Evolution: Parte 3 escrita por Hairo


Capítulo 5
A Princesa Amante da Natureza


Notas iniciais do capítulo

E aí, já adivinharam pelo título quem vai aparecer? Vamos a um novo desafio, galera!

Espero que curtam!



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Capítulo 5 – A Princesa Amante da Natureza

Dave e Eevee perderam uma hora caminhando do campus universitário até o centro comercial de Celadon. O céu continuava azul como sempre, mas o asfalto e o cimento da cidade aumentavam consideravelmente a temperatura em volta deles. Era uma das desvantagens de se estar em uma grande cidade. O menino tinha certeza de que se estivesse caminhando por uma estrada comum, como a que estavam antes de chegar ali, ele estaria sentindo o vento bater fraco no rosto e o frescor das plantas e pequenos rios que cruzavam seu caminho. Na cidade, porém, os prédios eram mais comuns que as arvores e o asfalto cobria a terra batida ajudando o calor a substituir a brisa fresca.

Apesar disso, Dave não tinha muito do que reclamar. A movimentação de pessoas e carros era grande, mas nada que o surpreendesse. Não chegava nem aos pés das noites agitadas de Brass que ele vira e vivera uma vez. Além disso, a medida que ia se aproximando do seu destino, mais e mais lojas surgiam a sua volta, vendendo os mais variáveis tipos de produtos voltados para todo tipo de público. Dave sabia que se aproximava do centro comercial, mas pelo que podia ver, já estava nele há algum tempo e não sabia. A cidade parecia um enorme shopping na rua. Lojas de roupas, de eletrodomésticos, livrarias, lojas de departamento, todo tipo de acessórios de Pokemons e até lojas de brinquedos, cheias, naturalmente, de crianças, se apertavam uma nas outras nas calçadas largas da cidade enquanto as pessoas passavam e seguiam suas vidas.

Dave pretendera ir direto ao ponto de encontro que Jake havia marcado com Mary Jane, mas logo se viu olhando pela vitrine de alguns acessórios para treinadores Pokémon. Uma grande vara de pescar era exibida na vitrine, branca, com o cabo vermelho, com dizeres “Super Rod”. Na vitrine do lado ele viu uma pequena loja especializada em Pokebolas que mostrava apenas uma única Pokebola de coloração diferente, roxa, e tinha um cartaz que dizia “Novas tecnologias que vão transformar o mundo Pokémon! Entre para saber mais”. O menino deu um passo na direção da porta da loja, mas Eevee o puxou pela borda da calça, lembrando o amigo de que logo estariam atrasados.

Dave desistiu de descobrir a nova tecnologia em Pokebolas, mas não apenas por estar atrasado para o encontro marcado com a amiga, e sim por saber, no fundo, de que não importava o quão impressionante aquela Pokebola pudesse ser, ele nunca teria como pagá-la. Agora ele invejava os treinadores que tinham como sustentar compras ali. Como faziam? Dave sabia que o governo sustentava os centros Pokemons para manter viva uma das atividades mais comuns da sociedade em que viviam, e que no fundo o dinheiro para a manutenção do centro e da Liga vinha, além dos impostos, também de toda as atividades relacionadas a Pokémon criadas e espalhadas pelo continente. Apenas o lucro com a realização da Liga Pokémon era algo inimaginável para o rapaz.

Ele aprendeu que os condimentos básicos para viagem não eram tão caros e, se você soubesse se aproveitar do ambiente a sua volta, conseguiria viver semanas em jornada sem parar para comprar nada. Poucas foram às vezes que seus pais lhe mandaram um pouco de dinheiro, que o menino insistia em guardar a todo o custo e, ainda assim, não era nem perto o suficiente para fazer compras em uma cidade como aquela.

Logo então ele voltou a pensar em Mary Jane. Não sabia nem o que os pais da menina faziam em sua casa e como ela tinha dinheiro para se manter, mas se o que ela dizia estava certo, pulando de cidade em cidade ela passava pouco tempo na estrada, o que pode significar menos gastos, ou mais, uma vez que não se consegue condimentos e materiais naturais com tanta facilidade. Além disso, será que as compras eram uma atividade habitual da garota? Será que aquela era uma ocasião especial ou ela simplesmente tinha o habito de refazer seu estoque de mantimentos em toda parada? Agora que pensava, a menina não carregava muita coisa consigo.

Encontrou-a na junção da rua principal, que cortava quase todo centro da cidade, e uma rua denominada “Rua da Pedra”. Ela estava vestida como sempre, mas um detalhe logo chamou a atenção do menino: tinha três sacos de compras na mão.

– Dave! Tudo bem? Bom dia! – Pelo que o menino lembrara, nunca havia a visto tão sorridente antes – Onde está o Jake? Ele não veio com você?

– Não, ele resolveu ficar na universidade. Disse que queria conhecer mais o lugar. Estava realmente muito animado, você devia ter visto...

Dave contou a menina o ocorrido na universidade, da batalha até o encontro com o Professor, dizendo que ele era muito simpático e bem humorado, e que fora muito atencioso com eles, até mesmo livrando Dave de um problema com os seguranças. Terminou dizendo que quem quer que um dia fosse treinador dele seria realmente sortudo.

– Mas e você? – disse ele – Como aproveitou a manhã?

– Fazendo compras é claro! Dave essa cidade é o máximo, você não está entendendo. Tudo o que você quiser ou precisar está aqui. Comprei uma mochila nova, porque a minha já está ficando meio gasta – nessa hora a menina mostrou as bordas da mochila, onde o couro descascava levemente. Dave lembrou-se que sua mochila estava pior do que aquilo quando saiu de casa – novos fones de ouvido, pois os meus já estão dando problemas de novo, reforcei meu estoque de remédios para primeiros socorros na estrada e não resisti a um novo par de óculos escuro.

– Uow, você comprou bastante coisa! - Dave suspirou antes de fazer a pergunta que vinha querendo fazer – Mary, se me permite, como você...

– Meu pai é um bom advogado e minha mãe é editora do jornal da minha cidade Dave – disse ela, sem demonstrar vergonha – Felizmente o dinheiro nunca foi um problema muito grande lá em casa.

– Nossa, eu não sabia...

