Era para ser você escrita por Tamires Rodrigues


Capítulo 60
Um almoço e boas recordações


Notas iniciais do capítulo

Oi gente desculpem a demora, espero que entendam que essa pausa foi fundamental para que eu acabasse de escrever a história sem pressão. É isto, hoje vou postar os últimos dois capítulos e semana que vem o epílogo.
Espero que gostem tanto quanto eu.



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De repente, o banheiro ficou pequeno demais. Muito pequeno, eu diria. E tudo que eu podia ver ou sentir era ele, talvez porque estivéssemos tão, tão perto um do outro, que se eu me aproximasse só um pouco seria capaz de beijá-lo. Apertei a toalha com força e soprei o ar para fora dos meus lábios, encarando-o por um segundo. Quando nenhum de nós se mexeu, forcei-me a dar um passo para trás. Mabuchi balançou a cabeça decepcionado e olhou para o lado.

— Acho que roubei seu posto de desastrada – ele afirmou, passando as mãos pelos cabelos.

Minhas bochechas franziram quando eu sorri.

— Ah, eu não teria tanta certeza! Você certamente precisará derrubar muitos cafés em si mesmo para roubar meu posto – falei e então me senti idiota por ter dito tal coisa, mas Mabuchi sorriu e sem perceber soltei um sorriso também.

Pela porta entreaberta do banheiro nós dois ouvimos alguém bater e como nenhum de nós fez qualquer barulho imaginamos que a pessoa do outro lado iria embora. Não aconteceu, pois a próxima coisa que ouvimos foi alguém abrindo a porta e entrando.

Olhei para ele e acenei com a cabeça dizendo um mudo "vai". Nem precisei lançar em cima dele meu monólogo sobre quão estranho seria secretária versus patrão escondidos no banheiro, pois tinha certeza que minha expressão dizia tudo. Com um olhar irritado ele assentiu e saiu fechando a porta atrás de si.

Em um primeiro momento eu não me dei conta de quem havia chegado, estava concentrada demais na minha conversa mental de como era tolo me esconder no banheiro, quando a empresa toda já fervia em boatos sobre mim, mas após prestar atenção no que Mabuchi conversava com a pessoa do outro lado eu percebi, ou melhor, reconheci a voz.

Era uma das vozes que ouvi no banheiro.

A voz mais estridente.

Agucei meus ouvidos tentando escutar melhor o que os dois diziam. Algo sobre o público alvo e mais alguma coisa que não entendi. Mordi o lábio, controlando a raiva crescendo em mim, mas ao me lembrar das duas mulheres fofocando quase espumei como um cão raivoso. Mabuchi disse algo sobre não ter sido o resultado que ele havia esperado e isso foi a última coisa que ouvi antes de me armar de coragem e sair pela porta.

Sua sobrancelha se ergueu em confusão quando me viu entrando na sala, mas ignorei e encarei a mulher parada a poucos centímetros de mim. Eu não queria me esconder. Não queria porque não tinha feito nada de errado. Nenhum de nós dois.

— Se certifique de espalhar boatos com meu nome certo dessa vez – sussurrei quando passei por ela, de modo que Mabuchi não pudesse ouvir, e segui para a minha mesa.

Pela primeira vez não me senti mal sobre o que falariam ou pensariam sobre mim. Era irrelevante, por dois motivos:

Eram apenas boatos distorcidos.

Eu sabia a verdade sobre mim mesma melhor do que qualquer pessoa.

 

Respirando fundo entrei no site da faculdade e mais uma vez senti vontade de chorar – mas de felicidade – ao ler meu nome e a palavra APROVADA em letras garrafais.

***

Pelo menos quinze minutos se passaram até que Mabuchi ficasse sozinho em sua sala. E logo em seguida ele precisou sair para seu próximo compromisso, uma reunião no andar de cima. Era quase meio dia quando voltou e eu já estava saindo para o meu horário de almoço. Estava desligando o computador e ele se aproximou da minha mesa.

— Precisa de algo? – perguntei, com minha voz soando quase rude.

Ele hesitou e eu olhei para cima.

— Hoje é seu último dia – murmurou. Franzi a testa, mas não disse nada, apenas esperei que ele continuasse. – Quero que fique com uma lembrança boa... Uma lembrança boa de mim.

Esperei que continuasse, mas ele não continuou então percebi que era minha a deixa para falar.

— Como assim?

— Almoce comigo – pediu, com a entonação habitual de dureza sumida de sua voz. – E, se o almoço for gostoso, quem sabe assim mude de ideia sobre ir embora – ele sorriu. – A empresa sempre terá um lugar para você.

Fiquei de pé, não iria recusar o convite. Eu queria um pouco mais dele e o que mais pudesse ter.

Minha vontade assim que entramos no elevador era perguntar se também existiria um lugar para mim em seu coração, mas me contive. Minha mente parecia que ia explodir por não poder expressar essa pergunta em voz alta, porque eu não queria que ele se sentisse forçado a nada.

Fomos almoçar num restaurante elegante perto da empresa. Quis correr pela porta mais próxima quando olhei os preços no cardápio, mas era nossa despedida, nós merecíamos, eu merecia a lembrança boa que ele queria me proporcionar.

Falamos sobre Ellie durante o almoço e ele me disse que pretendia tirar férias em breve para viajar com ela, o que me fez quase cuspir minha comida de volta no prato, de tão surpresa e, feliz por Ellie, que fiquei ao ouvir isso. Conversamos também sobre meu retorno ao Brasil. Mabuchi quis saber a data e horário do meu voo e saber detalhes de quem me buscaria no aeroporto e me falou sobre a nova secretária.

— Trate-a melhor do que me tratou – eu disse séria e ele assentiu com a cabeça, o que me fez rir, pois ele parecia um garotinho levando sermão da diretora.

Nós continuamos falando e falando, tentando evitar que o almoço de despedida terminasse, mas eu precisava dizer adeus. Não me levantei de imediato, fiquei plantada no meu lugar encarando-o. Voltar para empresa seria como cutucar uma ferida. Era melhor eu me despedir dele naquele momento, melhor do que esperar até o final do dia. Sim, muito melhor. E muito covarde também.

— Hum – limpei a garganta. – Eu estava pensando se... Tudo bem se eu não voltar para a empresa? Eu preciso organizar algumas coisas e... – Não quero, sei lá, continuar olhando para você, porque talvez fique com vontade de fraudar meu visto e permanecer mais um tempo em nova York. Talvez seja melhor me acostumar logo com a ideia de que não vou mais vê-lo.

Ficamos em silêncio, mas lentamente ele assentiu. Fiquei decepcionada, esperava que ele relutasse um pouco mais e lutasse por mim. Alisei as rugas invisíveis da minha roupa, fazendo força para não chorar, e me levantei.

— Obrigada pelo almoço, foi uma linda lembrança que guardarei com carinho – dei-lhe um sorriso triste. – Se cuide, Mabuchi.

Com os olhos marejados e o coração apertado, me curvei para beijar seus lábios. Um beijo rápido e castro.

— Para você guardar de recordação – eu disse.


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