Era para ser você escrita por Tamires Rodrigues


Capítulo 32
Seus lábios, seu beijo


Notas iniciais do capítulo

Perdoem o título nada original hahaha e perdoem também a demora, como pedido de desculpas eu deixei o capítulo bem grande para compensar o atraso. ♥ Estou postando pelo celular e se o capítulo estiver bagunçado por favor me avisem que eu tento respostar ❤♥



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Ocorreu-me que se Mabuchi estivesse nos observando pensaria que éramos duas malucas olhando fixamente para uma foto.

— Onde ele está? – Mer perguntou.

— Atrás de você. No seu lado esquerdo. Não olhe agora! – implorei, mas de nada adiantou, pois Meredith jogou a cabeça para trás, fazendo-me lembrar da Emilie Rose, a protagonista daquele filme de terror macabro. – Jesus! Eu te disse, Meredith, pra não olhar!

— Me desculpe! – ela riu, cobrindo a boca para disfarçar. – Bom Deus! Jas, ele é...

— Eu sei, ele é lindo! – completei mal humorada, fazendo Meredith sorrir.

— E estava olhando para você...

 

***

 

Perdi Meredith de vista mais uma vez, porque não tinha prestado atenção ao que ela havia me dito antes de se afastar. Isso porque eu estava atordoada demais com o fato de Mabuchi estar ali perto de mim, para fazer qualquer coisa além de balançar a cabeça e assentir. Era estranho encontrá-lo fora os limites da empresa e senti uma emoção desconhecida vibrando dentro de mim. Nos últimos dias isso estava se tornando cada vez mais frequente e resistente. Talvez fosse a tal virose, da qual escutei duas senhoras comentando no metrô.

Tomei um gole da minha taça de champanhe para me acalmar e fui ver as fotos expostas. Eu podia não entender sobre luz, temperatura e tudo o mais, mas ficava maravilhada com o sentimento que as fotos passavam. Meredith tinha uma parcela de culpa nisso, pois comecei a observar muito mais do que o simples click de uma foto depois que a conheci.

 Uma das fotos em especial me fez sorrir. Era de uma criança brincando na chuva. Transmitia tanta paz e serenidade que desejei por um segundo deixar de ser adulta. Engraçado como na infância eu ansiava para ser tratada como ‘’gente grande’’ e agora voltaria no tempo se pudesse, em um piscar de olhos.

— Incrível, não é? — uma voz masculina comentou.

Minha primeira reação foi pular de susto. Estava dispersa demais para reparar nas pessoas ao meu redor. Virei e sorri para o homem parado ao meu lado. Suas tatuagens estavam cobertas, mas era impossível não reconhecê-lo.

— Chase! — murmurei surpresa. — A foto é realmente incrível! — concordei com ele.

— Me sinto um maltrapilho nesse lugar! – ele admitiu depois de um silêncio desconfortável.

Eu tinha percebido que ele parecia nervoso, ansioso demais. Suas mãos estavam enfiadas no bolso da jaqueta de couro, como se não soubesse ao certo o que fazer com elas e de tempo em tempo ele deixava seu olhar vagar a esmo como se procurasse alguém.

— Entendo o que está querendo dizer—revelei, rindo baixinho. — Eu constantemente me sentia assim na empresa. E se serve de consolo também me sinto fora de lugar.  Em minha opinião você é quem está vestido de maneira mais confortável por aqui. Honestamente estou com inveja! — brinquei e Chase olhou para mim como se eu fosse louca.

— Você está linda! — ele disse. — Parece fazer parte desse lugar.

Pisquei algumas vezes, admirada que o elogio inesperado tinha sido sincero. Pude observar isso em sua voz e no seu olhar. Infelizmente eu estava acostumada a lidar com homens babacas que só me elogiavam querendo algo em troca. Talvez por isso eu fosse tão adversa a relacionamentos.

— Sua roupa está boa! - comentei olhando para seu jeans surrado. — Original.

Isso pareceu relaxá-lo e fiz uma pequena dança da vitória internamente. Chase e eu fazíamos algumas matérias juntos e ele sempre foi gentil comigo, por isso fiquei incomodada pelo fato dele não estar se sentindo bem. Pouco a pouco notei que sua inquietação talvez tivesse um motivo e perguntei sorrindo.

— Está procurando alguém?

— Eu estou aqui por alguém — admitiu com o olhar vagando mais uma vez.