A menina sorriu e continuou o assunto sem ter se mostrado incomodada com a pergunta pouco discreta.

– E eu tenho uma surpresa para você – disse ela, fazendo o garoto arregalar os olhos – Eu marquei esse ponto de encontro exato com o Jake por que sabia que você viria junto. Olhe de novo para o nome da rua e tente adivinhar o que tem aqui.

Dave voltou sua atenção rapidamente na placa acima da cabeça deles. O sol estava forte e ele teve que colocar a mão por cima dos olhos para facilitar a leitura, mas quando finalmente conseguiu diferenciar as letras ele percebeu o que a amiga queria dizer.

– Rua das pedras... – disse ele, baixinho, como se para si mesmo.

– Isso! E o que tem na rua das pedras, Dave?

O menino de Grené não acreditava. Ele lera sobre isso no livro que tinha em casa sobre Pokemons e ouvira algumas poucas pessoas falando disso antes, mas Eevee destruíra seu livro antes do fim do primeiro dia de viagem e Dave não voltou a ler ou procurar saber sobre as pedras da evolução. Agora que parava para pensar, deveria ter entrado nesse assunto assim que encontrou Eevee no bosque em frente a sua casa. Alguns Pokemons só poderiam atingir certos estágios de evolução se expostos à radiação de determinadas pedras, que iniciavam o processo de evolução ao simples toque na pele. Não eram muitos os Pokemons que evoluíam por esse tipo de processo, mas Dave sempre tivera o mais curioso de todos eles como amigo. Eevee não apenas evoluía quando exposto a uma das pedras, ele podia ser exposto a três tipos diferentes de pedra, seguindo três linhas evolucionarias diferentes. O menino baixou a cabeça para olhar para o amigo que lhe fitava sem dar sinais do que pensava. Dave observou-o por um instante tentando ler o que acontecia e, pela primeira vez, não conseguiu.

– Ei?! Dave?! – disse MJ, estalando um dedo a centímetros do nariz do amigo – Acorda!

– Ah, sim! Que demais! – disse ele, não conseguindo evitar sonhar com uma loja que vendesse as famosas pedras. Ele não gostava de gastar dinheiro a toa, mas aquele era um investimento que estava disposto a fazer.

Ao mesmo tempo, o rapaz não queria insinuar que gostaria de tê-las na frente do seu Pokémon, afinal a escolha sobre o uso das pedras não recaia exclusivamente sobre ele.. A evolução era um processo complicado para todos os Pokemons, mas principalmente para aqueles que não faziam isso naturalmente e precisavam de ajuda de certas condições. Quando acontecia de forma natural, o corpo e a mente do Pokémon estavam naturalmente preparados para dar um passo adiante, que pode até mudar a personalidade do Pokémon, e mesmo assim alguns temem que isso aconteça. Mas quando isso não acontecia de maneira natural, a escolha cabia somente ao Pokémon de evoluir a hora que quisesse. Era uma mudança muito grande e precisava ser uma decisão bem cuidada. Mas também era difícil para o garoto fingir desinteresse por algo tão fascinante. Evoluído, Dave sabia que o seu Eevee, que já era incrivelmente forte e cheio de surpresas, seria ainda mais incrível.

Mary Jane conduziu o menino pela rua até uma grande loja, muito movimentada, que vendia as famosas pedras. Era algo incrível e muitos vinham ali apenas para observar cada uma delas. Eram quatro, no total, conhecidas como pedra de fogo, da água, de planta e do trovão. Dave tentava se lembrar de quais outros Pokemons podiam evoluir através daquele método, mas sua memória o traia. Se apenas ainda tivesse seu livro ou o algum modo de pesquisar ali mesmo na loja...

– Que idiota que eu sou! – disse ele, dando um tapa na testa.

– O que foi Dave? – perguntou MJ, olhando-o assustada.

O menino rapidamente sacou sua Pokedex na mochila e abriu-a, apertando alguns botões e pesquisando sobre as evoluções por meio das pedras. Não queria informações técnicas ou detalhes científicos de como o processo acontecia, nem como usar as pedras de maneira apropriada. O que ele precisava mesmo era de uma informação bem mais básica.

“A evolução de Oddish é o Gloom, que, por sua vez, evolui com ajuda da pedra da planta para o pomposo Vileplume.” Disse a voz mecanizada da agenda, fazendo o menino sorrir. Ainda não satisfeito, entretanto, ele continuou teclando até que ela voltou a falar. “A evolução de Poliwag se chama Poliwhril, que por sua vez, evolui com ajuda da pedra da água para o forte Poliwrath.”

– Eu preciso de duas dessas pedras! – exclamou ele em voz alta, sem pensar. Ficara extremamente animado com a possibilidade de poder fazer seus Pokemons evoluírem por meio daqueles instrumentos e estava decido a consegui-las de qualquer maneira. Já começava a pensar em como consegui-las quando o sorriso sumiu de seu rosto, justamente ao mesmo tempo em que um vendedor se aproximava dele.

– Posso ajudar-lhe senhor? Ouvi dizer que gostaria de comprar algumas de nossas pedras...

A expressão de desanimo estava estampada do rosto do garoto quando tentou forçar um sorriso para o homem a sua frente. Ele estava arrumado em roupas formais, como um vendedor de uma loja de joias, e seu olhar era cheio de ganância. Provavelmente ganhava comissão por venda, e sendo as pedras artefatos tão caros e raros, o preço alto afastava muitos dos clientes, que iam ali só para observá-las. Uma oportunidade para a venda não podia ser deixada de lado. Dave, porém, pouco dinheiro tinha para comprar os mantimentos básicos de sua viagem, e não tinha como pagar sequer metade de uma das pedras, quanto mais duas. Sem obter resposta, o homem prosseguiu com a venda.

– Senhor, o preço de cada pedra é 20.000,00 Ienes, mas caso deseje duas, poderemos fazer ambas pelo preço de 38.000,00. O que acha?

Dave arregalou os olhos instantaneamente. Vinte mil Ienes era algo absurdo, fora do alcance de qualquer treinador jovem. Mesmo os ricos não andavam com vinte mil Ienes no bolso. Nem ao menos cabia em um bolso. E o vendedor esperava que ele pagasse trinta e oito mil? Ele ficaria surpreso se seus pais ganhassem mais do que dez ou doze mil por mês na fazenda. Ajudando o amigo boquiaberto, Mary Jane foi ao resgate.

