Evolution: Parte 3 escrita por Hairo


Capítulo 21
Demonstração de Poder


Notas iniciais do capítulo

E então, galera. Preparados? Dúvido.

Esse é o maior capítulo de Evolution, daqueles que eu normalmente costumo dividir. Dessa vez não dá. Este é o capítulo mais importante, até aqui. Fiquem atentos e não percam um detalhe. Eles são importantes.

Sem mais, boa leitura!



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Capítulo 21 – Uma Demonstração de Poder

Dave se viu de repente em uma sala que não conhecia. As paredes eram de madeira, mas estavam pintadas de cor de palha. Espalhados estavam móveis caseiros, como uma cômoda com quatro gavetas à direita, além de alguns quadros espalhados pelas paredes. Uma cama se estendia atrás do menino, mas ele não a reconheceu como uma cama de dormir. Tinha uma estrutura de metal por baixo, e rodas móveis na extremidade de cada um de seus pés. Uma maca ele percebeu. Ao seu lado esquerdo havia um armário maior, também de madeira escura, cobrindo toda a parede. Na parede a sua frente só havia uma porta fechada. Dave não tinha a menor ideia de onde estava.

Decidiu imediatamente colocar Eevee na maca, mas antes mesmo que pudesse fazê-lo Kato surgiu ao seu lado, ainda preocupado. Ele recolheu o Alakazam e ajudou o menino a deixar Eevee o mais confortável possível, antes de disparar porta a fora, pedindo a Dave que o esperasse e desaparecendo sem dar maiores explicações.

– Ei! Espera! Onde você vai?! - Dave gritou, mas era tarde de mais.

A porta se fechou sozinha atrás de Kato e o menino se viu sozinho com seu Eevee desmaiado, em um quarto estranho em algum lugar desconhecido. Percebeu uma cadeira dobrada ao lado da cama, puxou, a abriu e sentou-se ao lado de seu Pokémon. Queria sair para descobrir onde estava, mas não se permitia deixar o lado de Eevee, não apenas por culpa, mas por precaução. Passara toda a jornada com medo de perdê-lo e aprendera a não relaxar enquanto ele não estivesse por perto.

E pensar que depois de tudo isso, eu quase o perdi só porque queria uma pedra do fogo concluiu o rapaz, deixando seus olhos se encherem de lágrimas, finalmente. Ele lutou para não chorar e, mais ainda, para confiar que Kato tinha tomado a decisão certa. Até onde ele sabia, podia agora estar em outro continente, longe de tudo o que ele conhecia. Agora que parava para pensar, se arrependera de ter dado tanto poder a Kato. Se ele quisesse poderia ter levado Dave direto à Equipe Rocket.

Tentou se confortar no fato de que se Kato realmente quisesse, já poderia tê-lo feito antes. Eu só preciso ter um pouco de paciência e me acalmar. Mas a verdade é que nada a não ser uma enfermeira Joy ou alguém similar poderia acalmá-lo naquele momento. Não enquanto Eevee estivesse desacordado e terrivelmente queimado ao seu lado.

Dave não sabia ha quanto tempo Kato o havia deixado ali, mas sentia como se horas estivessem passando sem que nada acontecesse. Ouviu passos do lado de fora e se levantou, abrindo a porta devagar e olhando, sem ver ninguém. O quarto ficava em um corredor, e Dave colocou a cabeça para fora, girando a cabeça para os dois lados, também sem ver ninguém. As paredes do corredor mantinham as cores das paredes do quarto em que estava e ele tentou respirar fundo.

Deu um passo para frente e então Alakazam se materializou dentro do quarto. Dave quase caiu com o susto, principalmente quando percebeu quem estava ao lado do Pokémon Psíquico.

Blaine se debruçou sobre Eevee e virou o corpo da pequena raposa com cuidado enquanto Dave processava o que estava acontecendo e corria para o lado do renomado pesquisador e líder de ginásio. Alakazam voltou a desaparecer assim que pousou com Blaine na sala.

– Porque você não me falou daquele Magmar?! - disparou Dave, sem saber o que fazer.

Blaine olhou para o menino ao seu lado e viu o desespero em seus olhos. Manteve-se em silencio e voltou a examinar Eevee, e então o deixou, se dirigindo a uma das portas do armário maior.

– Porque eu não sabia o que você ia encontrar. Eu te avisei que você encontraria problemas lá dentro, e talvez maiores do que a lava do vulcão - a voz do especialista era grave - Você sabia muito bem onde estava indo e os riscos que estava correndo então não tente colocar a culpa em mim.

– Eu não... - Dave não esperava a resposta curta, grossa e direta do homem, e então se calou, percebendo que ele estava certo - Eu só quero ajudar ele.

– Eu sei - o tom de voz se amansou e o homem sacou um pote não muito maior do que a palma de sua mão - Você pegou a pedra pelo menos?

Dave colocou instintivamente a mão por cima do bolso da calça e assentiu com a cabeça, sentindo-se culpado enquanto o homem voltava para o lado da cama de seu Pokémon e abria o pote em sua mão. La dentro Dave percebeu um gel verde pastoso, com um cheiro forte diferente de tudo que ele conhecia. Teve vontade de perguntar o que era aquilo, mas decidiu ficar calado e deixar que Blaine trabalhasse em paz.

O homem havia começado a esfregar com leveza o gel nas partes mais gravemente queimadas de Eevee quando Kato, Jake e Mindy entraram correndo pelo corredor e correram para o quarto onde Eevee e Dave estavam. Adentraram quase se atropelando e Mindy correu diretamente para Dave.

O menino mal teve tempo de se virar e ela laçou seus braços sobre ele e o puxou para um abraço apertado. Ele não estranhou, nem se assustou com a súbita presença dela ali. Apenas a abraçou de volta e mergulhou seu rosto em seus cabelos morenos, deixando finalmente uma lágrima escorrer sem que ninguém pudesse vê-la. Ter a menina ali, para ele, era uma das únicas coisas que podiam lhe servir de consolo.

Enquanto isso, Kato e Jake se aproximaram de Blaine e observaram enquanto o homem aplicava gel sobre todas as queimaduras do Pokémon de Dave. Assim que percebeu que tinha companha, Blaine pediu que Kato lhe pegasse um rolo de gaze que deveria estar na primeira das gavetas da cômoda a direita do quarto.

Dave estava se soltando do abraço de Mindy e, ouvindo o pedido do homem, abriu a gaveta por estar mais próximo. Queria ajudar Eevee da melhor maneira que pudesse mesmo que aquilo significasse muito pouco na prática. Mindy lhe deu licença e o menino se postou em frente a gaveta, abaixando a cabeça para procurar a gaze e aproveitando para secar a lágrima que lhe escapara sem que ninguém percebesse.

Dentro da gaveta ele viu cinco caixas. Quatro menores, de madeira e do tamanho de suas mãos, a outra maior, de plástico fosco. Sem saber por que o menino abriu uma das caixas menores, para checar se a gaze estava ali, mas quando destrancou o pequeno fecho e levantou a tampa, se surpreendeu ao ver ali uma pedra do fogo. Fechou a caixa com um susto e pegou a de plástico fosco, abrindo e achando a gaze de que Blaine havia lhe falado.

Entregou a gaze ao homem e fecho a gaveta, sem pensar em mais nada a não ser na recuperação saudável de seu Pokémon.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

Dave e Mindy permaneceram sozinhos na sala logo depois que Blaine saiu. O menino não queria deixar seu Pokémon e a menina não queria deixar o menino. Kato e Jake saíram atrás de Blaine depois que o líder de ginásio e pesquisador Pokémon deixou Eevee sem uma palavra sequer. Dave ficou surpreso, mas não conseguiu falar nada no segundo que levou para ele desaparecer por entre a porta e quando viu Jake e Kato seguirem o homem, preferiu permanecer ao lado de Eevee. Mindy foi até a barreira da porta, mas voltou para ficar com o garoto.

Agora os dois estavam sentados no chão, lado a lado, e um dos braços do garoto estava por cima dos ombros da menina, abraçando-a enquanto ela tinha a cabeça repousada em seu peito. O menino acariciava seu cabelo distraidamente com a mão livre. Estavam em silencio há mais de dez minutos, ele olhando para Eevee deitado na cama e inconsciente, e ela olhando para o chão, como se perdida em pensamentos.

Nenhum dos dois queria falar no que estava acontecendo. Dave agradecia o silencio da menina. Ela fora a pessoa que mais se opusera a sua ida ao vulcão e ele não queria ter de ouvi-la falando como ela estivera certa desde o começo. Sabia que se o caso não fosse grave seria exatamente isso que estariam discutindo agora, mas o seu silencio demonstrava uma sensibilidade que apenas fazia com ele gostasse ainda mais dela.

Permaneceram daquele jeito por mais tempo do que conseguiram contar, até que ele finalmente quebrou o silencio. Os outros não haviam retornado nem ao menos dado noticia e todo aquele silêncio e monotonia estavam começando a cansar o garoto, que até então se castigava em um reboliço de culpa e arrependimento.

– Ei, como você veio parar aqui tão rápido? Você estava com Blaine?

– Sim, eu tinha acabado de vencer a luta e estávamos voltando para buscar uma insígnia.

– Você venceu?! Parabéns...

– Você parece surpreso... – ela riu e se afastou do menino, olhando-o de frente.

– Eu nunca duvidei de você – ele se aproximou e pressionou levemente seus lábios contra os dela, se permitindo um breve sorriso.

– Mas você não sabe o melhor: eu tenho um Charizard agora...

– Uow - Dave arregalou os olhos procurando as palavras certas, mas não conseguiu encontra-las. Queria poder ficar mais feliz por ela. Tentou abrir um sorriso um pouco maior ao continuar – Eu nem sei o que dizer...

Sua voz o traiu e ela lhe deu um leve sorriso, dessa vez tomando a iniciativa e lhe dando um beijo ligeiramente mais longo.

– Não se preocupe. Ainda teremos muito tempo para comemorar...

– E você veio aqui pegar a sua insígnia? Como assim? – perguntou o menino confuso.

– O Blaine estava sem nenhuma no bolso. Acaba que com toda a confusão ainda não peguei com ele a insígnia...

Ela voltou a deitar sua cabeça no peito do rapaz, despreocupada, e ele voltou a abraça-la e acaricia-la, perdido em seus próprios pensamentos. De tudo o que acontecera com ele desde que saíra de casa, conhecer Mindy talvez tenha sido o mais importante dos eventos. Não sabia se conseguiria ter chegado até ali sem que ela estivesse ali para lhe guiar o caminho. Sua jornada podia terminar agora, e tudo aquilo já teria valido a pena.

