A Missão escrita por StefaniPPaludo


Capítulo 41
Capitulo 27




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Dois dias haviam se passado desde a nossa formatura. Já ocupávamos um quarto permanente ali no quartel. Eu, Danilo e o Eric. Infelizmente, a Carol acabou sendo mandada para uma cidade longe daqui para trabalhar lá e ficamos só nós três dividindo o quarto. No começo achei meio ruim eu ser a única mulher no meio dos dois homens, mas que outra alternativa eu tinha? Preferia ficar com quem eu já conhecia, a dividir o quarto com outras pessoas. E sei que é meio cedo, mas não tive problema nenhum ainda com eles, continuamos na mesma vibe de quando estávamos no dormitório da turma, e tudo vai muito bem.

Danilo foi convidado para treinar e se tornar um atirador de elite. Ele sempre gostou e foi muito bem nas aulas de tiro ao alvo e aceitou na hora. Por isso permaneceria ali no quartel treinando mais e ajudando no que fosse preciso.

Eric assim como eu, ainda não tinha ganhado uma designação. Apenas nos tinham dito que ficaríamos ali no quartel, mas que por enquanto não existia nenhuma tarefa para nós. Talvez daqui umas semanas fossemos chamados para substituir algum soldado em férias. Ou achassem uma serventia para nós em qualquer coisa.

Por enquanto ficávamos só vagando por ai, de vez em quando fazendo alguns exercícios físicos, alguns tiro ao alvo e coisas desse tipo. Na época do treinamento tudo que eu queria era ficar sem fazer nada, mas agora preferia treinar com a turma novamente. Era tudo muito difícil sim, mas, pelo menos, me deixava ocupada.

É muito ruim ficar sem fazer nada o dia todo. A maioria dos que estão aqui no quartel tem alguma tarefa para cumprir, mas eu tenho que ficar por aí sozinha ou ir pro meu quarto fazer alguma coisa.

Hoje após o almoço fui até a área aberta do quartel, e sentei embaixo das árvores que eu tanto gostava. Fiquei lá observando a tudo e a todos, como no meu primeiro dia de treinamento, que parecia ter sido a décadas atrás.

– Soldado Liss? - ouvi uma voz atrás de mim me chamando.

Rapidamente me virei e descobri que era Júlio quem estava lá. Olhei para cima, para seu rosto sério, e sua posição com as mãos para trás. Era o sargento que estava ali e não o professor ou o cara que veio bater papo comigo.

Me ergui e o encarei, ajeitando minha farda amassada e prendendo os cabelos que eu havia soltado para deitar no chão.

– Senhor?

– Venha comigo. Estão solicitando a sua presença no palácio do governo.

Ele saiu, e eu o segui, achando que tivesse escutado errado.

– Desculpa, mas o que o senhor disse? - alcancei-o para perguntar.

– Que pediram a sua presença no palácio do governo imediatamente.

– Quem pediu, você sabe?

– Foi Margareth, pelo que entendi.

Por algum motivo eu gelei e comecei a tremer. Porque ela iria querer falar comigo? Eu havia feito alguma coisa errada? Tinha a ver com aquele dia que ela quis saber meu nome e outras coisas?

– Você está bem? - perguntou Júlio se virando para mim. Eu não tinha percebido que tinha parado de andar.

– Ãh, sim. Eu acho. Só não estou entendendo o que ela pode querer comigo. - tentei me acalmar e colocar a cabeça no lugar. - Quem mais foi chamado além de mim?

– Só você. - Júlio me fitava com uma expressão curiosa e ao mesmo tempo preocupada. Não era mais o sargento que estava ali, era o cara que se preocupava com outros. - Mas não se preocupe, não deve ser nada importante. E Thomas vai lhe acompanhar até lá.

Era bom saber que teria uma companhia até lá, mas era ruim saber que essa companhia seria de Thomas.

– Porque não você? - é claro que eu preferia mil vezes o Júlio ao Thomas, só que não precisava ter dito isso pra ele.

Júlio deu um leve sorriso:

– Eu até iria se pudesse, mas tenho outras coisas para fazer.