– Senhor, ele seria sortudo se tivesse dois mil Ienes para gastar. Acho que vamos indo... – Ela puxou o amigo pelo braço, mas o vendedor ainda tentou uma ultima vez.

– Tem certeza? Também aceitamos Celanis!

– Também não temos esses – disse ela, arrastando o garoto para fora da loja, de volta para a rua, e finalmente dispersando o vendedor.

Dave ainda não conseguia acreditar no preço das pedras. Toda a sua animação tinha sido destruída ao descobrir que aquelas pedras estavam longe de seu alcance e que ele não poderia nem começar a sonhar em compra-las. Como então poderia ajudar seus Pokemons a evoluírem? Vinte mil Ienes por uma pedra era um enorme absurdo. O vendedor ainda disse que eles aceitavam o pagamento em alguma coisa que ele não conhecia, chamado Celanis. Intrigado, ele resolveu perguntar a Mary Jane que parecia saber bastante sobre a cidade.

– Mary, o que é Celanis?

Ainda andando pela rua, sem saber exatamente para onde, Dave voltou a sorrir com a explicação da menina. Como sempre, a esperança era a ultima que morria.

– Não é Celanis, e sim Celani, o singular. É uma moeda interna de Celadon que serve para movimentar o comércio da cidade com treinadores.

– Como assim?

– Celadon vive de sua economia comercial. Vende-se de tudo aqui e sem essa parte da economia a cidade não teria metade do tamanho que tem. Mas normalmente os treinadores em viagem não possuem muito dinheiro para gastar, como a gente bem sabe...

– Eu sei. Já você... – debochou o garoto.

– Não começa Dave. Nem eu posso sair comprando essas pedras assim. Só queria te mostrar mesmo. Mas como eu ia dizendo: os treinadores que passam por aqui não tem muito dinheiro, mas como o ginásio daqui é famoso e a cidade é uma parada certa para esses treinadores, o governo achou um jeito de movimentar ainda mais essas vendas. Há alguns anos atrás eles criaram um jeito de ajudar os treinadores a comprar as coisas, patrocinando uma série de pequenos eventos e torneios com prêmios em Celani, uma moeda local que só é aceita pelas lojas da cidade. Até mesmo o ginásio premia os vencedores com um grande prêmio em Celani, além da insígnia.

– Então quer dizer que o governo gasta dinheiro com os treinadores?

– Mais ou menos. Eles na verdade não gastam tanto quanto parece. Como a cidade cresceu muito desses pequenos eventos começaram a atrair mais gente e as empresas começaram a patrocinar eles em troca de propaganda. Assim tudo o que o governo tem que fazer é dar o premio. E ainda assim esse prêmio, como só é aceito na cidade, é gasto por aqui mesmo, fazendo compras. Ora, todo produto que se compra tem em seu preço embutido certa quantidade de impostos, então no fundo, esse dinheiro acaba voltando para o governo, seja na forma de imposto ou com o crescimento da cidade. Foi uma jogada de gênio na verdade...

O menino estava estupefato com os conhecimentos da amiga. Ele achava que tinha entendido, mas ela falava aquilo como se fosse a coisa mais obvia do mundo. O ciclo do dinheiro ainda estava se formando na sua cabeça quando ele percebeu que, na verdade, aquilo pouco importava para ele. O importante era que agora, com sorte, ele tinha uma chance de comprar aquelas pedras. Se conseguisse ganhar prêmios o suficiente, ele poderia pagar quantas pedras da evolução precisasse.

– Mary, você disse que o Ginásio da um grande prêmio em Celani não é? – A menina assentiu com a cabeça e ele continuou – Você sabe exatamente quanto?

– Não, mas eu sei onde podemos descobrir – disse ela, apontando para a frente.

Dave nem percebera que eles tinham continuado a andar por toda a extensão da rua em que estavam, tão animado estava em relação a idéia das pedras, mas a sua amiga parecia saber exatamente onde estava indo. Dave caíra em uma armadilha e nem ao menos percebera. Bem a frente um largo prédio azul se erguia com os dizeres “12ª. Delegacia de Polícia de Celadon”. O prédio tinha apenas três andares, mas era largo o suficiente para que dois prédios grandes se erguessem em seu terreno, lado a lado. Era quase um anão entre os prédios altos do centro da cidade, mas não foi isso que chamou a atenção do menino. Olhando para a garota com a expressão chocada, ele deixou o queixo cair.

– Vamos Dave, você prometeu ao Henry que ia avisar por onde passasse. Você precisa passar aqui lembra?

– Na verdade Mary, eu ainda não sei se quero fazer isso. Como eu disse antes, eu tenho minhas duvidas se a policia é mesmo confiável – disse ele ligeiramente irritado.

– Mas se a gente não confiar na policia vamos confiar em quem? – disse a ruiva – Vamos, eu duvido que o Henry esteja envolvido com isso pelo lado errado. Ele só que nos ajudar.

– Mesmo que não seja ele, Mary, pode ser outro...

– Dave, eu cresci com um pai advogado e aprendi a confiar nas autoridades. A única coisa que os policiais daqui vão fazer é ligar para o Henry...

Dave suspirou longamente, mas acabou deixando-se levar pela ruiva que mais uma vez o puxava pelo braço. Como se para selar o acordo e melhorar o humor abalado do amigo, ela comentou com ele enquanto se encaminhavam para entrada:

– Além disso, estamos no caminho para o Ginásio. Que tal passarmos lá quando sair daqui?

Dave deu um breve sorriso, lembrando que a amiga também era treinadora e sabia que aquilo o animaria um pouco mais, principalmente agora que ele sabia dos Celanis. Com aquele pensamento, o menino entrou um pouco mais tranquilo pela porta automática que dava passagem para dentro da delegacia.

O prédio era bem cuidado e passava um ar muito oficial. Um grande brasão azul com uma pistola envolta por uma rosa estava estampado na parede de vidro fosco, por trás do balcão onde uma policial estava observando os visitantes. Ao lado do balcão uma roleta reconhecia a digital do policial e permitia e entrada dele por uma porta do mesmo vidro para as instalações de dentro do prédio. A policial apresentava um ar de seriedade e decisão e tomava o simples trabalho de recepcionista policial como um dever para com a cidade.