Votou a olhar de relance para Eevee, que agora tinha a maior parte do corpo enfaixada e apertada pela gaze branca em que Blaine havia envolvido seus ferimentos, depois de aplicar o gel medicinal especial para queimaduras que ele possuía. Dave sentiu-se bem por ter trazido Eevee até ali. Por mais especializado que fosse um Centro Pokémon, ele desconfiava que poucos teriam mais experiências com queimaduras do que líder de um ginásio que tinha como principal elemento o fogo.

Tentou fechar os olhos e se concentrar na menina deitada em seu peito e no ritmo de sua respiração para afastar qualquer outro pensamento da cabeça. Nada mais podia ser feito que não esperar que Blaine e Kato voltassem.

– Ei, Mindy – disse ele, quase em um sussurro. Não esperou que ela lhe respondesse – Obrigado...

A menina sorriu e levantou mais uma vez a cabeça, se aproximando, passando uma das mãos pelo pescoço de Dave e o beijando de uma maneira apaixonada. Dave não soube se havia se passado um segundo ou uma hora desde que suas bocas haviam se tocado quando elas foram subitamente separadas pelo som de passos apressados entrando no quarto. Mindy se colocou rapidamente de pé, corando de modo brusco, e Dave se obrigou a segui-la, tentando se manter tranquilo.

Kato e Jake pareciam incomodados com o flagra, mas não tinham tempo para sequer tocar no assunto. Seus olhares denunciavam que estavam com pressa e assustados. Alguma coisa ruim deveria ter acontecido. Blaine não podia ser visto em lugar nenhum.

– Fomos encontrados! Equipe Rocket! – disseram os dois ao mesmo tempo.

Dave e Mindy se entreolharam chocados e sem saber o que fazer. Várias perguntas ressoaram na cabeça do menino ao mesmo tempo, mas ele não conseguia sequer falar. Como? Quando? Quem está aqui? Onde está Blaine? Onde eles estão? Tudo isso se confundiu em sua mente enquanto ele olhava para seu Eevee deitado e inconsciente, completamente coberto pelos curativos de sua ferida. Nenhum momento poderia ser pior do que aquele.

– Estavamos saindo do Centro Pokémon quando vimos Jack e Jody – disse Jake, ainda bufando de cansaço – eles me reconheceram e começaram a correr atrás de nós, mas não estavam sozinhos. Um homem de cabelos pretos se juntou a corrida um pouco depois, e tive a impressão de outra pessoa o seguiu, mas não olhei mais para ver.

– Blaine nos guiou até o ginásio e lá nós nos separamos. Ele ficou para trás para atrasá-los enquanto eu e Jake entravamos pela passagem secreta – completou Kato. O homem estava pálido e assustado de uma maneira que ninguém ali jamais tinha visto – Eles sabem que você está aqui Dave. Gritaram perguntas e ameaças para você e para Jake enquanto corríamos.

– Para você também?! – perguntou Mindy, olhando surpresa para Jake, enquanto o menino engolia em seco e acenava positivamente com a cabeça. Não queria explicar porque Jack e Jody o conheciam tão bem.

– E o Blaine ficou sozinho?! – perguntou Dave, incrédulo. Não podia acreditar em o quão grato ele era àquele homem, que parecia não conhecer limites para ajuda-lo.

– Sim. Ele me disse que devemos nos esconder o mais rápido possível – disse Kato, tremendo com a adrenalina de seu corpo – Disse que na ilha o lugar mais seguro seria dentro do vulcão.

Dave sentiu um calafrio percorrer todo o seu corpo e não conteve um olhar para Eevee quando considerou voltar para dentro do vulcão. Não conseguia aceitar a ideia.

– Mas eu discordo – disse Kato, provocando um alivio automático no rapaz – Com certeza o vulcão seria um bom esconderijo, mas acredito que posso oferecer um lugar mais seguro, com a minha família. Alakazam poderia nos levar até lá.

– Com a sua família? – perguntou Mindy, incrédula.

– Não tenho tempo para explicar agora. Vocês concordam com o plano?

Dave e Mindy se entreolharam e assentiram com a cabeça em seguida, tensos, mas confiantes de que tudo iria dar certo.

– Então temos que ir rápido. Alakazam não conseguirá levar todos vocês de um vez, e preciso dele para voltar e ajudar Blaine o mais rápido possível.

Todos assentiram, mas Mindy pareceu se arrepender no momento seguinte.

– Espere! O que?! Você não vai?!

– Claro que não! Blaine está lá fora lutando sabe-se lá contra quantos agentes rockets para nos ajudar. Não posso deixa-lo sozinho!

Kato falou aquilo com tanta naturalidade que Mindy, Jake e Dave sentiram-se quase ofendidos, como se fossem um absurdo que qualquer outra atitude fosse tomada. A menina fitou o pesquisador por um segundo e então olhou para Dave, que também parecia lutar com alguma coisa dentro de si. Voltou a olhar para Eevee, aparentemente em duvida. Sabia que não seria justo da sua parte deixar que os outros se sacrificassem por ele. Eevee também não aprovaria. Mas depois dos eventos daquele dia, não podia aceitar a ideia de colocar Eevee em risco novamente.

– Não vou deixar você ficar sozinho – disse a menina, finalmente, dando um passo atrás e se afastando de Alakazam.

– O que?! – Kato parecia quase ofendido pela afirmação da menina

– E eu não vou deixar você sozinha – foi a vez de Dave falar, olhando para Mindy. A decisão da menina fora mais do que o suficiente para determinar a sua.

– Vocês só podem estar malucos! Vocês não tem ideia de onde estão se metendo. Eu não vou deixar vocês chegarem perto daqueles agentes. Eu não estou de brincadeira, crianças!

Alakazam deu um passo à frente, como se para agarrar o braço de Mindy, mas Jake o empurrou no ultimo instante, finalmente também se decidindo.

– Nós sabemos muito bem onde estamos nos metendo e não vamos deixar que ninguém se sacrifique por nós. Já enfrentamos os Rockets antes e podemos vencer de novo! – disse ele, batendo os pés no chão – E não somos tão crianças assim.

Kato olhou duro para Alakazam, que por um momento pareceu prestes a atacar Jake em resposta a sua intervenção surpresa, mas parou ao perceber o olhar duro de seu treinador. Kato encarou o grupo de jovens sem saber o que fazer, e Mindy pareceu ler os pensamentos do homem.

– Não tem nada que você possa fazer para nos forçar a fugir, então não vamos perder tempo discutindo ok?

Eles travaram olhares por um momento e um leve sorriso surgiu no canto dos lábios de Kato enquanto ele observava a determinação da garota. Não duvidava por um segundo sequer que ela estivesse falando a verdade.

– Tudo bem...

– Mas, o que vamos fazer com o Eevee? – disse Jake, olhando para o Pokémon ferido e desacordado, ainda deitado na cama.

Kato se aproximou dele enquanto o restante se entreolhava, tentando elaborar uma estratégia para protegê-lo e ajudar Blaine ao mesmo tempo. Dave adoraria ter Eevee ao seu lado em condições de batalha. Estaria muito mais confiante se aquele fosse o caso, mas não podia se dar ao luxo de leva-lo diretamente ao grupo de bandidos naquele estado. Ou pelo menos era isso que ele pensava até Kato votar a lhe encarar.

– Tenho que lhe contar uma coisa – disse ele, assustando o menino com um tom mais sério e centrado.

– O que? Está tudo bem com ele não é?! – O menino correu para o lado de seu Pokémon procurando ver o que Kato havia visto, mas tudo lhe parecia como antes.

– Na verdade, tudo está melhor do que você pensa.

Dave encarou o homem sem entendê-lo, assim como todos os outros no quarto. Kato suspirou profundamente antes de continuar, parecendo tomar uma decisão difícil.

– Olha, nós não temos tempo para grandes explicações agora. Mas se vamos fazer isso, não vejo porque não te deixar mais informado. Eu sei mais sobre o seu Eevee do que você pensa.

Dave estremeceu da cabeça aos pés e nem ao menos percebeu que deixou o queixo cair. Uma forte corrente elétrica parecia correr pelo ar da sala enquanto todos esperavam que Kato completasse. Em vez disso, ele se virou para Eevee e tocou a sua pata queimada, começando a desfazer com cuidado o curativo de Blaine.

– Olhe só isso aqui.

Dave observou enquanto a pata de seu Pokémon voltava a aparecer por trás da gaze branca. Mindy e Jake correram para o seu lado, mas sua surpresa não foi tão grande quanto a do menino, pois eles não tinham visto a queimadura que estava ali antes. Dave observou que a pele ligeiramente enrugada já não estava vermelha, e voltara ao seu tom marrom claro original. Parecia muito mais esticada do que antes, quase lisa novamente. Os pelos a sua volta não estavam mais pretos e chamuscados, e alguns já começavam a crescer na área queimada. Dave perdeu o ar.

– Mas o que?! O que é esse creme que o Blaine passou?! – disse o menino, sem entender – A queimadura já está bem menor. Não tem nem uma hora que estamos aqui, Kato!

– Não é o creme Dave. Não é nada que Blaine tenha feito. Esse é o seu Eevee.

– Como?! – disseram Jake, Mindy e Dave ao mesmo tempo, sem entender.

– Você já deve ter se perguntado incontáveis vezes porque seu Eevee é tão precioso não? Pois bem, eu sei te dizer. Tente se lembrar a ultima vez que ele precisou passar mais de uma noite em tratamento em um Centro Pokémon?

Dave parou para pensar e pareceu chocado com a resposta. Nunca. Ele se lembrava muito bem da única vez em que vira Eevee mais gravemente machucado, na noite que o conhecera, mas subitamente se lembrou também de que ele não foi submetido a nenhuma atenção médica, a não ser o pouco que sua mãe pudera oferecer. E ainda assim, quando acordou no dia seguinte já estava pronto para seguir viagem. Aquilo nunca tinha lhe passado pela cabeça antes.

– No dia em que o conheci, ele me salvou de um grupo de Ratatas que me atacava. Eu nem o vi, mas acordei e o encontrei desmaiado perto de um rio. Foi a única vez que o vi machucado.

Kato estranhou e olhou para Dave sem acreditar no que ouvia.

– O seu Eevee? Derrotado por um grupo de Ratatas selvagem? Muito pouco provável...

– Eu não sei, não vi. Desmaiei quando estava sendo atacado e quando acordei, todos os Ratatas tinham sumido, havia sinais de luta por todo lado e o encontrei desmaiado próximo ao rio.

– Tudo bem. Não vou discutir. A questão é: quanto tempo ele levou no Centro Pokémon?

– Nenhum – disse Dave, ainda sentindo calafrios na espinha – minha mãe cuidou dele e no dia seguinte ele estava bem como se nada tivesse acontecido.

A expressão de Kato convidava todos a sua volta a pensarem por um segundo. Aquilo definitivamente não era normal.