Sua resposta despertou minha curiosidade e assim como ele comecei a olhar a galeria inteira procurando por um rosto conhecido. E o que encontrei foi um par de olhos cor de carvão, olhando Chase com o cenho franzido. Tifanny tagarelava alegremente e quando percebeu que Mabuchi não estava prestando atenção deu-lhe um tapa em seu ombro. Rangi os dentes, ficando, de repente, incomodada.

— Acho que preciso de um pouco de ar fresco! — falei para Chase com um sorriso amarelo. — Boa sorte para encontrar quem você procura.

Do lado de fora, meu corpo instantaneamente sentiu a diferença da temperatura. Apesar de fresca, a noite estava agradável. Árvores. Havia muitas árvores. Esse foi meu primeiro pensamento ao sair. A rua era arborizada, limpa e tranquila, e apesar de não conhecer os arredores me aventurei a andar um pouco por ali. Com medo de me perder, logo voltei para o mesmo lugar. A minha surpresa foi encontrar Tifanny e Mabuchi conversando do lado de fora.

Quis dar meia volta, mas meus pés pareciam ter vontade própria e estavam enraizados no lugar. Escondi-me na sombra que as árvores altas e grandes ofereciam e permaneci quieta ouvindo tudo. Nem ousei dar uma respiração mais longa, com medo de ser descoberta.

— Por que você veio se odeia tanto essas exposições? – Mabuchi indagou.

— Porque você me chamou se não me queria aqui? – ela respondeu cruzando os braços sobre o peito, lembrando Jack fazendo birra.

— Eu não chamei você! – Mabuchi riu e mesmo longe eu podia notar que ele estava irritado.

— Você quem se convidou.

 

Mentalmente criei um placar invisível, no qual o resultado era:

 

Mabuchi 1 Tifanny 0.

 

Abafei um riso com a resposta de Mabuchi e prendi a respiração quando sua cabeça virou para minha direção. Cada músculo do meu corpo retesou, mas seus olhos não se demoraram mais do que alguns segundos. Meu coração acelerou com a possibilidade de ser descoberta, porém nem isso me fez sair do lugar. Mabuchi diminuiu o tom de voz quando voltou a falar, mas seja o que foi que ele disse irritou o inferno para fora de Tifanny, pois a fez jogar os braços para o alto. Ao passo que Mabuchi queria ser discreto, ela parecia querer chamar tanta atenção quanto possível.

A discussão continuou por mais alguns instantes, mas ambos passaram a falar tão baixo que não consegui ouvir mais nada. E eu deveria ficar envergonhada pelo quanto tentei escutar. Por fim, Tifanny entrou em um taxi que estava passando e Mabuchi permaneceu no mesmo lugar. Eu tinha decidido, numa confusa discussão mental comigo mesma, que voltaria para dentro assim que Mabuchi se afastasse, mas, como sempre, o universo tinha outros planos para mim.

 

****

 

Meu pai me disse uma vez que eu não era capaz de ser discreta nem quando tentava, e bom Deus, ele nunca teve tanta razão sobre algo como naquele momento. Tentei abafar o som do celular, mas na pressa de fazer isso acabei derrubando-o no chão. Olhei para Mabuchi vindo na minha direção e ri nervosa. Não havia uma boa explicação para o fato de eu estar ouvindo e espreitando sua conversa.

Ele se aproximava. Dez passos de mim. Meu celular ainda tocava, mas eu não conseguia afastar os olhos de Mabuchi. Mais perto agora. Cinco passos. Mais perto. Dois. Um. Em frente a mim.

— Boa noite! – sua voz continha todo o humor do mundo, como se tivesse acabado de sair de uma hilária apresentação de circo. Era incompreensível que eu estivesse brava, afinal de contas, eu era a única culpada por ter me colocado como atração principal.

Limpei a garganta.

— Boa noite senhor! – soei dura e amarga e pouco me importei com isso. Estava grata pela escuridão ocultar minhas bochechas coradas, por ter sido pega no flagra como uma criança levada.

— Algum motivo em especial para estar ouvindo minha conversa, senhorita? – ele enfiou a mão no bolso da calça e deixou a pergunta pairando no ar.

Apenas parte do seu rosto estava iluminada e me peguei olhando por mais tempo do que o necessário para a sua boca. Era cheia e... Devia ter algo de muito tóxico no champanhe que tomei, porque minha mente teve pensamentos surreais demais para serem levados a sério. Meu celular tocou novamente aos meus pés e se apenas segundos atrás eu quis jogá-lo tão longe quanto possível, desta vez suspirei aliviada ao ler o nome de Meredith no mostrador.

