Kissu´s escrita por LiLiSaN


Capítulo 29
Yūshoku




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/617554/chapter/29

...

Voltou a fixar o olhar na porta, depois de conferir a hora no relógio do pulso. Perguntava-se se a veria antes de ir trabalhar. Tinha vontade de bater na porta, ou entrar e despertá-la com beijos.... Mas sabia que ela iria morrer de vergonha... Além disso, não tinha muita coragem de entrar ali sem a permissão dela. Não queria, por um descuido seu, estragar alguma coisa.

Encostou-se na parede, ao lado da porta, rememorando a noite passada em que conversaram sobre todo o sentimento que nutriam um pelo outro. Queria saber tudo o que havia acontecido enquanto estavam longe um do outro, falaram mais sobre os dois do que qualquer outra coisa. Parecia que estava em um sonho. E por ter essa sensação, era um dos motivos de estar parado lá: Sakura, realmente estava do outro lado da porta?

Tirou um papel do bolso e fixou seus olhos nele.

“Perdeu alguma coisa?”

A voz da mãe o assustou: “M-mãe?! Q-quer dizer, s-senhora minha mãe! E-eu só estava, só estava... P-passando! E-e-e eu p-parei para refletir s-sobre algumas coisas... Coisas d-do trabalho!”. Gesticulava na tentativa de encontrar as palavras que poderiam enganar sua mãe.

Yelan, sempre séria, esboçou um leve sorriso. Ver o filho parado em frente a porta da japonesa, por quem estava tão apaixonado, e seu nervosismo, em ser pego em flagrante, tornou-se uma cômica cena. Reparou no papel que ele esqueceu de esconder: “Sakura ainda deve estar dormindo. Você não tem que ir para a empresa?”. Voltou a ficar séria.

Shaoran não conseguia disfarçar o encabulamento. Sentia-se um cão de estimação na espera de seu dono, fora do quarto. Atentou-se em responder a mãe: “S-sim...”.

As damas de companhias, andavam apressadas em direção de Yelan, e ficaram ao seu lado. Yelan voltou a perguntar com a voz firme: “E então?”

“Então o quê?” – Sua mãe arqueou a sobrancelha – “Ah! O trabalho! Sim! É verdade! Hehehehehe! V-vou indo! Até mais tarde!”. Coçou a cabeça, e constrangido deu passos largos na direção oposta.

“Xiaolang” – Ele virou-se ao ouvi-la – “Não está esquecendo de nada?”

“Hã?” – Yelan apontou para a mão dele, e ele se deu conta do papel, e voltou a colocá-lo no bolso- “N-não é nada!” - Sua mãe abriu a mão, pedindo para que ele entregasse o papel dobrado a ela – “M-mas mãe...!”

“Me dê”- A contragosto Shaoran entregou e esperou a reação da mãe. Yelan pegou o bilhete, sem sequer abrir, e o passou por debaixo da porta, Shaoran ficou sem reação – “Não me faça gritar com você, ao trabalho, já!”.

A voz autoritária da mãe o assustou, encabulado, ele se foi.

“Que os deuses os acompanhe”.

A dama, ao lado, de Yelan percebeu um Xiaolang atrapalhado e caricato: “O que o líder Li tem, senhora?”.

Yelan olhou para a porta onde Sakura deveria estar dormindo, sorriu de lado: “Felicidade em demasia”.

...

“Bom dia Shaoran!”. Yukito, ao lado do irmão, abriu o sorriso ao ver o amigo descendo as escadas.

“Yukito, Yue, até nas férias vocês madrugam?”.

“É admirável ver você levantando cedo”. Disse Yue, irônico.

“Senti tanta falta do seu bom humor, Yue!”. Shaoran sorriu, o deixando ressabiado.

“Você fica bem diferente com essas roupas” – Yukito notava o terno negro, com gola Mao (uma gola semi-alta com pontas arredondadas) que Shaoran usava. Os botões do terno eram na horizontal. O terno era mais ajustado ao corpo que o traje social clássico, o corte do paletó era reto e as calças era mais ajustada as pernas. Shaoran, de forma descontraída, abriu os braços.

“Gostou? Ainda é meio difícil me acostumar a ternos e as roupas típicas do meu país. Espere para me ver em meu aniversário...”- Finalizou em um tom pesaroso ao lembrar-se da roupa tradicional que teria que usar – “E o café da manhã?”.