– Tudo bem.

Eu e Thomas seguíamos o caminho a pé do quartel até o palácio do governo em completo silêncio. Eu não tinha a mínima vontade de falar com ele. Inclusive preferia que qualquer outro estivesse me acompanhando, mas não ele.

Pelo menos, até o momento, ele estava se mantendo calado e me poupando de seus comentários venenosos.

– O que você aprontou soldado? — comemorei cedo demais, ele resolveu quebrar o silêncio e a paz. - Aposto que foi uma coisa tão idiota quando você.

Fiquei quieta, era melhor não entrar no joguinho dele.

Quando estávamos quase chegando, eu estava com muito medo e bem nervosa, então decidi deixar meu orgulho de lado e pedir a ajuda de Thomas:

– O que você acha que ela quer comigo? - minha voz saiu bem baixa, todo o pavor que eu estava sentindo refletida nela.

Achei que Thomas fosse responder com alguma coisa impertinente que me irritasse, mas não, ele até falou alguma coisa adequada:

–Estou tão curioso quanto você.

– Você não tem nenhuma ideia? - implorei. Queria estar o mínimo preparada para o que estava por vir.

– Não. - ele deu de ombros — E se quiser uma dica, dê um jeito de se acalmar e pare de mostrar que é uma garotinha borrando as calças. Aja como uma soldado que você deveria ser.

– Tá.

Chegamos no palácio e subimos os dois diretamente para o terceiro andar. Lá, Thomas contou aos guardas que Margareth havia pedido para falar comigo e um deles foi verificar com ela se era verdade. Depois que voltou ele fez sinal para que entrássemos em seu escritório.

Thomas entrou na frente e eu atrás dele. O escritório tinha uma mesa com computadores e vários papéis e cadernos, havia duas poltronas em frente a mesa, para que visitantes como nós sentassem. Margareth estava sentada do outro lado da mesa, em uma cadeira de escritório confortável. Atrás dela, como da outra vez, tinha um guarda. Ela tinha hoje seus longos e lisos cabelos platinados amarrados em um rabo-de-cavalo alto e usava um vestido de seda azul-escuro. Estava pronta para ir à uma festa, se quisesse.

– Vossa excelência — se ajoelhou Thomas. Eu havia me esquecido disso e fiz a reverência um pouco atrasada.

– Meu assunto aqui é particular com a soldado. Você se importaria de esperar lá fora? - ela estava se dirigindo a Thomas. Seu tom foi de pergunta, mas era claro que ele não tinha escolha.

Thomas saiu e eu me vi a sós com a governante. Fiquei intimidada na hora, mas aí me lembrei das palavras de Thomas, para que eu agisse como um soldado que eu era. Endireitei minha postura e fiz cara séria, enquanto olhava pra Margareth.

– Sente-se — ela pontou para a poltrona.

Eu sentei, tentando me manter confiante e calma, como uma verdadeira militar.

– Vou direto ao ponto, não gosto nem um pouco de enrolação: eu estou procurando um novo guarda pessoal para mim. Preferia muitíssimo que fosse uma mulher e alguém jovem e de boa aparência como você. Aquele dia que as entrevistei, quando estiveram aqui conhecendo o palácio com sua turma, era este o meu propósito. Depois de ter pensado e analisado muito bem, além de ter buscado informações com seus superiores, vi que você é a soldado perfeita para esse cargo. Como estará sempre comigo, quero alguém que seja bem apresentável e que não cause muito medo nas pessoas, também quero alguém com mais ou menos a minha idade, para que possa parecer que é apenas uma amiga, mas, ao mesmo tempo, tem que ser boa em combate e ter ido muito bem em seu treinamento.Você se encaixa em todos esses quesitos. Portanto lhe convido a ser a minha guarda pessoal a partir de agora.

Eu estava chocada. Pisquei várias vezes olhando pra ela, pra ver se acordava do sonho. O que ela estava dizendo? Me convidando para ser sua guarda pessoal? Porquê? Não fazia sentido, só podia ser uma brincadeira.