– Foi a mesma coisa com o Scyther – disse Mindy em seguida, lembrando-se do dia em que ela conhecera Dave – Ele sofreu na luta e com os poucos cuidados que eu lhe dei naquela noite, ele acordou como se nada tivesse acontecido no dia seguinte!

– Agora que eu paro para pensar, não acho que tenha visto ele se ferir gravemente em momento nenhum – disse Jake, tentando compreender o que estavam percebendo só ali, naquele momento.

– Espera, o que isso quer dizer?! – disse Dave, olhando para Kato com um tom acusatório.

– O que eu quero dizer é que o seu Eevee possui uma habilidade auto regenerativa.

Todos precisaram de alguns segundos enquanto aquela informação pairava no ar. Era impossível processar todas as implicações daquilo naqueles breves momentos.

– Isso quer dizer que ele consegue se curar sozinho. Ele tem a habilidade de regenerar as suas células afetadas por qualquer anomalia e retorna-las para seu estado normal. Não é tão rápido quanto alguns gostariam, e quando o dano é mais sério, como agora, a recuperação pode levar algum tempo. Mas não acredito que ele leve mais de vinte e quatro horas para estar novamente em total controle de seu potencial final.

– Isso é... – Dave ainda procurava as palavras certas, sem sucesso – Isso é... Como você sabe disso tudo?!

– Não tenho tempo para lhe explicar agora, temos que ajudar Blaine. Acabei de confirmar as minhas suspeitas quando examinei as suas feridas. Meu conselho é que não traga o Eevee conosco. Ele sempre me surpreendeu, mas acho que dessa vez não irá se recuperar a ponto de conseguir nos ajudar.

– Sempre?! – disse Mindy. Ela parecia, subitamente, magoada por alguma coisa. Ele está conosco por causa do Eevee. Não por minha causa, mas por causa do Eevee. Ele não é o meu pai...

– Já disse, não tenho tempo para explicar! Dave, o que você quer fazer?

Fora Jake quem respondera.

– Eu posso ficar com ele. Podemos nos esconder no vulcão como o Blaine disse. Eles nunca vão nos encontrar...

– Eu não quero deixar o Eevee para trás – disse Dave, prontamente – Nem você Mindy...

O menino estava completamente dividido naquele instante. Sabia que Kato iria atrás de Blaine e que Mindy i seguirira a qualquer custo, e ele não queria deixa-la enfrentar os agentes Rockets sozinha. Mas não podia aceitar a ideia de abandonar Eevee, por um momento que fosse. Tudo indicava que ele estaria bem com Jake no vulcão, mas Dave não poderia se certificar disso e a culpa que estava carregando nas últimas horas não deixaria que ele ficasse tranquilo, mesmo depois de todas as descobertas.

– Dave, você tem que escolher. Agora! – disse Kato, enquanto a menina olhava com carinho para o garoto – Eu preferiria que todos vocês ficassem no vulcão, mas não quero perder tempo discutindo. Vocês são treinadores e tem que tomar as suas proprias decisões. Mas não podemos ficar aqui para sempre.

Dave suspirou, olhando de Eevee para Mindy sem saber o que fazer.

– Você pode ir com o Eevee para tentar mante-lo em segurança, ou ir conosco para lutar pelo mesmo motivo. Lembre-se de que o que quer que esteja fazendo, estará fazendo por ele – disse Mindy, encarando-o no fundo dos olhos.

Dave tentou inutilmente raciocinar por um segundo, mas então ouviu o que seu coração dizia.

– Jake, cuide bem dele. Se alguma coisa acontecer eu vou atrás de você entendeu?

Jake sorriu de volta e pegou Eevee no colo com cuidado enquanto Alakazam se aproximava dele. Kato o instruiu para deixar Jake antes da porta que dava ao precipicio de Magmar, e pediu que Jake, sob hipotese alguma, fosse até lá. O menino mais novo assentiu com a cabeça e trocou um utlimo olhar de confiança com todos antes de sumir enquanto desejava “boa sorte”.

Mindy se aproximou de Dave e deu um breve beijo em seus lábios, o que fez com que Kato sentisse um breve arrepio e desviasse o olhar. Alakazam então voltou e o homem disse que Dave seria o próximo a ser levado. O garoto se separou da menina e então desapareceu com o Pokémon psiquico ao seu lado.

Mindy suspirou e encarou o pesquisador Pokémon no fundo dos olhos por um momento, tentando ao máximo esconder todas as emoções que estava sentindo naquele momento. Não sabia mais o que pensar sobre o homem, sobre quem ele era e o que o levara a decidir acompanhá-los em sua viagem. Tinha agora toda a certeza de que ele não poderia ser o seu pai, afinal, não era por ela que ele estava ali e sim pelo Eevee. Mas eram exatamente Dave e Eevee que não deixavam que ela se entregasse mais aquela decepção. Eles precisavam dela, e ela não podia deixá-los na mão ali. Precisava ser forte, se não por ela, por eles. Meu Deus, o que será que eu estou fazendo?

Alakazam voltou a se materializar ao lado da menina, e Kato fez um sinal positivo para ele com a cabeça para que ele a levasse. Mas, antes disso, olhou para ela e disse uma unica frase.

– Você é igualzinha à sua mãe, sabia?

Mindy quase caiu ao ouvir as palavras do homem a sua frente, mas o Pokémon psiquíco não permitiu, apenas encostando uma das mãos em seu ombro, apertando, e desaparecendo. Kato sorriu e tentou o máximo para guardar a expressão de surpresa e satisfação nos olhos de sua filha nos momentos antes dela desaparecer na sua frente. Seu coração batia desesperadamente.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

Quando o estranho segundo do teletransporte passou, Dave percebeu que estava de volta no corredor escuro que levava a arena subterranea do ginásio de Cinnabar. Alakazam já havia sumido novamente. Um estrondo contínuou cobria o lugar com uma atmosfera assustadora, o chão tremia e uma grande quantidade de terra caia do teto, obrigando o menino a proteger os olhos com as mãos.

Mindy surgiu em seguida, com uma expressão de surpresa muito diferente do normal. Dave estava prestes a perguntar-lhe o que estava acontecendo quando ouviram claramente um alto rugido sobre o som que cobria o local. Em seguida eles viram uma grande figura laranja surgindo na distancia. Ela se aproximava com enorme velocidade e em menos de um minuto estaria passando por eles. Assim que Kato chegou, Mindy se virou para ele pronta para perguntar alguma coisa, mas outro som surgiu junto com ele.

Era a voz de Blaine, se perdendo em meio ao corredor, dando inconfundivelmente uma unica ordem repetidamente.

– Corram! Rápido!

Todos arregalaram os olhos e dispararam na direção contraria, indo para a grande arena subterrânea. Blaine vinha montado em seu Arcanine, correndo com toda sua velocidade e mesmo com a dianteira de mais de cem metros, rapidamente o grupo a pé foi ultrapassado. O líder do ginásio de Cinnabar sumiu em meio à escuridão enquanto os outros tentavam alcança-lo correndo na direção em que ele seguira.

Não levaram mais do que dois minutos para chegar ao grande portão de metal que servia de entrada para a arena, e o encontraram aberto, com Blaine postado no centro do campo já com os pés no chão, ao lado de seu Arcanine. Seu rosto parecia alarmado e preocupado, e o seu suor era visível, contrastando bastante com a mascara impenetrável que ele costumava usar quando lutava.

– Eles têm um Onix, enorme – disse ele, sem dar tempo de ninguém lhe perguntar alguma coisa – Destruíram a casa do ginásio e causaram vários desabamentos pelo túnel. Alguns agentes devem estar vindo para cá agora mesmo.

– Alguns? – disseram Dave e Kato juntos.

– Sim, lutei contra quatro ao mesmo tempo lá em cima, mas eles se comunicaram pelo rádio com outros. Devem existir mais na cidade.

– Você não tinha que ter se colocado em risco dessa maneira, Blaine. Não sei nem como te agradecer... – disse Dave, deixando toda a sua gratidão transparecer.

– Você não tem que me agradecer, garoto. Eu não gosto desses caras e quando vi que estavam importunando vocês, não me contive em ajudar. Só não sabia a proporção disso tudo. O que quer que você tenha feito para irritá-los, você conseguiu...

Dave deu um breve sorriso e resolveu que Blaine merecia ao menos uma explicação superficial da situação depois de tudo o que fizera pelo seu grupo.

– Eles estão atrás do meu Eevee – disse Dave – Desde que eu saí de casa, em Grené.

– Grené?! – surpreendeu-se Blaine – Por onde você veio? Por cima das montanhas?!

– Na verdade não. Subimos até Zaffre e Celado e agora estou descendo. Foi uma longa jornada.

– Meu Deus, e eles estão te perseguindo esse tempo todo?! Agora eu entendo por que tanta raiva. Eles devem estar frustrados. O Eevee está a salvo?

Dave sentiu o tom de elogio na voz do homem mais velho, mas não se deixou enganar. A situação era preocupante e ele sabia disso.

– Sim, está. Jake foi com ele para o vulcão. Nós viemos te ajudar – explicou Kato.

– Entendo. Obrigado... Bom, vamos ter que...

Naquele momento um grande estrondo fez com que toda a arena tremesse violentamente, interrompendo Blaine. Grandes blocos de pedra desabaram perto da entrada do túnel, fechando-a permanentemente, e um grande buraco surgiu no meio da parede logo acima da passagem, de onde uma enorme serpente de pedra se projetou para fora, caindo pesadamente no chão.

Dave, Mindy, Kato e Jake deram um passo para trás enquanto o Arcanine de Blaine rosnava contra o novo visitante. Uma mulher loira o seguiu, pulando para o seu lado com um sorriso no rosto enquanto Jack, Jody e um quarto agente desconhecido se projetavam do buraco na pedra e caiam no chão, logo atrás do enorme Onix. Todos eles tinham um sorriso no rosto.

– Ora, ora, finalmente nos encontramos de novo – disse Jody, dando um passo à frente e se postando ao lado da agente loira desconhecida – e parece que o grupo está recomposto.

– Sim, eu estou de volta – disse Mindy, encarando a mulher de cabelos roxos diretamente nos olhos.

– Que bom! Confesso que a namoradinha por quem ele tinha te trocado talvez desse mais trabalho do que você.

Mindy cerrou os dentes e os punhos enquanto Jody soltava uma risada debochada.

– Dave, tem bastante tempo que não nos vemos não é? – dessa vez foi Jack a falar – Sabia que seus pais receberam uma visita muito interessante nos últimos dias? Pelo que me contaram, eles realmente sentem a sua falta sabia?

– O que?! Meus pais?! – o coração de Dave saltou – O que vocês fizeram com eles?!

