Evolution: Parte 3 escrita por Hairo


Capítulo 4
A Universidade


Notas iniciais do capítulo

Galera, esse é o primeiro capítulo do que eu gosto de chamar de Projeto Celadon. Na primeira cidade já conhecida por vocês, decidi tomar um tempo para explicar algumas coisas e explorar algumas possibilidades que essa cidade me oferece, incluindo alguns personagens do anime!

Espero sinceramente que gostem!



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Capítulo 4 – A Universidade

Dave e Mary Jane subiram com facilidade nas costas de Pidgeot, segurando-se em suas penas coloridas com cuidado para não machucá-lo. Jake, por outro lado, olhava ansiosamente para os amigos do chão, arrependo-se profundamente de ter cedido à discussão e aceitado voar nas costas do pássaro. Tremia de medo dos pés a cabeça.

– Vamos Jake! Ninguém vai te deixar cair! – disse MJ, enquanto o garoto engolia em seco.

– Jake, a gente vai perder muito tempo assim – disse Dave, surpreendendo a si mesmo. Quem falava esse tipo de coisa era a Mindy e não ele.

– Eu... pensando bem sabe...eu acho que prefiro ir cavalgando na Ponyta. Ela também é rápida... – disse Jake, com a voz fraca.

Mary Jane bufou, lembrando-o que eles já haviam falado sobre isso e que o Pidgeot era a sua melhor opção, mas o garoto mais novo continuou com os pés grudados no chão, incapaz de se mover. Seu corpo paralisara de um jeito que Dave por um momento lembrou-se da agonia estampada no rosto de Eevee em sua luta contra Oddish. Voltou a acariciar o Pokémon, que agora estava dentro de sua mochila, apenas com a cabeça para fora. Como o amigo curara-se sozinho da paralisia ele não sabia explicar e aquilo estava o torturando por dentro. O pensamento, porém, foi afastado quase imediatamente quando ele teve uma ideia que poderia resolver o seu problema imediatamente.

– Jake, eu vou te ajudar – disse Dave, sacando uma de suas Pokebolas – Oddish, vai!

– Dave, como você vai me ajudar com o Oddish?

– Simples, ele vai usar o chicote de cipó e te colocar aqui em cima. Depois ele vai subir e usar o cipó como cinto de segurança. Que tal?

Jake pareceu surpreso com a engenhosidade do plano do menino, mas Mary Jane percebeu que a ideia tinha uma pequena falha.

– Dave – sussurrou ela, tentando não deixar Jake escutar. Para a sua surpresa, o menino mais velho não a deixou terminar, respondendo-lhe também em sussurros.

– Pode deixar MJ. Confia em mim.

Enquanto Jake olhava feliz para Oddish, contente por ter tido o seu problema resolvido, Dave deu uma ordem rápida, que apagou o sorriso do rosto do menino quase instantaneamente, mas ainda assim, tarde de mais para que ele reagisse. Jake esquecera que um Oddish não tinha nenhuma possibilidade de aprender a técnica do chicote de cipó.

– Oddish, pó do sono!

A pequena planta deu um pequeno salto e balançou suas folhas, lançando uma cortina densa de esporos soníferos na direção do menino que, poucos segundos depois, caia no chão em um estado de sono profundo que se aproximava ao coma. Quando ele acordasse, estaria seguro em terra novamente, mas em Celadon.

– Você é um gênio – riu Mary Jane, vendo o amigo mais novo estirado no chão em o que parecia ser um sono tranquilo – Pidgeot, vamos!

Dave recolheu Oddish de volta à Pokebola e Pidgeot levantou voo, pegando o adormecido Jake com uma das suas longas patas, e ganhando altura. Dessa vez o pássaro foi tão alto que Dave sentiu até mesmo pressão em seus ouvidos, causada pela diferença na pressão do ar em uma altura tão grande. Comparado com o voo até Celadon, os poucos quilômetros do acampamento até o Centro Pokémon a alguns dias atrás pareciam um passeio relaxado e sem pressa. Dessa vez, Dave se agarrava com força a cintura de Mary Jane a sua frente com uma das mãos e com a outra segurava a pelugem colorida do pássaro enquanto via a terra mover-se a baixo deles a uma velocidade incrível.

– Prepare-se Dave, vamos cortar a barreira do som! – gritou Mary Jane, para assombro do garoto.

– O que?! – disse ele, mas, no exato momento, ele ouviu um imenso barulho como se tivesse acabado de quebrar uma parede invisível a sua frente. Quando Mary Jane lhe respondeu ele ficou boquiaberto.

A menina virou o rosto para trás e mexeu a boca, enquanto ele conseguia ler em seus lábios a frase: “Bem legal não é?”. Poucos segundos depois, o som chegou aos seus ouvidos enquanto a menina já fechava a boca e se virava para frente. Em reflexo, ele se agarrou com mais força a Pidgeot e abaixou a cabeça, com medo até de falar. O menino não esperava que o voo chegasse a esse ponto e estava quase sem ar de tão apavorado. De repente desejou estar adormecido como Jake, e percebeu que aquele era seu castigo por enganar o amigo. Poucas vezes se arrependera tanto de alguma coisa.

Isso durou, porém, apenas alguns minutos, pois logo em seguida Pidgeot diminuiu gradativamente a velocidade a um ponto em que ele estivesse próximo a de um voo normal de avião. De acordo com Mary Jane, em mais alguns minutos eles estariam em Celadon e Dave deixou o queixo cair mais uma vez. A viagem a pé ainda duraria cerca de cinco dias de forte caminhada. Pidgeot a fazia em menos de 30 minutos.

Logo Dave conseguiu observar uma enorme coluna de montanhas no horizonte, e bem a frente deles estava uma imensa cidade, com prédios altos e construções para todos os lados. A única cidade daquele tamanho que Dave vira era Zaffre e, ainda assim, não tivera a vista privilegiada que possuía agora. De cima, Celadon era majestosa. Em um ponto próximo ao centro da cidade ele viu um imenso prédio com globos vermelhos, imitando o topo da cabeça de um Gloom, a evolução imediata de Oddish, e deduziu que ali era o ginásio. Com tudo o que vinha acontecendo ultimamente, era bom pensar em algo tão trivial e ao mesmo tempo importante como uma nova insígnia.

Pidgeot sobrevoou o centro da cidade enquanto Mary Jane olhava para baixo, assim como Dave, observando a cidade. Depois de alguns minutos, enquanto o garoto ainda estava maravilhado com os topos dos prédios abaixo de seus pés, Mary Jane avistou um grande prédio com o enorme “P” vermelho. Pidgeot se direcionou a ele e pousou no heliporto da cobertura, apoiando Jake com leveza no gelado chão de cimento. Dave e Mary Jane desceram com um pulo e o menino tropeçou ao chegar ao chão, não conseguindo manter-se em pé. Suas pernas ainda tremiam descontroladamente e Mary Jane não conseguiu não rir.

