Kissu´s escrita por LiLiSaN


Capítulo 23
Watashi wa anata o aishite...




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/617554/chapter/23

(Imagem: Yelan e Shaoran - Fanart)

...

“Irmãozinho!” - Shaoran fez cara de espanto ao ver as suas irmãs sorridentes correndo em sua direção - “Você está tão lindo!”. Shaoran usava uma túnica bege, com detalhes pretos nas mangas e na gola. Era apertado pela irmã mais velha, Fuutie, de cabelos até o pescoço, castanhos, assim como a cor de seus olhos.

“Vocês não vão parar de me tratar feito criança?”. Fechou os olhos e bufou.

“Claro que não, você é o nosso bebezinho! Nosso tesouro! Sentimos muito a sua falta”. Disse Fanhen, tinha cabelos longos castanhos, até a cintura, abraçava o irmão, apertadamente.

“Você ficou mais lindo ainda, irmãozinho!”. Shiefa de cabelos curtos, até a orelha, apertava as bochechas de Shaoran. Sua outra irmã, Feimei, de cabelos até os ombros, fazia o mesmo.

“Estou indo encontrar a nossa mãe. Vocês sabem que ela detesta atraso”. Falava com dificuldade, já que suas bochechas estavam sendo puxadas. Elas o soltaram, imediatamente. Morriam de medo da mãe.

“Tudo bem! Depois queremos passar mais tempo com você. Estamos ansiosas para saber como é sua vida no Japão”

“Como era, Fanhen...”- Elas se entreolharam, tristemente- “Vou indo, até mais”.

Continuou a andar pelo vasto corredor, e fitou a porta do escritório. Antes de entrar, bateu.

Pôs o rosto para dentro: “Mandou me chamar, senhora minha mãe?”.

“Sim. Entre”.

Ao entrar, viu que ela não estava só: “Como vai líder?”. O homem magro se curvou rapidamente. Lembrou-se dele, ao seu lado estava uma mulher. Lembrava-se dela também.

“Sr. Huan Hou, líder do clã Hou, como vai?”. Retribuiu o cumprimento. O homem ficou surpreso.

“Ora, que honra! O senhor lembra meu nome”.

“Claro, líder Hou Huan. Sei também da sua boa administração a frente dos hotéis em Hong Kong. Está pretendendo começar expandir para o exterior, não é mesmo?”.

“Senhora Li, realmente seu filho aprende muito rápido”- O encarou, olhou para a mulher ao lado dele, que permaneceu indiferente - “Já conhece minha filha? Chama-se...”

“Xing Huo”. Shaoran completou, mais uma vez deixou o homem surpreso.

“Vejo que já foram apresentados!”.

“Sim, o sr. Wang nos apresentou não foi, senhorita?”. Shaoran viu ele a cutucá-la, ela levantou a cabeça e depois curvou-se.

“Sim, senhor líder”.

“Pode me chamar de Xiaolang”. Ela corou, e o pai dela riu. Shaoran estranhou suas reações.

“Chamar o senhor líder pelo nome, somente se ela fosse sua parente ou esposa” - Sorriu, empolgado - “Mas quem sabe, não é? Vocês são jovens, saudáveis e bonitos. Nos dariam lindos netos, não acha, senhora Li? E além disso, seria glorioso unir os dois clãs”.

“Sim, sr. líder Huo” - Olhou Shaoran - “Filho, o sr. Huo veio falar com você sobre os preparativos da sua cerimônia”.

“Cerimônia? ”. Interrogações surgiram envolta de si.

“Sim, sim, líder! Como o segundo clã, é de minha competência preparar a sua cerimônia de nomeação como líder supremo” - Shaoran se imaginou em um trono recebendo uma coroa, como um rei - “Mas antes de falarmos disso, se me permite, gostaria de perguntar algo muito importante, líder”.

“Pergunte, líder Huo”.

“Assumirá em definitivo a liderança? Não me leve a mal, líder. Peço até desculpas pela indelicadeza, mas eu e todos os outros líderes estamos atravessando uma grave crise e estamos inseguros... O senhor é jovem, e imagino como deve estar sendo difícil do nada aparecer uma grande responsabilidade endereçada ao senhor… Então gostaríamos de saber se podemos...”.

Pôs a mão no ombro dele, não o deixando continuar a falar: “Líder Huo, serei o líder em definitivo. Diga aos outros que serei um líder tão bom quanto meu avô, meu pai e minha mãe foram e que juntos sairemos dessa crise”.

“Que felicidade em ouvi-lo líder! Seu avô era magnífico, só perdeu para o seu pai!! E devo dizer que a senhora sua mãe cuidou de tudo com muita coragem” - Sorria empolgado, logo pegou um livro - “Então vamos começar a falar dos preparativos! Sente-se! Trouxe aqui várias opções de tecido de sua ‘veste do lobo’. Vai preferir a ópera chinesa ou dança? Temos a dança do dragão e a do leão...”.