– Ora, isso eu não posso dizer...

O menino de Grené não conseguiu conter suas mãos e lábios de tremerem de raiva. Imaginara muito da Equipe Rocket, mas não podia acreditar que tinham encostado em seus pais, na sua família. Não sabia nem ao menos como começar a lidar com aquela ideia em sua cabeça. Ela não parecia real. Dave achava que tinha levado o perigo consigo quando saíra de casa e de sua cidade nata, mas agora sabia do contrário. Mais uma vez naquele dia um imenso sentimento de culpa lhe caia sobre os ombros.

– Cale a boca! Cale a sua boca antes que cale ela por você! - disse Mindy, olhando furiosamente para os rockets – Não acredite em uma palavra deles Dave. Não se deixe abalar.

Dave tentou controlar melhor sua respiração. Ela está certa. Ele está mentindo. Ele só está querendo me deixar nervoso e eu estou deixando pensou Dave, que no fundo sabia que o relato de Jack era verdadeiro. Sua única opção agora era ignorar aquilo, pelo menos até ter acesso a um telefone e pode ligar para casa. Ele está mentindo. Tem que estar...

– A namoradinha do rapaz vem para o resgate novamente – riu-se Jack – Você não tem vergonha Dave? Não tem vergonha de não conseguir se defender sozinho?!

– Já consegui me defender sozinho de você e da sua parceira ao mesmo tempo, se bem me lembro. E mais de uma vez. Não sei se sou eu quem deveria ter vergonha aqui – disse Dave, forçando-se a sorrir de volta para Jack, que trincou os dentes.

– E então, vamos para de conversa e resolver nossos problemas? – a mulher loira disse pela primeira vez – Me sinto como uma intrusa entre velhos amigos, e sinto muito em estragar toda a diversão de vocês, mas nós viemos pelo Eevee, e não podemos ir embora sem ele.

– Então vocês vão ficar aqui para sempre – disse Dave, sacando duas Pokebolas ao mesmo tempo e sendo imitado por Mindy e Jake.

– Eu não teria tanta certeza – disse Peter, sacando a sua Pokebola juntamente com Jack e Jody.

Subitamente, Dave tinha ao seu lado Poliwhril e Sandslash, Mindy tinha liberado seu Charizard e sua Nidorina, se juntando ao Alakazam de Kato e ao Arcanine de Blaine. De frente para eles estavam o Dodrio de Jody, o Marowak de Jack, o Onix da agente loira, além de um Golduck e um Tauros do agente desconhecido de pele escura. O grupo de Dave tinha a vantagem de numero e uma boa combinação de tipos de Pokémon, mas aquilo não parecia abalar os integrantes da Equipe Rocket, que sorriam com confiança.

– Eles não estão com o Eevee - disse Jody em um pequeno comunicador aparentemente preso em seu ouvido - Ele está com o fedelho mais novo. Vasculhem a cidade - ela parou por um segundo com um sorriso no rosto, olhando para o grupo - e e comece pela casa do líder do ginásio.

Dave sentiu um calafrio percorrer sua espinha, torcendo para que os agentes rockets não encontrassem a entrada secreta para o vulcão escondida nas fontes de água aos fundos da casa de Blaine. Dizia a si mesmo que a possibilidade era pequena e que Jake seria capaz de defender Eevee com seus próprios Pokémons, mas a verdade é que ele não conseguia se convencer daquilo.

Não teve muito tempo para se questionar, entretanto. Onix mergulhou veementemente contra o chão, fazendo todo o chão tremer, e desapareceu por baixo da terra. Dave setiu-se tentado a mandar que Sandslash o seguisse, mas duvidava que se os dois se encontrassem no subterraneo o encontro seria vantajoso para seu Pokémon. Nenhum dos outros Pokémons se moveu por um instante, até que a batalha finalmente começou.

Arcanine cuspiu uma poderosa rajada de chamas contra os oponentes, separando-os. Sandslash e Poliwhril seguiram Marowak, que pulou para o lado direito, enquanto Charizard e Nidorina se encarregavam de cercar Dodrio, que pulou para o esquerdo. Arcanine saltou para frente em perseguição a Tauros, que conseguiu se mover para trás com uma destreza surpreendente para seu tamanho. Golduck, por sua vez, saltou para o alto e caiu poucos metros a frente de Alakazam, e os dois pareciam travados em uma compenetrada batalha mental.

Dave tentou por um momento analisar a situação em que estavam, mas se surpreendeu quando percebeu os quatro agentes Rockets correndo em direção ao seu grupo. O que eles estão fazendo? pensou ele, até perceber que eles os estavam atacando. Não conseguia acreditar no que seus olhas estavam lhe dizendo.

Jack veio correndo em sua direção, e o obrigou a dar tres passos rapidos para trás para desviar de um par de socos em sequencia. Jody voou contra Mindy, que parecia tão atordoada quanto o garoto e caiu enquanto tentava escapar da mulher de cabelos roxos. Kato, por sua vez, parecia lutar de igual para igual com a mulher loira, enquanto Blaine, mesmo com toda a sua idade, encarava com ferocidade o agente de pele escura que o cercava.

Dave não tinha tempo para prestara atenção no que estava acontecendo na luta. Jack tentou mais um soco e ele caiu no chão enquanto tentava escapar. Sua cabeça estava a mil. Ele pensou ter visto Jack sorrir enquanto via o desespero estampado em seu rosto, mas não podia ter certeza. De tudo o que estava acontecendo, aquele tipo de ação da Equipe Rocket era o que mais lhe surpreendia.

Mindy conseguiu se levantar e se jogou contra o corpo de Jody, e as duas cairam rolando pelo chão, tentando se manter em vantagem. Kato defendeu dois chutes da mulher loira com a perna levantada e rapidamente se agachou e atingiu em sua perna de apoio, derrubando-a. O homem que encarava Blaine tinha investido contra o líder, mas Blaine surpreendentemente pulara para trás, se desvencilhara dele e ainda o acertou com um soco rápido enquanto andava para trás.

Enquanto isso, Tauros tinha aproveitado uma brecha no jato de fogo de Arcanine para investir contra ele. O Pokémon de Blaine parecia estar tendo dificuldades de se manter afastado do grande touro, e apenas o conseguia porque cuspia fogo quando não restava outra opção, obrigando Tauros a se proteger. Até ali, nenhum dos dois havia conseguido atingir um golpe sequer no outro.

Marowak tentava escapar dos ataques aquáticos de Poliwhril, mas Sandslash o mantinha ocupado com rajadas de espinhos venenosos, e depois de muitas tentativas, o Pokémon terrestre finalmente foi derrubado por uma pulsação de água. Dodrio tentava se utilizar de sua agilidade contra Nidorina, mas Charizard não permitia que a ave se movesse por um largo espaço, construindo um circulo de fogo a sua volta. Fora fácil prende-la, e ele estava preparado para lançar-se sobre ela uma ultima vez.

Entretanto, Golduck surpreendentemente parecia levar vantagem sobre o poderoso Alakazam de Blaine. O Pokémon psiquíco estava suado e tinha um expressão de cansaço enquanto o outro parecia compenetrado e inabalado. Kato conseguiu ver que o seu Pokémon estava em apuros e sabia que Golduck poderia ganhar controle sobre ele a qualquer momento, o que seria prejudicial para toda a batalha.

– Alguem ajuda o Alakazam - gritou ele, enquanto sua oponente lutava para se levatar da rasteira que havia levado.

– Charizard! - foi a unica coisa que Mindy conseguiu gritar enquanto ainda rolava no chão tentando se separar de Jody.

O dragão de fogo entendeu o comando de sua treinadora e abandonou Nidorina para lutar com o já encurralado Dodrio. Lançou uma poderosa rajada de chamas contra o pato aquatico, que o obrigou a se proteger, e Alakazam pareceu relaxar por um segundo. Em seguida o Pokémon de Kato preparou um poderoso raio psiquico e lançou contra seu oponente.

A barreira protetora de Golduck não era grande o suficiente para protege-lo de Charizard e Alakazam ao mesmo tempo, e o pato foi lançado para trás com o impacto os ataques. Ele se chocou contra Arcanine, que foi derrubado pela pancada em suas costas e caiu no chão, se tornando um alvo fácil para Tauros.

O touro estava a meros centimetros do Pokémon de Blaine quando foi atingido na lateral por um jato de agua de Poliwhril, enquanto Sandslash parecia estar correndo para ajudar Nidorina a finalizar o seu oponente mais rapidamente.

Dave estaria feliz com o andar da batalha se conseguisse enteder alguma coisa do que estava acontecendo, mas um dos punhos de Jack acertara a lateral da sua cabeça quando ele tentava se levantar e um segundo o atingiu proximo ao lábio, fazendo-o sentir o gosto de sangue. Ele caiu novamente com o rosto no chão de pedra e terra, e tentou se arrastar para longe de Jack, enquanto o homem continuava a se aproximar, tentando golpeá-lo com os pés. Dave se desviou do primeiro chute e tentou revidar, acertando o joelho do agente Rocket, que deu um passo atrás reclamando e surpreso.

Dave conseguiu se por de pé com dificuldade e finalmente percebeu o que estava acontecendo a sua volta. Mindy havia finalmente se separado de Jody e as duas estavam se encarando, tentando se preparar para o próximo ataque, Blaine havia conseguido dominar o agente de pele escura, e estava o segurando no chão de maneira firme, apesar da sua clara desvantagem de porte fisico. Kato parecia ter acertado golpes contra a agente loira, mas ela ainda continuava a tentar atacá-lo.

Foi então que Jody ouviu um chamado em seu comunicardor.

– Jack, temos uma pista. Acho que encontraram o garoto. Vamos, eu quero estar lá para isso!

Jack estava avançando novamente contra Dave, mas estacou assim que ouviu o chamado de sua parceira. O menino de Grené poderia ter se aproveitado para golpeá-lo, mas ficara mait atordoado do que o agente com a noticia da mulher de cabelos roxo.

– Linda, Trance, distraiam eles! - disseram Jack e Jody juntos, recolhendo seus Pokémons e correndo na direção do tunel que levava à casa de Blaine.

– Não os deixem fugir! - gritou Kato.

Seu Alakazam tentou lançar um ataque psiquico contra Jack e Jody, mas uma subito tremor de terra fez com que ele perdesse a concentração. Trance, o agente de pele escura, aproveitou o momento para se desvencilhar de Blaine e Linda, a loira, acertou um chute contra a lateral do joelho de Kato, fazendo-o dobrar uma das pernas.