– Bom, eu vou ali embaixo pedir uma maca para o Jake e, aparentemente, uma cadeira de rodas para você Dave. – riu-se a menina.

Dave olhou-a, sorrindo levemente da brincadeira.

– Não vou precisar, mas vai mesmo. Eu fico aqui cuidando do Jake – disse ele, ainda sentado no chão onde caíra, claramente assustado.

Rindo, a ruiva desapareceu pela porta de acesso, recolhendo seu Pidgeot enquanto entrava no prédio.

Minutos depois a ela passou novamente pela porta, acompanhada de uma enfermeira Joy, uma Chansey e uma maca para carregar Jake. Dave já conseguia se por de pé e estava agora ao lado de Jake, respirando mais calmamente apesar de ainda estar andando de um lado para o outro. Eles colocaram o menino mais novo na maca enquanto a enfermeira Joy fazia questão de lembrar que aquele tipo de atitude não era recomendável e que humanos não deveriam ser expostos aos ataques dos Pokemons. Dave sabia, entretanto, que aquele era o tipo de conselho que todo médico daria, mesmo que os riscos fossem mínimos. Ele viveu numa fazenda por boa parte da sua vida, lidando com diferentes Pokémons e estando exposto a todo o tipo de reação, passando diariamente por situações que os médicos consideravam pouco aconselháveis. Não desprezava o trabalho dos especialistas em saúde, mas aprendera com seu pai que se o mundo obedecesse a todos os conselhos médicos ele evoluiria muito mais lentamente.

Algumas horas depois o garoto vindo de Auburn acordou assustado em uma das camas de tratamento de Pokemons e viu Dave e Mary Jane sorrindo para ele. Ele fica estático e seu queixo vai caindo gradativamente a medida que Dave explica tudo o que aconteceu e o porque de o menino estar deitado numa cama de hospital. Ele ainda não conseguia acreditar.

– Você usou o pó do sono em mim?!

– Calma, Jake. A enfermeira disse que você vai ficar bem – explicou a ruiva, ainda sorrindo.

– Mas, você usou pó do sono em mim?!

Dave revirou os olhos enquanto o menino continuava em estado de choque. Dave pensara em ignorar os protestos do menino até que eles cessassem, mas assim que pensou duas vezes reconsiderou. O problema é que já era tarde de mais.

– Eu não acredito! Você usou pó do sono em mim! Porque você fez isso, Dave? Porque? Qual o seu problema?! Eu estou no hospital agora está vendo? A enfermeira Joy teve que falar que eu vou ficar bem para você descobrir. Você não sabia o que podia acontecer! Já pensou se eu tenho alergia? Eu tenho alergia a um monte de coisa que você não sabe está bom? Eu podia estar bem pior! Podia ter caído no chão e batido a cabeça, quebrado um osso, já pensou?! Uma vez eu quebrei o meu pulso, quando era menor sabe e doeu para caramba Dave, muito mesmo! Eu fiquei meses com ele para...

– Já entendi! Já entendi – explodiu Dave, vendo mais um dos ataques histéricos e falantes do menino – Me empresta a Squirtle para ela te ajudar a ficar mais calmo vai...

Jake ficou estático com a reação do amigo e Dave aproveitou para continuar, agora mais calmo.

– Olha, eu sei que não foi a melhor solução, mas pensa bem, você não teve que ver o vôo até aqui. A gente sabe que você não queria. Eu só te ajudei! E para sua informação eu sabia que não ia te fazer mal porque a Equipe Rocket já usou desse truque na gente e você ficou bem. Relaxa ok?

Jake ficou quieto, raciocinando as palavras do amigo enquanto Mary Jane arregalava os olhos.

– A Equipe Rocket já usou?

– Longa história – disse Dave, voltando-se novamente para o amigo mais novo – Desculpa, mas era o melhor jeito de virmos para cá.

– Ok, deixa para lá – disse Jake, ainda um pouco ressentido – quando que eu posso sair daqui?

– Agora mesmo – disse MJ – a enfermeira disse que você só precisava acordar para ser liberado. Já pegamos dois quartos e colocamos as suas coisas lá.

– Obrigado - Jake levantou-se da cama e ficou de pé, se espreguiçando – sabe, até que não foi ruim dar uma descansada depois do almoço.

Todos riram enquanto se encaminhavam para fora da enfermaria e se dirigiam aos seus quartos para se acomodar melhor. Dave e Mary Jane sentiam que deveriam provavelmente estar mais animados para enfrentar o ginásio da cidade, mas, por algum motivo, os dois pareciam estar mais animados com todas as possibilidades que a cidade oferecia do que realmente enfrentar a líder do que parecia ser um ginásio especialista em Pokemons de Planta. De qualquer maneira, Jake havia dormido por algumas horas e o dia já estava se encaminhando para o fim, portanto eles deveriam esperar até o dia seguinte para começar a explorar tudo o que a cidade tinha a oferecer.

Dave resolveu ir treinar no centro de treinamento que o prédio possuía, subterrâneo como os grandes prédios costumavam possuir, enquanto Jake e Mary Jane foram conversar com treinadores e até mesmo com a própria enfermeira Joy sobre o que a cidade possuía e possivelmente conseguir um mapa do lugar. Era muito interessante o jeito que Mary Jane viajava, parando para realmente ver as cidades em que passava. Agora que o menino parava para pensar, a única cidade em que realmente conhecera durante a viagem fora Brass e isso porque ficou lá durante mais tempo para participar de um torneio. Nunca explorara nenhuma cidade que não oferecesse outro atrativo se não um ginásio ou torneio de Pokémon. Por alguns momentos, ele chegou a se arrepender de tantas oportunidades perdidas.

Dave relembrou de sua passagem por todas as cidades enquanto exercitava seus Pokemons e suas respectivas técnicas de batalha para que elas não caíssem em desuso. Por mais que não estivesse tão empolgado em relação ao ginásio de Celadon isso não significava que não deveria estar preparado. Não havia motivos para não acreditar que aquela seria a mais difícil batalha até então e ele decidiu trabalhar em cima dessa hipótese, deixando cada um de seus Pokemons no melhor estado possível antes de deixá-los descansando com a Enfermeira Joy. O rapaz dedicou uma atenção e cuidados especiais no treinamento de Oddish. Descobriu que ele pode ser resistente e duro na queda, mas que parecia ainda ser muito novo e não estar completamente desenvolvido. Sabia as técnicas básicas como os ataques com diferentes tipos de pó, além do ataque absorver, investida e outras técnicas comuns, mas não possuía nenhuma força especial ou qualidade que chamasse atenção. Ele claramente ainda estava em desenvolvimento e Dave sentiu gosto em ver que teria um belo trabalho com aquele pequeno Pokémon no tempo futuro. Apesar disso, Haunter com certeza foi o que exigiu mais da paciência do treinador. O fantasma se recusava a praticar os exercícios que o garoto ordenava, voando pelo centro e pregando peças nos outros Pokémons, não só de Dave, mas de outros treinadores. Botou um Ivysauro para dormir no meio de uma batalha de treinamento, fazendo Dave acordá-lo a força com Poliwag e também assustou um Jigglypuff de tal forma que a treinadora teve de para o treinamento e voltar para o quarto. Obviamente, ela parou para insultar Dave antes de tomar o elevador.