“Nós já tomamos! Estamos indo até a quadra de tênis jogar um pouco. Mais tarde visitaremos os pontos turísticos daqui, vai com a gente né?”. Yukito perguntou empolgado.

“H-hoje?”- Suspirou, chateado – “Provavelmente não. Tenho uma reunião inadiável com Secretário-Geral. Fay me disse que hoje será um dia cheio”.

“Ué, mas é ele quem nos levará. Ele e Meilin”.

“Quê?!”- Fay descia as escadas alegremente – “Fay, você não disse que minha agenda está cheia hoje?”.

“Sim, disse sim, Shaoran”.

“Então como você vai passear, e ainda por cima com meus amigos?”. Inconformado, protestou.

Abriu o sorriso, e o respondeu: “Mas é a sua agenda, Shaoran. Não a minha”.

“ARGH! Você é um secretário folgado!”. Fez bico e franziu as sobrancelhas.

“Não me culpe. Estou cuidando dos preparativos da sua festa de aniversário. Precisarei ir a alguns locais hoje pela tarde, por isso me ofereci para guia-los pela China”.

“Shaoran, se você quiser, nós marcamos para amanhã e você...”

“Não Yukito! Tudo bem! Podemos fazer algo depois dos meus compromissos. Teremos muito tempo!”. Parou de falar ao ver Eriol descendo as escadas, que distraído no celular, não reparou nos olhares do amigo.

“Bom dia Eriol!”. Yukito sorriu.

“Ah bom dia! Bom dia a todos!” – Guardou o celular e sorriu para todos. Percebeu o olhar do amigo – “Bom dia Shaoran!”.

Eriol terminou de descer os lances de escada, e ficou surpreso com súbito abraço do chinês, que nada disse, apenas o abraçou.

“Eu senti muita a sua falta...”. Shaoran disse baixinho enquanto o abraçava. Yukito, Yue e Fay sorriam com a cena.

Eriol sorrindo retribuiu o abraço: “Eu também, meu amigo”.

“Que lindo!”. Tomoyo, que filmava a cena, e Nakuru gritaram em coro, deixando Shaoran constrangido, soltando Eriol.

...

Horas depois...

Abriu os olhos lentamente e tomou um susto. De sobressalto, sentou-se na cama. 

Olhou para os lados do quarto: estava perdida. Mas, em questão de segundos, acalmou-se, por um momento não soube onde estava. Isso já tinha acontecido antes, nos primeiros dias em que chegou em Tóquio, em Nagasaki e agora ali.

Esfregou os olhos e espreguiçou-se bem lentamente. Jogou o corpo para trás, e relaxou. Estava na casa dele. Realmente tinha criado coragem e viajado até a China para revê-lo. Sorriu, e levou o dedo indicador até os seus lábios. Lembrou-se do beijo, do abraço...

Passar horas e horas conversando com ele sobre eles dois, na noite passada, foi como se tivesse em sonho. Estava feliz porque não era.

Levantou assustada novamente.

“Q-que horas será?” – Olhou para o relógio do criado mudo e arregalou os olhos – “QUÊ?!”. O relógio apontava para as 10 horas da manhã. Levantou da cama apressada, e começou a arrumar a cama tão confortável que a fez dormir feito um neném, as batidas na porta, fizeram seu coração acelerar. Talvez, fosse ele!

Desesperou-se, não queria que ele a visse daquele jeito: Com os cabelos desgrenhados e com o rosto amassado. Na pressa para ir ao banheiro do quarto, tropeçou no tapete de veludo, e caiu.

“Sakura-chan? Tudo bem? Posso entrar?”. Reconheceu a voz.

“Tomoyo-chan?”. Sentou-se no chão. Respirou aliviada enquanto massageava o joelho. Notou um papel dobrado no chão e o pegou. A voz de Tomoyo tomou sua atenção – “P-pode entrar Tomoyo-chan!”.

Tomoyo abriu a porta, e se assustou ao ver a amiga sentada no chão, deduziu que ela havia caído: “Tudo bem com você? Machucou?”. A ajudou se levantar.

“E-estou bem, só tomei um susto”.

“Achou que fosse Shaoran, não é?”.

“Hã? É-é-é, eu...”. Tomoyo riu entre as mãos ao ver Sakura tão vermelha.

“O que é isso?”. Apontou para o papel que ela carregava.