Olhou confuso para o enorme livro e para o homem. Yelan percebendo sua confusão, sorriu, passando confiança ao filho. Xing, não deixava de olhá-lo.

..........................

Enquanto observava os raios de sol caindo sobre os incontáveis edifícios de Tóquio, tomava um chá de limão com gengibre que Naoko havia feito antes de ir para o trabalho. Sentiu-se aquecida por tanto amor… Naoko, Motoko, Mamoru, Usagi e até mesmo Touma… Todos se preocuparam e cuidavam dela. Que sorte a sua por ter amigos tão queridos.

 ~~~~~~~~~~~~~~~~

Abriu os olhos, a vista embaçada a fez piscar repetidas vezes, a figura masculina a deixou atônita, era ele!: “Shaoran?”

 “Não Sakura. Sou eu, Touma”. Esfregou os olhos, e viu Touma sorrindo com as bochechas levemente coradas.

 “Touma?!”. Olhou ao redor, viu um futon (edredom japonês), próximo a sua cama, arrumado. Será que ele tinha dormido com ela? Lembrava-se que Mamoru e Usagi a trouxeram para o apartamento. Como ele chegou até seu apartamento?

 “Sente-se melhor?”.

 “Sim! Minha garganta dói um pouco”. Tossiu.

 “Tome” - Estendeu um copo com água para ela - “Você tem que beber muito líquido”.

 “O-obrigada...”. Bebia água e olhava o futon e Touma, fez isso várias vezes.

 “Deve estar se perguntando o que estou fazendo aqui, não é? Você tem grandes amigos Sakura-chan” . Sorriu.

 “Sakura-chan! Você acordou!”- Naoko correu até ela e a abraçou, depois sentiu sua temperatura - “Sua febre não voltou mais! Sente-se melhor?”.

 “S-sim!”.

 “Que bom! O remédio deu certo Touma!” - Naoko olhou sorrindo para Touma, depois notou a feição confusa de Sakura - “Touma-kun ligou preocupado, veio até aqui e preparou um remédio que fez sua febre sumir! Agora de manhã, Touma-kun voltou para se certificar que o remédio fez efeito!”. Apontou para testa de Sakura.

 Ela sentiu algo, e tirou delicadamente, reparou na gaze coberta por ervas. Olhou Touma com muito carinho: “Muito obrigado Touma”. Ele nada disse, ficou vermelho.

 “Há um delicioso café da manhã está esperando por você! Vou buscar!”. Naoko saiu saltitante do quarto.

 “Sakura...”- Touma obteve sua atenção - “Shaoran ligou para você ontem. E-eu atendi, desculpe”.

 “Shaoran li....gou?”.

~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~

O que será que ele queria? Reatar? Provavelmente, não. Seja lá o que fosse provavelmente doeria novamente escutar. Olhou seu celular ao lado dela, tinha dúvidas se retornaria. Já estava triste o suficiente...

Um barulho a fez olhar para porta, sorriu com cena: “Ai ai ai, quase que eu caio Sakura-chan!”.

Usagi se recuperou do tropeço, e de forma atrapalhada, andou até ela.

............................

Andava pela casa, tentando relembrar algum momento vivido ali. Olhava para os moveis, os quadros, os quartos. Os caminhos da mansão o levavam para locais de que ele não fazia ideia aonde dariam.

O som abafado, despertou sua atenção. Conforme andava, o som ficava mais nítido.

Escutava com exatidão agora: Era uma dizi (flauta chinesa, feita de bambu), acompanhada de uma pipa (instrumento de cordas chinês).

Fechou os olhos, e se deixou levar pela música que lhe trazia uma sensação de “lar”. A mesma sensação que estava buscando pelos cômodos da mansão.

Seguiu o som, e viu uma porta entreaberta, era lá de onde vinha o som. Parou em frente a ela, e pôde ver sua mãe, sentada na poltrona marrom, de olhos fechados tocando a pipa e Meilin, em pé, ao lado dela, tocando a dizi. Sorriu ao ver suas irmãs Fuutie e Shiefa, dançando de forma graciosa, mexiam as mãos delicadamente, de forma coreografada, no ritmo da música, davam passos para os lados e para trás. Fanhen e Fenmei, sentadas, olhavam encantadas toda a dança.

Ao ver aquela cena, lembrou-se vagamente de que quando era criança, aquele cenário era corriqueiro, mas quem dançava era sua mãe, e seu pai era quem tocava. Lembrava de ficar nos braços das irmãs, que sempre tentavam imitar a mãe dançando.

O pôr do sol, que anunciava sua ida, adentrava na sala e cobria Kurogane, que estava encostado no batente da janela. Ele estava de olhos fechados. Devia estar apreciando a música.

Ao entrar na sala, Meilin percebeu sua presença, acenando com a cabeça, continuando a tocar.

Ficou ao lado de Fanhen e Fenmei, que o sorriram. Kurogane o viu, mas voltou a fechar os olhos.

Olhou a mãe que ainda de olhos fechados, tocava as cordas com leveza e com uma extrema concentração.

Ela abriu os olhos, a viu sorrindo ao ver as suas irmãs dançando, e quando ela o viu, o sorriso singelo se desenhou nos seus lábios.