Eu não tinha capacidade para tanto. Era muita responsabilidade para mim. Eu tinha me formado há uns dias. Tinha começado meu treinamento bem depois dos outros. Fui muito mal, a princípio, em algumas provas. E então porque eu? Só porque eu era uma das únicas a continuar sendo vaidosa? Margareth não arriscaria sua segurança apenas para escolher alguém que ficassem bem ao seu lado.

"Aja como uma soldado que você deveria ser." a voz de Thomas ressoou em minha cabeça e eu percebi que Margareth olhava pra mim, esperando uma resposta, enquanto eu lutava por tentar entender o que estava acontecendo. Como Júlio agiria a uma situação dessas? A resposta que ele provavelmente daria apareceu na hora em minha cabeça e eu a pronunciei em voz alta:

– Eu me sinto muito lisonjeada com esse convite. É uma tremenda responsabilidade e não sei se estou preparada para tanto. - isso, a resposta tinha sido perfeita. Educada, calma e simpática.

– A senhorita não tem o que decidir. Já está tudo certo. Qualquer um queria estar no seu lugar agora, tenho certeza que não vai dispensar essa chance e que é capaz de fazer o que for preciso. - ela disse duramente, sem me dar chance nenhuma de resposta. Apenas acenei com a cabeça. - Você começa amanha. Apareça o mais cedo possível e se apresente na sala dos militares.

– Ok. Certo. - as palavras pareciam ter sumido da minha boca — Muito obrigada. Vossa excelência — me levantei da cadeira e me ajoelhei, em seguida comecei a sair — Com licença.

Ainda não acreditava naquilo, a ficha não tinha caído. Eu tinha sido designada para ser a guarda pessoal de um dos três governantes. Nunca em sonho algum eu havia imaginado isso.

Quando, pelo caminho, contei a Thomas o que Margareth queria, ele pareceu tão ou mais chocado que eu.

No quartel eu estava indo para o meu dormitório, ainda perplexa com tudo, quando encontrei com Júlio pelo caminho. Achei que ele fosse apenas me cumprimentar ou acenar a cabeça, mas ele parou e me chamou:

– Liss? - reparei que ele não me chamou de soldado, então o que ele queria me dizer era mais informal.

– Oi? - respondi.

– Como foi lá com Margareth? - seus olhos demonstravam interesse pela resposta.

– Foi bem. Ela me chamou para ser sua guarda pessoal — as palavras saindo da minha boca tornavam tudo aquilo real. E o jeito como falei aquilo foi como se não fosse nada importante, como se um amigo me tivesse convidado para ir a casa dele.

Júlio não pareceu surpreso com o motivo:

– É eu soube. - ele já estava indo embora, mas eu o detive.

– Pera aí. Você já sabia? Então porque não me contou quando foi me chamar? - ele devia ter me contado. Eu estaria muito mais preparada se já soubesse. E eu esperava isso dele, que tivesse me alertado. Estava indignada.

– Eu não sabia ainda. Um assessor da governante ligou um pouco depois que você saiu. Ele me disse que Margareth estava te solicitando como guarda pessoal dela a partir de amanha. - ele estava feliz por mim e tentava transparecer isso. Gostava quando ele me tratava daquele jeito tão amigável. Quando ele estava mais gentil, era quando se tornava mais observador também, rapidamente ele olhou bem o meu rosto e percebeu. - Qual é o problema?

– Só estou um pouco nervosa e confusa. Não entendi muito bem, por que eu fui a escolhida. E tenho medo de falhar. Acho que não estou pronta ainda — aquele seu olhar me fazia revelar tudo que estava no meu coração. Porque ele tinha tanto efeito sobre mim?

– Pelo que eu entendi a governante queria uma mulher, com uma idade próxima a dela, que fosse uma boa soldado e que fosse bonita. Por isso a escolhida foi você. Você atende a todos os critérios.

Ele me achava bonita? Não consegui tirar isso da cabeça. Ele me achava bonita e uma boa soldado? Tinha ganhado meu dia. Não era sempre que Júlio dizia aquilo assim pra mim.