“E-eu não sei, acabei de achar...”. Desdobrou o papel, cuidadosamente, arregalou os olhos. Era dele: “Bom dia, Sakura. Dormiu bem? Eu decidi escrever esse recado a moda antiga, caso eu não a visse antes de ir ao trabalho... Na verdade, eu queria ter te visto antes de sair, só para ter certeza de que a noite passada não foi um sonho... Sou bobo, não é? Espero que você tenha um ótimo dia. Quer jantar comigo, hoje à noite? Beijos, Shaoran”.

“Pela felicidade estampada em seu rosto, é um recado do Shaoran, não é?”.

Com a face, levemente corada, Sakura sorriu e confirmou com a cabeça.

................................................

Empresa Wang...

“Sabe que não gosto quando você não avisa que pretende vim mais cedo para empresa!”. Xing adentrou na sala, e tomou a atenção de Fei, que antes lia alguns papéis, e de seus dois seguranças, lado a lado.

“Ora, não vejo nenhuma necessidade de avisa-la”. Tirou os óculos de grau.

“Sou sua secretária pessoal, devo estar sempre ao lado do líder”.

“Você disse bem, é secretária, não a minha esposa”.

Ao escuta-lo, ela cruzou os braços e o encarou: “Quando você aceitar meus sentimentos, talvez isso aconteça”.

“Não vamos começar com essa bobagem...” – Respirou fundo – “E como foi ontem com o Líder Idiota?”.

Xing aproximou-se e sentou-se: “Você não cansa de desmerece-lo, não é?”.

“Incomodada? Seu pai vai gostar de saber que a filha está nutrindo sentimentos pelo Líder Li”.

“Não seja tolo, você sabe muito bem de quem eu gosto!”. Protestou.

“Você não respondeu minha pergunta”. Entrelaçou os dedos e apoiou o queixo em sua mão.

“Líder Li é uma boa pessoa, não é à toa que ele tem conquistado a todos a cada dia que passa” – Ela notou a desaprovação dele com a sua fala – “E foi divertido. Ele está feliz, alguns amigos japoneses chegaram de viagem ontem. Foi uma surpresa para ele”.

“Amigos?”. Franziu as sobrancelhas.

“Não permaneci muito tempo, mas pelo pouco que soube são amigos da banda da qual ele fazia parte, antes de voltar para cá. Mas o melhor de tudo foi que a mulher que ele ama, também veio”. Sorriu ao lembrar da cena do amigo abraçando a moça envergonhada.

“A japonesa!?” – Engoliu seco – “A japonesa que ele deixou para trás?!”. Estava em êxtase.

Xing preocupou-se com a exaltação dele: “Sim, Wang. É a Sakura. O que foi?”.

Fei sorriu de lado, rodopiou devagar com a cadeira e murmurou para si: “O ponto fraco. Isso vai ser muito fácil...”.

“O que disse?”. Esforçou-se para escutar o que ele dizia, mas foi em vão.

“Xiaolang e as tradições são como o dia e a noite, não acha? Opostos”.

“LÍDER WANG! LÍDER WANG! POR FAVOR, PRECISO FALAR COM O SENHOR”. Os gritos do lado de fora da sala, chamaram a atenção dos dois e dos seguranças de Wang, que ficaram de prontidão, próximos a porta.

“Que gritos são esses?!”. Xing perguntou assustada.

Fei balançou a cabeça, negativamente: “O idiota conseguiu entrar. Que bando de incompetentes!”.

“Quem é!?”.

“Yimou, implorando pela porcaria do emprego outra vez. Patético. Vocês dois, não fiquem parados aí, inúteis, tirem ele daqui!”. De pronto, os dois saíram da sala.  

“M-mas porque você não volta atrás? O sr. Yimou trabalhou nessa empresa há tanto tempo! Merece sua consideração!”. Xing fez menção de ir até lá fora, os gritos não cessavam. Parecia se desvencilhar de pessoas que tentavam contê-lo.

“Não perca seu tempo indo até ele. Temos uma manhã cheia. A agenda de hoje, qual é?”.

Xing o encarou. Notou a frieza e a calmaria em sua feição. Sempre se perguntava, qual foi o motivo de ter de ser apaixonado por uma pessoa tão cheia de defeitos, como ele.

Os gritos de Yimou, ao ser expulso, a entristeceu.

..................................................

Mansão Li...

“Vocês estão lindas!”. Yukito batia palmas. Tomoyo, Nakuru e Sakura vestiam trajes típico chinês, Qipao, com gola Mao e abotoamento diagonal. Tomoyo usava vestido chinês até os joelhos de cor azul, com alguns detalhes em amarelo. Nakuru usava um longo vestido vermelho, com flores rosas bordadas, já Sakura, usava uma blusa branca bordada, típica chinesa, até a cintura, com uma calça por baixo, de cor vermelha.

