Era para ser você escrita por Tamires Rodrigues


Capítulo 31
Jesus


Notas iniciais do capítulo

Desculpem o sumiço fiquei doente e cheia de provas e... Sei que dou muitas desculpas, mas não vou abandonar o livro ♥



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Meredith e eu estávamos no metrô a caminho da Galeria, quando o rumo da nossa conversa mudou para Mabuchi.

 

            - Ainda não me contou sobre o seu sonho - ela disse.

 

            Nem um pouco discretamente, aumentei o volume da música. Ainda estávamos ouvindo música só que dessa vez com meus fones de ouvido.

 

            - Contei cada mínimo detalhe! - afirmei suspirando, enquanto uma nova música começava.

 

            A música era da Alcione.  Minha mãe a adorava e como consequência depois de tanto ouvir, passei a gostar também. Escutar música brasileira era uma das coisas que eu fazia para me lembrar de casa.

 

            - Mentirosa! - Mer rolou os olhos. - Como tem coragem de mentir olhando nos meus olhos?

            - Quanto drama! Você foi a primeira pessoa pra quem eu contei.

 

            - E eu fiquei tão chocada que não fiz as perguntas certas.

 

            - E nem vai - comentei com um sorriso maroto. - Foi sua última chance.

           

            - O que sentiu no beijo? - perguntou me ignorando.

           

            A pergunta de Meredith, e a voz da Alcione cantando “tem que seduzir, só pra me deixar louca por você…”, fez meu rosto ficar corado. Pigarreei.

           

            - Nada. Escolhe logo outro assunto.

 

            - Você está corando! - um sorriso espertinho tomou seu rosto e ela bateu palminhas, atraindo o olhar de algumas pessoas sentadas perto de nós.

 

            - Oh, pelo amor de Deus! Foi só um sonho idiota, não vai acontecer.

 

            - Oh, meu Deus! - o sorriso aumentou ainda mais, lembrando-me do famoso sorriso do gato de Alice no país das maravilhas. - Você queria que fosse real?

 

            Suspirei. Desejei que ela calasse a boca, mas sabia que nem mesmo um milagre a impediria de me antagonizar.

 

            - Ele é o meu chefe – atirei, achando que isso acabaria com o assunto.

 

            - E se não fosse?

 

            - Meredith, cale-se!

 

            - Você gostou! - ela riu cobrindo a boca com as mãos.

 

            Por sorte, mais uma parada e desceríamos. Se eu desviasse a conversa o bastante ela cansaria. Assim eu esperava pelo menos.

 

            - Porque você está fazendo isso? - rolei os olhos, tentando soar indiferente. - Foi só um sonho.

 

            - Que deixou você toda incômoda, imaginando seu chefe sem roupas…

 

            Um dos passageiros sentado perto de nós tossiu. Era bem óbvio que ele estava ouvindo nossa conversa pela forma como seus olhos aumentaram de tamanho.

 

            - Presta a atenção! - falei com calma, pausando a música. - Porque só vou repetir uma vez. - Hipoteticamente falando, eu me perguntei se ele beija tão bem quanto no meu sonho. Mas isso é só uma hipótese.

 

***

 

            Assim que entrei na galeria, eu soube o porquê de Meredith amar tanto arte e fotografia. Tudo estava tão lindo que cheguei a arrepiar como meu pai diria. Cada pequeno centímetro do lugar exalava arte e uma paz tão profunda que eu parei por uns segundos engolindo tudo com os olhos.

 

            - Lindo, não é? - Meredith sorriu com os olhos brilhando em admiração.

 

            - Lindo! - concordei. Nenhuma de nós disse nada por um tempo. Ambas absorvendo tantos detalhes quanto possível. A galeria estava cheia. Mesmo maravilhada não pude deixar de perceber.

 

            Caminhamos um pouco mais para dentro da Galeria. Entusiasmada, vez ou outra Meredith agarrava meu braço e fazia algum comentário. A maior parte deles era difícil de entender, mas eu assentia com a cabeça e sorria como se entendesse. Paramos em frente a uma foto que me chamou a atenção. Era de uma maratonista em cima do pódio. Seu rosto estava coberto de suor e havia um sorriso tão largo em seu rosto que mesmo eu sorri. Aproximei-me um pouco mais para ver a legenda da foto.

 

            ‘’Eu consegui mãe. Consegui por você.’’

 

            Era o que estava escrito e senti os pelos do meu braço se arrepiarem em resposta. Sempre fui muito apegada a minha mãe e pela legenda da foto só podia supor que a maratonista também era.

 

            - Eu sinto inveja de quem fotografou esse momento – Mer disse.

 

            Soprei o ar para fora do nariz rindo.

 

            – Você disse isso em quase todas as fotos que viu.

 

            Ela balançou a cabeça assentindo.

 

            – Verdade! Mas olha quão sincero é esse momento. Ela está despida de qualquer sentimento falso. Só há verdade por trás do sorriso e dos olhos. E tudo ao redor colaborou para a foto ficar ainda mais linda, desde a luz natural, até as cores e...

           

            - Já entendi – cortei-a rindo. – Pretende comprar alguma foto?

 

            - Se a pergunta fosse “quer alguma foto daqui?” eu diria: com certeza, quero todas. Mas comprar... São lindas, mas muito caras – comentou com desânimo e começamos a andar um pouco mais.

 

            Um garçom passou por nós oferecendo uma taça de champanhe e nós duas aceitamos.

 

            - Espero que você não fique bêbada e me faça passar vergonha – falei com um falso tom de seriedade.

 

            Franzindo os olhos ela mostrou a língua. Eu ri.

 

            – Quanta maturidade.

 

***

 

            Não sei ao certo quando o notei, mas depois de fazê-lo foi difícil perdê-lo de vista. Olhei de um lado para o outro a procura de Meredith, que tinha se separado de mim para falar com o anfitrião. Não tinha trazido bolsa, já que ela havia trazido, então tinha deixado meu celular com ela. Tê-lo comigo pelo menos me faria fingir estar distraída com algo e disfarçar meu desconforto. Mabuchi estava conversando de costas para mim e eu quis me bater por estar olhando-o tão atentamente. Estava, para variar, vestido de modo discreto e elegante. De preto da cabeça aos pés.

 

            Ele conversava com um casal de idosos e parecia entretido com a conversa. Tifanny estava agarrada em seu braço como um carrapato e demonstrava querer estar em qualquer lugar, menos numa galeria de arte. Ela olhava com desdém para todo lado, como se zombasse de tudo. Seus olhos pausaram em mim e se arregalaram brevemente antes de cochichar algo no ouvido de Mabuchi. Mesmo de longe, senti os músculos de suas costas enrijecerem, lentamente sua cabeça virou para trás para me ver, parada no meio da exposição com uma taça de champanhe vazia nas mãos, olhando-o fixamente. Pigarreei nervosa e fingi interesse numa foto que estava perto de mim. Foi quando Meredith finalmente apareceu. Suas bochechas estavam coradas e os olhos brilhando.

 

 

            - Você não acreditar no que... – ela disse.

 

            - Você não vai acreditar em quem... – falei em uníssono.

 

            Nos duas rimos.

           

            – Fala você.

           

            - Pode falar – incentivou.

 

            - Mabuchi está aqui – sussurrei.

 

            – Jesus Cristo!

           

            Ri nervosa.

 

 – Jesus não, meu chefe.


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