Perseguida Pelo Inferno escrita por Fada Dos Tomates


Capítulo 4
Dark Paradise


Notas iniciais do capítulo

Eu não postaria nos finais de semana, mas esse cap é exceção, ele ficou grande e demorei pra escrever. Mas só pra que saibam: não posto nos finais de semana.



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Conto tudo para Jun, ele não ri do meu receio, não debocha nem zomba de minha preocupação. Ouve tudo atentamente e fica pasmado, mas não parece me achar louca, parece estar com medo também.

–Isso também está acontecendo com você – comenta ele.

Fico boquiaberta, ele não pode estar falando sério. Será que está brincando comigo? Ou fazendo isso só pra me deixar melhor? Ele quer dizer que também teve pesadelos assim? Que pessoas morreram? Não tenho palavras, minha mente é uma confusão de perguntas sem resposta.

–Eu sei pelo que você está passando – Jun parece estar falando a verdade, mas não acredito afinal ele é um ator. Pode muito bem mentir de forma bem convincente só pra tirar vantagem – Talvez se nos ajudarmos...

–Cale-se! – falo por impulso – Não tente brincar comigo! Devo admitir que é um bom ator, mas não me engana!

–Estou falando sério Higure-chan! – insiste – Perdi todos que amava por causa desses pesadelos e mensagens de uma tal de “Kami Yomi”! Isso é uma maldição! Desse jeito vamos todos morrer! Primeiro minha avó, depois meu pai, minha mãe, minha irmã, meus amigos, até a garota de quem eu gostava se foi! Então me vêem como um amaldiçoado! Não quero que isso aconteça com você também! Acredite!

–Você não tem o direito de me enganar desse jeito! – grito alterada – Está mentindo, sei que está!

–Você não acredita onee-chan? – Jun começa a chorar pra me convencer provavelmente – Quero ajudá-la. Precisamos trabalhar juntos.

Não sei ele está mentindo. O que eu faço? Por que ele estaria brincando comigo assim? Mas não posso acreditar assim tão facilmente sem uma prova.

–Jun, isso é impossível de acontecer com duas pessoas assim dessa forma, mas... Eu não sei o que fazer. Promete que isso não é só pra me confortar? Ou me conquistar? Ou sei lá?

–Juro pela minha vida e se eu enganá-la, irei me matar – promete ele.

–Não diga bobagens! Está pensando que isso é brincadeira? Se isso acontece mesmo com você, tem a possibilidade de morrer nos sonhos! Nós dois corremos o risco de morrer! Eu não saberia o que fazer se você morresse...

–Significo tanto assim pra você nee-chan? – ele parece surpreso e feliz.

Viro o rosto, envergonhada, talvez eu tivesse exagerado. Falei sem pensar. O deu em mim?

–Vamos nos preocupar com nossas vidas – mudo de assunto – Ah, por acaso já viu uma assombração negra...

–De olhos vermelhos e brilhantes? Sim – afirma ele – Sempre que alguém morre. Acha que é a tal de Yomi?

Faz sentido se for.

–Mas por que essa Kami Yomi estaria atrás da gente? Logo eu! Maldição! – praguejo.

–Talvez seja mesmo uma maldição. – Jun suspira – Será que não temos nada em comum? Algo diferente? Algo que ela possa querer ou sei lá?

–O que poderia ser?

–Pode ser que tenhamos uma ligação de algum tipo. Eu sou adotado e você? – conta Jun.

– Que eu saiba não, ninguém nunca disse que fui adotada.

Aí me lembro do pesadelo do espírito de fogo, meus pais haviam dito que fui abandonada. Ah, não pode ser...

–O que foi? – pergunta Jun.

–No sonho meus pais dizem que fui abandonada – conto.

–Então... Temos mesmo alguma ligação, também fui abandonado. Quando eu tinha dois anos.

–Mas não entendo. O que isso tem haver? Como algo assim pode nos ajudar? – indago. Não faz sentido.

–Vamos descobrir por que Yomi nos persegue e como nos livrar disso – decide Jun.

–Acredita mesmo que é uma deusa? Yomi, ainda por cima, o Inferno* – digo incrédula, mas no fundo acredito.

