A Sangue Frio escrita por Bia Flor Escritora


Capítulo 7
O Depoimento do Sobrinho


Notas iniciais do capítulo

Mais um capítulo para vocês! Mais uma vez agradeço a todos os comentários!



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Nick Stokes dirigiu-se à sala de visitas a fim de esclarecer as dúvidas que surgiram em relação à luva da senhora Pratts. Ele entrou na elegante sala e encontrou a deslumbrante viúva ainda sentada em seu confortável sofá com suas longas penas cruzadas. Esforçou-se para manter a atenção em seu trabalho.

— Com licença! – ele pediu licença educadamente ao entrar – Preciso lhe fazer algumas perguntas, senhora Pratts.

— Mais perguntas? – ela queixou-se – Quando esse tormento acabará? E quando eu poderei enterrar meu marido em paz e ter um pouco de sossego?

— Estamos trabalhando para que isso aconteça logo, senhora – garantiu Nick, olhando a jovem viúva com piedade – Encontramos um par de luvas no seu quarto, senhora Pratts.

— Que ousadia! – ela protestou indignada – Como puderam entrar em meu quarto e mexer em minhas coisas? Isso é violação à propriedade privada!

— Temos mandado, senhora – assegurou Nick calmamente – Está tudo dentro de nossas atribuições. Toda e qualquer evidência pode ser essencial para a solução desse caso, para que possamos descobrir quem foi o filho da mãe que matou o seu marido.

Nick sabia que havia exagerado. No seu trabalho era de fundamental importância manter a imparcialidade, no entanto em alguns momentos era totalmente impossível. Aquele era um deles. Quando conseguiu acalmar-se prosseguiu:

— O que queremos saber é por que a senhora mantinha suas luvas escondidas?

— Essas luvas eu uso para um momento de distração – ela começou a responder com emoção - Amo jardinagem, porém meu marido nunca aprovou meu interesse em cuidar do nosso jardim. Sempre que posso, vou ao jardim às escondidas e cuido eu mesma de algumas flores e para Richard não descobrir, escondi as luvas. Não sei, estar em contato com a natureza me traz paz. Isso mantém minha mente ocupada, principalmente depois de uma briga com meu marido – explicou a viúva.

Nick não estava totalmente satisfeito com aquela informação, no entanto aquela era uma resposta plausível. Bem, se era verdade ou não, logo iriam descobrir. Deixou a viúva entregue aos seus pensamentos e lembranças.

–o-

A tenente Joanna Reece se encontrava parada imponentemente na sala de estar observando a hábil execução de seus afazeres por parte dos empregados da luxuosa mansão de Richard Pratts. O rei estava morto, no entanto a vida deveria seguir seu curso, e os empregados deveriam cumprir suas obrigações. Perguntou-se intimamente quantos segredos aquelas colossais paredes escondiam e o que elas lhe contariam se pudessem falar. Em uma casa como aquela, certamente as paredes tinham ouvidos e muito bem atentos!

Uma senhora de corpo avantajado, de olhar austero, na casa dos sessenta anos, cabelos grisalhos amarrados em um coque, trajando um sóbrio uniforme cinza composto por uma saia abaixo dos joelhos, uma camisa branca, um terninho de manga longa, meia calça da cor da pele, e sapatos pretos, que marcava suas formas volumosas, orientava através de um olhar severo o trabalho da criadagem.

— Quero tudo muito limpo e organizado – ordenou a mulher para uma jovem e inexperiente arrumadeira – A senhora Pratts deseja que tudo esteja em ordem para quando as investigações forem concluídas e ela puder fazer o velório do marido. Nada de corpo mole! Mesmo em luto, as tarefas domésticas não cessam.

Joanna aproximou-se da mulher.

— Com licença, senhora! – ela pediu educadamente – a senhora poderia me responder algumas perguntas? - Ninguém melhor para conhecer a rotina de uma casa do que uma governanta.

A mulher idosa fez que estava muito ocupada, afastou-se rapidamente da linha de direção da tenente. Não estava disposta a responder pergunta alguma. Estava farta disso!

— Sinto muito, não posso! Estou bastante ocupada orientando os serviçais no trabalho – Ela desculpou-se – Não se fazem mais empregados como antigamente – lamentou.

— Eu sei que a senhora está muito ocupada, senhora... – ela parou no meio da frase para que a governanta pudesse dizer como se chamava.

— White. Mary White – respondeu a governanta com voz firme.

— Eu sei que a senhora está bastante ocupada, senhora White – retomou Reece – Isso é perceptível. Bem se vê pela organização, o zelo e a limpeza dessa casa enorme. Isso dispensa bastante tempo. Não tomarei muito de seu precioso tempo, apenas gostaria de fazer algumas perguntas sobre o relacionamento do senhor e da senhora Pratts e sua família porque tenho certeza de que a senhora pode me ajudar. Apelar para a ajuda sempre dá certo.

Joanna sabia como lidar com pessoas como Mary White. Sabia que para conseguir o que queria bastava elogiar-lhe, amaciar-lhe o ego e era exatamente isso o que estava fazendo.

— A senhora trabalha aqui há muito tempo? – indagou a tenente.

— Sirvo nesta casa há mais de trinta anos – ela respondeu cheia de orgulho.

— Como a senhora descreveria o relacionamento do senhor Pratts com a esposa?

— Os dois eram muito apaixonados. Mesmo que vivessem brigando, o senhor Pratts daria a vida pela senhora Vívian e ela por ele.

— Me desculpe a pergunta inconveniente, mas tenho que fazê-la.

A senhora White assentiu, concordando que ela prosseguisse com a pergunta.