Apesar de tudo, quando o relógio bateu a meia noite o menino resolveu encerrar a noite e voltar para o quarto para dormir, afinal o dia seguinte prometia ser bastante diferente da rotina. Deixou os Pokemons com a enfermeira, com a exceção de Eevee, e voltou para o quarto esperando descobrir o que Jake e Mary Jane haviam planejado para o dia seguinte, mas se decepcionou ao ver Jake já adormecido. Sem muitas outras opções, ele silenciosamente se lavou e deitou-se na cama de cima do beliche como de costume. Não percebera que estava tão cansado até ali, as o menino adormeceu quase que instantaneamente.

Menos de cinco minutos depois, ou assim pareceu para Dave, o rapaz ouviu um som estridente como um alarme. Eevee despertou com um pulo e assustou o garoto que rapidamente se levantou para tentar entender o que estava acontecendo. Olhou em volta e percebeu que o quarto estava mais claro do que estava alguns minutos atrás, mas a luz ainda estava apagada. Uma luz que não deveria estar ali cruzava as cortinas da janela e iluminava o ambiente apenas o suficiente para o garoto entender que o som vinha de um pequeno relógio redondo na mesa de cabeceira ao lado de Jake. Logo em seguida as mãos do menino mais novo se esticaram da cama e desligaram o aparelho e ele se levantou se espreguiçando. Dave olhou duas vezes no relógio antes de ter certeza do que lia nele. Não fazia sentido nenhum. Não era para ser tão cedo, afinal, ele tinha acabado de ir dormir. E ainda mais, por que o despertador estava tocando tão cedo?

– Jake, são seis da manhã! – disse ele, deixando-se cair deitado na cama novamente enquanto Eevee bocejava e esfregava os olhos com as patas.

– Eu sei, está na hora da aula – a voz do garoto ia crescendo em animação enquanto ele se levantava.

– Que aula Jake? Você endoidou?!

– Não Dave, vamos! A aula do professor Carvalho começa as sete e a universidade fica há vinte minutos daqui!

O garoto de Grené voltou a abrir os olhos ligeiramente assustado com a animação do amigo. Ele não acreditava que o garoto estivesse falando sério, mas, aparentemente, o aspirante a pesquisador Pokémon não estava de brincadeira.

– Vamos Dave. Você sabe que se fosse o Bruno ou a Lorelai que estivessem aqui você estaria que nem louco atrás deles...

Dave teve que concordar que se qualquer um dos quatro maiores campeões do continente estivesse de fato na cidade ele estaria correndo atrás de cada passo deles, mas acordar às seis da manhã era realmente algo torturante depois de um dia de viagens, lutas e treinamentos. Estava quase desistindo quando Jake disse o que ele precisava ouvir.

– Ele é o maior especialista Pokémon do continente e até o Professor Noah admira o trabalho dele. Vi uma entrevista uma vez quando ele disse isso. Eu me lembro exatamente das palavras dele: “Se existe alguém que pode desvendar qualquer mistério sobre os Pokemons, é o Professor carvalho”. Eu tenho uma enorme enciclopédia Pokémon lá em casa escrita por ele sabe. E ele da aula aqui na universidade de Celadon, só dois dias por semana. Depois de hoje, só vou conseguir vê-lo semana que vem...

Dave havia parado de ouvir logo depois do depoimento que o amigo transcrevera do Professor Noah. Se o velho especialista estava certo, o Professor Carvalho era a sua melhor chance de descobrir o que seu Eevee tinha de especial. De repente a idéia de levantar cedo e caminhar até uma universidade Pokémon não pareceu tão ruim assim. Mesmo sob os protestos veementes de Eevee o menino se levantou e começou a se arrumar junto a Jake.

– A MJ também vai?

– Não – respondeu o mais novo – Ela disse que a cidade tem muitos centros de compras e ela queria aproveitar para conhecê-los. Honestamente, não sei como ela tem dinheiro. Acho que os pais dela devem mandar, mas não quis perguntar. Marquei de encontrá-la para o almoço em um ponto de encontro, mais no centro da cidade.

Dave encolheu os ombros, decidindo que aquilo não era importante no momento. Ele saiu do quarto e parou apenas para recuperar seus Pokemons com a enfermeira, que se surpreendeu com a disposição dos garotos àquela hora. Mesmo que estivesse sorridente e simpática como de costume, até mesmo ela estava sonolenta.

Os meninos seguiram pela rua do Centro Pokémon guiados pelo mapa que Jake havia conseguido na noite anterior. A cidade era incrível, com uma arquitetura detalhista e curva, cheio de edifícios modernos e construções impressionantes. Repleta também de parques por todos os lados, a dupla de amigos cruzou ao menos três a caminho da universidade, onde viram uma diversidade de pessoas incrível para qualquer hora do dia, mais ainda quando se considerava quão cedo estava. Entretanto, o que mais impressionava sem duvida nenhuma, era o aroma leve e agradável que parecia rodear cada esquina. Era como se cada poste, prédio e casa estivessem ricamente perfumados com a mesma fragrância doce, suave e elegante.

Após vinte minutos, como previsto, eles cruzaram um arco alto feito de tijolos e metal onde podia se ler “Universidade de Celadon”. Poucos metros a frente uma placa verde desenhada com flores dava as boas vindas aos visitantes. O campus era incrivelmente amplo, aberto e estonteante. Ruas cortavam os prédios baixos e espalhados por todo o campo de visão dos impressionados amigos. Nunca tinham visto um lugar como aqueles. Jake imediatamente se arrependeu de ter prometido encontrar a amiga na hora do almoço daquele mesmo dia. Se pudesse, ficaria ali até que o expulsassem.

Rapidamente eles consultaram o mapa para descobrir onde ficava o prédio em que o professor estaria lecionando e se direcionaram diretamente para lá, deixando para explorar a cidade universitária mais tarde. O movimento de jovens estudantes era incrível. Dave nunca tinha visto tantos jovens diferentes em um mesmo lugar. Andavam de um lado para o outro, indo para os mais diferentes prédios e seguindo para as suas respectivas aulas, sempre sorrindo, conversando ou se espreguiçando. Jake olhava tudo com muita admiração, sonhando um dia estar ali também. Ele mal podia começar a imaginar quantas daquelas pessoas haviam começado sua trajetória no mundo Pokémon como ele, alunos de ginásio e viajantes exploradores, vivendo as mais diversas experiências e agora sentavam para colocar todo o conhecimento em prática, começando a expandir o seu conhecimento prático para desenvolver os mais diversos estudos. Aquela universidade era o destino de qualquer aspirante a pesquisador Pokémon do continente, ele diria que muitos ali vinham de outros pontos do mundo. Seus olhos nunca tinham brilhado com tanta intensidade.