Jack e Jody se aproximavam da entrada do tunel com velocidade, mas Charizar havia partido atrás deles. Dave duvidava que eles fossem capazes de escapar do dragão de Mindy e observou esperançoso enquanto ele cruzava a arena pelo ar em perseguição. Os dois agentes rockets entraram pelo tunel, mas Charizard estava prestes mergulhar atras deles quando, surgindo de baixo da terra com um grande estrondo, o grande Onix saltou para cima e o atingiu na barriga.

– Não! - Gritaram Dave e Mindy ao mesmo tempo.

Eles se entreolharam enquanto Charizard era lançado para o alto rugindo e atingia o teto. O chão parou de tremer e todos ficaram estaticos por um segundo de reflexão, até que Dave voltou a se mecher. Sacou suas Pokebolas, recolheu seus Pokémons, e partiu em corrida atras de Jack e Jody. Os rockets estavam mais próximos do que nunca de encontrar Eevee, e ele não poda permitir aquilo.

Onix, entretanto, bateu com a sua forte cauda em frente ao seu caminho, derrubando-o no chão. O meninio se assutou, levantou-se e se viu desesperado. Não sabia o que fazer para ultrapassar aquela grande serpente de pedra. Sem nenhum aviso, Alakazam surgiu ao seu lado, encostou nele e os dois desapareceram juntos.

Mindy recolheu seu Charizard antes mesmo que ele atingisse o chão novamente. Olhou com duvida para Kato, lutando para não ter que se despedir dele, mas sabendo que não tinha outra escolha. Não poderia ter outra escolha.

– Eu tenho que...

– Eu sei. Vai! Nós cuidamos deles... - Seu sorriso era de conforto, e ela tentou devolve-lo com um forte aperto no peito.

Em seguida Alakazam surgiu ao lado da menina, agarrou seu braço, e voltou a se teletransportar.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

Dave se viu no corredor que levava ao abismo dentro do vulcão, mas Jake não podia ser visto em lugar nenhum. Alakazam já hava sumido quando ele tentou procurá-lo, mas surgiu em seguida por apenas um segundo, deixando Mindy parada ao seu lado e desaparecendo de novo em seguida. O Pokémon sabia que Kato e Blaine precisavam dele.

Dave ainda sentia o rosto doer depois da briga com Jack e, depois de ter saido do calor da batalha, sentia cada pontada de dor ainda mais forte. Mindy também estava suja, tinha um pequeno corte no lábio inferior inchado, e parecia estar arranhada em diversas partes do corpo. O casal se entreolhou por um segundo e Dave sentiu-se extremamente grato por tê-la ali com ele, enquanto ela lhe fazia um aceno com a cabeça acompanhado de um breve sorriso antes de começar a olhara para os lados, decidida.

– Onde estamos?

– Em uma passagem para dentro do vulcão - disse o rapaz, e um arrepio pareceu percorrer a espinha da menina - Ela começa nos fundos da casa de Blaine e termina em um abismo para a lava mais a fundo...

–Uhum... E você acha que os Rockets já encontraram o Jake?

Dave pareceu tentar pensar claramente por um momento, tentando afastar toda a adrenalina que ainda corria pelo corpo. Mindy também estava ofegante. E tentava se concentrara apenas no que estava fazendo naquele momento. O garoto olhou de um lado para o outro da passagem levemente inclinada, que descia até as profundezas da terra para encontrar a lava, tentando concstruir algum tipo de raciocinio.

– Acredito que não... Não acho que eles tiveram tempo de encontrar a passagem e chegar até aqui. Jake deve estar mais para o fundo da passagem.

– Ou mais para cima... - disse Mindy, esperançosa.

– Nós conhecemos o Jake, Mindy. Ele é medroso, mas curioso. Ele deve ter descido para ver qo eu tem lá em baixo...

Os dois sorriram brevemente e concordaram com a cabeça, começando a descer pela passagem com cautela. Não havia duvidas de que Jake, mesmo no meio de tanta confusão, não teria resistido ao impulso de continuar descendo no vulcão. Dave estava apenas torcendo para que o amigo não tivesse encontrado outro oponente como o Magmar que ele derrotara há pouco. Tudo aquilo parecia tão distante que o menino até mesmo esqueceu que estava com uma pedra do fogo no bolso.

Tentando se manter focado na busca, Dave segurou a mão da menina e a guiou pelo caminho. Os dois caminhavam em um passo apressado e trocavam breves olhares, mas estavam em silencio, tentando se recuperar do que estava acontecendo. Seu ritmo cardicao foi se acalmando aos poucos, mas a preocupação de serem encontrados não permitia que se tranquilizassem completamente. Estavam atentos para qualquer som que pudessem ouvir, procurando no vácuo os passos de seus perseguidores, mas não conseguiram encontrar nada.

Dave e Mindy chegaram à porta de metal e a encontraram fechada, para sua surpresa.

– Ele não deve estar aqui – disse a garota, olhando para trás, mas Dave não tinha tanta certeza.

– Bom, só há um jeito de ter certeza... – disse ele.

Dave sabia que a porta estava quente, mas não via outra saída se não tentar abrí-la. Tinha de encontrar Jake e Eevee e tinha certeza de que eles estariam ali. Puxou o pano de sua camisa branca, agora ja surrada por todos os eventos do dia, e enrolou sua mão em volta, para tentar se proteger. E então, usando toda a sua força e o peso de seu corpo, empurrou a porta para trás.

Cerrou os dentes quando sentiu o toque quente do metal ultrapassando o tecido da camisa e tocando-lhe a mão de modo dolorido, mas continuou empurrando. A porta era pesada, mas cedia ao peso do garoto. Mindy se apoiou contra ele, empurrando-o tambem e ajudando-o, e então conseguiram deslocá-la com muito esforço. La de dentro, ouviam passos rápidos, como se alguma coisa estivesse se movimentando. Ou melhor, mais de um par de passos podia ser ouvido, o que significava que Jake não estava sozinho.

Assim que uma fresta grande o suficiente para que eles passassem estava aberta, os dois correram para dentro, sem hesitar, apenas para ver o Wartortle e o Vulpix de Jake tentando fazer frente ao Magmar que ali vivia. O coração de Dave disparou mais uma vez naquele dia. Será que isso não acaba? Eu já o venci!

– Jake! – Chamou Mindy, fazendo com que o garoto mais novo a encarasse.

Ele estava sujo, pingando de suor e com um Eevee ainda inconsciente no colo, mas parecia extremamente focado na luta que se desenvolvia entre seus dois Pokémons e o Magmar do vulcão.

– Mindy! Dave! – ele parecia profundamente aliviado.

Dave ainda estava atordoado tentando entender como Magmar se recuperara tão rapidamente da luta contra Eevee, mas não tinha tempo para pensar naquilo. Sacou novamente a Pokébola de seu Poliwhril e a de Pidgeot, enquanto Mindy soltava em campo sua Nidorina e seu Nidorino.

– Vocês estão bem? – disse Dave, se aproximando e afagando a cabeça de seu Eevee, ainda envolto em ataduras.

– Sim estou. Mas esse Magmar está me dando trabalho...

– Eu imagino. Foi ele que fez isso no Eevee.

Wartortle tentou atingir Magmar com um jato de água, mas ele pulou para trás e se posicionou em uma das colunas de pedra que nasciam da lava muitos metros abaixo. Encarou seus oponentes, agora seis Pokémons, e pareceu perceber que talvez estivesse em sérias desvantagens. Mas em vez de abalá-lo, aquilo pareceu fazê-lo se concentrar ainda mais. Jake e os outros sentiram a temeperatura ambiente aumentar ainda mais, e as bolhas de lava estourando podiam ser ovuidas enquanto os Pokémons se preparavam para lutar.

– Nidorino, Nidorina, ataquem com seus espinhos venenosos!

O casal de Pokémons disparou a rajada de espinhos em sincronia, obrigando Magmar a saltar para esquivar-se. No alto, onde seria um alvo fácil, Jake e Dave ordenaram o jato de água. Magmar, entretanto, girou sobre seu próprio eixo cuspindo fogo, como tinha feito com Eevee, e criou em volta de si uma espiral que bloquou os ataques dos Pokémons aquaticos.

Foi a vez de Pidgeot entrar em ação. Dave ordenou uma rajada de vento, que lançou magmar contra a parede oposta da galeria do abismo. O Pokémon de fogo atingiu a parede com força, mas caiu de pé no chão, encarando o grupo de oponentes do outro lado enfurecido. Dave não lembrava de te-lo visto dessa maneira contra Eevee.

O Pokémon do vulcão saltou a frente usando as colunas como apoio e se desviou tanto dos ataques aquaticos como dos venenosos, e estava prestes a pular contra Pidgeot com uma imensa velocidade. Dave não tivera reflexo para reagir, contando que os outros Pokémons conseguisse desestabilizar o ataque do adversário, e quando isso não ocorreu, percebeu que estava sem defesa.

Até que Jake ordenou um ataque investida de sua Vulpix.

A pequena raposa saltou no ar e se chocou contra a investida de Magmar, parando-a e derrubando-o no chão novamente, frustrado. Enquanto isso, a própria Vulpix caiu desacordada no chão, depois do impacto avassalador que sofrera com o golpe de Magmar. Jake não tinha duvidas de que isso aconteceria e já estava com a sua Pokébola na mão para recolhê-la.

– Você fez muito bem Vulpix. Te recompesarei depois – disse o garoto.

– Você não tinha que se sacrificar Jake! – disse Dave, incrédulo.

– Dave, Vulpix é de fogo e mais fraco do que Magmar. Não teria chances. Já o seu Pidgeot...

Dave queria argumentar, mas o combate que iam travando não lhe permitira isso. Sentiu-se imensamente grato pelo gesto do amigo.

Agora que o oponente estava no chão, próximo ao grupo, Mindy ordenou ataques fisicos contra Magmar, mas esse apenas saltou para o alto e cuspiu uma forte rajada de fogo, atingindo os dois Pokémons da menina ao mesmo tempo. Dave ordenou mais um jato d’água contra o Pokémon de fogo, enquanto Jake ordenava um ataque giratório. Wartortle pulou girando seu corpo e se recolheu para dentro da casa, indo contra o quente corpo de Magmar, que lhe desferiu um soco flamejante que a mandou de volta contra o jato de água de Poliwhril.

Nesse momento Pidgeot já estava a meros centimetros e tentou acertar-lhe com um golpe de asasa com sucesso. Magmar, porém, se agarrou com força a asa do passaro, fazendo-o gritar de dor enquanto Dave se desesperava.

– Não! – disse ele, sacando sua Pokébola enquanto o passaro perdia altitude, mergulhando perigosamente em direção à lava enquanto se debatia para se livrar de seu agressor.

Recolheu seu Pokémon e Magmar foi obrigado a saltar meros segundo antes para conseguir não voltar para a lava de onde viera. Encarou então com um pouco mais de satisfação os oponentes que lhe restavam. Dave tentou por um segundo escolher qual seria seu próximo Pokémon e sacou a Pokébola de Sandslash, mas ficou paralisado quando ouviu uma voz desconhecida atrás de si.