— Eles eram fiéis um ao outro?

— Totalmente fiéis. O patrão não tinha olhos para mais ninguém. Ele ficou despedaçado quando a primeira esposa, o grande amor da vida dele, morreu. Quando ele conheceu a senhora Vívian, vi meu patrão tornar a sorrir, coisa que há muito tempo ele não fazia. Além do mais no contrato pré-nupcial deles havia uma cláusula que dizia que se a senhora Vívian tivesse um amante que fosse ela perderia o direito à fortuna. Ela não se arriscaria a por tudo a perder...

— E quanto ao sobrinho e ao primo? Como era a relação deles com o senhor Pratts? – indagou Joanna que com essa pergunta alcançava seu principal objetivo.

— Alex era o favorito do patrão. Ele o amava como a um filho. Já de Paul não posso dizer o mesmo. Meu patrão e ele sempre viviam brigando por causa do vício do senhor Paul em jogos de azar. O senhor Pratts disse uma vez que o senhor Paul o levaria à falência ou o acabaria matando.

Joanna arqueou as sobrancelhas. Mary teria consciência do que acabara de dizer?

— Onde eles estão agora? – questionou Joanna com evidente interesse.

— Os dois estão em seus quartos. Eles ainda não desceram.

— Muito obrigada senhora White – Joanna agradeceu sinceramente – A senhora foi de muita ajuda.

Antes de dar por encerrada a conversa, perguntou mais uma vez à senhora Mary White educadamente :

— A senhora poderia me indicar como chego ao quarto de Alex Pratts, por favor?

E explicou à tenente Reece como chegar ao quarto do sobrinho de Richard Pratts.

–o-

Joanna parou diante da porta do quarto de Alex Pratts que era em frente ao de Richard Pratts. Bateu na porta e esperou cerca de cinco minutos até ela fosse aberta por um homem jovem, alto, na casa dos trinta anos, cabelos castanhos e porte atlético. Ele estava sem camisa, trajava apenas uma calça de brim de cor cáqui. Os cabelos ainda estavam molhados, por isso ele trazia uma toalha em suas mãos, com a qual enxugava seus cabelos sedosos.

Joanna não conseguiu desviar o olhar do imenso tórax musculoso. Levantou o olhar para o rosto de Alex. Seu rosto parecia o de um anjo. As feições eram suaves e másculas ao mesmo tempo. Ele era o que se chamava de um belo homem.

— Alex Pratts? – ela perguntou quando se recompôs do estudo do lindo espécime masculino.

— Sou eu – ele respondeu com uma bela e firme voz de barítono – Me desculpe por recebê-la dessa forma, não esperava visitas, senhora... – desculpou-se, ao mesmo tempo em que insistia que Joanna dissesse seu nome a mesma forma como ela fizera com Mary.

— Tenente Joanna Reece – ela respondeu mostrando seu distintivo – Estou colaborando na investigação da morte do seu tio. Posso entrar e fazer-lhe algumas perguntas?

— É claro! – ele assentiu e abriu espaço para que ela pudesse entrar. Ao entrar Joanna percebeu o quanto Alex era alto.

O dormitório, que mais parecia uma casa, assemelhava-se ao do tio, com a diferença de ser um pouquinho menor. Era muito luxuoso. Tratava-se de uma suíte masculina decorada com muito bom gosto e sofisticação. Quem entrasse naquele ambiente, logo podia ver uma enorme cama de dossel centralizada encostada na parede, em cada lado da cama havia uma mesinha de cabeceira. Na da direita havia um abajur. Em frente à cama ficava um enorme guarda roupa e à direita uma enorme janela que estava fechada devido ao frio da estação.

Alex apanhou uma camisa em seu guarda roupas e a vestiu.

— Posso começar as perguntas, senhor Pratts?

— Sim, claro! – ele concordou – Não consigo acreditar que meu tio esteja morto! – ele bradou inconformado – Ele era um bom homem. Devo muito a ele. Criou-me como a um filho. A pessoa que fez essa monstruosidade deve pagar muito caro!

— Tenha certeza de que ele pagará – Ela afirmou com absoluta certeza – A propósito, o senhor tinha algum motivo para querer vê-lo morto? – ela perguntou sem rodeios.

— É claro que não! – vociferou o sobrinho indignado.

— Mas você era um dos beneficiários do testamento do seu tio. Talvez tenha querido abreviar um pouco o tempo de espera...

— Espera! O que está querendo insinuar? Isso é um absurdo! Um grande disparate! Pensar que eu...

— Não estou insinuando senhor Pratts, estou afirmando que o senhor tinha motivos para matar o seu tio como qualquer outro desta casa – interrompeu-o a tenente.

O olhar aguçado e treinado da tenente Joanna Reece foi atraído para o elegante guarda roupas feito em madeira de lei brasileira. A porta de onde Alex havia tirado a camisa estava entreaberta e de onde estava, Joanna pôde ver o reflexo do sol brilhando no que ela sabia se tratar de um cristal. Aproximou-se e abriu completamente a porta do móvel. Meio escondidas entre as roupas estavam três taças sujas de vinho tinto.

Alex observou o olhar inquiridor da tenente e pareceu adivinhar a pergunta que lhe formava nos lábios:

— Eu posso explicar isso! – declarou o sobrinho em desespero.

— Eu tenho certeza de que o senhor será capaz de explicar – ela garantiu.


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Notas finais do capítulo

Então? Continuem dizendo o que vocês acham? Quem vocês acham que é o assassino? Ainda temos mais dois depoimentos...
Nos vemos no próximo capítulo!
Bjuss da Bia!



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