Voltou a fechar os seus olhos, sentiu aquela melodia tocar sua alma e lhe dá uma paz temporária. A paz que tanto estava precisando, que confortaria seu coração, seu medo, sua saudade... A apreciaria, mesmo sabendo que acabaria ao fim daquela música.

Abriu os olhos, a melodia tinha ficado mais rápida, olhou as irmãs que riam enquanto dançavam. Fanhen e Fenmei se levantaram, e juntaram-se a elas, se divertiam dançando, mexiam os braços e rodopiavam. Meilin ensaiava alguns passos, ao mesmo tempo em que tocava.

Não deixava de se divertir com a alegria das irmãs. Sua mãe tocava com uma rapidez invejável.  Tinha sido ela que ensinou seu pai a tocar.

O ritmo voltou a ficar lento, e novamente, de forma graciosa, as irmãs dançavam, entre sorrisos, elas se olhavam, demonstrando a cumplicidade e amizade que tinham entre si.

Apesar dos pesares, poderia dizer que aquela estava sendo uma manhã feliz.

 …

“Pronto para o grande dia?”. Deitado no sofá da sala que antes transbordava alegria, tinha os pensamentos dispersos. Não conseguia tirar a ligação da cabeça.

“Acho que sim...” - Shaoran olhou a prima - “Conseguiu saber como ela está?”.

“Você deveria ligar! Dei uma baita susto na Tomoyo-chan, ela nem sabia!”.

“Como ela está Meilin?”

“Tomoyo-chan disse que ela está melhor. A febre passou, mas ela precisa de repouso e de cuidados para ficar cem por cento”.

“Que bom...”. Suspirou aliviado.

“Não vai ligar mesmo pra ela?”.

“Não. É melhor assim”.

“Mas Shaoran…! Quer saber? Você é um cabeça dura!”. Deu língua e zangada, saiu da sala, pisando duro, passando pela tia.

“O que você fez a Meilin, desta vez?”. Yelan se aproximou, Shaoran se levantou ao ouvi-la e sentou no sofá.

“Nada senhora minha mãe, sabe o quanto ela é irritada por natureza”.

“Como você está?”.

“Estou bem”.

“Me refiro aqui” - Apontou para o coração dele - “Como está aí?”.

“Meilin fofoqueira...”

“Sou sua mãe, tenho que saber tudo o que passa na vida do meu único filho homem” - Sorriu, e se sentou ao seu lado - “Sakura, não é?”- Ele a olhou sem entender - “O nome dela”.

“É...”

“Meilin me disse que ela é uma moça encantadora e muito bonita”.

Sorriu ao lembrar do sorriso e dos lindos olhos verdes: “Sim, ela é...”.

“Filho, sei que agora, nesse momento, parece que você não tem escolhas e de que há um único caminho a trilhar, mas, mesmo assim, cultive o amor que você tem por ela, aí dentro”. Tocou o peito esquerdo de Shaoran.

“Mãe… É algo sem futuro. Não vou deixar um relacionamento que está fadado ao fracasso se arrastar. Sakura é linda, jovem, tem os sonhos dela e ela é incrível. Logo, ela encontrará alguém menos complicado que eu”. Pensar na ligação em que Touma atendeu, o entristeceu. Seria ele?

“E você ficará feliz com isso?”.

“Sim, quero que ela seja feliz”.

“Então, você a ama filho”- Shaoran encarou a mãe ao ouvir aquelas palavras ditas - “E se você a ama, deveria deixar ela te dizer que quer encontrar alguém menos complicado. Conhecendo o filho que tenho, duvido que ela pensará da mesma forma que você”.

Levantou e apertou com força a orelha dele: “Porque isso mãe?!”. Perguntou, entre dores.

“Para tirar esse seu semblante de tristeza”. Sorriu.

—_______________________

“Como se sente, cerejeira?”. Perguntou Mamoru, sentado envolta dela, assim como Motoko.

“Melhor Mamoru-chan. Mais uma vez obrigada!”.

“Não precisa agradecer! Somos amigos, não somos?”.

“Não nos assuste mais, ok?”. Pediu Motoko, preocupada. Sakura sorriu.

“E o Touma-kun? Foi embora?”. Mamoru notou sua ausência.

“Sim, eu o obriguei a ir para o cursinho”.

“Ele ficou bem preocupado com você...”. Mamoru pôs a mão no queixo recordando da noite passada.

“Verdade. Ele gosta de você ou é apenas amizade?” - Motoko encarou a Sakura com um olhar investigativo - “Ela ficou vermelha, Mamoru”.

“Hum… Ele gosta de você?”. Mamoru notou as bochechas vermelhas dela, e pegou em sua testa. Não era febre.

“N-não, n-não. Q-quer dizer, só no colégio...”

“Amor antigo! Cheque mate! Você está me devendo dinheiro Mamoru...”. Motoko estendeu a mão na direção dele.

“Droga...”. Abriu a carteira e deu uma nota a ela.

“Mas, e-eu e-eu não...”. Olhou a cena confusa, negando com as mãos veemente. Não tinha nada com ele. Só sentia carinho, o mesmo que sentia por Mamoru.

“Nós sabemos cerejeira! Seu coração pertence a outra pessoa”. Disse Mamoru sorrindo.

“É verdade que ele ligou? Naoko nos contou antes de ir para casa descansar”. Motoko perguntou séria.