– Boa tarde garotos, sou a Oficial Jenny, em que posso ajudá-los.

– Fala você... – disse Dave, em cochichos para a amiga. Mary Jane deu um passo à frente e se direcionou a oficial.

– Boa Tarde. Meu nome Mary Jane Charlton e vim reportar que estou na cidade.

A oficial olhou com desconfiança para a menina ruiva e seu amigo com um Eevee ao ouvir o anuncio, mas deu sequencia ao procedimento normal para o caso.

– Muito bem senhorita, para quem devo reportar o fato?

– Para o Detetive Henry, da polícia de Kanto, por favor.

– Nossa, a polícia de Kanto?

Mary Jane encarou longamente a oficial, surpresa por uma simples dupla de treinadores estarem se reportando a uma escala tão alta das forças policiais. A polícia de Kanto cuidava de todo o continente e estava acima de qualquer policia municipal de qualquer cidade. A mulher rapidamente entendeu que a garota não lhe diria muito mais, e, na verdade, não havia mais nada no protocolo que necessitasse ser dito. O recado estava dado e a garota deixava claro que não aceitaria mais perguntas.

– Pois bem Senhorita, me reportarei ao detetive imediatamente, obrigado.

Mary Jane já ia saindo quando Dave perguntou.

– Desculpe senhora, mas sabe me dizer quantos Celanis o ginásio dá como prêmio pela vitória?

– Quantos? Espera ai... – disse a mulher, pega de surpresa com a mudança de assuntos. Ela digitou alguma coisa no computador a sua frente, provavelmente fazendo uma rápida pesquisa, e logo voltou a falar – Vinte e Três mil Celanis.

Dave sorriu. Não era o suficiente, mas pelo menos já era possível comprar uma das pedras.

– Obrigado – disse, se encaminhando para fora enquanto a oficial lhe desejava boa sorte.

Quando eles deixaram o prédio a ruiva olhou sorridente para Dave e lhe sorriu. Ela realmente se orgulhava da ideia de ter dado apenas o seu nome, e não o de Dave. Assim, mesmo que a policia tivesse um agente Rocket infiltrado, procurando por informações do garoto ou do Eevee, ela teria enganado eles. E o detetive Henry com certeza entenderia que Dave estava com ela.

– Viu? Não doeu... – disse provocando o amigo.

– Pois é... – disse ele, ainda contrariado - Vamos logo para o ginásio!

A menina riu e seguiu o garoto, que agora andava a passos largos, claramente ansioso para ganhar mais uma insígnia e, principalmente, para conseguir o dinheiro para uma das Pedras da evolução.

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Dave e Mary Jane caminharam por cerca de vinte minutos até encontrar o ginásio de Celadon. Ele realmente era próximo à delegacia, como havia informado a amiga, mas ela se recusara a olhar um mapa, dizendo saber onde estava o ginásio e por isso, eles se perderam. O caminho que ela sugerira dava em uma praça muito arborizada, um verdadeiro parque no meio da cidade, e não no ginásio. Só na terceira vez em que passaram pela mesma praça eles descobriram que o ginásio ficava no centro dela, escondido atrás das árvores. Na verdade, as altas árvores cercavam um parque aberto de gramado como Dave não havia visto em lugar nenhum. A grama bem cuidada e as flores regadas e criadas com cuidado e delicadeza. A mistura de cores surpreendia ao mesmo tempo em que se completava, fazendo daquele o mais belo jardim que ele já havia visto.

Dave já estava impaciente com a amiga quando finalmente saíram do meio do caminho arborizado e avistaram a grande construção. O Ginásio realmente fazia jus à cidade que representava. Um grande edifício redondo, cercado de vidros e que lembrava, em alguns aspectos uma estufa, ele subia e, no topo, possuía seis grandes bulbos de um vermelho escuro, quase vinho, coberto de pequenas pintas brancas. De baixo de alguns desses bulbos saia uma representação alaranjada de folhas, quatro delas, uma de cada lado do ginásio e do meio dos bulbos uma estrutura cilíndrica fina se erguia como uma pequena Chaminé.

– Igual a um Gloom! – exclamou Mary Jane, surpresa.

– Realmente, é muito bonito – pensou Dave, pressentindo perigo. O único ginásio tão bem construído que havia visto em sua viagem fora o de Auburn, com sua Beedrill a ameaçar os visitantes, e a sua experiência por lá não havia agradado nem um pouco.

Eles se aproximaram e subiram um lance de escadas que levava ao primeiro andar do prédio. Por fora, veem que as paredes eram todas de vidro e, do lado de dentro, uma incrível variedade de plantas formavam o que parecia um imenso jardim interno. Agora eles começavam a entender o porquê o lugar se assemelhava a uma estufa. Apenas ao subir o lance eles perceberam que o primeiro era na verdade o único andar do prédio, o que sugeria que em algum lugar no seu interior deveriam existir plantas realmente altas.

Passaram pela porta automática de vidro e se encaminharam para um balcão, onde uma mulher de cabelos verdes presos em duas tranças, uma de cada lado, os recebera. Ela trajava uma roupa verde claro com o nome da cidade no canto direito na blusa, o que fez com que eles deduzissem que era um uniforme, mais um traço que diferenciava o lugar dos outros ginásios já visitados.

– Bom dia – disse ela, sorridente – Do que gostariam?

– Bom dia, me chamo David Hairo e essa é minha amiga Mary Jane – a ruiva sorriu enquanto o garoto continuava – Somos treinadores e gostaríamos de desafiar a líder do ginásio.

– Treinadores? Que ótimo! A Senhorita Erika vai gostar de recebê-los. Venham comigo...

A jovem mulher saíra de trás do balcão e se encaminhou por um corredor que se aprofundava no prédio, seguida de perto pelos treinadores. Passaram por diversas salas que não apenas se assemelhavam, mas eram verdadeiras estufas que pareciam criar, cada uma, um tipo diferente e especifico de planta. Aquele lugar era mais do que um simples jardim bonito, era um jardim profissional. Mais a frente ele passaram até mesmo por salas com sinais de alerta contra elementos químicos, prevenindo dos perigos e instruindo cuidados necessários para quem quisesse entrar. Verdadeiros laboratórios.

