Trégua? Hunf! Du-vi-do!”. Cruzou os braços e acompanhou Wang com olhar, seguindo Fay.

...................................

“Sério! Eu troquei o sal pelo açúcar, meu tio deu um pulo para trás”. Shaoran divertia-se ao se lembrar de uma de suas historias da infância que passou com o tio.  

“Você era muito danado!”.

“Confesso que sim! Eu aprontei muito com meu tio. Acho que ele teve cabelos brancos, antes da hora!”. Riu baixinho.

“Coitado do seu tio!”.

“É...”. A sua feição mudou. Sakura percebeu.

“O que foi?”.

“Eu preocupava muito meu tio, brigava com ele e me recusava a obedecê-lo, porque eu queria que ele me mandasse embora”.

“Embora?”.

“Não entendia o motivo de ter indo morar no Japão, eu era muito pequeno. Eu sentia falta da minha mãe, das minhas irmãs e do meu pai. Então eu achava que se eu aborrecesse meu tio, ele me mandaria de volta para os meus pais. Mas isso nunca acontecia” – Suspirou – “Minha mãe pediu que meu tio me levasse embora junto com ele, depois do falecimento do meu pai. Foi um pedido dele. Meu pai não queria que eu tivesse responsabilidades tão novo”.

“Seu pai amava muito você”.

“Sim. Eu tenho poucas lembranças dele, uma das minhas prediletas é de quando o sino de casa tocava. Eu saia correndo, só para recebê-lo”. O sorriso sereno acompanhava a lembrança viva em sua memória.

“Deve ter sido bem difícil para você...”.

“No começo sim, mas Wei cuidou muito bem de mim. Teve um dia que me escondi no armário da cozinha e fiquei o dia inteiro sumido. Wei me procurou pelo bairro inteiro e pelos lugares que eu costumava ficar quando saia de casa. Nesse dia, ele voltou para casa depois de me procurar por horas, exausto e assustado, e eu me divertia com aquilo tudo. Eu me lembro de, cuidadosamente, abri a porta do armário e o ver apreensivo e triste. Ele sentou no sofá da sala, e chorou” – Shaoran engoliu seco – “Ele cobriu o rosto e chorou alto. Acho que era um choro que estava acumulado há muito tempo. Eu, imediatamente, entendi que eu estava machucando alguém que cuidava de mim e me dava carinho, enquanto eu dizia repetidas vezes que odiava ele e toda a minha família”. Disse tristemente.

“Shaoran...”

“Naquele momento, eu finalmente entendi que não voltaria para casa e que ele cuidaria de mim para sempre. Saí do armário da cozinha e ele me olhou, a feição dele era um misto de alívio com susto, ele não ficou bravo. Depois, ele limpou o rosto e estendeu os braços na minha direção e fui até ele, daí ele me abraçou e perguntou se eu estava com fome. E eu chorei, enquanto pedia desculpas repetidas vezes” – Shaoran suspirou e sorriu – “Foi uma cena até que...”. Parou de falar ao ver Sakura chorando – “O que foi, Sakura?!”

“Você ainda pergunta! Que história comovente!”.

“Eu não queria fazer você chorar! Deculpe, Sakura!”.

“T-tudo bem. Só estou sensível...”.

“Por minha causa?”. Arqueou as sobrancelhas, de forma zombeteira.

Ela sorriu: “Não se ache tanto assim!”.

“Gosto de ver você sorrindo!”.

“Shaoran...”.

“Não importa o que aconteça. Eu sempre vou amar você, Sakura. Lembre-se disso quando você for uma vovozinha de 80 anos e estiver contando uma história de conto de fadas para seus netos”.

 “Seu bobo!” – Sakura o encarou – “Eu... Eu...”.

“Mas o que é isso?!” – A enfermeira olhou para os dois – “O Sr. deveria estar descansando e não conversando!”.

“Eu estou super bem! Fiquei apagado por dias, preciso pôr a conversa em dia”.

“Ordens médicas, Senhor Li! A sua esposa foi informada sobre isso, não foi?”.

“S-sim... É que ficamos conversando, e ele parece tão bem!”.

“E, além disso, estou sem sono!”

“Não seja por isso, seu médico receitou um remédio para o senhor”.

“Eu não estou a fim de dormir! Vão me obrigar agora?”. Perguntou, bufando, inconformado.

“É para o seu bem, senhor. O senhor deve descansar, não deve fazer muito esforço! Suas costelas doem não é?” – Shaoran evitou encara-la. A verdade é que sentia muita dor em conversar, não sabia o motivo daquilo, mas não queria deixar a companhia de Sakura, as dores que fossem para o inferno! - “É porque o senhor está conversando e forçando a respiração”.

“Shaoran, você devia ter me dito!”.

“Eu estou bem, Sakura” – Mentiu para ela. Viu a enfermeira se aproximar, e rispidamente disse: “Eu já disse que não quero dormir...”.

“Shaoran descanse. Amanhã estarei aqui com você”. Sakura pediu docemente.

Contrariado, olhou para ela e para a enfermeira. Mas depois, virou o rosto, ficou em silêncio, não se opondo mais as ordens da enfermeira.

A enfermeira aproximou-se. Pôde sentir uma leve picada.

Em segundos, suas pálpebras fecharam lentamente.

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Notas finais do capítulo

Obrigada pela leitura até aqui! =DD
Beijos!



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