Perseguida Pelo Inferno escrita por Fada Dos Tomates


Capítulo 5
Águia


Notas iniciais do capítulo

E aí gente? Como vão? Tenho mais um cap desvendando segredos pra vocês.



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–Nee-chan! – Jun me sacode desesperadamente – Nee-chan acorde!

–Estou acordada... – me sento e olho em volta – Que aconteceu?

Estou no hospital ainda, mas o doutor/Fukosei está inconsciente e sangrando no chão por algum motivo.

–Eu não sei! – Jun está apavorado – Depois que desmaiei sonhei com um lugar assustador, com pessoas mortas, desmembradas, em pele viva... Sangue, bichos nojentos...

–Se acalme – peço – Temos de manter a calma. Vamos pensar: no meu sonho também estava num lugar assustador, Fukosei estava lá, o doutor. E um anjo lutou com ele, então meu corpo começou a se mexer sozinho e atacar Fukosei...

–Quê? Doutor injustiça*? Anjo? Luta? – Jun está confuso.

–Foi isso que aconteceu – afirmo – E o médico ali...

Vou até ele lenta e cuidadosamente, vejo se ele está vivo. Sem respiração, mas com pulso.

–Não sei se ele morreu.

–E agora? – pergunta Jun.

–Vamos fugir. – decido – Pra que ninguém mais se machuque, lutaremos com Yomi.

Jun aceita.

Coloco uma roupa descente e ele não olha, se olhasse eu teria o deixado com um olho roxo.

–Mas como iremos descer? – ele indaga depois.

–Vamos... – penso -... Pular.

–Está loca? Isso é insano!

Sem ligar para seu comentário me impulsiono pra janela e Jun arregala os olhos. Mas não há como eu voltar atrás, o vento faz meus cabelos levantarem e meu coração dispara, ele fica tão rápido que perco o fôlego. Sou uma suicida, não? Que tipo de pessoa faz uma coisa dessas? Jun grita, mas não ouço de tão apavorada que estou. Não olho pra baixo, espero a queda. Seria incrível morrer, não? Deixar toda essa loucura para trás e quem sabe voltar a ver minha mãe e Yorokobi. Nunca pensei que a morte fosse tão assustadora e acolhedora ao mesmo tempo.

Então braços fortes e firmes me seguram. Abro os olhos e vejo um garoto pálido de olhos e cabelos cinzentos, e também percebo penas em suas costas, asas. Fico boquiaberta.

–Akari... – murmura ele com um olhar triste.

–Eh... – fico sem palavras nos braços do anjo de meu sonho. Ele é real?

–Onee-chan! – grita Jun – Onee... Isso… o que…

–Anjo você é real? – pergunto baixinho.

–Sim, claro. – afirma – Ah. Você não lembra – ele me coloca de pé no chão.

–Nee, o que está havendo aqui? – indaga Jun pasmado – Eu... Esse...Você...

–Jun – olho para o anjo esperando sei lá o que.

–Quer que eu o traga aqui?

–Sim, por favor – peço constrangida. Por que ele me deixa assim? E como assim? Ele é um anjo? Anjos existem?

O anjo voa até Jun, que tenta se afastar no parapeito da janela com receio. Ah, que idiota!

–O que você quer? O que é você? É mais um sonho tentando me matar?

–Fique calmo, se continuar se mexendo cairá – avisa o anjo calmamente.

Jun continua tentando fugir dele e escorrega, cai meio gritando, mas o anjo o segura e o traz pra terra firme em segurança. Jun fica em minha frente em posição de defesa. Como se eu precisasse... Posso muito bem me defender sozinha se precisar.

–Quem é você? E o que quer com a gente? Se tocar em Higure-chan vou...

–“Higure”? – o anjo fica confuso – Esse é seu nome aqui, Akari?

Franzo a testa e Jun faz mais perguntas:

–Quem é Akari? Por acaso está falando de Higure?

–Ela é Akari, mas não se lembra... Akari... Minha querida – parece que o anjo quer chorar.