Eles passaram por uma porta dupla de vidro, também automática, e para a surpresa dos visitantes, ingressaram num amplo jardim que mais se assemelhava aos terrenos de uma floresta. O chão era de grama, havia arbustos e arvores para todos os lados, só que dispersos uns dos outros, deixando o ambiente bastante agradável e aberto. O sol entrava pelo teto incrivelmente alto e iluminava o salão naturalmente, fazendo dali uma verdadeira floresta interna. Eles nunca tinham visto nada daquele jeito.

Diversas pessoas, todas mulheres e uniformizadas, se encontravam reunidas em circulo em uma das clareiras, ouvindo atentamente o discurso de uma pessoa que estava no centro, de costas para os visitantes no momento em que entraram. Era uma mulher, não muito alta, de cabelos curtos e azuis, presos em um arco. Ela usava um leve vestido que combinava com seus cabelos e uma flor rosada presa ao arco lhe dava um ar de jovem jardineira, que gostava de ficar entre as plantas. Ela era, com certeza absoluta, a líder do ginásio, pois falava com liderança, dando instruções para as funcionarias sobre o que seria preciso fazer no dia para tocar as atividades do ginásio, desde cuidados com a criação das plantas e Pokemons até testes químicos que os garotos não sabiam o que significavam. Assim que ela ouviu a porta eletrônica se fechando atrás de si, a mulher virou e fez com que os queixos de Dave e Mary Jane se abrissem lentamente enquanto os dois tentavam disfarçar a surpresa.

A mulher era incrivelmente jovem, com a pele clara e os desenhos do rosto bem delineados, ela aparentava ter menos de vinte anos e ser a mais jovem de todas as mulheres que supostamente seriam suas funcionárias. Como poderia ser tão jovem e ser líder de ginásio?

– Erika, esses são... – a mulher que os guiou hesitou e olhou para os visitantes, claramente se esforçando para lembrar seus nomes, mas sem sucesso.

– Sou Dave, e essa é minha amiga Mary Jane.

– Olá – disse a ruiva, sorrindo e recebendo um sorriso em resposta.

– Somos treinadores e viemos desafiar a líder – completou o rapaz, decidido a não se deixar distrair pela beleza ou juventude da mulher. Ele tinha que aprender a se controlar, hora ou outra.

– Bom dia Dave, Mary – disse Erika. Sua voz fluía com firmeza, mas sem tensão. Era suave e agradável. – Sou Erika e sou a líder do ginásio de Celadon. Fico muito feliz de aceitar o desafio de vocês. Esperem só um momento, por favor.

Ela se voltou para o grupo de mulheres sentadas e terminou as ultimas ordens rapidamente, dispensando-as gentilmente e desejando-lhes bom trabalho. Logo depois se voltou para os visitantes, mas focou a guia antes de se dirigir diretamente aos treinadores.

– Jen, muito obrigado por trazê-los aqui.

A mulher, ainda um pouco corada por ter esquecido os nomes dos meninos, apenas acenará com a cabeça, aceitando o agradecimento silenciosamente.

– Não precisa se preocupar com os nomes. Você é nova aqui e ainda está aprendendo. Agora só tenho que lhe pedir uma coisa. Use o sistema de comunicação interna da próxima vez que tivermos visitantes, porque não podemos deixar o balcão da entrada vazio...

A mulher de cabelos verdes arregalou os olhos, percebendo finalmente o erro que havia cometido. Realmente não deixara ninguém vigiando a porta de entrada e se alguem precisassem de atendimento, não teria a quem recorrer.

– Desculpe senhorita Erika! Não me lembrei, desculpe!

Erika gargalhou de leve com a resposta nervosa de sua empregada e lhe direcionou um sorriso carinhoso.

–Tudo bem, como eu disse, você ainda está começando. Agora volte, e mais uma vez, não precisa me chamar de senhorita. Só Erika está bom.

– Desculpe senhorita! Quer dizer, Erika... – disse Jen, acenando com a cabeça e voltando pelo caminho em que trouxera os meninos.

Finalmente livre para atender os desafiantes, Erika fitou os dois por um segundo, com seu sorriso leve, e os cumprimentou novamente, se desculpando pela breve delonga antes de poder atendê-los. Ela tratava-os surpreendentemente bem e parecia se sentir a vontade com os treinadores.

– Nossa, vocês não tem ideia do trabalho que dá liderar um ginásio como esses – desabafou ela, em tom informal.

Dave de repente se viu sem saber o que responder para a jovem, não sabendo se estava atordoado pela sua beleza e seu jeito atencioso e educado ou se estava estranhando a intimidade do desabafo com pessoas estranhas. Mary Jane, porém, parecia estar no mesmo nível da líder. Eles caminhavam em uma direção que o rapaz assumiu que levaria a arena de batalha enquanto as duas meninas conversavam.

– Só imagino – disse a ruiva – Pelo que vi vocês fazem muita coisa aqui.

– Pois é, fazemos sim. Temos aula de tudo por aqui, desde jardinagem até de criação de Pokemons de planta. E ainda temos o laboratório de desenvolvimento de perfumes para a marca.

– Perfumes? – o olhar de Mary Jane brilhou

– Sim, minha família é a dona da maior marca de perfumes de Celadon. Na verdade, agora que comecei a dar conta do ginásio, estou me preparando para assumir a loja também. Mais tarde tenho que estar lá, o que me lembra, será que podemos lutar um de cada vez? Preciso ir para loja logo e não sei se conseguirei ter tempo para duas batalhas seguidas...

Dave deixou a cabeça cair, claramente desapontado. Estava ansioso para lutar e não queria correr o risco de ter que esperar até o dia seguinte. Queria tanto a insígnia quanto a pedra da evolução e mesmo que soubesse que não poderia usá-la tão cedo, sentia a necessidade de tê-la em mãos o mais rápido possível. Sabia que aquilo era irracional, mas não podia controlar a vontade. Ela simplesmente estava lá. A reação de Dave foi percebida tanto pela líder quanto por Mary Jane, que logo se apressou a corrigir o ato impensado de Dave.

– Não liga para ele, está ansioso sabe. Sempre fica quando vai lutar com alguma menina bonita. Falo por experiência...