Ao chegar a um dos prédios de tijolo, com apenas dois andares, no meio de um amplo pátio cimentado cercado por arbustos, Jake apontou para a entrada que levava a um corredor longo, cheio de portas laterais que provavelmente se abririam para salas de aulas cheias de alunos se preparando para a chegada dos Professores. No fim do corredor os amigos avistaram diversos adultos andando juntos, vestidos formalmente e claramente mais velhos que todos os outros ali presentes. Alguns se separavam do grupo e entravam em salas no meio do seu caminho, o que fez com que o treinador de Grené suspeitasse que fossem os professores chegando. Jake, entretanto, estava paralisando, olhando cheio de admiração para o homem de cabelos grisalhos que andava rindo com os seus colegas de trabalho. Ele trajava uma camisa com um forte tom de vinho e calças beges clara, presas com um cinto marrom enquanto se encaminhava para sua sala.

Jake percebeu que ele entrava em um das portas a direita e o seguiu sem medo de ser pego, esperando se confundido com um aluno, enquanto Dave era pego de surpresa pela atitude do menino, deixado do lado de fora sem saber o que fazer. Quando finalmente decidiu seguir o amigo para dentro da sala, ouviu uma voz desconhecida a chamá-lo.

– Ei, menino do Eevee!

O garoto de Grené se virou assustado para a garota que o chamava. Ela era mais alta, tinha cabelos louros, olhos azuis claros e um corpo maduro, apesar de uma aparência aparentemente inofensiva. Enquanto se aproximava sorrindo para Dave, visivelmente mais baixo e mais infantil, o menino ficou momentaneamente sem ar com a visão da desconhecida.

– Prazer, meu nome é Sini. Que lindo Eevee você tem – disse ela, se abaixando para acariciar a cabeça da pequena raposa marrom, que sorriu ao seu toque suave.

– O-o- Obrigado...

A menina riu do nervosismo do garoto mais novo.

– Você é um treinador não é? Não é novo de mais para estar aqui?

– Eu... eu...é que... meu amigo, ele...

Agora gargalhando, a menina se levantou e estudou o garoto a sua frente com interesse, enquanto parecia pensar no que fazer em seguida. Para Dave, aquela gargalhada simples, leve e curta soava quase como música.

– Eu estudo Psicologia Pokémon aqui na Universidade. Imagino que esteja só visitando enquanto faz sua jornada não é?

Dave resolveu acenar com a cabeça, desistindo da aparentemente perdida habilidade de formar palavras e frases.

– Eu sabia! O que você acha de uma batalha?! Meu professor faltou e a turma inteira está liberada nesse tempo. Nós vamos ali atrás do prédio para lutar e se divertir um pouco, e se você quiser, está convidado. É sempre legal termos alguém diferente para lutar.

O menino não sabia nem o que pensar. De repente uma garota mais velha, estonteantemente bonita e simpática havia resolvido convidar justamente ele para participar de uma batalha Pokémon na universidade, aparentemente porque gostara de seu Eevee e a turma estava cansada de lutar sempre entre si. Seu instinto de treinador e de homem falou mais alto do que qualquer outra coisa naquele momento e o rapaz conseguiu, finalmente, pronunciar uma palavra.

– Claro!

Dave seguiu a bonita jovem pelo corredor e saiu do prédio onde Jake tinha aparentemente invadido uma aula do Professor Carvalho. O menino começava a se preocupar em se afastar de mais e se perder do amigo, mas logo percebeu que a garota não o conduzia muito longe. Eles seguiram em volta do prédio de tijolos e quando chegaram à parte de trás cruzaram a mureta de arbustos que separava o piso de cimento da grama bem cuidada do campus da faculdade. Não muito longe dali Dave viu um grupo com cerca de trinta pessoas, meninos e meninas, que pareciam ter a mesma idade de Sini reunidos em um circulo, todos em pé. Aquela deveria ser a turma de Sini e ali deveriam acontecer as batalhas. Como estavam em uma grama muito bem cuidada, Dave chegou a olhar para o lado procurando placas de “não pise na grama”, mas não viu nenhuma.

O garoto não sabia se ficava animado ou nervoso com a luta que viria a seguir, ou se olhava para a pele pálida da menina refletindo cuidadosamente a luz do sol, causando a sensação de que ela brilhava. O efeito que a menina causava nele lembrava muito outra mulher, também mais velha do que ele, que se recusara a entregar a insígnia do mel para ele e Mindy no inicio de sua jornada. Lembrando-se do caso, ele resolveu tentar focar no que viria a seguir. O adversário era imprevisível, mas considerando que eram pessoas bem mais velhas, talvez fossem bem mais experientes que o menino. A dúvida que lhe restava era que, como eram estudantes em vez de treinadores, talvez ele tivesse mesmo alguma vantagem.

Quando Sini chegou com Dave ela entrou diretamente no centro do circulo de amigos, enquanto Dave parou de andar bem na borda, não se sentindo confortável o suficiente para estar no centro das atenções. O que a estudante disse, porém, acabou fazendo com que todos ali virassem para ele mesmo assim.

– Gente, eu encontrei um treinador visitante e ele aceitou uma luta. O nome dele é Dave – disse ela, com a voz doce de sempre – e ele tem um Eevee tão fofinho...

Dave corou quando todos da roda viraram para ele e o examinaram dos pés a cabeça. As roupas dos jovens não pareciam normais. Eram mais largas, coloridas e estampadas do que o normal que se via pela rua e o menino subitamente se sentiu fora de lugar com seu simples casaco verde. As meninas pareciam ter o rosto distorcido, como se pintado e sujo de algum tipo de pó colorido, tudo em exagero. Alguns meninos tinham penteados estranhos, com o cabelo maior de um lado do que no outro e uma das meninas tinha o cabelo pintado de lilás, o que chocou o garoto de Grené. Nada, porém foi mais chocante do que quando uma morena, aparentemente normal e bonita, virou o rosto e revelou que um lado de seu cabelo era raspado completamente, deixando exposto o seu couro cabeludo. Talvez aquela fosse a moda da cidade e Dave tentou não julga-los, afinal, podiam se vestir como quisessem, mas, sendo aquilo normal ou não, ele percebeu que talvez não pertencesse ali.