“É verdade”. Respondeu de cabeça baixa.

“Não vai retornar?”. Mamoru a encarou, cruzando os braços.

“Não sei...”

“Entendo” - Mamoru se levantou - “Acredito que ele vá ligar de novo, e se eu fosse você atenderia” - Ela o encarou. Olhou o relógio em seu pulso - “Hora de tomar remédio!”.

O som da campainha fez com que Motoko saísse do quarto para atender.

“Quem será? Naoko só iria vim depois do trabalho”. Mamoru se perguntou, enquanto Sakura tomava remédio.

“Como vocês estão fazendo? Estão perdendo trabalho por minha causa...”

“Não se preocupe com isso!”.

Motoko voltou ao quarto, e logo atrás veio Touma, vermelho, olhando para baixo: “De-de-desculpe Sakura-chan, mas eu não estava conseguindo me concentrar nos estudos! Trouxe algumas coisas para fazer uma sopa de legumes! Desculpe!”.

Mamoru e Motoko se entreolharam. Sakura sorriu ao mesmo tempo em que tentava não ficar tonta ao vê-lo se curvar repetidas vezes, envergonhado.

Motoko o encarava minuciosamente, sem graça Touma sentia os olhares fuzilantes dela, enquanto cortava as cenouras em rodela. Juntos, preparam o jantar.

“Ei, você!”. Touma se virou.

“S-sim?”. Gaguejou.

“Gosta tanto da Sakura, assim?”. Cruzou os braços.

“Go-gosto...”.

“Mas você sabe que ela gosta do...”

“Sim!”.

“Você se confessou?”.

“Ainda n-não...”.

“Não acha que está sendo prepotente?”.

“Na verdade, acho que estou sendo esperançoso”. Respondeu, vermelho.

Motoko o olhou por alguns minutos: “Boa sorte. Particularmente, gosto de Shaoran, apesar de não entender os motivos dele. Mas se Sakura estiver feliz, será o suficiente para nós”.

Mamoru vinha trazendo uma bandeja: “Nossa paciente tomou chá para garganta e toda a medicação. Como vai essa sopa doutor 03?”.

“Está a caminho, doutor 01!”. Touma, respondeu, empolgado.

“E você doutora 04, o que faz parada aí, ajude o doutor 03!”

“Vocês dois não tiveram infância?”.

Do quarto, Sakura pôde ouvir Motoko, com seu jeito sério, brigar com Mamoru. Riu. Ajeitou-se na cama, e o sorriso em sua boca permaneceu.

O toque de seu celular, a fez se levantar, seu coração disparou ao ver a tela do celular: “Shaoran chamando”. Ficou nervosa. Não sabia o que fazer. Atenderia? Não atenderia?

“Acredito que ele vá ligar de novo, e se eu fosse você atenderia”. As palavras de Mamoru, ecoaram. Tomou coragem e engoliu o nervosismo.

“A-alô?”.

—“Oi Sakura...”. Não sabia, mas seu coração batendo, às vezes podia alcançar uma velocidade inimaginável.

“Olá Shaoran...”

— “Como se sente?”.

“Estou melhor”.

—  “Não teve mais febre? Está tomando todos os remédios?”

“Estou bem Shaoran. Não tive mais febre”.

“Que bom Sakura… Fico aliviado”.

“Sakura-chan, você prefere abóbora ou...” - Mamoru parou de falar ao ver que ela estava ao celular e tapou a boca - “Seu pai?”. Perguntou baixinho.

Ela balançou a cabeça negativamente e disse o nome dele, sem que saísse o som de sua voz. Mamoru ficou feliz e saiu do quarto: “Depois eu volto!”.

“Quem era?”.

“Mamoru-chan, ele está me dando uma força”.

“Touma… Ele está aí também?”.

“S-sim”.

— “Entendo...” - Revirou os olhos… Aquele cara estava querendo a SUA Sakura mesmo - “Sakura, sei que não é a hora apropriada, mas eu preciso que você me escute...”

“Não precisa falar nada, eu já entendi”.

“Não, você não entendeu, Sakura”- Shaoran respirou fundo, antes de falar - “Estou ligando, porque agir de forma precipitada com você. E-eu ando meio que perdido... Não fui totalmente sincero. A essa altura, você já deve saber que eu não vou voltar ao Japão e que tive que sair da banda, não é?”.

“Sim, Tomoyo-chan me contou. Pode me dizer o motivo?”. Apertou o telefone.

“É uma longa e complicada estória, mas resumindo como herdeiro e líder do meu clã, e líder supremo de todos os outros clãs, tenho obrigações aqui que me impedem de voltar para minha vida antiga. E e-eu preciso ficar e proteger minha família”.

“Eles estão em perigo?”.

“Eu apenas conheci alguém muito ganancioso e sem escrúpulos em poucos dias em que estou aqui”.

“Tenha cuidado Shaoran...”.

“Não se preocupe...”— Shaoran ficou em silêncio - “Sakura, eu amo você”— Sakura arregalou os olhos ao ouvi-lo, seu coração saltitou. As lágrimas estavam prestes a cair - “Não ouse dizer que está cedo demais para eu falar isso...”

“Também amo você, Shaoran”. Shaoran pôde ouvi-la tentando puxar o ar pelo nariz. Ela estava chorando.

“Não chore...” - Pediu, mas ele também não conteve as lágrimas que desciam sobre seu rosto - “Apesar de que você deve ficar linda até chorando, pare de chorar”. Limpou o rosto.