–Q-quem é v-você? – gaguejo – Um anjo? Anjos existem?

–Sim existem. Sou Washi – responde ele – Mas não sou mais um anjo há muito tempo.

–Você era um anjo e não é mais? Então como tem asas? – Jun questiona desconfiado – E por que não é mais um anjo? Fez algo errado? Então é um demônio*?

–Entendo que queiram obter respostas, mas aqui não é o lugar certo – lembra Washi.

Concordamos e Washi pede pra o seguirmos. Jun vai com muita desconfiança. Washi nos leva até um circo. Estranho que ninguém o vê.

–Sério? – zomba Jun – Quer nos divertir um pouco? Ou é uma aberração de circo?

–Pare com isso Jun! – dou um tapa em seu ombro – Se não fosse por ele eu teria morrido, Washi me salvou duas vezes.

–Tá, já entendi. Mas o que viemos fazer no circo? – pode ser só impressão, mas pra mim Jun está com ciúmes de Washi.

–Sigam-me – Washi entra na casa dos espelhos.

Também entramos lá, e ele entra num espelho. O atravessa como se nem houvesse nada lá.

–Como é que... – Jun nem termina de falar e eu atravesso o espelho também.

Me vem uma sensação de tontura e percebo que não estou mais na casa dos espelhos, me encontro num quarto pouco iluminado com uma cama, um roupeiro pequeno, uma escrivaninha com alguns papéis rabiscados e uma cadeira. O quarto é desorganizado e precário, suas paredes são mal-pintadas e tem rachaduras.

–É aqui que você vive?! – apavora-se Jun – Você não é um anjo mesmo. Achei que fosse nos levar pra o céu...

–Já disse que deixei de ser um anjo há muito tempo – Washi não está feliz – E não existe um céu. Sentem-se.

Nos sentamos em sua cama, ele pega a cadeira, coloca em nossa frente e senta nela.

–Bem... – ele começa a falar – Creio que queiram saber por que Yomi está querendo matá-los.

–Sim – concorda Jun – O que fizemos a ela? O que ela quer?

–De você eu não sei, mas sei por que Akari é seu alvo – diz Washi.

–O nome dela é Higure – corrige Jun – Hi-gu-re. De onde você tirou essa de “Akari”?

–Continuando: você é filha de Amaterasu – Washi se dirige a mim ignorando Jun.

–Eu? – pergunto incrédula – Como? Isso é impossível! Não pode...

Amaterasu, a deusa do sol. Que loucura! Se eu fosse filha de uma deusa seria bem mais bonita, teria poderes ou sei lá. Não tem como isso ser verdade. Meus pais são Kogarashi Yui e Tetsuo. Sou apenas uma humana triste e com uma séria crise existencial, sou eu, apenas isso. E deuses sequer deveriam existir.

–Esse anjo está louco! Até chama você de Akari, deve ter se confundido – debocha Jun – Amaterasu nem existe.

–Mas é verdade – Washi tenta nos convencer – Por culpa minha Akari virou uma mera humana e recomeçou sua vida a partir do zero, mas seus poderes ainda estão aí dentro. Yomi sempre sentiu inveja de Amaterasu e agora que colocar Akari no mundo dos mortos, pois acha que o certo era ela ter morrido devidamente e não reiniciado.

–Mas então por que eu também sou perseguido por Yomi? – indaga Jun inconformado. Ele está certo. Por quê?

–Isso eu não sei. Não entendo sua ligação com Akari.

–Por esse motivo que tudo que disse é uma loucura, não há sentido nisso! – Jun se altera.

Depois de tudo o que aconteceu: pesadelos mortais, anjos, demônios, deuses reais... Será mesmo verdade? E se for? Preciso acabar com as mortes, as mensagens e os pesadelos. Preciso sobreviver.

–Talvez haja sentido nisso – falo e Jun me olha boquiaberto – Um pouco talvez. Se for isso pode ser que eu consiga ajuda de...Amaterasu...sei lá, não podemos ser mais descrentes. Agora tudo é possível, certo?