–Uma pessoa normal não teria como entrar em nossos sonhos. E tem a assombração...

–Eu sei. O que vamos fazer agora? Esperar que mais alguém morra pra ver a mulher fantasma?

–Eu estava pensando em ligar para o nº de Yomi, está aqui no celular.

É verdade. Como não pensei nisso antes? Mas se ele já tinha passado por isso por que não ligou pra ela antes? Isso é suspeito.

–Jun, se Yomi lhe mandava mensagens por que não ligou pra ela antes? - resolvo perguntar desconfiada.

–Nunca apareceu o número, só a mensagem e o nome de quem enviou – explica – Não acredita em mim?

Ele pega seu celular do bolso de sua calça e mostra uma mensagem.

–Vê? O número não aparece, só o nome.

–É verdade. – pego o celular na mão pra analisar melhor: “Mais uma alma comerá de minha comida essa noite” – Quando você recebeu isso? Hoje...

Ele tira o celular de minha mão apreensivo. O que será que ela queria dizer? Que estranho.

–Não sei quem morrerá dessa vez, mas não quero ver mais ninguém morrer em minha frente – Jun cerra os punhos – Não aguento isso! E ainda tenho de ser um astro, fingir que estou feliz, mas não estou! Não quero que você sofra como eu, só que estou impotente! Não sei o que fazer...

–Nem tanto – discordo e pego meu celular, decidida – Vamos ligar pra Yomi agora.

Sem nem pensar duas vezes telefono para o número, Jun fica perto de mim para ouvir a pessoa que atender. Agora é a hora da verdade. Ficamos uns minutos esperando até que ouço um suspiro e pergunto:

–Yomi? É você?

Uma risada ecoa como se estivesse distante e então alguém diz:

–Vocês não podem escapar... – a voz gela todo o meu corpo, eu já havia escutado isso antes, não nos sonhos e sim na vida real. Só não lembro onde – Koroshi, koware, shindeyuku, tatakau (matar, quebrar, morrer, lutar). Kore wa suteki desu ka! Watashi wa matte.

Até a parte que ela diz: “Isso é maravilhoso!” parece estar brincando, mas quando avisa “Me esperem” sua voz parece maléfica e me deixa sem fôlego é como o sussurro da morte. E a ligação cai. Eu e jun nos olhamos assustados e eu acabo soltando um gemido, começo a chorar apavorada. Isso só pode ser mais um pesadelo!

–Isso foi real? Não é um sonho? Um pesadelo? Por favor, diga que é um pesadelo! – peço.

–Clama nee-chan, temos que nos acalmar – Jun coloca as mãos em meu s ombro, mas me afasto.

–Não me diga pra ter calma! – coloca as mãos na cabeça – Nós vamos morrer!

–Não vamos não! – Jun levanta meu rosto pra eu olhá-lo, ele também está com medo, mas há uma coragem e esperança em seus olhos que me fascina – Vamos viver!

–Como? Que chance temos contra uma deusa? Se é que ela é uma, mesmo se não for, não temos nada, vamos...

Alguém entra no quarto, um médico. Ele nos olha e faz uma careta.

–Kogarashi-san ainda não está recuperada do choque de perder a mãe, suponho – diz ele – Pode ter calma?

Jun se afasta e fala:

–Não é isso que está pensando! Eu não ia fazer nada! Sério, eu...

Fico tonta. Aquele doutor pensou... Meu rosto fica quente, mas parece ridículo a ideia de eu e Jun juntos.

–Você está bem? – indaga o médico a mim, ele coloca a mão em minha testa – Teve muita sorte de escapar sem ferimentos.

–É, mas minha mãe...

–Não temos culpa da decisão de Yomi.

Arregalo os olhos, hoje em dia médicos raramente acreditam nos deuses e ele mencionou o nome de Yomi, que deveria ser o Inferno e não uma deusa.

Tudo fica tenso de repente, o doutor não está sorrindo, mas há nele um ar de diversão e desconfio. Sua sobrancelha está erguida e seus olhos brilham, fico apreensiva, algo não está certo. Por que estou com medo?

–Acho... – Jun começa -... Que Higure está bem, já pode ir embora, não é?