Erika, que parecia preocupada com o menino, desatou a rir junto com Mary Jane e até Eevee sorria enquanto Dave levantava a cabeça em reflexo, corando intensamente.

– Ei! Eu estou bem aqui e posso te ouvir sabia?

Mary Jane continuava a rir enquanto lhe respondia – eu sei, eu sei. Estava brincando. Mas você pode lutar primeiro. Não me incomodo de esperar.

– Obrigado – disse Dave, voltando a encarar o chão, agora envergonhado de mais para fitar Erika nos olhos.

Erika continuou a sorrir e conversar animadamente com Mary Jane, lhe contando que era até mesmo mais velha do que aparentava, apesar de ser ainda bastante jovem. Tinha vinte e dois anos e assumira o ginásio há alguns anos atrás, recém-saída da universidade local, formada em biologia Pokémon. A meta agora era começar a assumir uma posição de mais importância no verdadeiro interesse de sua família, o ramo de perfumes. Ela dizia que sempre gostara muito do negócio, mas que também gostava muito da vida de treinadora, então ser líder do ginásio tinha sido o modo com que conseguira fazer as duas coisas de que mais gostava.

Eles seguiram por um segundo corredor até que entraram em um segundo salão amplo, mas dessa vez não de plantas. Elas estavam sim presentes, mas apenas envolta do campo de terra que delineava a simples arena de lutas do ginásio. De um dos lados, uma pequena arquibancada de apenas três degraus acolhia quem quer que fosse assistir as lutas, mas agora apenas Mary Jane se sentava nela, se acomodando para assistir a batalha. Erika ainda direcionou a palavra e um sorriso a Dave uma ultima vez antes de se posicionar.

– Dave, boa sorte na batalha. Não precisa ficar nervoso – Disse ela surpreendendo o menino, que lhe deu um breve sorriso, agradecendo. Ele tentava não se deixar afetar, mas era quase impossível não ser afetado por Erika.

Uma outra garota, de cabelos curtos e pretos, trajando o uniforme do ginásio entrou pelo mesmo lugar do que eles e se posicionou no centro da luta, anunciando que seria a juíza da batalha.

– Será uma luta dois contra dois, sem limites de tempo. Todos de acordo?

– Sim – disseram os dois adversários, em uníssono.

– Pois bem, comecem!

Dave sacou uma Pokebola e soltou-a ao campo, liberando seu Pidgeotto enquanto Erika sacou sua Pokebola com leveza e graciosidade, laçando-a no ar para o alto, liberando um Pokémon que Dave nunca tinha visto antes. Era verdadeiramente uma bola de cipós azuis, deixando visível apenas dois olhos no meio do corpo arredondado e dois pés vermelhos que o mantinham em pé. O menino rapidamente sacou sua pokedex.

“Tangela, o Pokémon de vinha. Seu corpo é envolto em uma densa floresta de vinhas azuis, fazendo com que seja muito difícil saber sua verdadeira forma. Considerados como mecanismos de defesa, essas vinhas se balançam em volta de seu corpo prontas para enlaçar e prender quem se aproximar.”

– Ótima escolha Dave, mas é tradicional que usem Pokemons voadores aqui. – Disse Erika, dando a Dave um leve senso de provocação. Será que a meiga e doce líder estava finalmente mostrando suas garras?

– Você ainda não conhece meu Pidgeotto – respondeu Dave, criando coragem para desafiar a bonita garota.

Erika riu e comandou o primeiro ataque.

– Tangela, use o Enraizar!

Dave não conhecia esse ataque e ordenou uma rápida evasiva de Pidgeotto, do que rapidamente se arrependeu. Tangela começou a prender algumas das vinhas de seu corpo fundo no chão, e nada mais fez. Com vergonha, ele percebeu que talvez fosse melhor consultar a Pokedex, mas Erika lhe poupou o trabalho.

– Esse ataque vai prender a Tangela ao chão e ainda faz com que ela se recupere pouco a pouco de qualquer dano que você venha a causar – A líder parecia bastante satisfeita consigo mesmo e Dave percebeu que ela tinha motivos para isso. Com esse movimento a luta acabara de ficar muito mais difícil, exigindo que Pidgeotto acertassem golpes rápidos e fortes, sem dar tempo para recuperação do oponente. Mas a Pokedex havia lhe prevenindo a manter distancia do oponente, para evitar ficar preso em seus cipós. Erika podia ser jovem, mas claramente sabia muito bem o que estava fazendo. Ele precisa tirar Tangela de lá.

– Pidgeotto, vamos tentar arrancá-lo daí com uma forte ventania!

– Pidge! – rugiu o pássaro, ganhando altura e começando a bater fortemente as suas asas. Logo Erika se viu obrigada a proteger os olhos enquanto seu vestido voava para trás na forte corrente de ar criada pelo Pokémon de Dave. Ele via Tangela se balançando e fazendo força para se manter presa ao chão, mas logo a poeira levantada pela ventania encobriu sua visão. Era incrível como o Pokémon havia evoluído desde que o capturara como Pidgey. Com uma ventania daquelas ele poderia ter espantado metade dos Spearows que o perseguiam no dia que o garoto o conhecera. Ainda assim, aquilo parecia não ser o suficiente. Quando o menino ordenou que o ataque fosse interrompido, Tangela continuava firmemente presa ao chão, no mesmo lugar.

– Foi uma boa ventania Dave, mas isso não vai tirar o Tangela do seu lugar. Como eu não tenho um compromisso na loja logo, não posso me alongar muito, mas tenho certeza de que essa batalha teria sido interessante. Tangela comece a carregar o raio solar!

Dave não acreditava no que estava ouvindo. Seria aquela mulher a mesma doce e meiga jovem líder que a pouco conversava abertamente sobre a sua vida com Mary Jane e estendia um sorriso generoso a todos que passavam? Ela parecia ter se transformado no campo de batalha. E sua estratégia era muito inteligente. O raio solar, um dos ataques mais poderosos do tipo planta, colocava um relógio para funcionar na cabeça de Dave, e o deixava em uma situação muito difícil. Mesmo que Pidgeotto tivesse vantagem de tipo, ele não podia arriscar o efeito de um ataque desse nível em seu Pokémon. As chances de que ele caísse eram grandes. Ao mesmo tempo, não via outro jeito de tirar Tangela do seu lugar sem se aproximar de suas perigosas vinhas. Teria de tentar de tudo enquanto pudesse.