“Tenho que concordar: estão lindas! Serviu direitinho!”. Meilin sorria. Nakuru dava voltas mostrando o vestido para Yue, que sorria com sua empolgação.

Eriol beijou a mão de Tomoyo, que sorriu ao marido.

“O-obrigada pelo presente Meilin-chan”. Sakura curvou-se, agradecendo, timidamente.

Meilin disse empolgada: “Não precisa agradecer Sakura! Veja” – Meilin mostrou a pulseira, com pedrinhas pretas, delicada em seu pulso – “Estou usando”. Sakura havia dado a pulseira de presente a ela.  

“Então, prontos?” – Fay juntou-se a eles e reparou nas três – “Estão lindas! Chinesas tópicas!” – Entreolharam-se, em dúvida – “Eu quis dizer típicas! Eu não domino o japonês muito bem! Me desculpem!”. Curvou-se constrangido.

“E-eu acho que você fala muito bem Fay!”.

“Sério?” – Sakura confirmou – “Obrigado, Sakura!”. Sorriu.

“Vamos lá, temos muito o que mostrar a vocês!”.

Havia tantos lugares para conhecer que já imaginou que precisaria de uma vida inteira para conhecer todos os pontos turísticos da China. Sorria com a empolgação de Meilin que os guiava pela China.

Primeiro foram até o Victoria Peak, também conhecido como The Peak, um morro que tem uma vista linda de toda a cidade. Subiram com o tradicional funicular. Era um lugar bem agitado e com bastante turistas, lojas e restaurante. Do morro, pôde ver os vários edifícios e arranha-céus de Hong Kong e do outro lado da baía os edifícios de Kowloon, que Fay disse ser uma área urbana de Hong Kong e que iriam visita-la também.

...

“Man Cheong significa Deus da Literatura e Mo significa Deus da Guerra. Esse templo foi construído em 1847, por mercadores chineses ricos, nos primórdios do domínio colonial britânico em Hong Kong”. Fay dizia enquanto adentravam no templo Man Mo.

Sakura sentiu o ar fica carregado com a fragrância de sândalo e incenso. Olhou para cima, e notou as dezenas de espirais de incenso penduradas no teto.

“Nós queimamos essas espirais para atrair a atenção dos deuses”. Disse Meilin apontado para algumas delas.

Aproveitando que ficava perto do templo, decidiram caminhar pela rua Hollywood Road, que continha muitas lojinhas e feirinhas. Sakura ria da feição furiosa que Yue fazia toda vez que Yukito não se controlava e comprava antiguidades em toda loja que entravam ou quando Nakuru, com sua animação habitual, o puxava para todos os lados.

Adentraram em uma loja modesta e pequena, com a fachada toda verde, Fay quem a indicou. Dentro da loja com artigos de decoração, Sakura, distraída, observava alguns vasos chineses, enquanto os amigos olhavam outras partes da loja: “Está gostando do passeio, Sakura?”.

A voz de Fay obteve sua atenção: “Sim! Estou encantada!”. Respondeu sorrindo, estava muito feliz em estar ali.

“Que bom! Fico feliz em saber” – Apontou para os vasos – “O que acha deles?”.

“São lindos! A pintura é delicada e rica em detalhes!”. Uma senhora de idade apareceu, e cumprimentou Fay animadamente, em chinês. Sakura ficou sem graça, por estar entre os dois e não entender nada do que conversavam, percebeu que eles se conheciam. Por um momento, a idosa a cumprimentou em chinês, e curvou-se diversas vezes, mostrando empolgação em conhecê-la.

“Ela quer saber qual deles você achou mais bonito”. A fala de Fay a fez responder de imediato. Apontado para o vaso do meio, com detalhes de flores de cerejeira. A senhora foi até o vaso e o pegou, o levando ao balcão.

“O que foi?”.

“Ela vai te dar de presente”.

Olhou espantada para a senhora sorridente, que embrulhavam o vaso: “QUÊ?!”

“Eu disse a ela que você é a futura esposa do líder Li”.

“M-mas, m-mas isso... E-eu não... Ele n-não...E-eu não posso aceitar!”. Sakura gaguejava.