–Está de acordo com o que esse anjo disse? Ele não é mais um anjo, sabe-se lá porque, e além do mais se o que ele falou for verdade, ele mesmo fez Yomi se virar contra você. Porque foi ele quem fez você se tornar humana e reiniciar – Jun culpa Washi – Ele é o culpado de tudo! Nossas famílias, nossos amigos, morreram por causa dele!

–Cale a boca! – ordeno impulsivamente – Pare de ser um garotinho covarde! De qualquer forma temos que fazer alguma coisa para que Yomi pare. Se você não quer lutar volte pra suas fãs e veja todos os que ama morrendo aos poucos!

–Eu sei, mas...

Nesse momento o espelho do quarto de Washi se quebra assustando a todos. Depois disso em frente ao que antes era o espelho aparece uma silhueta familiar, é a assombração de olhos vermelhos, ou seja, Yomi. Ela não parece nada feliz e fica ainda mais assustadora com raiva, seu olhos vermelhos ardem em ódio, seus lábios comprimidos são um sinal de desgosto. Ela irradia poder e trevas, chego a me arrepiar, sinto a força da morte. Yomi me olha e paraliso. Um monstro queimando minha alma por dentro. O desespero em pessoa.

–Sua... – começa a dizer e de repente está em minha frente – ...filha da mãe.

Engulo em seco, fico com medo, sei que ela pode me matar com um só toque e realmente não quero morrer, não nas mãos dela.

–Deixe-a em paz! – grita Jun de repente corajoso (ou louco, talvez).

–Oh, protegendo a garotinha indefesa! – exclama Yomi com voz jocosa.

Então ela segura meu pescoço com força, cerro os dentes pra evitar gritar de medo.

O que posso fazer contra ela?

–Você não deveria estar viva – ela passa a mão desocupada por meus cabelos – Logo irá apodrecer no Inferno.

Washi segura o braço dela e ordena:

–Solte-a.

–E se eu não quiser? – Yomi sorri em desafio – O que um rejeitado poderá fazer?

–Cale essa boca de cobra! – Washi tenta dar-lhe um soco, mas Yomi se teletransporta pra o lado de Jun antes de receber o golpe.

–E você? – ela caminha em volta dele – Até que é bonitinho, vamos nos divertir um pouco juntos depois que você morrer.

Yomi lambe os lábios e eu sinto nojo dela, cerro os punhos com força, quero bater nela. Como ela pode ser tão repulsiva?

–Não vou deixar você fazer nada comigo e nem com Higure-chan! – diz Jun com raiva.

–Sou uma deusa, você não pode desobedecer minhas ordens, é um simples mortal. E além do mais minha beleza é arrebatadora demais pra qualquer homem resistir, e olha que você não viu nem a metade. – Yomi fala isso no ouvido de Jun, passando a mão nele – Você quer ver?

Jun está chocado e ofegante, estou queimando de ódio. Quero dar uma surra nela. Quem ela pensa que é?

–O que acha de... – Yomi segura o pulso de Jun e o coloca em seus seios – ...tocar?

Ele geme apavorado, acho que tenta afastar a mão, mas Yomi o faz passar a mão r seu corpo. Não suporto ver isso. Corro impulsivamente e dou um soco nas costas de Yomi, ela nem se mexe. Dá uma risada e pergunta:

–Você acha que pode contra mim? Que idiota!

Tudo à nossa volta desmorona e estamos num grande salão de um castelo, com o chão xadrez, um lustre de cristais enorme no teto e janelas de mais ou menos 5 metros de altura. Yomi tem uma gadanha na mão.

–Já que a princesa acha que é forte o suficiente pra me vencer, vamos lutar. – decide.


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Notas finais do capítulo

Washi: águia. Jun diz "doutor injustiça" porque Fukosei significa injustiça.
E Yomi quer briga. Será que Higure vai conseguir lutar? Ou vai fugir como sempre?