– Magmar, pare! – disse uma mulher que os fez virar depressa.

Na abertura da porta estavam parados dois agentes Rockets com um sorriso no rosto. Um deles era um homem de cabelos pretos que Dave e Mindy reconheceram do dia em que se encontraram, a outra, uma mulher também de cabelos escuros e pele escura, que era sem sombra de duvida a lider ali. Não tinha em si nada que lhe destacasse, além de sua confiança exuberante.

Magmar obedeceu ao comando da mulher e relaxou, e Dave não sabia o que pensar.

– Muito prazer, David Hairo. Meu nome é Gabrielle, e você vem me dando mais trabalho do que o normal.

O menino estremeceu com o tom de voz da mulher e não sabia o que responder. Nunca a havia visto antes, mas ela devolvia o seu olhar como se o conhecesse ainda melhor do que deixava transparecer. Já o homem ao seu lado Dave e Mindy imediatamente reconheceram como o homem com quem lutaram no dia em que se conheceram, há tanto tempo atrás. O menino lembrou-se que o homem estava a caminho de Grené naquele dia, e então se lembrou do que os outros agentes haviam lhe dito sobre seus pais há pouco. Aquilo não era verdade, era blefe! Ele tentava dizer para si mesmo.

– Quem são vocês – disse Mindy, percebendo que talvez estivessem em sérios apuros – Esse Pokémon é de vocês?

– Não é exatamente meu – disse Gabrielle, com um sorriso no rosto – mas trabalha para um dos nossos, e consequentemente para mim também...

Um momento de silencio reinou enquanto todos se encaravam. Dave percebeu que estavam sem saída ou rota de fuga. Se quisessem escapar, teriam que passar por cima daqueles dois agentes Rockets, e aquela não lhe era uma perspectiva simples. Algo lhe dizia que seria um dos maiores desafios de sua vida.

– Não adianta pensar em fugir, Dave – Gabrielle parecia ler seus pensamentos – Você nunca vai passar por mim...

– Por nós – interrompeu Peter, fazendo-a rolar os olhos pra cima.

– Por nós... – continuou – e se passar, ainda vai encontrar muitos outros agentes pelo caminho. A ilha está tomada. Você não tem para onde correr.

– A gente passa por cima de todo mundo se precisar – disse Mindy cheia de confiança.

– Você não vai levar o Eevee – disse Dave, aceitando que não teria escolha – Voce pode até me levar, mas nele você não encosta.

– É o que veremos – disse ela, sacando duas Pokebolas.

Dave estremeceu quando a viu liberando um Gengar e um Venomoth ao mesmo tempo, enquanto Peter liberava seu Scyther. Ele já havia encontrado aquele Scyther anteriormente, mas não era ele que o fazia estremecer. De todos os confrontos que tivera com a Equipe Rocket, o unico em que vira Eevee hesitar fora contra um Venomoth, e algo em sua mente lhe dava a certeza de que aquele era o mesmo Pokémon.

Na ocasião, a mulher que se chamava Gabrielle não estava à vista, mas aquela mariposa talvez tivesse sido o adversario mais formidavel que Eevee enfrentara em toda a jornada, pelo menos até o encontro com Magmar. Se Gengar se provasse um adversário tão dificil quanto seu companheiro, aquela batalha poderia ja estar decidida.

Não posso me permitir pensar assim disse para si mesmo. Teremos a vantagem numérica. Eles são três, quatro com o Magmar. Eu, Mindy e Jake podemos vencê-los. Poliwhril, Wartortle, Vulpix, Nidornio e Nidorina se postaram lado a lado. Dave considerou liberar Pidgeot para se juntar à luta, mas lembrou-se de que uma de suas asas estava queimada e danificada. Gloom ainda não havia lutado, e Sandslash estava em boas condições, assim como Growlithe. Dave liberou os três, sabendo que tinha um grande desafio pela frente. Mindy ainda estava receosa por usar seu Charizard, depois da desgastante batalha contra Blaine, ainda naquele dia, e o golpe que sofrera de Onix, então preferiu deixá-lo dentro da Pokebola.

Peter pareceu levemente desconfortavel com a desvantagem, mas Gabrielle ainda sorria, olhando sempre de relance para Eevee.

–Growlithe, queime essa Mariposa!

– Vulpix, pegue o Scyther!

– Nidorino, Nidorina, concentrem-se em Gengar!

Duas fortes rajadas de fogo foram lançadas, obrigando não apenas os insetos, mas também seus treinadores a sairem do caminho. Nem Syther, nem Venomoth foram atingidos. Gengar, por sua vez, apenas esticou as mãos e, com um ataque de confusão, levantou Nidorino e Nidorina no ar. Mindy imediatamente lembrou-se da lava no abismo, e temeu genuinamente por seus Pokémons.

Sandslash, porém, lançou uma rajada de espinhos venenosos por conta própria, obrigando o Pokémon fantasma a se desviar e, assim, perder o controle sobre casal de Pokémon por um momento. Enquanto isso, Dave e Jake foram obrigados a mandar que Poliwhril e Wartortle tentassem manter Magmar afastado do resto da luta, e eles, obedientes e eficientes, conseguiram conduzir o Pokémon de lava para o outro lado do abismo, direcionando seus movimentos com ataques de áquaticos.

As lutas haviam se espalhado rapidamente por toda a extensão da sala do abismo, e Dave, Mindy e Jake estavam tendo dificuldades em acompanhar tudo o que estava acontecendo simultaneamente. Peter parecia concentrado em ajudar seu Scyther a se manter longe do alcance de Vulpix, que o perseguia incansavelmente. A pequena raposa vermelha estava determinada, mas parecia incapaz de acompanhar a sua agilidade.

Growlithe ainda tentava queimar Venomoth, e Dave teve que alertá-lo duas vezes sobre ataques de pó do inseto, que foram também defendidos usando jatos de chama. Apesar da situação preocupante e indecidida, o menino sentia-se orgulhoso de seu amigo, que parecia incomodar um adversário formidavel e se mostrar verdadeiramente determinado. Ordenou que Gloom se juntasse a ele, mesmo sabendo que o Pokémon de planta estava em desvantagem. Dave sentia que Venomoth poderia se provar muito mais perigoso do que estava fazendo.

Gengar, por outro lado, parecia não estar se contendo na luta. Nidorino e Nidorina, já haviam sido lançados um contra o outro duas vezes, vitimas de um ataque de confusão, e Sandslash tentava fazer o que podia para ajudar seus companheiros e mantê-lo ao menos distraido, mas sem sucesso. O Pokémon fantasma parecia conduzir a luta para mais perto de Magmar, que ainda tinha alguns problemas para enfrentar os dois Pokémons aquaticos ao mesmo tempo. Ele Não havia sido atingido em momento nenhum, mas encontrava dificuldade em executar um movimento ofensivo, sendo obrigado a se manter em defesa.

Toda a caverna parecia vibrar com a energia dos ataques e o som estridente de todas as batalhas simultaneas enchia o lugar, ecoando ao longe pelo corredor de pedra. Dave sabia que aquilo apenas atrairia atenção de qualquer outro agente que estivesse por perto até ali. Imediatamente lembrou-se de Kato e Blaine e desejou que eles estivessem todos juntos. Os dois homens mais velhos seriam de grande ajuda naquela batalha. Gabrielle era a unica em total silencio, observando calmamente o desenrolar dos eventos com uma confiança atormentadora.

Então Gengar lançou um ataque que Dave reconheceu como a sombra da noite. Ele estendeu as mãos e seus olhos ficaram escuros, quando quatro raios negros foram lançados contra seus oponentes. Nidorino e Nidorina foram lançados para trás e cairam, desacordados. Sandslash pareceu lutar contra o impacto, mas acabou sendo lançado contra a parede de pedra às suas costas.

No segundo em que o Pokémon terrestre tentava se levantar, Gengar lançou um ataque de confusão contra Wartortle, erguendo-a no ar e lançando-a na direção de Poliwhril. O Pokémon de Dave conseguiu se desviar, mas aquela era a brecha que Magmar precisava para cuspir uma forte rajada de fogo, que encobriu o alvo imediatamente. Não satisfeito, o Pokémon de fogo lançou-se em uma corrida e acertou Poliwhril com uma combinação de investida flamejante e soco de fogo, que o lançou por cima do abismo e da lava, para se chocar contra a parede do lado oposto do abismo.

Venomoth, por sua vez, se desviou por muito pouco de mais um ataque de chamas de Growlithe e de uma das sementes mortais de Gloom, e lançou um raio psiquico que explodiu entre os dois Pokémons de Dave, distraindo-os por tempo o suficiente para que pudesse lançar um ataque de vento prateado contra ambos ao mesmo tempo. Growlithe conseguiu se desviar, mas Gloom, mais lento, foi atingido e caiu.

Venomothe investiu contra ele e Growlithe tentou conter seu avanço com mais ataques flamejantes, mas o Pokémon inseto apenas se utilizou de uma barreira de energa para se proteger e atingiu Gloom ainda no chão lançando-o para alguns passos mais próximo do abismo. O unico dos Pokémons Rockets que ainda parecia lutar com sérios problemas era o Scyther de Peter, que tinha uma das asas queimadas por um ataque de Vulpix. O agente, claramente, não estava no mesmo nivel que sua companheira.

Mindy recolheu seu Nidorino e sua Nidorina com pressa e sacou a Pokebola de Charizard, cheia de receios. Seu Pokemon não estava em condições ideais, mas era o unico que tinha condições de ajudar. Dratini não seria util naquele ambiente, e apenas se machucaria a toa e ela simplesmente não podia deixar que a Equipe Rocket lhe vencesse daquela maneira. Ela não suportaria ficar ali assitindo a luta, e sabia que seu Charizard também não. Eles tinham que ajudar seus amigos.

– Somos só eu e você, mais uma vez grandão... - disse ela, lançando a Pokébola para cima, liberando o grande dragão de fogo, que rugia ao se apresentar – Rápido, acabe com aquele inseto voador nojento!

Dave tentava avaliar a situação e não gostava do que via. Gengar havia eliminado dois de seus adversários e agora poderia se focar exclusivamente em Sandslash. Magmar eliminara Poliwhril, recolhido pelo seu treinador, e agora tinha apenas Wartortle pela frente. Enquanto isso, Venomoth havia atingido Gloom com força. O Pokémon de planta não aguentaria outro ataque, e a luta também estava desequilibrada. Mesmo se Vulpix vencesse Scyther definitivamente, o garoto duvidava que a pequena raposa fosse capaz de mudar o rumo das coisas. Charizard era uma força em potencial que estava prestes a investir contra Venomoth, mas Dave sabia que o unico Pokémon que podia verdadeiramente fazer a diferença estava agora desmaiado no colo de Jake.