“Se você recusar, ela vai ficar ofendida”. A senhora veio em direção a eles, com vaso embrulhado e estendeu em direção a Sakura. Fay assentiu com a cabeça e Sakura o pegou, curvando-se, sem graça, agradecendo em chinês, deixando a senhora feliz. Tomoyo e Eriol chamaram a atenção da senhora que foi até eles. A risada baixinha de Fay a deixou ressabiada.

“O-o que foi?”.

“Na verdade, ela é minha tia. Esse é meu presente pelo livro que você me deu”. Referia-se ao livro “Tempo e Espaço na Cultura Japonesa” de Shuichi Kato, transcrito em chinês que Sakura o havia presenteado.

“M-mas por que você...” – Ela deixou-se contagiar pela risada dele, e falou de maneira descontraída – “Então sua tia é quem faz esses vasos?”.

“Não. É meu pai” – Sakura ficou surpresa – “Meus irmãos o ajudam também”.

“Têm quantos irmãos?”.

“Um irmão gêmeo, Yuui, e uma irmã, Chii” - Sakura ficou mais uma vez surpresa. Imaginou como seria ter um irmão gêmeo. – “E você?”.

“Um só, mas que vale por muitos, chama-se Touya”. Sorriu ao lembrar do irmão ciumento.

“Sakura?” – Ela o encarou – “Você vai ficar?”.

“Ficar?”.

“Sim, irá?”.

“E-eu não entendi a pergunta...”

“Ei vocês dois! Vamos!”. A voz de Meilin os entreteve.

Tomoyo aproximou-se de Sakura: “Comprou um vaso chinês, Sakura-chan?”.

...

Atravessavam a baía na Star Ferry, uma embarcação que os levavam até Kowloon. Sakura não conseguia tirar o sorriso do rosto, aquela viagem estava valendo muito a pena. Primeiro por rever Shaoran, por estar ao lado de Tomoyo e os outros, depois por aquela vista privilegiada que tinha dos dois lados da cidade e de quebra, curtia a brisa e o balanço do mar.

Queria que Shaoran estivesse ao seu lado, compartilhando do mesmo sentimento que ela estava tendo naquela tarde, mas entendia que ele tinha seus compromissos e não os poderia interromper com a sua repentina chegada. Com Tomoyo ao seu lado, se pôs a conversar sobre as gaivotas que pareciam acompanhar o barco. Tomoyo as filmava.

Em Kowloon, caminharam pela Nathan Road, uma larga rua somente para pedestre, muito movimentada, onde tinham diversos mercados de rua, entre eles o Flower Market, mercado de flores, e o Temple Street Night Market, mercado popular que vende de tudo um pouco. Era tanta opção para compra que Sakura estava ficando tonta. Queria levar muitas lembranças para os amigos e para sua família. 

Decididos a comer alguma coisa, entraram em um restaurante com pratos típicos. Fay recomendou a Sakura que provasse Zong Zi (Um prato que consiste em arroz, feito numa textura mais pastosa, e é cozinho envolto em folhas de cana, geralmente leva temperos como molho de soja, óleo de pimenta e gengibre). Eriol, Yukito e Nakuru optaram por Tian bu la (Pasta de peixe, moldado em vários shapes, de sabor adocicado e textura macia). Fay, Tomoyo e Meilin serviram-se de Gua-Bao (Pãozinho chinês com massa branca e fofa, recheado com carne de porco).

Depois de satisfeitos e com as energias renovadas foram até a Avenida das Estrelas, que homenageia personalidades de Hong Kong, como Bruce Lee. Sakura andava entre as estatuas, e tirou uma foto ao lado da estatua de um cameraman, mas correu, como uma criança, ao avistar a estátua do Bruce Lee. Tomoyo foi atrás dela, não perdendo nada em suas filmagens.

Meilin ficou em frente à estátua, e fez pose de luta imitando a pose de Bruce Lee, todos fizeram o mesmo. Fay pediu para um senhor que passará que registrasse aquele momento. Depois do click riram das poses desengonçadas.

............................................

Empresa Li...

“Algum problema?”. Kurogane o viu deitando a cabeça, encima dos braços, sobre a mesa do escritório.

Shaoran bufou, ainda com a cabeça deitada, resmungou: “Só estou pensando em como eles devem estar se divertindo”. A 20 minutos atrás tinha saído da quarta reunião daquele dia, dessa vez com empresários do ramo hoteleiro. Estava chateado por estar perdendo a oportunidade de ficar com os amigos e ao lado dela...

“Não estaria chateado por não está com ela?”.