“Seu bobo...”. Ela riu.

—“A minha vida agora é totalmente diferente daquela que você conheceu. Ficarmos juntos agora, significa você ter em mente que mais cedo ou mais tarde, terá que deixar a sua vida toda para trás. Seus sonhos, suas metas, seus amigos, seu pai e seu irmão...”- Sakura tentava acompanhar tudo o que ouvia, sem se assustar - “Para ficarmos juntos, definitivamente, você teria que vir morar na China e deixar tudo o que você ama para trás” - Shaoran tinha a voz pesada, a sua alegria habitual não estava presente - “É a mesma coisa que estou sendo obrigado a fazer. Não está sendo fácil, Sakura. Por isso que terminei com você, não é fácil abandonar o que você ama e se ver obrigado a viver outra vida. Não posso fazer isso com você. Não tenho esse direito...”.

“Eu...”

— “Por mais que eu me veja amando você, não posso ser egoísta e pensar só em mim, entende? Não posso ser egoísta com você. Preciso que você saiba de tudo, e que cheguemos juntos a uma decisão. Eu não quero sair da sua vida, mas também não quero causar sofrimento ou significar para você a mudança de que você não precisa”.

“Só quero ficar com você, Shaoran”.

“E eu com você, Sakura. E eu com você...” - Dois costureiros, e seus ajudantes entravam junto de Fay- “E-eu preciso desligar. Vão tirar minhas medidas, daqui uns dias será a cerimônia em que me proclamaram líder. Estarei aqui, Sakura, faremos nossas escolhas, juntos, como um casal que somos... Até mais, namorada”.

Sorriu: “Até mais namorado”. Desligou o celular, e o levou até o seu peito, como se ele fosse Shaoran, o abraçou carinhosamente.

—----------------------------

...

“Você quer me dizer alguma coisa?”. Shaoran já não aguentava mais os olhares desconfiados de Fay. De braços levantados, horizontalmente, os costureiros tiravam suas medidas.

“N-não...”. Voltou a olhar Shaoran da mesma forma.

“Fala logo”.

“O senhor… Quer dizer, Shaoran você estava falando com uma mulher?”.

“Sim, estava. Sabe falar em japonês?”.

“S-sim, mas confesso que sou lento em entender os kanjis. É que sua expressão facial denunciava isso” - Fay lembrou-se do sorriso dele e de como ele ficou feliz depois do telefonema - “Quem é ela?”.

“Você não acha que está ultrapassando os limites com seu líder?”- Fay engoliu seco, ficou nervoso ao ouvir a voz autoritária. Shaoran sorriu com a brincadeira - “Ela é uma pessoa muito especial para mim... Minha namorada”. Os costureiros pararam o que faziam, e o olharam horrorizados.

“Na-na-na-namorada?” - Fay arregalou os olhos, assustado. Encarou os costumeiros também assustados - “Saiam um momento, por favor. Não é necessário lembrar de que vocês não ouviram nada, certo?”. Eles se curvaram e saíram.

“O que foi isso?”. Não entendeu a atitude de Fay.

“Como assim, namorada? Nós sempre soubemos da sua vida movimentada por mulheres, mas namorada? A senhora, sua mãe, sabe disso?”.

“Sim...”. Soltou na poltrona verde, atrás de si.

“E ela não me disse nada...”. Balançou a cabeça inconformado.

“Mas o que tem isso?”.

“Shaoran, os líderes não vão aceitá-la facilmente. A tradição manda que o líder se case com uma chinesa, de preferência de um dos clãs”.

“Não estamos mais na Antiga China, Fay! Pelo que eu saiba, a convivência entre japoneses e chineses é harmônica! Eles nos visitam, fazem negócios conosco e até mesmo moram em nosso país. E fazemos o mesmo no país deles. Não existe mais qualquer conflito”.

“É a tradição: O líder dos líderes, o imperador mediador, o guia maior, deve perpetuar a sua geração através do matrimônio com sua irmã de país. Pois se o líder vim a se negativar, sua irmã de país, a filha desta terra, assumirá sua competência com rigor e com os mesmos preceitos”.

“Negativar?”

“Deixar de existir, ou seja, morrer!”

“Certo. Lá vai minha opinião sobre isso: Eu não me importo”.

“Shaoran...”

“E se eu, vamos supor, me decidir casar com ela? O que acontece? Somos expulsos?”

“O senhor precisará da permissão de cinco clãs, se eles derem permissão, vocês poderão se casar.  Se não derem, o senhor terá que desistir da ideia, ou fazer dela sua amante. Ao casarem, ela nunca será aceita como líder. Caso o senhor não esteja mais presente fisicamente, ela terá que deixar de existir também. Terá que abandonar esta casa, apenas com a roupa do corpo, e será obrigada a morar nas montanhas de Wudang viverá exilada. Ela nunca poderá voltar ao seu país de origem”.

“Você está brincando, não é?”

“Não, senhor...”