– É foi isso que me disseram — tentei esconder meus sentimentos .

Júlio deu uma olhada para os dois lados, para ver se tinha mais alguém no corredor. Quando certificou-se que estávamos sozinhos se aproximou mais de mim e com as costas de sua mão acariciou meu rosto, enquanto olhava fundo nos meus olhos e dizia:

– Você é a pessoa certa para isso, Liss. Você é muito boa. Será capaz de fazer tudo que for preciso.

Fiquei paralisada com a onda de calor que seu olhar e seu toque me causaram. Fui incapaz de dizer qualquer coisa. Júlio continuou me observando atentamente com seus olhos negros enquanto descia sua mão da lateral da minha testa até meu queixo, delicadamente. Fiquei envergonhada com ele me olhando daquele jeito, abaixei meu olhar pro chão e senti minhas bochechas corando. Alguns segundos depois, ele se afastou e seguiu seu caminho, como se nada tivesse acontecido.

Fui pro meu quarto andando rápido. Tudo que eu queria era deitar na minha cama, e acordar percebendo que tudo aquilo não passava de um sonho. Desde quando eu era uma soldado boa? E desde quando era chamada por uma das três pessoas mais importantes do país para lhe proteger?

E ainda tinha Júlio, o que tinha sido aquela demonstração de afeto no corredor? Aquilo significava alguma coisa? Ele sentia uma atração especial por mim ou me via como uma irmã caçula que tinha que proteger e apoiar? E como eu me sentia em relação a ele? Era certo que eu gostava dele, principalmente quando ele me tratava como uma amiga, e não como uma soldado. Ele me fazia dizer coisas sem pensar e me sentir a vontade ao seu lado. Ele era uma pessoa incrível e tinha me ajudado quando eu mais precisei. O que isso significava? Qual era o tamanho do meu sentimento?

Entrei no dormitório esperando paz e sossego, mas fui surpreendida por Danilo e Eric que quase pularam por cima de mim quando abri a porta:

– É verdade? - perguntou Danilo empolgado, agarrando meus braços.

– O que?

– O que tão dizendo por ai. Que você vai ser a segurança particular de Margareth?

– É. - afirmei. As notícias vazavam tão rápidas assim?

Danilo não se conteve e me abraçou, tremendo de alegria. Eric também veio e se juntou ao abraço. Os dois não paravam de murmurar parabéns e dizer como estavam felizes por mim, de como aquilo seria ótimo e etc. Tentei pegar um pouco da animação deles e comecei a sorrir e me empolgar também, era o melhor a ser feito.

– Precisamos arrumar um jeito de comemorar isso. - Danilo estava mais feliz que eu.

–Não precisa. - tentei argumentar, mesmo já sabendo que era tempo perdido — Não é nada demais.

– Claro que é — Eric e Danilo gritaram em uníssono.

– O que nós podemos fazer? - perguntou Danilo pro Eric, já sabendo que eu não iria ajudar em nada disso.

– Ih, hoje eu não posso fazer nada. Tenho um compromisso marcado pra daqui uns 10 minutos. - Eric estava sentido em não poder participar da nossa "festinha".

– Humm... Uma namorada? - brincou Danilo com ele, dando uma piscadinha pra mim. Eric não respondeu e entrou pro banheiro, fingindo que não tinha escutado. - É acho que sim. - ele falou comigo — E o que nós vamos fazer?

Não havia muitas coisas para se fazer no quartel e eu não conseguia imaginar maneira nenhuma pra comemorar, a menos que fizéssemos uma festa em nosso dormitório. Mas eu não estava a fim. Preferi ser sincera com Danilo:

– Não me leve a mal, Danilo. Mas eu preferia descansar. Eu já começo amanhã e vai ser bem puxado. - não tinha certeza quanto a isso, porque pelo que eu entendi teria que ficar apenas como sombra de Margareth o dia todo. - Outro dia nós comemoramos, pode ser?

Seu rosto murchou na mesma hora, ficando decepcionado. Mas por fim ele concordou derrotado:

– Pode.


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