Elementary, my loved Joan escrita por Dani Tsubasa


Capítulo 3
Capítulo 3 - Acolhimento




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/617162/chapter/3

Capítulo 3 – Acolhimento

Gregson pediu espaço para chegar até à consultora ferida, abaixando-se ao lado de Sherlock e olhou apreensivo a situação por um instante.

– Mas o que foi isso?! – Sherlock perguntou nervoso.

– O sujeito trocou tiros com a gente – Bell esclareceu – Sacou uma arma do nada. Sabíamos que vocês estavam aqui, por isso os poucos tiros que demos foram para as laterais, alguns dos tiros do malandro ricochetearam no escudo de proteção de um dos nossos, foi quando avançamos com tudo e o derrubamos.

– Isso não interessa! Tragam logo ajuda!!

– Você está nervoso! Me escute! – Gregson pediu percebendo que seu consultor e amigo quase chorava – A ajuda está a caminho! Logo chegarão. Não se deve mover vítimas de tiroteio sem uma avaliação. Fique parado aí com ela até que cheguem.

O capitão se levantou e seguiu Bell para fora do beco. Kitty não sabia o que fazer, tocou um dos ombros de Sherlock tentado ao menos acalmá-lo, o que provavelmente não funcionaria, mas nunca o vira tão alterado. Foi então que percebeu a real profundidade do que Joan representava para ele, era ainda maior do que ela pensava.

– Pode ter sido um tiro só de raspão, está sangrando muito, mas não o suficiente pra um dano grave – ela falou.

– Precisamos estancar isso!

Com todo o cuidado de que era capaz a soltou e removeu o colete por cima de sua camisa, voltando a apoiar a chinesa com um dos braços.

– Kitty, me ajude. No momento é totalmente irrelevante que tenha medo de sangue.

– Não tenho problemas com isso.

A jovem analisou o local ferido por um segundo, a mancha de sangue aumentava. Afastou o tecido do casaco e pode ver o da blusa danificado, o puxou com cuidado para longe da pele machucada e tomou o colete das mãos de Sherlock, o amassando e pressionando no local.

– Temos sorte se eu não estiver enganada. Me parece que foi de raspão.

– Eu sempre disse... Que não me perdoaria se algo acontecesse a ela... E eu a estava convencendo! – Disse com voz trêmula e respiração ainda descompassada.

Kitty assumiu uma expressão de surpresa por um momento diante da confirmação de que ele a havia pedido pra voltar. Tinha certeza que ele falava disso.

– Não foi culpa sua! Nem de ninguém aqui. Foi uma terrível fatalidade. Se alguém teve culpa foi aquele traficante miserável.

Não puderam continuar a conversa. Mais vozes invadiram o local e dois paramédicos entraram no beco com uma maca. Por pouco havia espaço.

– Fique tranquilo – um deles pediu ao notar o terrível estado emocional de Sherlock.

Kitty não estava menos nervosa e preocupada, afinal Watson também era importante para ela, mas conseguia controlar-se mais do que Sherlock.

– Foi só de raspão. Sua parceira teve sorte. Podemos movê-la, nos ajude.

O paramédico deu espaço para que o outro se aproximasse. Ambos arrumaram uma maca ao lado e ele se dirigiu novamente ao detetive, segurando a pressão do colete por cima da mão de Kitty e trocando a mão dela pela de Sherlock.

– Sua posição está mais favorável, mantenha a pressão enquanto a movemos.

Com extrema delicadeza e cuidado os dois moveram a chinesa para a maca, enquanto Sherlock fazia o que lhe fora instruído. Logo estavam todos fora do beco e Joan dentro de uma ambulância. Não adiantava argumentar, Sherlock nem perguntou para entrar na ambulância como acompanhante e arrastar Kitty junto, conseguindo convencer os enfermeiros com as informações que ele e Kitty tinham sobre como tudo aconteceu. Gregson e Bell os seguiram em outro carro e agora o grupo esperava no corredor do hospital. Gregson e Kitty permaneciam sentados e perdidos em pensamentos. Bell estava encostado na parede, olhando de um lado para o outro em nervosismo. Sherlock andava de um lado para o outro, quase os deixando loucos, mas dada a situação ninguém reclamou.