“Isso… Isso… Isso tudo é ridículo!”

“São as tradições, senhor!”.

“Espera aí! Tá, vamos supor outra coisa agora, vamos supor que eu acredite que em pleno século 21 isso aí que você acabou de dizer exista, e seu e ela tivermos filhos?”.

“Como ele terá seu sangue, poderá ser líder, mas...”

“Mas?”.

“Só se for menino. Se for menina, terá que ir embora junto com a mãe” - Shaoran deu um sorriso nervoso. Aquilo tudo era tão surreal. Levantou da poltrona e andou apressado até a saída - “A-aonde o senhor vai?”.

“Falar com a minha mãe!”.

Correu apressado, furioso foi até o quarto da mãe. Shaoran abriu a porta do quarto sem bater. Escutou alguns gritos de algumas empregadas que penteavam o cabelo da mãe, e a vestiam.

“M-mas o que é isso?”. Perguntou Yelan, que não entendia a expressão raivosa do filho.

“Saiam!”- Shaoran olhou as três mulheres, que nervosas tremiam - “Saiam!”. Gritou. Yelan ainda sem entender, acenou para que elas saíssem. Elas saíram apressadamente.

“O-o que está...”

“Porque a senhora não me diz logo tudo de uma vez?!”.

“Do que você está falando?!”.

“Desde que cheguei nessa casa, você não foi totalmente sincera. Tem medo de que? Que eu fuja? Abandone vocês? Que eu volte para minha vida de verdade? Eu não tenho culpa da sua desconfiança! Foram vocês que me mandaram para o Japão!”.

“Xiaolang, abaixe o tom”.

“Porque não me disse sobre a baboseira de casamento?”.

“Filho, eu...”

“Me aconselha a procurar por ela, a alimentar o que sinto. E não me diz nada? Você é alguma sádica?”.

“Xiaolang…!”

“Estou cansado! Cansado das suas meias verdades!”.

“Filho, escuta...”

“Não, eu não vou mais escutar.! Eu liguei para ela, disse tudo que eu sentia. E eu me sinto um completo idiota agora! Me irrita o fato de a senhora não me contar tudo!”

“Xiaolang, as coisas não vão ser exatamente da forma que você pensa...”

“Como assim? Fala! Fala tudo logo de uma vez!”.

“E-eu não posso...”.

“Tudo bem, mãe. Não vou insistir, vou esperar que Fay me conte! Eu vou assumir a droga dessa liderança, vou ser a porcaria de um grande líder, mas, ouça bem, eu não vou me casar com ninguém! A única pessoa que eu pensaria em casar vai me ouvir dizer outra vez que ela não se encaixa na minha vida!” - Shaoran deu as costas, ao sair bateu de frente com Kurogane, que o olhava com raiva. Shaoran devolveu o olhar, e antes de sair do quarto, encarou a mãe - “Soube que meu pai nunca escondeu do Kurogane quem ele era, não teve tempo de aprender isso com meu pai?”.

Fay passou por Shaoran, notou seu olhar furioso, correu até o quarto: “S-senhora, foi culpa minha! Me perdoe!”

“Tudo bem Fay. Cedo ou tarde ele ia saber”.

“Porque a senhora não conta todos os detalhes para o senhor líder, senhora?”.

“Porque meu filho não vai viver essa vida por muito tempo, Fay. Se depender de mim, ele não vai”.

“Como assim?!”.

“Tudo ao seu tempo, Fay. Tudo ao seu tempo” - Yelan levantou-se da cadeira, da penteadeira - “Fay vá atrás de Xiaolang. Kurogane, vá também”- Yelan percebeu a feição contrariada que Kurogane fez ao ouvi-la. - “Kurogane, Xiaolang é seu líder agora, é a ele quem você deve proteger”.

“Senhora, com todo respeito, seu filho não dá a mínima para as tradições. Age feito uma criança mimada. Não há honra em servi-lo! O senhor Li me incumbiu de protegê-la, e é isso que continuarei fazendo!”. Fay ficou petrificado ao ouvi-lo, como ele tinha a coragem de falar assim do líder ainda mais para a mãe dele?

Yelan caminhou até Kurogane, parou em sua frente e o olhou com carinho. Levou a mão direita até o rosto dele. Kurogane, permaneceu sério: “Meu marido, a quem você considerava como pai, pediu que você cuidasse de mim, mas, agora, eu estou pedindo que proteja meu filho Xiaolang, seu líder. Dê uma chance a ele, Kurogane. Obedeça a mim, sua mãe”. Ela tirou sua mão do rosto dele, e sorriu.

Kurogane sério, ficou calado. Olhou para o lado, contrariado: “Tudo bem, senhora”.

“Agora vão, eu preciso descansar”.

“S-sim senhora” - Disse Fay, atrapalhado, olhou Kurogane e cochichou - “Como você teve a ousadia de falar mal do Líder assim, Kuro-tan?”.

“Não enche! É Kurogane!”.

Yelan sentou-se na cama, e abriu a gaveta do criado-mudo. Tirou de lá um diário de memórias, e tirou de dentro dele, uma foto sua ao lado de seu falecido marido. Usavam vestimentas típicas chinesas de casamento. Sorriu ao ver sua cara irritada, e ele mostrando todos os dentes, demonstrando estar feliz com o casamento.

 “Meu bem…Eu fiz o que você pediu… Espero que tudo dê certo”.