– Pidgeotto, vamos tentar atrapalhá-lo. Use o ataque de areia.

– Tangela, se proteja sem parar de se carregar.

A luz do sol que entrava pelo teto de vidro se acumulava ao redor do Pokémon de planta enquanto o pássaro de Dave se aproximava do chão e começava a jogar rajadas da areia do chão em direção ao oponente, que criara uma barreira em frente aos olhos com suas vinhas. A estratégia de Dave não estava funcionando. A barreira estava bloqueando os olhos de Tangela contra a areia, mas o menino percebeu que, assim ele tinha uma vantagem. O oponente estava com os olhos tapados. Se fosse rápido o suficiente...

– Pidgeotto, ataque rápido!

O pássaro lançou-se com incrível velocidade contra o oponente e antes mesmo que Erika pudesse ordenar algum movimento defensivo, ele atingiu Tangela, quebrando a barreira de vinhas, jogando-o para trás e arrebentando as vinhas que o prendiam ao chão. Sua treinadora, porém, não parecia abalada. Para a surpresa de Dave, as pontas das vinhas arrebentadas se regeneraram de maneira incrivelmente rápida, mostrando um comprimento incrível. O Pokémon devia estar profundamente enraizado se as vinhas que agora estava em baixo da terra tivessem o mesmo tamanho das que cresciam em seu lugar.

– Tangela, prenda e aperte!

Antes que Pidgeotto pudesse ganhar altura suficiente, as longas vinhas do Pokémon de Érika se esticaram e envolveram o pássaro de Dave, prendendo suas asas contra o corpo e o fazendo exclamar assustado.

– Pidge!

– Droga! – disse Dave, sem saber o que fazer. As vinhas apertavam seu Pokémon com força e agora o puxavam na direção de Tangela, de modo que se escapasse poderia ser facilmente preso de novo. Para completar, Erika não lhe deu chance de continuar pensando.

– Tangela, eu sei que não é o melhor que já fizemos, mas acho que carregou o suficiente para um bom raio solar – disse ela, sorrindo.

O pequeno Pokémon azul assentiu com o corpo e voltou a dar alguma distancia de Pidgeotto, posicionando-o bem a sua frente, sem soltá-lo. Dave não tinha o que fazer para prevenir que seu Pokémon fosse atingido pelo poderoso ataque que começava a se formar no pequeno espaço entre Tangela e ele. Não havia mais saída. A batalha estava perdida.

– Pidgeotto, volte! – ordenou ele, recolhendo o pássaro de volta para a Pokebola. Erika sorriu do outro lado.

– Muito bom Dave. Realmente não queria acertar seu Pidgeotto com o raio solar desse jeito. Poderia machucá-lo demais. Fico feliz em ver que você também soube ver isso.

Dave estava vermelho de raiva, respirando pesadamente enquanto ouvia a calma e a doçura retornar a voz da mulher. Ela falava como se ganhar aquela batalha tivesse sido fácil e de maneira nenhuma desafiador. Como ele havia sido derrotado tão facilmente. Tivera boas ideias e seu Pokémon não era fraco, como ela mesma havia reconhecido. Seria ela tão superior assim? Ele estava determinador a provar que não. Eevee se inquietava a seu pé, prevendo que logo seria a sua vez de enfrentar a poderosa Tangela de Erika, mas Dave o encarou com um sorriso no rosto.

– Hoje eu preciso de algo diferente – disse ele para a pequena raposa, sacando uma segunda Pokebola de seu cinto- Vai Haunter!

O garoto sabia que era um risco e que se o fantasma resolvesse não obedecê-lo ele estaria com sérios problemas, mas a alternativa era tentadora. Ele obedecera-o brevemente no ginásio de Zaffre, quando derrotou o outro Haunter, e voltara a obedecê-lo na sala do Professor Carvalho mais cedo, mesmo que com propósitos próprios. Haunter tinha uma enorme vantagem de tipo no ginásio, sendo resistente à ataques venenosos e de planta. Se obedecesse ao garoto agora, ou pelo menos conseguisse vencer a batalha, daria não só a insígnia de Erika para ele, mas também o grande prêmio em Celanis.

– Um fantasma! Impressionante. Acho que vou precisar de uma nova estratégia – sorriu Erika – Vai Gloom!

Recolhendo a pequena planta azul, a jovem liberou o Pokémon que inspirava a construção do ginásio, o que deu a impressão a Dave de que ela estava jogando o Pokémon em que mais tinha confiança, assim como a Beedrill foi a arma de Apis em Auburn. Erika, porém se mostrara diferente de Apis em todos os sentidos, por mais semelhantes que seus ginásios fossem. Doce, educada, aparentemente justa e muitíssimo habilidosa no campo de batalha. Dave pressentiu um grande desafio a frente.

– Haunter, eu realmente preciso que você me ajude nessa ok?! Por favor, tenta me obedecer – implorou Dave para seu Pokémon, fazendo sua adversária franzir o cenho do outro lado do campo. Ela não comentou nada, porém, dando início ao combate.

– Gloom, vamos começar com o ataque de time duplo!

O Pokémon de planta se movimentou rapidamente, criando ao redor de si cinco cópias dele mesmo, fazendo com que seis Glooms aparecessem no campo de Batalha. Dave e Haunter não conseguiam acompanhar seu movimento para saber qual era o verdadeiro. Aquilo mostrava que além de forte, o Pokémon de Erika era muito bem treinado para conseguir fazer tantas cópias com o ataque que normalmente cria não mais do que três. Era hora de Dave ver se sua escolha tinha sido a certa.

– Haunter, vamos um a um usando o Raio Noturno!

– Gloom, use o Mega Dreno!

Antes que Haunter conseguisse desferir o ataque, se é que fosse mesmo desferi-lo, os bulbos de todos os Glooms brilharam com a cor verde e lançaram diferentes raios da mesma cor, atingindo o fantasma e sugando a sua energia em grande velocidade. Dave sabia que apenas um daqueles ataques realmente causava dano, enquanto os outros eram apenas partes da ilusão do adversário, mas ele não podia deixar que Haunter ficasse exposto muito tempo. Para a surpresa do garoto, porém, após o impacto inicial do ataque, mesmo ainda sobre seu efeito, o fantasma conseguiu se recuperar e desferiu um raio noturno, fazendo com que uma das cópias de Gloom desaparecesse no ar.