– Os consultores e agentes andarão com colete a partir de agora.

Sherlock parou por um momento, olhando nervoso para o capitão. Seu olhar misturava indignação, raiva, confusão...

– Eu sei, isso não vai mudar nada do que aconteceu, mas é a segunda vez que temos alguém que não devia ferido.

– Coletes não protegem as outras partes do corpo – o consultor replicou.

– Não é porque não temos a solução inteira que temos que recusar os paliativos. Se pode evitar, vamos fazer.

Antes que Sherlock pudesse abrir a boca novamente um médico se aproximou, parecia tranquilo. Inicialmente ele não soube a quem se dirigir, pensou em falar diretamente com Sherlock, mas dado o seu nervosismo, dirigiu-se a Kitty.

– Ela está bem. O tiro foi só de raspão. Nós limpamos o ferimento, tratamos e enfaixamos. Ficará boa em alguns dias e poderá ir pra casa. Fizeram um bom trabalho estancando enquanto ela vinha pra cá.

– Eu quero vê-la – Sherlock disse suplicante e sem cerimônias.

– Vocês podem. Ela já está no quarto – ele respondeu começando a encaminhar o grupo para outro corredor – Permitimos um acompanhante. Ela não deve ficar sozinha, especialmente à noite. Qual de vocês?

Todos olharam rapidamente para Sherlock.

– Se ele não ficar ele morre – Gregson comentou – Não estou a fim de passar a madrugada recebendo ligações desesperadas de preocupação dele.

O médico os guiou até um quarto no começo de outro corredor e abriu a porta com cuidado. Quando adentraram encontraram Joan adormecida bem acomodada na cama, agora com o cabelo completamente solto e vestindo uma das roupas brancas do hospital, que Sherlock deu graças a Deus por se parecer uma camisola normal e não uma daquelas vestes estanhas e malucas, Joan não merecia aquilo.

Ao lado numa espécie de criado mudo havia copos descartáveis e um pequeno filtro. Na parte vazada debaixo um pacote transparente cuidadosamente arrumado parecia conter as roupas e pertences de Joan, exceto seu celular que estava com Sherlock.

– Ela deve acordar com sede. Naturalmente pacientes com hemorragias não devem beber água de imediato ou o sangue pode se diluir facilmente e aumentar o sangramento, mas ela está liberada.

– Ela acordou em algum momento? – Bell perguntou.

– Sim, brevemente enquanto a trazíamos pra cá, perguntou por duas pessoas, eu acho que vocês dois – ele se referiu a Sherlock e Kitty – Mas nem ficou acordada pra ouvir qualquer resposta. Vocês podem ficar um pouco, e você – ele disse a Sherlock – Se precisar de algo para a noite, pode falar conosco.

Com um breve aceno de cabeça ele se retirou, chamando Gregson junto. O capitão estranhou, mas o seguiu para o corredor.

– Acha que ele dará um bom acompanhante?

– Acredite. Ninguém no mundo cuidaria melhor dela. Holmes pode parecer excêntrico, mas Joan Watson é o que existe de mais valioso pra ele.

– Tudo bem então.

O capitão voltou ao quarto e ficou lá por algum tempo, até ir embora junto com Bell e Kitty, que seguiu direto para o apartamento de Joan a pedido de Sherlock, para pegar Clyde, e depois foi para o sobrado, ainda fazendo por conta própria uma rápida viagem até o hospital para entregar algumas coisas que julgou que Sherlock poderia precisar, e algumas outras para Joan. Já era noite quando voltou para casa e finalmente pode descansar.

Sentado no sofá do quarto, Sherlock observava a mulher adormecida. Seria um momento agradável se estivessem em outras circunstâncias e pela primeira vez na vida ele não a acordaria de nenhuma maneira maluca, não tinha a mínima vontade de sequer pensar nisso, só queria que ela acordasse depressa. Acabou adormecendo sentado, recostado ao encosto do sofá, sendo acordado pelos raios de sol da manhã seguinte, que irrompiam pela persiana aberta. Levou algum tempo para retomar os últimos acontecimentos, até que seus olhos focaram Joan ainda dormindo a sua frente e levantou num impulso, caminhando até a cama numa expectativa frustrada de vê-la despertar. Sentou-se na beirada e assim ficou por minutos que pareceram horas. Estudou suas expressões atento a qualquer mínimo sinal de dor ou desconforto, tendo sua atenção chamada pelas sardas espalhadas pelo rosto da chinesa, em sua opinião era uma característica que a deixava ainda mais bela. Virou-se na direção da janela e calculou que pela luminosidade deviam ser mais ou menos sete horas da manhã. Assustou-se quando um toque em seu braço esquerdo o fez se virar para Joan novamente e a viu acordada.