~~~~~~~~~~

Hong Kong- 12 anos atrás- Mansão dos Li

 “Yelan…”- Fitou a esposa, depois de pegar o copo com água que ela lhe deu, com seu remédio - “Você tem dormido direito?”. Percebeu o olhar cansado e as olheiras escondidas pela maquiagem.

 “Sim, querido… Não se preocupe, apenas tome seu remédio e pare de falar, o médico disse para você descansar”. Ajeitou os travesseiros, detrás dele. Acariciou os cabelos castanhos do marido, rapidamente.

 “Preciso falar… Fiz isso a vida inteira, como não faria agora?”.

 “Agora é o momento em que você deve aprender a ficar em silêncio”. Encarou os olhos castanhos escuros do marido.

 Ele sorriu: “Não tenho muito tempo, você sabe disso…”- Yelan ficou séria, e seus olhos lacrimejaram- “Não faça essa cara, você fica feia assim”.

 “Você está sendo um fraco, pare com toda essa melosidade! Você estará daqui uns dias recuperado e me enchendo com todas as suas besteiras e com as suas estórias bobas que as meninas adoram, mimando Xiaolang e cuidando de Kurogane. Então pare com todo esse drama!!”. Yelan o encarou ferozmente, que a olhava serenamente, ele sorriu e abriu os braços. Por um momento, ela hesitou. Mas não durou muito, o abraçou, e em seus braços chorava copiosamente.

 “Vou estar sempre com você. Estarei cuidado das crianças de onde eu estiver. Você terá que ser forte, meu amor. Temos seis crianças que precisaram de você, e um clã que você governará”.

 “Eu… Eu não sei se consigo, marido”.