A maioria cumprimentou o visitante com a cabeça e alguns poucos sorriram e disseram “oi” para quem o rapaz também respondeu com um breve sorriso tímido e um aceno de cabeça. Eevee se enfiou por entre as pernas de Dave assim que todas as atenções se viraram para ele, o que apenas fez com que as meninas, em uníssono, soltassem uma forte exclamação “ooowwn!”. Dave já estava se arrependendo quando um jovem com camiseta preta com um símbolo desconhecido resolveu se pronunciar.

– Então, quem vai lutar com esse moleque ai?

Dave virou-se para o garoto quase instantaneamente, fulminando-o com o olhar. As únicas pessoas que costumavam tratar ele daquele jeito era a Equipe Rocket, e Dave não costumava deixar barato. Se aquele garoto continuasse era possível que ele perdesse a timidez que o vinha mantendo calado. O garoto mais velho, porém, não teve chance de voltar a falar por que o que se seguiu foi um enorme falatório que marcava a discussão de quem iria batalhar com o pequeno treinador em jornada que visitava a faculdade. Como Sini havia lhe dito, eles estava sempre querendo novas pessoas para batalhar e agora Dave era o sangue novo no território alheio. O falatório era tanto que Dave nem ao menos conseguia entender o que estava sendo dito até que, do meio do grupo, mais uma vez a voz de Sini se fez ouvir. Mas dessa vez ela estava mais forte e dominante e ressoou sobre todas as outras.

– Eu o achei, o convidei e o trouxe. Quem começa sou eu.

Aquilo não foi uma pergunta, nem uma ideia, muito menos uma sugestão. O tom dominou todas as vozes e de repente aquilo parecia quase uma ordem, e todos aceitaram surpreendentemente bem. O único que falou alguma coisa foi o menino de cabelos espetados, e ainda assim apenas para concordar com a amiga. Dave percebeu que, assim como Apis, talvez aquela menina doce e bonita tivesse os seus espinhos escondidos. Virando-se para o garoto de Grené, ela sorriu mais uma vez.

– E então, vamos?

Rapidamente as pessoas formaram um grande circulo em volta dos dois desafiantes, deixando Dave e Sini frente a frente com um espaço de cerca de 5 metros entre eles. Não era muito, mas podia-se lutar ali. A menina o olhava confiante em sua blusa branca e saia azul de estilo colegial. Agora que o menino parava para pensar, a menina nem ao menos parecia pertencer aquele grupo pelo jeito com que se vestia.

– A luta será de um contra um, sem limite de tempo ok?

Dave concordou com a cabeça enquanto ela sacava a sua Pokebola que rapidamente cresceu e tomou toda sua delicada mão.

– Por que não escolhemos os Pokemons ao mesmo tempo? Assim ninguém tem a vantagem – disse ela, sorrindo abertamente como tinha feito dentro do prédio. Dave se perdeu por um momento olhando para a garota até que se forçou a se concentrar. Já havia se complicado antes por causa de garotas bonitas e se não quisesse dificuldades novamente, tinha que tratar essa como qualquer outra batalha. Ele apenas acenou positivamente com a cabeça sacando a Pokebola de Oddish, decidido a dar experiência de batalha para a sua mais nova aquisição. A menina de cabelos lilás se posicionou como uma juíza e deu inicio a luta.

– Vai Oddish!

– Vai Ekans!

O pequeno Pokémon de planta se liberou da Pokebola e se viu de frente para uma longa cobra alongada, com a pele roxa de listras amarelas e olhos da mesma cor, amedrontadores. O seu silvo era alto e ela tinha algo que soava como um chocalho na calda. Dave imediatamente sacou sua Pokedex para obter mais informações sobre seu adversário.

“Ekans. O Pokémon Serpente Venenosa. Com sua pele roxa, essa cobra pode ser facilmente achada em planícies gramadas. Se alimenta de ovos de Pokemons pássaros como Pidgeys e Spearows e conseguem deslocar seu maxilar, o que possibilita engolir presas de tamanhos variados. Apesar disso, suas presas não possuem veneno”.

Dave absorvia cada informação que a pokedex lhe dava, como o fato de Ekans ser venenosa, por tanto ele estar em desvantagem uma vez que os golpes de planta de seu Pokémon teriam efeito reduzido e o fato dela ter sua maior arma na mordida, mesmo que ela não fosse venenosa.Sini, por outro lado, parecia não ter precisado pesquisar as informações sobre o adversário pois começou atacando sem medo, enquanto o adversário ainda se distraia tentando se preparar melhor para o que vinha pela frente.

– Ekans, use o Envolver!

A cobra que se encontrava parada, enrolada em seu próprio corpo, deu um único impulso para frente que a lançou na direção do pequeno Pokémon erva indefeso. O salto foi forte, como se a cabeça da corda fosse a ponta de uma corda lançada que puxava todo o corpo atrás de si pelo ar, mas ela tinha um alvo certo e a direção não estava errada de modo que em pouco tempo conseguia envolver o corpo do oponente por inteiro. Dave viu que duas voltas do grande e forte corpo da cobra eram o suficiente para fazer com que o corpo do seu Pokémon sumisse completamente de vista deixando apenas as folhas à vista. Oddish berrou alto quando a cobre o apertou com força e Dave se viu em uma situação difícil. O treinador, porém começava a perceber que uma situação difícil em batalha não significava a derrota. Tivera diversos momentos difíceis durante a jornada até ali e eram sempre deles que ele sempre se orgulhava de conseguir se safar.

– Oddish, use os esporos paralisantes!

O pó amarelo dourado começou a ser lançado pelo topo do bulbo da pequena planta, saindo por cima de suas folhas e cobrindo o corpo de Ekans que de repente fez um movimento tentando inutilmente fugir do ataque. A cobra afrouxou o aperto sobre o adversário enquanto seu corpo lentamente ia se contraindo e paralisando. Oddish, afetado pelo ataque físico do oponente sobre seu pequeno corpo caiu cansado e visivelmente com dores pelo corpo.

– Oddish! Você está bem? – disse Dave, já se preparando para sacar a Pokebola, mas o pequeno Pokémon não queria desistir e logo estava lutando para se recolocar de pé, arrancando uma exclamação positiva de seu treinador – muito bom! Agora vamos acabar com isso! Use a investida!

O pequeno Pokémon de planta se lançou contra a cobra paralisada com toda a força de seu corpo, sabendo que talvez aquele não fosse o ultimo ataque da batalha. Desde que o adversário continuasse paralisado, porém, ele não teria muitos problemas. Mas para a surpresa de Dave, assim que Oddish se aproximou para acertá-la, Ekans se moveu novamente e escapou do movimento, colocando um sorriso da boca de sua treinadora.

– Parece que eu sobreestimei você garoto. Deveria saber que esse ataque não duraria muito tempo.