– Sherlock... – ela falou baixinho, mantendo o toque em seu braço, sem saber como continuar.

– Fique quieta, Watson. Deve repousar.

– É bom ao menos uma vez na vida acordar por mim mesma com você estando por perto – ela sorriu – É um ótimo começo.

Ele a olhou surpreso, ela estava lhe dando uma resposta, a que ele ansiara em ouvir.

– É bom continuar assim – ela falou notando que o deixara um tanto desapontado com as palavras vagas – Pode me dizer o que aconteceu em detalhes?

– Você teve muita sorte – ele falou sorrindo – O tiro foi de raspão. Eu e Kitty estancamos enquanto esperávamos o socorro e enquanto te trazíamos pra cá. Nem precisou de cirurgia ou de pontos, você só sangrou bastante, o que assustou todos nós – ele falava rapidamente, dando claros sinais de que estava feliz, mas ainda nervoso e preocupado.

Joan tocou a lateral de seu corpo com a outra mão, emitindo um leve gemido de dor, sentindo a textura das bandagens e esparadrapos por baixo dos tecidos.

– Quanto tempo vou ficar aqui?

– Até estar consideravelmente melhor.

Ela soltou um suspiro de frustração.

– Vai trazer os casos pra cá?

– De forma alguma! Deve tirar todo o tempo possível para se recuperar. E não se preocupe com Clyde, Kitty o levou para o sobrado e vai cuidar dele pra nós.

– Estou com sede.

– Nos disseram que estaria.

Ele se adiantou descendo da cama e enchendo um copo. A ajudou a se erguer o suficiente e ingerir todo o conteúdo, deitando-a de volta depois. Nos momentos seguintes o casal não teve muito o que discutir. Joan segurou a mão de Sherlock inesperadamente, sentindo que o assustou, mas não o suficiente para ele recuar, e os dois pares de olhos se encontraram.

– Me desculpe. Por prender você aqui. Não acho que precisarei de muitos dias.

– O que está dizendo?! Você não é nenhum incômodo. Só sairei daqui quando puder leva-la junto.

– Obrigada, Sherlock – ela sorriu, recebendo um sorriso tímido, mas sincero de volta.

Pelo restante do dia ele ficou ali, ausentando-se raramente e muito rápido. Ela recebeu visitas de Kitty, Gregson, Bell, Emilly e seu bebê e de sua mãe desesperadíssima. A mulher chinesa novamente se mostrou nervosa e apreensiva em relação à carreira de consultora da filha, mas já aprendera a não contestar e já conhecia Sherlock a tempo suficiente para confiar nele como acompanhante. Fora às visitas ela passava seu tempo dormindo, ouvindo Sherlock ler alguma coisa pelo celular ou conversar com ela. De certa forma ela sentiu-se acolhida e segura, ele estava se saindo como um perfeito acompanhante, preocupando-se a cada instante e a ajudando a sair e voltar para a cama quando necessário. Exatamente como ela gostaria que fosse numa vida ao lado dele ao invés de crimes o tempo todo. Apesar de estar enfraquecida, dolorida e num chato e constante repouso, não podia negar que estava feliz. Lembrou-se das palavras dele na manhã em que a acordara em seu apartamento, e pela primeira vez sentiu com maior firmeza que de fato elas poderiam se realizar. Observou o detetive sentado no sofá olhando pensativo para a parede oposta.

– Pensei ter ouvido você me chamar de Joan antes de desmaiar.

Ele ficou sem jeito e inspirou profundamente, se denunciando.

– Você nunca fez isso antes. Não que eu me lembre. Gosto quando me chama assim.

Ele estava muito desconcertado para responder, mas a olhava de maneira gentil e isso era suficiente.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Elementary, my loved Joan" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.