 “Eu era um garoto medroso, mimado e sem coragem quando te conheci. Quando meu pai te apresentou, eu me apaixonei perdidamente. Não foi pela sua beleza, pela sua voz ou pelo seu talento com o dizi. Me apaixonei pelos seus olhos que me encararam com raiva e, ao mesmo tempo, com coragem, essa que nunca tive antes de te conhecer. Você me fez forte. Foi você Yelan”.

 “Não vou conseguir sem você...”. Ela saiu de seus braços e acariciou o rosto do marido.

 “Vai sim. Você sabe que vai”. Disse, e depois beijou as mãos de Yelan.

 “As crianças... Eu não...”.

 “Cuide de Kurogane, faça dele um grande homem. Procure manter as meninas sempre por perto. Antes de Xiaolang completar 6 anos de idade, o mande para o Japão, meu irmão cuidará bem dele.”.

 “Você ficou louco marido? Os anciãos ficarão uma fera, você sabe que seu irmão é considerado um traidor!”.

 “Você quer a nossa mesma infância e juventude para ele? Deixe que ele tenha uma vida normal, quando ele estiver maior, ele terá o direito de escolha. Nós não tivemos. Conheci o amor, a bondade, a felicidade apenas aos 22 anos quando casamos. Será que ele terá nossa mesma sorte? Deixe que ele seja livre”.

 “T-tudo bem”.

 “Agora venha cá, venha beijar seu marido moribundo”.

 “Você é tão idiota!”. Riu com o marido que a abraçava e beijava todo o seu rosto.

 Parou de beijar a esposa ao notar a presença de alguém, olhou em direção a porta. Viu a silhueta de um garoto, que os olhava pela fresta da porta entreaberta.

 “Venha cá” - O garoto tímido, branquinho, de cabelos curtos negros, tomou um susto ao ser notado, dando um pulo para trás. Sem jeito, entrou, e andou de cabeça baixa até eles. Parou ao lado da cama. Lang notou os hematomas que ele tinha no rosto, e nas mãos. Yelan acariciou o rosto dele, ficou preocupada. Lang o olhou com carinho e perguntou - “O que foi isso no seu rosto, pequeno Kurogane?”.

 “...” - Kurogane nada disse, apertou as mãozinhas com força. E levantou a cabeça subitamente - “Não é verdade que o senhor vai morrer, não é?!”. Yelan ficou assustada com a pergunta.

 “Quem disse isso a você!?”. Ela perguntou.

 “Uns garotos da escola, eles disseram que o Sr. Li ia morrer!”.

 “É por isso que você está com esses hematomas?” - Lang perguntou, sorrindo. Kurogane nada disse, virou o rosto - “Kurogane, sente-se aqui” - Lang deu leves batidinhas no colchão. Kurogane fitou Yelan que lhe sorriu carinhosamente, e o ajudou a subir na cama. Lang abraçou o pequeno garoto afetuosamente - “Já contei o significado do seu nome?”

 “Não!”. Ficou animado em saber.

 “Significa 'aço negro' em japonês. É o aço mais forte e resistente dentre todos os outros. No Japão, poucos samurais utilizavam Katanas (sabres longos japonês) feitas com esse tipo de aço. Apesar desse aço proporcionar a Katana o melhor corte e peso, poucos sabiam manuseá-las, pois exigia muito treino e paciência”.

 “E-eu saberia manusear uma sr. Li!”.

 “Tenho certeza que sim. Você é um garoto forte Kurogane, como o seu nome, por isso quero lhe pedir uma coisa” - Kurogane o olhou, curioso - “Quero que você me prometa que cuidará sempre da Sra. Li”. Ao ouvir o marido, Yelan levantou-se da cadeira, e foi até a janela ao lado da cama, encarou a lua cheia e todo o seu brilho. Não evitou as lágrimas.

 “S-sim!” - Balançou, positivamente, a cabeça, empolgado, mas desanimou-se ao lembrar dos meninos malvados - “Mas, não é verdade que o senhor vai morrer, não é?”.

 “Pequeno Kurogane, me responda, eu moro aqui?”. Lang apontou com o dedo indicador para o coração do garoto. Kurogane entendeu o que ele quis dizer.

 “S-sim, senhor Li!”.

 “Então não é verdade”. Sorriu.

 Kurogane devolveu o sorriso. Estava muito feliz: O sr. Li viveria para sempre!

.

.

.

.

Continua...

.

.

.

.

Música chinesa, tocada por Yelan e Meilin:

https://www.youtube.com/watch?v=DLyJvbpqVyk (A partir do minuto 3:42, a música fica mais rápida)

Watashi wa anata o aishite:  Também amo você...

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Historia próxima do seu fim... Já estou com saudades! 'o'
Kissu´s! Obrigada por acompanharem! *.*
=***



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Kissu´s" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.