– O que?! – disse Dave, tentando absorver o que estava acontecendo. Sua cabeça imediatamente deu pane ao ouvir o que a garota dizia. A adrenalina da batalha diminuiu ali e ele sentiu-se congelando pouco a pouco. Não era apenas a surpresa de Ekans conseguir se recuperar tão rapidamente dos esporos paralisantes, mas também o fato dela ter tido a mesma reação que seu Eevee tivera. O menino olhou perdidamente para seu amigo marrom a seu pé e voltou a olhar a batalha ainda sem conseguir juntar as informações. Se Ekans também podiam se curar isso significava que aquela habilidade não fazia de Eevee algo especial. Será que isso significava que tinha alguma coisa de errado com Oddish e seu ataque? Será que ele ainda não era forte o suficiente? Ainda sem conseguir arrumar suas respostas, Dave perdeu um precioso momento da batalha repassando seus pensamentos, justamente o suficiente para que Sini se aproveitasse.

– Ekans, está na hora de transformar esse baixinho em comida! Use a mordida!

A boca da cobra se abriu tanto que todas as energias do corpo de Dave instantaneamente se voltaram para o medo de que ela fosse engolir seu Pokémon, saboreando cada pequeno pedaço da erva que ele era. Dave ali experienciou como poucas vezes antes o terror total. Ekans, em vez de engolir, mordeu mais da metade do corpo de Oddish, fazendo o pequeno bulbo pulsar de dor. As presas da cobra se afundaram na pele da planta e ela parecia continuar apertando, cada vez mais forte. O grito do Pokémon de Dave foi tão alto que espantou um pequeno bando de Pidgeys que repousava na arvore mais próxima. E em vez de temer que a cobra engolisse seu Pokémon, agora treinador sentia que estava presentes a vê-la parti-lo ao meio.

– OOOOODDIIISH!

Dave tremia dos pés a cabeça vendo o que aquele momento de distração tinha causado a seu Pokémon quando Sini e seus amigos lhe trouxeram de volta a realidade. Sem esperar a decisão da juíza, a menina chamou seu Pokémon de volta e deu um alto comando para os amigos a sua volta.

– Vamos! Corram!

Mas eles não precisavam que dissessem duas vezes. A juíza já estava muito longe do sei lugar no campo de batalha, correndo pela grama na direção de outro edifício da universidade enquanto todos se espalhavam e desapareciam rapidamente. A bonita menina loira só teve tempo para dar mais umas palavras ao atordoado Dave antes de também desaparecer correndo pela imensidão da Universidade.

– Garoto, saia daqui antes que os seguranças cheguem. Eu me esqueci de falar que não podemos batalhar aqui dentro...

Dave não sabia o que fazer. Seu Oddish ainda estava se contorcendo de dor com as marcas das presas de Ekans em volta de todo o seu corpo. Ele fazia muito esforço para não chorar e seu treinador fazia o mesmo. Sem conseguir se controlar, o menino pensou que iria perder o pequeno Pokémon antes mesmo de ter a chance de treiná-lo direito e quase chegou a se arrepender de capturá-lo e tirá-lo de sua vida tranqüila com a sua família e amigos. Será que ele não seria um treinador bom o suficiente para treiná-lo? Será que tivera sorte com todos os outros Pokemons que capturara antes? Era incrível como tanto passara na sua cabeça nos poucos segundos em que Ekans tinha atacado, mas agora, com diversos minutos para fugir dali e dos problemas que poderia ter, a única coisa que ele conseguia fazer era ficar de joelhos acariciando seu Pokémon ferido e pedindo-lhe desculpas. Afinal, para onde ele iria fugir?

Quando os seguranças chegaram acharam-no na mesma posição, mas Oddish já havia desmaiado. O treinador tinha sido inteligente o suficiente para pressionar as feridas com sua camisa até que elas parassem de sangrar, mas o pequeno Pokémon de planta continuava em estado grave. As lágrimas caiam pelos olhos do menino, que parecia atordoado de mais para tomar qualquer atitude. Dave nem ao menos conseguia pensar. Os homens mais velhos, dois deles, se vestiam de preto e pareciam ser fortes. Seus físicos batiam com muita sobra o do detetive Henry, mas ainda assim eles não correram atrás dos alunos infratores. Em vez disso, levantaram Dave segurando-o pelo braço e mandaram que ele recolhesse o Pokémon.

– O outro também – disse, apontando com a cabeça para Eevee, mas Dave fez que não com a cabeça e eles acabaram aceitando.

Disseram alguma coisa que Dave não entendeu e o puxaram para dentro do prédio com força, mas sem machucá-lo. O garoto, por sua vez, não ofereceu muita resistência, mas não conseguia parar de repetir que precisava de ajuda para seu Pokémon.

– Eu preciso cuidar do Oddish – dizia ele, repetidamente, sem saber se falava para si mesmo ou para os dois seguranças que o escoltavam sabe-se lá para onde. Apenas quando um deles respondeu comum tom calmo, Dave calou-se.

– Estamos providenciando isso garoto.

Ele foi levado para o mesmo prédio onde conhecera Sini há menos de uma hora atrás e foi guiado pelo mesmo corredor. Ele ainda conseguia vê-la ali, parada, bonita, convidando-o para uma batalha amistosa como uma diversão. Ele não esperava que ela chegaria ao ponto de quase comer seu Pokémon, nem ao menos que a batalha era ilegal nos perímetros do campus universitário. Sem perceber ele já sentia raiva da garota bonita e de seu senso estúpido de se deixar levar por elas. Um aperto no coração lhe doeu quando ele pensou em Mindy e desejou que ela estivesse ali com ele. Com certeza ela o teria impedido ou quereria saber mais, além, é claro, de explodir de ciúmes por causa da menina, considerando que os dois ainda estivessem juntos até ali. Logo ele percebeu que pensar na garota era doloroso de mais, e preferiu voltar para a realidade.

Ainda estava parado no mesmo ponto onde parara antes, quando conheceu a universitária, mas agora tinha um segurança ao seu lado, parado, nem ao menos o segurando pelo braço. O primeiro impulso do menino era correr, mas algo o chamou a atenção antes que ele fizesse isso. Onde estava o outro segurança? Eevee roçou em sua perna e ele olhou para baixo assim que um barulho de porta abrindo pode ser ouvido. Um homem de cabelos levemente grisalhos, com uma camisa vinho para dentro do cinto acompanhava o segundo segurança enquanto ambos saiam da sala e examinavam Dave e Eevee. De onde Dave conhecia aquele homem?

– É esse, Professor. Acho que os garotos pegaram pesado com ele em uma batalha e ele ainda está em estado de choque. O Pokémon dele estava em má forma quando o encontramos e achei que seria mais rápido trazê-lo ao Senhor.

Professor? Então esse devia ser o Professor Carvalho. Aos poucos o menino ia voltando a perceber com mais clareza o mundo a sua volta até que Jake passou pela porta quase derrubando o Professor e o primeiro segurança.