O médico olha pra ele de forma estranha e Jun faz uma expressão de surpresa, estupefação e pavor. Sinto o clima negro. Por instinto tento ir até o doutor o mais rápido possível, mas antes disso Jun cai no chão inconsciente e o médico sorri com uma mão na minha cabeça. E desmaio na cama sem entender nada.

Quando abro os olhos estou no meio do nada, está um vendaval horrível e tudo à minha volta é branco. O solo parece rachado, pois há milhares de linhas irregulares nele e parece que há uma névoa esbranquiçada tornando minha visão embaçada. Meus cabelos flutuam por causa do vento e me pergunto onde estou. Jun é que é precaução.

–Jun?! – grito, mas minha voz morre naquele vento – Jun!

Começo a caminhar preocupada, mas não enxergo nada além do branco. Corro com o coração acelerado, só pode ser mais um sonho, só que dessa vez Jun pode estar aqui. Não quero que ele morra.

Então vejo um ponto preto flutuando, vindo em minha direção. Franzo a testa pensando o que é aquilo. A coisa vai se aproximando e vejo que é um homem flutuando no ar. Ele tem uma aparência demoníaca, olhos pretos e brilhantes, chifres negros e dentes como de vampiro. Ele vem a mim tão rápido que me arrepio e percebo que é o doutor.

–Pronta pra lutar querida? – ele sorri maliciosamente – Dark Paradise.

O cenário antes branco se torna negro, estamos em uma caverna escura onde só o que ilumina são pedras roxas brilhantes que decoram o lugar. Há ossos no chão e celas à nossa volta, nelas se encontram pessoas enrugadas e apodrecidas, com a pele sem cor e bichos nojentos caminhando em seu corpo, alguns nem tem olhos ou estão quase um esqueleto. Eles gemem nas celas segurando as barras como se quisessem fugir, me apavoro com essas cenas. Há também um lago negro nos separando dos zumbis, nele estão zumbis também, tentando subir à superfície e sendo impedidos por algo.

Quase vomito de repulsa, é a coisa mais horrível que já vi na minha vida.

Afasto-me dessas coisas com medo, não creio que isso está acontecendo de novo e ainda por cima não tenho meus fones.

–Onde estou? – pergunto baixinho.

–Na minha casa, um dos locais onde minha mãe guarda almas – responde o “doutor”.

–Quem é você? E o que está havendo? O que Yomi quer de mim? – questiono apavorada.

–Meu nome é Fukosei, e não vou perder fôlego respondendo suas perguntas tolas.

–Mas não entendo nada! Por que isso? O que tenho que fazer?

–Se quer um conselho: lute. – avisa.

Começo a correr com o medo tomando conta de minha mente em confusão, mas Fukosei é muito rápido. Ele quase me joga no lago cheio de zumbis, felizmente consigo me equilibrar por pouco, estou apavorada de novo.

–Você não pode fugir – diz ele.

Sinto vontade de chorar, gritar, voltar aos meus dias normais com Yorokobi. Por que isso está acontecendo?

–Oh, coitadinha – debocha Fukosei com voz jocosa – Ele não sabe lutar? É uma bebezinha?

Ele tem uma lâmina grossa e pesada nas mãos com o símbolo de uma caveira com sangue saindo dos buracos dos olhos. Escapo por um fio do ataque que ele tenta, corro, mas algo segura minhas pernas, depois meus braços.

Minhas emoções entram em colapso, estão embaraçadas pelo desespero. Isso não é real, não é? Então por que estou com tanto medo?

–Você é tão patética!

O que me segura me derruba.

Bato com o rosto no chão nojento da caverna, lá passam ratos, vermes, baratas. Todo tipo de nojeira repulsiva.

De repente algo entra em minhas costas como uma agulha gigante. Sinto uma dor inexplicável e grito de forma tenebrosa. Fukosei retira a lâmina de minhas costas e enfia novamente, mais fundo, sangue sai pela minha boca sem parar, mesmo que eu grite desumanamente sei que ele não irá parar de apunhalar-me.

Dor, sangue, lágrimas...

Só quero que aquilo pare, pois parece... Sei lá o que parece, arde, lateja, espreme, finca, suga, tudo ao mesmo tempo. É como se tocassem meus órgãos e os esmagassem. E não consigo para de gritar.