“Está tão obvio assim? Isso também”. Encostou as costas na poltrona e fitou o teto.

“Já conversou com ela sobre sua condição como líder?”.

“N-não...”. Respondeu sem jeito.

“Shaoran...”. Disse seu nome em tom repreensivo.

“Eu sei, eu sei. Eu vou contar. Não tenho como esconder isso dela. Eu sinceramente, nem sei o que vai acontecer entre nós, mas vou ter que deixar tudo às claras”.

“Shaoran, mesmo que vocês fiquem juntos, não esqueça da permissão dos outros líderes”.

Levou a mão até o rosto: “Não esqueci da palhaçada, quero dizer, da tradição” – Discou um número e apertou o botão do viva voz, do telefone – “Chun, quanto mais de compromissos tenho para hoje?”.

“O senhor têm uma reunião com o líder Tao, daqui a 15 minutos, e depois um jantar com o senhor John Page, CEO de nossa empresa nos Estados Unidos, e sua esposa, as 19 horas”.

“Jantar?”. Desanimou. Tinha planejado um jantar romântico com Sakura naquela noite.

“Sim, senhor”.

“É possível desmarcar o jantar?”.

“Receio que não, senhor Líder. O senhor John Page teve que desmarcar compromissos para se reunir com senhor esta noite. Ele irá amanhã embora da China”.

Suspirou inconformado: “Tudo bem, Chun. Assim que o líder Tao chegar, mande-o entrar. E por favor, me traga um café forte e um remédio para dor de cabeça”. Bateu levemente a cabeça na mesa. Não jantaria com ela...

“O que foi dessa vez?”.

“Tinha feito planos. E esses planos envolviam Sakura, eu e um jantar romântico”.

“E porque não a leva para o jantar?”.

Shaoran arregalou os olhos: “Ei... Essa foi uma ótima ideia Kurogane!” – Sorriu. Levantou e foi até a uma estante, viu o terno de reserva que Fay sempre deixava. Tomaria um banho na empresa e de lá iria para o jantar. Voltou a se sentar e pôs a mão no queixo – “A ideia de romantismo vai por agua baixo, mas pelo menos vou tê-la ao meu lado! Além disso, John vai levar a esposa, que finalmente a conhecerei. Será, praticamente, um encontro de casais!”.

“Só falta você oficializar seu relacionamento”.

Sorriu de lado, ao ouvir Kurogane: “Vontade não me falta”. Os olhos verdes invadiram seu pensamento.

...........................................................................

Adentraram a mansão conversando animadamente, o dia de passeio tinha sido divertido e impactante. Estavam encantados com a beleza da China que pouco ouviam falar e empolgados em conhecer mais dela. 

“Divertiram-se?”. A voz de Yelan chamou atenção deles, que silenciaram.

“Sim, Sra. Li! Passeamos bastante!”. Nakuru respondeu animadamente, mostrava as sacolas de compras sem timidez alguma a Yelan, que sorria. Yue engoliu seco ao ver a namorada agindo de forma informal com a mãe de Shaoran, com receio da reação de Yelan, mas ao vê-la sorrindo junto de Nakuru, sorriu de lado. Nakuru era incrível, sempre agindo naturalmente e com um sorriso no rosto, conquistava qualquer um.  

As irmãs de Shaoran aproximaram-se dos recém-chegados, e foram direto nas bochechas de Tomoyo e Sakura, as apertando.

“Meninas, soltem elas!”. Pediu Meilin, inconformada.

“O jantar será servido daqui a 45 minutos” – Yelan olhou Sakura – “Meu filho pediu que esteja pronta as 18:45. O motorista a levará ao encontro dele”. As irmãs de Shaoran a soltaram e a olharam com os olhos brilhando.

Ficou vermelha, lembrou-se do convite que ele fez para jantarem juntos. Mas ele não havia falado ou mandado mensagem para ela o dia inteiro: “M-mas...”.

Tomoyo a tirou no transe da surpresa: “Depressa Sakura, você tem que se arrumar!”.

...

“E-eu não trouxe nenhuma roupa apropriada Tomoyo-chan!”. Sakura vestia roupão de banh, depois do banho apressado, chorava uma cachoeira, havia revirado a mala pela segunda vez, e experimentado algumas roupas. Sentou-se na cadeira, e Meilin a ajudava na maquiagem.

“Você é uma atrapalhada mesmo, hein? Como você não traz uma roupa social, Sakura?”. Meilin a recriminava. Faria um olhinho de gato com delineador, e passaria um batom rosa-claro em seus lábios.