— Preciso atender! – dei de ombros.

Abaixei para pegar o telefone, mas meu pé ficou preso na raiz da árvore, fazendo com que eu me desequilibrasse e foi tão rápido que não pude me impedir de cair. Soltei um gemido de protesto quando minha bunda bateu com força no chão. Pelo que pareceu uma eternidade, não me atrevi a olhar para cima e, quando o fiz, desejei não ter feito. Mabuchi tinha se movido um pouco para o lado, ficando totalmente na luz. Sua boca se abriu em surpresa por um instante e então seus olhos brilharam em diversão. Sua boca escondia falhamente um sorriso. Bufei. Não podia acreditar que tinha caído bem em frente a ele. Quando se tratava de me meter em situações embaraçosas, eu me superava. Mabuchi esticou a mão para me ajudar a levantar. Rolei os olhos mentalmente.

— Que cavalheiro! – aceitei sua ajuda de bom grado, porém ao invés de deixá-lo me erguer para cima, o puxei para baixo. Ele não esperava por isso e caiu desajeitadamente sobre mim. Perdi o fôlego quando senti seu corpo sobre o meu. E, com perder o fôlego, quis dizer que fui esmagada. Literalmente.

— Ai! Preciso... respirar... – foi um pouco de exagero, mas ele estava perto demais. Tão perto que seu perfume acariciou agradavelmente meu nariz.

Esperei que ele estivesse bravo e pronto para voltar a ser o Mabuchi carrasco que eu enfrentava na empresa, mas ao invés disso ele riu. Mentalmente decidi nunca mais encostar numa taça de champanhe, porque minha mente estava gelatinosa demais e criando pensamentos irreais por conta da taça que havia tomado mais cedo.

Em um movimento rápido ele se ergueu nos cotovelos e se sentou ao meu lado, mais uma vez me surpreendendo. Uma batida inteira se passou e depois duas, três, quatro, e nenhum de nós dois falou, até que ele resolveu quebrar o silêncio.

— Há grama no seu cabelo.

— Hum? – toquei minha cabeça, tentando cegamente tirar.

— Não aí – ele apontou em sua própria cabeça. – Aqui! – esticou a mão e bagunçou alguns fios do meu cabelo. – Pronto! – ele disse, mas não se afastou, pelo contrário. Senti sua mão suavemente descer pelo meu pescoço e subir pela minha bochecha, descansando ali. Inspirei e soltei o ar, achando que tinha batido a cabeça e estava delirando.

Passei a língua sobre os lábios, umedecendo-os, mas na verdade só estava ganhando tempo. Eu deveria me afastar, deveria levantar, encontrar Meredith e dar o fora, mas sentir seu toque me fez querer tudo, menos fugir. Inclinei meu corpo para mais perto do dele, o movimento foi sutil, mas ousado o bastante para que ele percebesse.

— O que você anda pondo no meu café? – ele perguntou olhando nos meus olhos. – Eu mal tenho me reconhecido nos últimos dias.

Foi a gota d’água. Eu estava tão irritada, tão pronta para estrangulá-lo e tão... Tão desejosa que minhas mãos criaram vontade própria, movendo-se para sua gravata, puxando-o para mais perto. Houve um segundo de hesitação. Meu coração bateu dolorosamente rápido e o meu agarre em sua gravata amoleceu, mas no segundo seguinte seus lábios tocaram os meus e todo o resto pareceu não existir. Diferente do sonho, seus movimentos foram urgentes e descuidados e pouco nos importava se estávamos os dois deitados na grama ou o que pensariam se nos vissem. Apertei com força seus ombros. Estava tão irritada, queria afastá-lo, mas só conseguia puxá-lo para mais perto.

Seu beijo era tão bom, pensei, enquanto toda a minha raiva se dissipava e se transformava em algo que eu não conseguia decifrar.

 

Seu beijo era tão bom, pensei, enquanto seus dedos se enfiavam nos meus cabelos.

 

Seu beijo era tão bom, pensei, quando nos afastamos para nos recuperar.

 

Seu beijo era tão bom, pensei, que eu não queria que acabasse.

 

Então, ignorando o pouco de juízo que me restava, o beijei de novo.

 

Devagarinho nossos lábios foram se separando e seus olhos revelavam o mesmo conflito de sentimentos que os meus.

 

 


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