Foi nesse momento que Sandslash foi atingido por um osso voador nas costas, sendo derrubado no chão. Gengar aproveitou a chance inesperada e lançou uma serie de raios roxos contra o Pokemon caido, atingindo-o sem piedade. Enquanto isso formou uma esfera negra em suas mãos e, com um movimento para frente, fez com que um poderoso raio de energia negra fosse lançado da esfera, terminando de vez a sua batalha com Sandslash com um ataque que Dave sabia ser uma Pulsação negra.

– Não! - Berrou ele vendo o primeiro Pokemon que capturara desmaiar em batalha.

Recolheu-o com pressa enquanto observava Jody e Jack entrando pelo portão e passando por Gabriella com um aceno de cabeça

– G - disseram os dois, como se cumprimentando sua superior.

– Vocês demoraram - se limitou a dizer a mulher, enquanto observava uma rajada de fogo de Charizard passar a meros milimetros de uma das asas de seu Pokémon inseto.

Dodrio lançou um ataque triplo contra Growlithe, o atingindo de surpresa, pelas costas, enquanto Dave ainda guardava a Pokebola de Sandslash de volta no cinto. Ele viu seu Pokémon caído e agradeceu mentalmente a Mindy e Charizard por não deixar que Venomoth se aproveitasse. Ordenou então que Gloom diexasse Venomoth de lado e se focasse em Marowak, recém-chegado.

Scyther agora tentava contra-atacar com suas garras, forçando Vulpix a se movimentar mais. Jake, entretanto, conseguiu ver uma brecha no ritmo de golpes que Peter imprimia, preocupado, e então ordenou um ataque preciso, entre os movimentos de corte do grande inseto verde, envolvendo-o em chamas que o consumiriam por inteiro caso seu treinador não tivesse reconhecido a derrota de dentes cerrados e recolhido seu Pokémon. Jake havia evoluído muito desde aquele menino que mal sabia como capturar um Pokémon, meses atrás.

– Seu moleque! - berrou ele, ameaçando correr na direção do garoto mais novo.

Gabrielle, entretanto, deu um simples comando negativo, e o homem parou abruptamente e passou a apenas observar a luta enfurecido, enquanto Vulpix corria para enfrentar Dodrio antes que ele desequilibrasse ainda mais alguma das lutas que estavam acontecendo.

Do outro lado do combate, Magmar havia conseguido cobrir Wartortle com uma poderosa rajada de fogo, obrigado a tartaruga a se recolher para dentro de seu casco, tentando diminuir os danos sofridos. Ainda assim, jake sabia que o calor era muito e que ela não duraria muito tempo.

Então uma forte luz brilhou, chamando a atenção de todos. Magmar foi obrigado a parar o ataque devido ao tamanho fluxo de energia que emanava de onde antes estava o Pokémon de Jake e agora um pequeno sol branco parecia brilhar. Quando todos conseguiram enchergar novamente, o grupo viu um Blastoise encarando furioso um oponente claramente preocupado.

– Blastoise! - disseram Mindy e Dave juntos, finalmente se permitindo uma pontada de esperança. Jake, por sua vez, estava maravilhado e sem palavras.

Pela primeira vez Gabrielle deixou seu sorriso morrer por um momento e se demonstrou ligeiramente preocuapada. Com um Charizard e um Blastoise em campo, as coisas podiam complicar um pouco mais do que o esperado. A tartaruga gigante berrou alto e direcionou seus canhões em direção a Magmar, lançando o mais forte jato de água que Dave ja havia visto. O Pokémon de fogo tentou escapar, mas foi incapaz, e foi lançado contra a parede com força, fazendo com que Jake vibrasse com um punho em riste. Grande parte da água que o atingiu evaporou pouquissimos segundos depois.

– Isso! Blastoise! Isso! - foi a unica coisa que o menino conseguiu dizer.

Magmar caiu desacordado no chão, e Dave sentiu que a maré da batalha estava prestes a virar. Gengar se posicionou para enfrentar Blastoise, mas agora o garoto ja acreditava que fosse possivel vencer Venomoth com a ajuda do Charizard de Mindy, e os Pokémons de Jack e Jody não deveriam lhes causar mais problemas do que o normal.

Gloom ja havia impedido Marowak de retomar seu osso com um ataque certeiro de folhas navalha quando o osso fora lançado. Quando Jack mandou seu Pokemon recuperar sua arma caida, Dave ordenou um ataque de sementes mortais que, alem de tudo, ainda ajudaria seu Gloom a se recuperar dos golpes sofridos contra Venomoth. Vulpix, por sua vez, parecia se sair bem contra Dodrio. Ja havia desviado de duas cabeças em um atque de furia, e queimara a terceira quando percebeu que não teria tempo para escapar de seu bico.

Venomoth, por sua vez, ja fora obrigado a se utilizar mais uma vez de sua tecnica protetora para escapar de uma poderosa combinação de chamas de Charizard e Growlithe. Agora lutando contra um Pokémon voador de fogo, o inseto parecia ter ainda mais dificuldades em se manter fora de alcance e Dave sabia que sua técnica de proteção não poderia durar para sempre. Uma hora eles conseguiriam quebrar a barreira, e a luta poderia mudar então.

Blastoise tentou acertar Gengar com o mesmo ataque que utilizara contra Magmar, mas o fantasma flutuou para longe, voando pela direita e lançando nada menos do que três bolas das sombras contra o oponente enquanto se movia. Os ataques explodiram contra o corpo do Pokémon de Jake seguidamente, e ele deu tres pesados passos para trás com o impacto, mas recuperou o equilibrio em seguida.

Jake, preocupado, ordenou mais um ataque, e mais uma vez Gengar pulou para o lado, dessa vez lançando um raio hipnótico certeiro e poderoso contra o grande Pokémon aquático. A tartaruga lutou, mas foi incapaz de manter os olhos abertos por muito tempo, caindo em sono profundo. Foi então que Gengar parou no ar, se concentrou e projetou de seu corpo o que parecia uma sombra com a sua própria forma. A criatura sombria voou em direção ao Pokémon de Jake e entrou em seu corpo adormecido, desaparecendo.

– Blastoise! - Jake exclamou, mas já era tarde de mais.

Blastoise estava sendo vitima do ataque comedor de sonhos de Gengar, um das mais poderosas armas do fantasma, e não poderia escapar a não ser que fosse acordado ou recolhido de volta à sua Pokebola. Dave sentiu seu estomago despencar quando viu Jake estendendo sua Pokebola e recolhendo o Pokémon recém evoluido. Não acreditava que o grande trunfo da luta havia sido derrotado tão facilmente.

Em seguida, Gengar partiu em ajuda a Venomoth. Growlithe tentava abocanhar umas das asas da mariposa lilás enquanto ela baixava de altitude em fuga de um dos ataques de Charizard. Ela fez uma manobra rápida, recolhendo a asa, girando o corpo e quase atingindo o chão, mas voltando a abrí-las nos ultimos momentos e planando novamente, se distanciando do cachorro. Growlithe fazia um movimento rápido para seguir a mariposa quando ouviu um alerta de cuidado vindo de Dave.

Gengar, que aparentava mirar Charizard com os olhos, mudou subitamente de direção e investiu contra o Pokémon de Dave. O cachorro de fogo ainda tentou se esquiva, mas gengar passou pela lateral do seu corpo com a lingua para fóra, em um grande ataque de lambida. Growlithe ficou paralisado imediatamente, incapaz de mover um só musculo. E foi obrigado a assistir inerte enquanto Venomoth lhe atingia com um poderoso raio psiquico.

Charizard rugiu e inicou uma investida contra ambos os Pokémons de Gabrielle, agora lado a lado, e eles voltaram a se separar, cercando o grande dragão pelos lados. Mindy se viu obrigada a gritar um alerta e Charizard se estagnou no ar, entre os dois adversários, que pareciam satisfeitos em lhe estudar.

Dave lamentou em voz alta ter de recolher seu Growlithe, enquanto Vulpix havia derrubado Dodrio e estava prestes a finaliza-lo com a ajuda de Gloom, que partiu em sua ajuda depois de Jack recolher seu Marowak ainda preso pela semente do Pokémon de Planta. Aquela luta também parecia estar perto do fim, com um resultado positivo para o grupo de Dave, mas todos pararam e se fitaram.

Pokemons e treinadores pareciam exaustos, desgastados e tentando reunir o máximo de suas forças. A temperatura extremamente quente no ambiente apenas ajudava a piorar a sensação geral de desanimo e cansaço até mesmo por parte dos agentes Rockets. Todos, com exceção de Gabrielle, que tinha um grande sorriso aberto em seu rosto e parecia ignorar as gotas de suor escorrendo pela sua pele.

– Dave, garoto, está vendo como não tem nenhuma esperança de nos vencer?

– Não é isso o que parece – disse ele, fitando Peter e Jack, já derrotados. Jody seria a próxima.

– Pobre coitado, não consegue aprender a lição não é?

A ausencia de som proveniente de ordens de batalha, movimentos bruscos e ataques poderosos fazia da caverna um ambiente quase intimidador. A voz de Gabrielle ecoava sozinha, poderosa por entre as pedras, obrigando Dave a se concentrar para não se deixar intimidar. No fundo, ele pensava ouvir passos calmos e lentos vindos do túnel. Não queria nem imaginar quem mais poderia estar chegando.

A arena em si parecia bastante danificada. Buracos no chão e na parede eram comuns, Magmar continuava caido no chão, desacordado do outro lado do abismo, e os sinais de luta podiam ser vistos por todos os lugares. Charizard estava parado no ar, cercado por Venomoth e Gengar, preparado para evadir a qualquer sinal de que a luta reiniciaria. Dodrio parecia aproveitar a pausa para se recuperar, enquanto Vulpix e Gloom o fitavam ameaçadoramente. Os dois tinham a clara vantagem no confronto, apesar da desvantagem de tipo do Pokémon de Dave.

– Dave, você ainda não me derrotou uma vez sequer, enquanto eu já derrotei os seus Pokémons e o de seus amigos com apenas dois. E sem dar uma ordem sequer – Dave percebera que Gabrielle de fato passara toda a luta em silêncio – Vocês não vão conseguir me vencer, e não conseguiriam sair daqui se vencessem. Por que não me passa o Eevee?

– Nunca!