– Dave? É você? O que houve? Falaram de uma batalha clandestina lá dentro. Foi com você? Como assim? Com quem? Você está be...

– Ei! – falou o professor, um pouco alto de mais. Quando perceberam quase toda a turma do Professor Carvalho se amontoava sobre a porta aberta tentando ver o que acontecia do lado de fora – Você disse “lá dentro”?! Você estava lá dentro? Desse tamanho e na minha aula? Quem é você?!

Jake corou imediatamente e não sabia como responder. Assim como seu amigo, o primeiro instinto fora correr, mas agora já era tarde de mais. Tinha se entregado e não tinha mais como escapar. O professor bufou enquanto os seguranças pareciam não conseguir compreender como poderia ter tanta coisa errada de uma vez só em seu turno. Finalmente, quando Dave já parecia um pouco mais atento, ele balançou a cabeça e voltou-se para sua turma.

– Foster, você termina essa aula para mim? Preciso resolver uns problemas aqui.

Um dos alunos passou a frente da turma para trocar poucas palavras com o professor sobre a seqüência da aula e, logo depois, o professor se virou para os seguranças.

– Na minha sala, esses dois, por favor.

–.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.

Dave e Jake não sabiam o que esperar da sala do professor e chegaram lá de cabeça baixa, ainda guiados pelos seguranças. Eles abriram uma porta no segundo andar do prédio, no fundo, e encaminharam os garotos para dentro. A sala não parecia ser muito ampla e aos poucos, quando foram deixados sozinhos com o especialista Pokémon, os meninos começaram a observar melhor o ambiente. Ela era espaçosa, mas não muito grande. Tinha uma grande mesa de vidro, bonita, coberta de papéis e porta retratos. Um deles continha uma mulher em uma foto claramente antiga enquanto outro mostrava um menino de cabelo espetado, camisa roxa e um cordão verde e amarelo no estilo Yin-yang. No fundo, encostado na parede, em cima de um móvel forte de madeira, se encontravam vários livros e alguns equipamentos que eles desconheciam.

O Professor pediu calmamente para os dois meninos se sentarem e sentou-se também em sua cadeira, do outro lado da mesa, ainda olhando para os dois. Depois de um momento de silencio absoluto e desconfortável, o homem abriu um largo sorriso.

– Então quer dizer que temos dois jovens treinadores que já se interessaram pela Universidade de Celadon? Isso é ótimo sabiam?!

Dave e Jake se entreolharam sem saber como reagir ao bom humor do Professor. Eles tinham acabado de violar uma imensa quantidade de regras da universidade, tinham tirado ele de sua aula sem lhe deixar terminar, tinham sido encaminhados ali por dois seguranças e o professor estava dizendo que aquilo era ótimo?

– Primeiro vamos aos assuntos mais urgentes garotos. O Wally disse que seu Pokémon estava gravemente ferido. O que houve? Seu Eevee parece bem.

– Wally? – disse Jake, estranhando.

– Sim, o Segurança. O nome é Wallace, mas bem, nós somos amigos... Mas e o Pokémon, o que houve rapaz? Por sinal, nem perguntei o nome de vocês...

Ainda surpreso, Dave respondeu.

– Eu sou o Dave e esse é o Jake – O professor acenou com a cabeça em reconhecimento, deixando o menino continuar – e o problema é com o meu Oddish. Ele sofreu uma grande mordida de uma Ekans. Na verdade, achei até que ela ia comê-lo inteiro, mas acho que se o Oddish não tivesse gritado alto o suficiente para os seguranças ouvirem ela teria arrancado um pedaço dele. E um bem grande!

– Entendo. Realmente, mordidas de Ekans são muito fortes se elas forem bem treinadas e podem ser perigosas se engolirem um Pokémon, mesmo vivo, mas acho que ela não conseguiria arrancar metade do seu Oddish, rapaz. E a mordida da Ekans não é venenosa. Seu pokedex deveria ser capaz de lhe dizer isso...

– Eu sei – disse Dave, olhando para baixo – mas eu acho que tem alguma coisa estranha com o meu Oddish, além disso, Professor.

– O que foi rapaz? – Dave suspirou antes de continuar

– Bom, é que os esporos paralisantes dele não funcionam. A Ekans, por exemplo, ficou paralisada por alguns segundos, mas logo voltou ao normal. E também...

Jake não deixou o menino terminar a frase, se apressando para responder uma pergunta para qual sabia a resposta na frente de seu ídolo.

– Ora Dave, não seja bobo! – o amigo olhou para ele surpreso, sendo pego em meio à fala – A Ekans pode ter uma habilidade especial chamada “trocar de pele” que pode curá-la de coisas como a paralisia, o envenenamento, queimaduras, pó do sono, etc...

– Como assim? – o garoto de Grené estava confuso – Então quer dizer que ela troca de pele? Eu não vi isso acontecer...

Dessa vez foi o Professor Carvalho, com seu sorriso, que lhe respondeu.

– Na verdade eles não trocam de pele literalmente, é só o nome que damos a habilidade, pois é quase isso que eles fazem. A Ekans não é o único Pokémon que sabe fazer isso. Eles identificam as células mais afetadas pelos efeitos causados por esses problemas que seu amigo descreveu tão bem – nesse momento ele lançou um breve olhar a Jake, que suspirou de orgulho – e elimina elas do corpo, substituindo-as quase imediatamente por outras. É tão rápido que dificilmente o que causa a paralisia ou o coma do sono, ou até mesmo o veneno, quase nunca consegue chegar a corrente sanguínea do Pokémon. Por isso que chamamos de troca de pele. A maioria das células substituídas são as da pele, nas camadas cutâneas e sub-cutâneas.

– Entendo – disse Dave, olhando pensativamente para Eevee que agora estava em seu colo. Será que Eevees poderiam fazer isso? Ele poderia descobrir facilmente perguntando para o professor, mas e se Eevees não pudessem ter essa habilidade normalmente? Será que o Professor Carvalho era confiável o suficiente para guardar segredos? Dave não sabia e, por isso, preferiu ficar calado.

– Dave não é? Me de aqui a Pokebola de seu Oddish. Tenho uma transportadora na minha sala que uso para transportar Pokemons para Pallet, mas posso redirecioná-la para o Centro daqui de Celadon. Assim A enfermeira cuida logo dele e você poderá recuperá-lo quando voltar. As feridas não devem ser tão graves como você pensa.

Dave imediatamente sacou a Pokebola de seu bolso e entregou para o homem, que mexeu rapidamente em uma das maquinas atrás de sua mesa e colocou a pokebola em cima dela, em um prato de metal que tinha o que parecia um tubo de aspirador em cima. Em questão de segundos a Pokebola brilhou profundamente, perdendo as cores até ser somente brilho, e então apagou sem deixar rastros.

– Pronto. Agora me contem o que vocês andam fazendo por aqui.