– Isso! Boa Haunter! – exclamou Dave, comemorando e finalmente tendo verdadeiras esperanças de vencer a luta.

O fantasma repetiu o mesmo ataque, atingindo mais três cópias e quando se virou para o que seria a quarta, Erika denunciou que aquele era o verdadeiro ordenando uma ação evasiva. Antes que fosse atingido, o Gloom verdadeiro interrompeu os dois ataques em andamento e pulou para trás, cessando o ataque sobre Haunter e fazendo com que suas outras duas cópias desaparecessem. O fantasma errou o ataque raio noturno por pouco, mas Dave não se importou. O que realmente pesava era o fato de Haunter ter lhe obedecido.

– Haunter, tente com a bola das sombras! – ordenou o treinador, eufórico.

Impressionantemente o fantasma começou a preparar uma esfera de energia negra em frente ao corpo. Dave estava extasiado, certo de que agora teria uma possibilidade grande de ganhar a luta.

–Gloom, use o Proteger! – ordenou Erika, demonstrando inquietação. As coisas não iam tão bem como ela planejava, o que apenas servia para dar ânimo ao desafiante. Ela não podia ficar na defensiva para sempre, mas Haunter era um Pokémon perigoso para se atacar e Dave não lhe dava chances.

A bola das sombras se chocou com a barreira transparente criada pelo Pokémon de planta e não foi capaz de atravessa-la, se dissipando. Dave trincou os dentes, pensando em seu próximo movimento. Gloom já havia demonstrado ser rápido e agora mostrava que sabia se defender. Não importavam as vantagens de Haunter se não conseguia acertar ataques. Dave então teve uma ideia.

– Haunter use o raio de confusão!

Dave estava confiante de que o ataque seria efetivo e abalaria seu oponente, dificultando não só a sua forte defesa como sua capacidade de ataque. Viu Érica arregalar os olhos levemente do outro lado, também pressentindo a eficácia da estratégia do garoto, mas então Haunter voltou ao seu estado normal. Voou diretamente contra Gloom e abriu a boca, se preparando para um ataque lambida, sorrindo enquanto flutuava.

– Haunter, não! – exclamou Dave, vendo toda sua estratégia e esperança indo por água abaixo.

Erika não perdoou o movimento errado e ordenou um contra ataque muito efetivo.

– Gloom, pó do sono!

Com a boca aberta, muito próximo ao adversário, Haunter engoliu praticamente todo o pó do sono lançado pela planta, interrompendo o ataque lambida e tossindo fortemente antes de cair no chão em um estado de coma profundo. Dave não era nenhum especialista, mas sabia que tendo engolido tanto pó, o fantasma dormiria por muito tempo.

– Gloom termine com a Dança das Pétalas! – ordenou Erika, mas Dave mais uma vez recolhera Haunter antes do ataque ser executado. Erika se limitou a sorrir.

– A batalha está encerrada. Erika, a líder do ginásio de Celadon, é a vencedora – anunciou a juíza, enquanto Dave deixava a cabeça cair. Mary Jane logo apareceu ao seu lado, enquanto Eevee pulava para o seu ombro para consolar o desolado rapaz.

– Foi uma boa luta. Ela só é muito boa. – disse-lhe a ruiva, enquanto ele acenava a cabeça. Era a primeira batalha de ginásio que ele perdia, e nunca havia se sentido assim antes. Como se não bastasse não perdera apenas a insígnia, mas também a chance de comprar um das pedras de evolução. Como tinha deixado isso acontecer? Por que escolhera justamente o Haunter? Estava revoltado consigo mesmo e com seu Pokémon.

– Dave, não desanime – Erika havia aparecido a sua frente e colocara uma mão em seu ombro livre, enquanto acariciava levemente Eevee com a outra – A luta foi muito boa, e seus Pokemons são bem treinados. Talvez um pouco mais de dedicação ao Haunter seja o que falta para ele lhe obedecer completamente...

O menino se surpreendera com proximidade da mulher e se pegara olhando pela primeira vez diretamente em seus olhos. Eles eram verdes escuro e demonstrava ser mais sábios do que sua idade aparentava. Por mais enraivecido que estivesse, Dave não conseguiu descarregar nela.

– Não sei, fui inocente em achar que ele me obedeceria agora...

– Não foi não, foi confiante, e ele precisa saber que você confia nele se quer que ele confie em você. Você tem jeito para treinador e mesmo que não tenha feito uma batalha brilhante, vi que seu Pidgeotto é bem treinado e se entende bem com você. E, mais importante, você soube ver quando era hora de dar um passo atrás. Normalmente os treinadores me forçam a finalizar esse tipo de batalha fazendo com que o Pokémon sofra desnecessariamente.

Dave não sabia o que falar. Não era a primeira vez que desistia de uma batalha antes de seu fim para não forçar seu Pokémon, e todos lhe diziam que era o certo a fazer e lhe parabenizavam por isso. Ele sabia que tinha feito a coisa certa, mas por que aquilo não o fazia sentir-se nem um pouco melhor? Por mais que visse a boa intenção da jovem líder, ela não estava conseguindo lhe fazer sentir melhor.

– Olha, volte aqui outro dia. Sei que você pode treinar mais e vir aqui para batalharmos novamente. Será um grande desafio, para mim e para você – Erika continuava amigável e sorridente – Agora se me dão licença, não posso me atrasar para a reunião na loja. Amanhã lhe espero aqui Mary.

Mary Jane confirmou o desafio do dia seguinte e Dave viu Erika pedir para a juíza, que aparentemente se chamava Mia, para acompanhá-los até a saída. Dave não sabia o que fazer a seguir, então apenas seguiu Mary Jane de volta para o Centro Pokémon. Ele precisava de uma boa noite de sono para esquecer aquela luta.


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Notas finais do capítulo

E aí? O que acharam?

Nem sempre as coisas dão certo né? Palpites para o futuro?

Espero vocês nos comentários



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