“Sakura-chan, se você quiser eu posso te emprestar algum vestido!”.

“Você só tem roupa infantil, Nakuru”. Meilin a olhou com os cantos dos olhos.

“Ei! Não são infantis assim!”.

Tomoyo até então calada, saiu do quarto de hospede de Sakura, as deixando confusas. Poucos minutos, ela voltou trazendo algo em seus braços.

“Não me diga que...”

“Eu vim preparada Sakura-chan! Trouxe um lindo vestido para você!”. As três caíram para trás.

.........................................................................

“Ela já devia estar aqui, será que aconteceu alguma coisa?”. Olhou para o relógio pela terceira vez. Ao lado de Kurogane, esperavam por Sakura dentro do carro, ao lado do restaurante. Distraído não viu o americano e a esposa, adentrarem no restaurante.

“Sr. Page e sua esposa, acabaram de entrar”.

“Ele sempre chega cedo para nossos jantares...” – Olhou pelo retrovisor, mas não o viu – “Vou esperar por ela”.

Kurogane sorriu de lado, com o Shaoran afoito ao seu lado. Ao olhar outra vez pelo retrovisor, Kurogane reconheceu a limusine e o motorista: “Chegou”.  

Shaoran olhou para trás, e viu a limusine estacionando. Olhou-se no espelho do carro, conferindo seu visual, ajeitou o terno: “Como estou?”.

“Idiota como sempre”.

“Obrigado, Kurogane! Não precisa me...”

“Sim, sim, eu sei. Vou indo. Até mais”. Shaoran saiu do carro, e Kurogane deu partida.

Andou apressado em direção a limusine, e viu Han, o motorista, abrindo a porta do carro para ela. Ao vê-la, parou onde estava.

Segurou a mão do motorista, que a ajudou a sair da limusine. Sorriu para ele, e o agradeceu em chinês. Observou o restaurante e ficou admirando a sua fachada. Pela vidraça pôde ver lustres gigantescos, os tetos pintados, as mesas, elegantemente, postas. Reparou nas pessoas elegantes vestidas, será que estava vestida propriamente para entrar ali? Não queria envergonhar Shaoran. Apertou o sobretudo preto, que ia até os joelhos.

“Sakura?”- Seguiu a voz, e o viu parado com um sorriso no rosto. O motorista falou com Shaoran por pequenos segundos e despediu-se dos dois, e entrou na limusine –“Está linda”. Ele pegou sua mão e a beijou delicadamente.

“E-eu não sei se estou vestida adequadamente para entrar nesse restaurante Shaoran”. Disse encabulada. Ele nada disse, apenas ofereceu o seu braço. Sakura hesitou, então ele esticou a mão em sua direção. Envergonhada, a segurou. Juntos, de mãos dadas, entraram no restaurante.

“Boa noite, Sr. e Sra. Fizeram reserva?”. Perguntou o maitre (pessoa encarregada de destinar clientes às mesas).

“Temos um jantar com o Sr.John Page”. Shaoran o respondeu. Sakura reparou no piso de carvalho e nos tapetes de seda do restaurante. Nem em um milhão de anos, imaginou em entrar em um restaurante que parecia ter saído dos filmes hollywoodianos.

“Senhorita” – Sakura olhou rapidamente para o maitre – “Não quer me dar o seu sobretudo, para ficar mais à vontade?”. Sakura olhou Shaoran, como quem perguntasse se ela deveria entregar seu sobretudo, o sorriso dele foi a resposta.

Ela o desabotoou e o entregou, ele os deixou a sós. Não percebeu o olhar de encantamento e de apaixonado, de Shaoran, a olhando no vestido preto, com as alças caídas, levemente, no ombro. Havia um leve decote em V, que não permitia que os seus seios se sobressaíssem.

“Que foi?”. Sakura notou que ele estava a olhando sem dizer nada – “É-é o meu vestido, você acha que...”

“Você está linda, Sakura”. Disse ainda encantado e abobalhado. Sakura o fascinava de todos os jeitos. Já viu tantas mulheres bonitas com vestidos pretos, amarelos, verdes, mas nenhuma delas o deixou hipnotizado ou tal pouco fez seu coração saltitar.

O maitre voltou, e indicou a direção: “Por favor, me sigam”. Shaoran ofereceu seu braço, e Sakura o segurou.