Então algo inesperado acontece: Fukosei é atirado para o lado e alguém tira a lâmina de dentro de mim. É um anjo...um anjo cinzento que ataca Fukosei. Eles começam a lutar. Os dois são rápidos e incríveis como um vilão e um herói. O anjo quase consegue acertá-lo algumas vezes, e eles começam a voar.

Fukosei leva um golpe no rosto e não tem tempo de impedir de ser jogado nas paredes das cavernas, os zumbis seguram seus pés, mas ele os chuta e se levanta. Voa rapidamente até o anjo e o empurra para as paredes.

–O que está fazendo aqui? – Fukosei pergunta com desprezo – Seu anjo fracassado!

Parece que o anjo se irrita e acerta o braço de Fukosei, que vai pra trás. Ossos do chão começam a flutuar e acertam o anjo, mas ele se defende com um campo de proteção. Tenta mais uma vez golpeá-lo com sua espada, mas Fukosei desvia e chuta suas costas, penas de suas asas flutuam. Ele se vira desferindo um golpe no ombro de Fukosei. O demônio se afasta um pouco e atira mais ossos no anjo que se protege com suas asas cinzentas e depois atira penas pontiagudas. Suas asas parecem fortes e poderosas.

Fukosei joga as penas longe e parte pra cima do anjo, o atira no chão levantando poeira. Dá socos nele até tudo se inverter, o anjo fica em cima dele dando socos. Fukosei consegue fazer com que os zumbis da água puxem o anjo e ele é forçado a sair de cima de Fukosei. O anjo fica caído no chão tentando se libertar dos zumbis, Fukosei aproveita pra atacá-lo.

–Vou cortar suas estúpidas asas! – ameaça e desfere um golpe nelas.

Penas flutuam e o anjo grunhe, há sangue, sei que há. Quero ajudá-lo, mas não consigo fazer nada além de gemer e assisti-los atirada no chão. Minha vida está sendo sugada pouco a pouco e dói tanto que não consigo pensar.

–A... – começa o anjo - ...ka...ri...

Ele me olha. Meu coração aperta o vendo apanhar, o sangue espirrando em Fukosei que dá gargalhadas. Meus olhos se enchem com mais lágrimas, quero ajudá-lo.

–E agora? – indaga Fukosei – Onde está aquele anjo corajoso?Você não passa de um fracassado!

Quero tanto ajudar o anjo, só que meu corpo não permite. Não quero morrer! Quero ser útil pelo menos uma vez na vida! Se o anjo morrer por culpa minha...Não!

Do nada começo a flutuar e percebo que há um circulo brilhante debaixo de mim com uns símbolos que desconheço, vejo o grande símbolo do meio que é uma chama igual a minha marca de nascença. Aquela luz me envolve e deixo de sentir aquela dor da morte, sinto-me bem. Há um grande poder correndo por minhas veias e não consigo evitar que meu corpo se mexa sozinho.

Num piscar de olhos apareço na frente de Fukosei e o ataco tão rápido que nem tenho tempo de sentir a espada em minhas mãos. Ele é atirado pra trás e parto pra cima, mas dessa vez ele consegue se defender com sua lâmina. Só que eu não dou moleza, desfiro mais golpes, rápidos como se estivesse na velocidade da luz. Chego a sentir meus braços doerem por causa da rapidez, acerto-o várias vezes, na perna, no peito, no rosto. Então ele escapa.

Sai voando, fugindo. Vou atrás dele como um foguete e lutamos, rápido e mais rápido. Meu corpo se mexe sozinho, pois eu não conseguiria me mover assim.

De repente as paredes explodem junto com um grito familiar:

–NEE-CHAN!

Tudo fica branco, vejo o anjo em minha frente, ele estende a mão e a seguro. Caímos no nada, sem desviar o olhar um do outro.Ele me puxa pra si e me envolve com suas asas.

–Desculpe Akari – diz ele.

Não entendo nada, mas não o afasto. Fico paralisada até que as coisas fiquem embaçadas e sumam num mundo paralelo.


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Notas finais do capítulo

Quem será o anjo? E por que ele a chamou de Akari? As repostas estão no próximo capítulo.