Dave e Jake contaram que tinha ido ali para conhecer o próprio professor, pois Jake gostaria de ser um pesquisador Pokémon e, apesar de morar mais perto de cardo, sempre tinha gostado mais do trabalho do Professor Carvalho. De acordo com o menino, alem da simpatia, ele gostava mais de explorar mais as fronteiras do mundo Pokémon enquanto o Professor Noah ficava muito preso há pesquisas locais.

O professor Carvalho aceitou o elogio e até concordou com a diferença que Jake fazia entre ele e Noah, mas fez questão de ressaltar que o pesquisador de Cardo era mais velho do que ele e que, quando mais novo, até mesmo o professor carvalho o admirava. Ele não fazia pesquisas sobre as fronteiras do mundo e não procurava estender os conhecimentos para outros lugares, mas de acordo com o professor de Pallet, o senhor Noah era responsável por boa parte das descobertas que eram dadas como conhecimento comum hoje em dia, e, para ilustrar, ainda disse que ele era o responsável pela pesquisa que comprovara o funcionamento da habilidade que o Professor acabava de lhes dizer, a “troca de pele”.

Dave de repente se sentiu orgulhoso de poder contar com a ajuda de um homem tão renomado em sua jornada e logo percebeu que talvez não tirasse proveito dessa vantagem o suficiente. Talvez ele devesse confiar mais no professor de Cardo. Ele pensou longamente sobre o assunto enquanto Jake mudava o assunto mostrando ao professor a coloração diferente de sua Butterfree, tentando entender o que aquilo queria dizer sobre seu Pokémon. A empolgação do garoto era tanta que o homem mais velho sentiu um imenso pesar quando lhe disse que às vezes Pokemons nasciam com algumas deformações genéticas que lhes davam cores diferentes, mas que isso raramente queria dizer algo a mais. Ele, porém, fez questão de instigar o menino a pesquisar mais, sabendo que era aquele tipo de atitude e curiosidade que o levaria a ser um grande pesquisador um dia.

Dave nunca tinha visto o amigo mais novo feliz como naquele dia, mas depois de cerca de uma hora dentro da sala do Professor, ele anunciou que deveria seguir para começar a aula seguinte.

– Garotos, foi um prazer conhecê-los e se algum dia sua jornada lhes levar a Pallet, por favor façam uma visita.

Jake fez a primeira careta do dia quando lembrou que Pallet não ficava na trilha dos amigos. Talvez se encontrassem Mindy até lá eles poderia desviar-se um pouco, mas por algum motivo ele não acreditava que isso ia acontecer. O seu fascínio, porém era tanto que ele se pegou em um momento pensando em abandonar a garota de lado e ir encontrar o Professor, mas logo espantou esse pensamento sacudindo a cabeça. Enquanto isso, Dave ainda se perguntava se poderia contar ao professor sobre seu Eevee. Se ele estivesse certo era mais provável que o Professor carvalho descobrisse o que estava diferente com o seu Pokémon do que o Professor Noah, afinal, se tinha que uma coisa que o seu Eevee gostava de fazer era quebrar fronteiras.

– Se não tem mais nenhum Pokémon a me mostrar, eu vou lhes pedir licença e seguir para minha aula.

– Na verdade eu tenho um – disse Dave, surpreendendo até a ele mesmo. Seu coração disparou e ele olhou para Eevee que arregalou imediatamente os olhos, não acreditando no que estava pensando. Mas no ultimo momento Dave mudou de idéia. Não estava na hora de confiar no professor ainda - É o meu Haunter professor. Ele é um pouco esquisito.

– Esquisito como? – perguntou o Professor, intrigado.

– Eu não sei explicar, talvez fosse melhor que eu te mostrasse – disse ele, sacando a Pokebola e liberando o fantasma ainda sem graça com a mentira que acabara de contar

O Pokémon saiu rindo, feliz e rapidamente observou o ambiente a sua volta.

– Aparentemente está normal – disse o professor. Dave, porém, sabia o que fazer.

– Olha só Professor. Haunter, use a lambida naquela porta! – ordenou Dave, mandando que Pokémon usasse o movimento na porta de entrada da sala.

Para a surpresa de todos, o fantasma se encaminhou para a porta e esfregou sua língua por toda a extensão da madeira, do chão ao seu limite no alto.

– Ele me obedeceu... – disse Dave, sem entender, enquanto o professor o olhava de canto de olho. De algum modo Dave sabia que Haunter estava fazendo isso de propósito, só para deixá-lo ainda mais sem jeito em frente ao professor.

– Seu Haunter me parecesse muito saudável, Dave. Agora se me da licença, pude deixar o meu monitor Foster na ultima aula, mas nesta, ele é na verdade aluno. Tenho que ir.

Dave pensou ter visto Haunter dar-lhe um sorriso malicioso enquanto o Professor passava pela mesa em direção à porta. Só então Dave entendeu. O fantasma não queria apenas fazer Dave de bobo na frente do professor, mas também atacar o professor. Quando pensou nisso, porém, já era tarde de mais. Assim que o homem encostou a mão na maçaneta completamente ensopada pela baba paralisante do fantasma ele percebeu o erro que tinha cometido. Sua mão paralisara ao toque da maçaneta.

– Mas, o que?! – disse ele, enquanto Haunter desatava em gargalhadas e voava em círculos dentro da pequena sala, fazendo caretas para Dave e para o Professor.

– Viu? Era exatamente disso que eu estava falando – disse Dave, tentando segurar o riso.

Até o professor não pode agüentar e acabou rindo também. Foram alguns minutos a mais, mas Dave conseguiu recolher o fantasma que não parava de se mover, enquanto o professor aplicava uma loção contra paralisia em sua mão para poder dar aula dizendo que talvez o problema com Haunter fosse um problema com limites e um bom humor em excesso. Nada com que Dave precisasse se preocupar muito.

– Bem que trocar de pele agora seria útil – riu-se o homem, se despedindo mais uma vez dos meninos – aproveitem Celadon rapazes. Já sabem o que vão fazer em seguida?

Jake foi o primeiro a responder, dizendo que ia passar o resto do dia explorando a universidade e vendo em quantas outras aulas ele conseguia se infiltrar sem que ninguém percebesse e Dave disse que iria ao centro comercial encontrar com Mary Jane no ponto em que ela tinha marcado com Jake na noite anterior. De noite eles poderia se reunir todos no Centro Pokémon novamente. E assim, os dois se despediram do Professor Carvalho e seguiram seus caminhos diferentes, sabendo que ainda tinham muito mais daquela cidade a explorar.


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Notas finais do capítulo

E então o que acharam?

Tenho uma pergunta para vocês: existe aqui um personagem do anime, além do Professor Carvalho, que aparece. Alguém sabe me dizer que é? Aceito palpites! =)

Espero vocês nos comentários! =)



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