Shaoran avistou o homem loiro, branco, sentado, apreciando o vinho tinto. Ele percebeu Shaoran, e levantou-se da cadeira sorrindo, esperando que ele viesse de encontro a ele.

Ao se aproximar, John o abraçou animadamente, falando: “There you are! As always punctual! How are you, leader Li?”. (Aí está você! Como sempre pontual! Como vai, líder Li?).

Shaoran saiu do abraço dele, e percebeu que ele estava mais magro: “I'm good, John. Is that you? I see you're working out!”. (Eu vou bem John. E você? Vejo que que está malhando!)

“Did you see? I followed your advice, I am practicing martial arts with my brother-in-law!” (Viu só? Segui o seu conselho, estou praticando artes marciais com meu cunhado!)— O americano notou Sakura, que os olhava sem jeito. Certamente, por não entender muito o que os dois falavam – “And this beautiful young woman? Do not tell me you married and you did not invite me ?!”. (E essa linda jovem? Não me diga que casou e não me convidou?!)

“No, no. Her name is Kinomoto Sakura. My future wife” (Não, não. Ela se chama Kinomoto Sakura. Minha futura esposa). Olhou carinhosamente para ela.

Ao ouvir seu nome, deduziu que Shaoran a tinha apresentado. Ela curvou-se, John fez o mesmo.

“Oh really? Congratulations! But is not she Japanese??”. (Sério? Meus parabéns! Mas, ela não é japonesa?) – John estava surpreso, sabia um pouco das tradições do clã. Ele percebeu a feição de chateação de Shaoran ao responder sua pergunta, com a cabeça. Engoliu seco, e continuou a falar, teve certeza de que sua pergunta foi inconveniente - “So I'm going to take the risk in Japanese!”. (Então vou me arriscar no Japonês!) – Encarou Sakura e sorriu dizendo – “É um prazer conhece-la Sra. Kinomoto! Chamo-me John Page! Desculpe o meu japonês”.

“V-você fala bem!” – Ficou surpresa em ouvi-lo falar japonês tão bem – “É um prazer conhecê-lo!”.

“A esposa dele é japonesa, Sakura”. Disse Shaoran.

“Por favor, sentem-se!”. Indicou as cadeiras.

“E a sua esposa? Aonde está? Finalmente irei conhecê-la!”. Olhou para os lados.

“Ela foi à toalete! Anda sentindo-se mal, por causa da gravidez”.

Arregalou os olhos: “Quê?!”.

“Sim! Vou ser papai, Xiaolang!”. Sorriu.

“Meus parabéns John! Fico feliz por vocês!”. Shaoran o cumprimentou, feliz por ele.

“Parabéns!”. Sakura o parabenizou também.

“Obrigado. Ah! Aí vem ela!”. John levantou-se para recepcionar a esposa e Shaoran fez o mesmo. Sakura, de costas, permaneceu sentada. 

Shaoran a olhou assustado, a conhecia: “Shi-shi-shinomoto?!”.

“Li!?”. Ela também estava assustada. John notou a surpresa dos dois em se verem.

Sakura, olhou para Shaoran e viu sua face de surpresa ao encontrar a mulher de John. Olhou para trás, e arregalou os olhos: “Akiho?”.

“Sa-sakura?!”.

Shaoran, ainda mais surpreso, encarou Sakura que olhava Akiho, que olhava Sakura.

John olhava os três, sem entender nada.

.

.

.

.

.

Yuui: Irmão gêmeo de Fay, no mangá Tsubasa Chronicles, mas aparece efetivamente no mangá Shiritsu Horitsuba Gakuen, da CLAMPque conta a historia, em um mundo alternativo, dos personagens de Tsubasa Chronicles e xxxHOLiC que estudam no colégio Horitsuba. (É um mangá curtinho, vale a pena a leitura! Nele, Shaoran também tem irmão gêmeo ^^. Infelizmente, não achei o mangá completo em português, mas há em inglês = Shiritsu Horitsuba Gakuen)

Chii: personagem do anime/mangá da CLAMP, Chobbits. Ela aparece em Tsubasa Chronicles. 

~~

Yūshoku: Jantar.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Oláááááá! Fiquei sem ter como postar --' e hoje o site ficou em manutenção, mas esperei pacientemente para postar esse capítulo. Desculpem! E aí, gostaram? E a China? Não é linda? Apesar da poluição por aquelas bandas, quanta beleza, senhor *.*
Beijão! Mais uma vez, obrigada! ♥



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Kissu´s" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.