– Garoto, eu não acho que você esteja me entendendo – seu tom de voz não era pretencioso nem superior agora. Ela genuinamente parecia querer explicar algo a Dave – Eu vou ter o Eevee hoje, aqui e agora, quer você me passe ele ou não. Já poderia tê-lo agora se quisesse, mas tenho também que te ensinar que você não tem chances de me vencer. Preciso que você entenda que não adianta me perseguir. Não adianta tentar pelo resto de sua vida me reencontrar e recuperar seu Pokémon. Se um dia você conseguir chegar até ele, não conseguirá vencer a mim e a todos os outros que o estarão protegendo.

– Isso é mentira! – disse Dave, tentando não tremer. O tom da mulher, de tão calmo, confiante e até mesmo doce, era mais assustador do que antes – Vocês estão tentando pegar o Eevee desde Grené. Se você estivesse falando a verdade, porque toda essa operação?

– Ora, quem disse que queríamos pega-lo?

Dave e Mindy ficaram em silencio, tentando não se deixar afetar pelas palavras da mulher, que parecia olhar para eles com pena. Jake estremecia, olhando dela, para Jack, Jody e então para seus amigos.

– Nós deixamos que você ficasse com ele durante todo esse tempo, rapaz. Desde que descobrimos que você estava com ele, tudo o que queríamos era um olho amigo com vocês. E isso nós sempre tivemos...

– Como assim? – quis saber Mindy. Jake abriu a boca, mas não conseguiu emitir um som sequer.

– Jake, porque você não explica para eles? – disse Jack, olhando para o pequeno menino, que agora lhe parecia ainda menor.

Um completo silêncio imperou por segundos, enquanto Dave e Mindy viravam os olhos para Jake e o menino ficou completamente mudo, de boca aberta, tão pálido quanto poderia ficar. Até suor que escorria pela sua espinha estava frio enquanto seus amigos processavam a informação.

– Jake... – foi a única coisa que Dave conseguia dizer. Eevee ainda estava no colo do menino.

– Jake, isso é verdade? – perguntou Mindy, olhando para ele tentando conter toda sua raiva e tristeza.

– Eu... Olha eu...

Dave deixou a informação fluir pela sua mente e esqueceu-se de todos os outros ali presentes. Apenas caminhou até o menino, que o olhava sem saber o que fazer, paralisado de medo e vergonha. Abaixou-se o suficiente para tirar o Eevee de seu colo com a toda a gentileza e sutilidade que conseguiu reunir, e então, com uma das mãos livres, desferiu um soco no rosto do garoto, derrubando-o no chão.

Mindy se sobressaltou, mas não conseguiu gritar, reprimir Dave ou sequer ajudar o menino mais novo a se levantar. Ele ficou deitado no chão, apoiado sobre um cotovelo, com a outra mão no rosto limpando o filete de sangue que escorria de seu lábio, agora inchado e cortado. Com lágrimas de dor e arrependimento escorrendo pelos olhos. O desespero e a falta de compreensão eram claros em sua expressão. Ele não sabia o que fazer ou dizer. Vulpix, ao ver o acontecimento, abandonou Gloom e correu para o lado de seu treinador, olhando feio para Dave enquanto parava ao seu lado.

– Viu rapaz? Você não tem chances contra nós...

– Cala a boca! – gritou Dave, irritado como nunca esteve antes.

Gabrielle se manteve impassível. Mindy não conseguia mais conter as lágrimas, olhando Jake ainda estirado na terra, sem acreditar que ele os traira.

– A sua raiva não muda nada, menino. Desista. Poupe o seu único Pokémon que ainda tem saúde...

Dave olhou para Gloom e estava prestes a ordenar que ele voltasse a atacar, quando outra coisa o fez se refrear. Três silhuetas surgiram por trás dos agentes Rockets, parados perto do portão de entrada para a área do abismo. Lentamente a imagem de Linda, a agente loira que lutava contra Kato surgiu, seguida de Blaine, calmo e tranquilo, e Trance, o agente de pele escura, que trazia Kato preso em um mata leão.

Dave perdeu o ar, e Mindy abafou um pequeno grito, parando de chorar com o choque.

– Ora, bem vindos. Até que enfim vocês chegaram – disse Gabrielle, sorrindo para os outros.

– Aquele é o meu... Magmar? – disse Blaine, aparentemente surpreso – Não acredito que ele foi derrotado!

Dave não processou o que o pesquisador estava falando até que ele tirou uma Pokebola do bolso e recolheu o Pokémon que o menino acreditava viver no vulcão. Seu mundo estava desabando de maneira tão abrupta que ele não sabia mais como reagir. Blaine é o treinador do Magmar? Pensou ele, enquanto se lembrava da voz da agente Gabrielle lhe dizendo que o Pokémon trabalhava para um dos seus agentes. Blaine é um agente Rocket?!

– Pai! – exclamou Mindy, não mais conseguindo se conter – Larguem o meu pai! Agora!

– Desculpe menina, mas isso não será possível – agora fora Peter quem lhe falara, aparentemente entretido – Estive procurando seu pai por muito tempo, para deixa-lo ir agora que o encontrei...

– Mindy, fique quieta... – disse Kato, claramente com esforço. Seu olho esquerdo estava fechado de tão inchado, e sangue escorria de seu nariz torto e quebrado, forçando-o a respirar pela boca.

– Mas... – as lagrimas voltavam a escorrer e a menina tremia. Dave mal conseguia processar que ela o estava realmente chamando de pai, e ele estava respondendo naturalmente.

– Espera ai, o que é que está acontecendo aqui?! – explodiu o garoto, subitamente cansado. Sua mente não conseguia mais trabalhar propriamente. Nada mais fazia sentido.

– Como eu disse, rapaz, você não tem para onde correr – disse Gabrielle, sorrindo com o desespero das crianças – Você estava cercado ha muito tempo, e continua cercado agora. Não tem para onde fugir, nem o que fazer para nos impedir...

– Eu não posso... – ele disse, sabendo que tudo aquilo era verdade.

Dave já não tinha esperanças. Agora teria que enfrentar também um Onix, um Golduck, um Taurus, além de todos os Pokemons de Blaine. Não podia, nem queria mais contar com Jake, e apenas Gloom e Charizard tinham forças para continuar lutando. E mesmo que conseguisse vence-los todos, não podia passar a força por todos os agentes, que já haviam provado que estavam dispostos a lhe agredir até conseguirem o que queriam.

Mas, apesar de tudo, ele não podia desistir sem lutar. Abraçou Eevee com força, mas o pequeno Pokémon marrom permanecia desacordado, e ele desejou que tivesse mais tempo com ele. Uma lágrima surgiu em seu rosto enquanto ele tomava ar para dar sequencia ao que tinha de ser feito.

– Gloom, semente mortal! – ordenou ele, com a voz fraca.

Seu Pokémon tentou atingir Dodrio, que se desviou e tentou ataca-lo de volta, forçando-o a pular para o lado. Imediatamente Gengar e Venomoth tentaram atacar Charizard. O fantasma lançou uma bola das sombras em direção a sua cabeça, forçando o dragão a se esquivar, apenas para ser então atingido por um raio psíquico da mariposa. Ele rugiu no ar e em seguida foi atingido por uma segunda bola das sombras de Gengar. Despencou em direção a lava, e Mindy gritou, se apressando para recolhê-lo antes que ele mergulhasse para a morte. As lágrimas não paravam de lhe correr pelo rosto.

Gloom tentou mais uma vez acertar Dodrio, que desviou com certa dificuldade e Blaine liberou seu Arcanine, que correu para ajudar o pássaro sem asas a terminar a luta. Cercado, o Pokémon planta foi incapaz de escapar dos ataques dos adversários, sendo primeiro atingido de raspão por um dos bicos do Pokémon de Jody, para depois sumir em meio as chamas cuspidas pelo Pokémon de Blaine.

O Pokémon caiu desacordado, ainda pegando fogo, e Dave se viu forçado a recolhê-lo e a encarar os agentes Rockets de frente, tremendo de nervoso. Poderia e deveria ter poupado Gloom, mas não podia mais desistir. Se bem conhecia o seu Pokémon, ele preferiria assim também. Jake ainda estava no chão, agora sentado, com seu Vulpix no colo, observando tudo ainda em prantos.

– Dave, não se complique – agora era Blaine quem lhe falava – Entregue o Eevee. Nós não vamos machuca-lo.

– Eu já disse, não posso... – voltou a dizer o menino, agora com raiva misturada à dor de sua voz.

– Você não quer nos forçar a fazer algo que não queremos fazer não é?

Dave olhou para Mindy, que ainda fitava o pai, preso entre os fortes braços de Trance. Não queria que lhe machucassem, mas não conseguia largar Eevee.

– Façam o que quiserem comigo, mas eu não posso dá-lo a vocês... Eu o prometi isso...

– De novo você não entende o que quero dizer... – disse Gabrielle – Não é com você que faremos alguma coisa.

Com um sinal da cabeça, a mulher de pele escura ordenou, e Peter se aproximou de Kato. Pegou-o pelos braços, que só agora os outros conseguiram ver que estavam algemados, e o conduziu para o abismo. Blaine acompanhou os movimentos de Peter com olhos cerrados.

– Não! – berrou Mindy, em desespero quando percebeu o que estava acontecendo - Larga ele! Não!

Peter sorria enquanto se aproximava do abismo com o homem surrado, ferido e os gritos de protesto de Mindy apenas lhe davam mais prazer e satisfação. Kato mancava e acompanhava o ritmo de Peter com dificuldade, precisando ser empurrado até a borda. Parecia aceitar o que lhe esperava, mas não era possivel disfarçar o medo quando foi obrigado a olhar para o liquido vermelho borbulhante, bem ao fundo do abismo.

– Rapaz - era Gabrielle quem falava, mas Dave não conseguia tirar os olhos de Peter, segurando Kato a meros centimetros do precipicio - Se você não quer ver seu amigo dar um mergulho, aconselho a fazer o que nós estamos pedindo.

O coração do garoto batia descontroladamente enquanto ele tentava recuperar o ar. Mindy tentou correr em direção ao pai para ajudá-lo, mas Jody e Linda se intrometeram em seu caminho, segurando-a pelos braços, enquanto Gabrielle não tirava os olhos do rosto assustado de Dave. Ele ameaçou correr em direção a Mindy, mas assim que deu um passo Peter empurrou Kato um pouco mais para perto do abismo, e o garoto entendeu exatamente o que mais um passo poderia significar. Blaine parecia nervoso atrás de Gabrielle.

– Eu...

Dave ainda não sabia o que fazer. Mindy se debatia tentando se livrar das mulheres que a seguravam e até Jake havia se levantado e tentado ajuda-la, apenas para ser parado por Jack, que o imobilizou sem dificuldades. Eu não posso entregar o Eevee. Não posso... Pensava o garoto, tremendo e tentando não chorar. Mas eu não posso fazer deixar que façam isso com o Kato. Não posso deixar que façam isso com a Mindy...

Mais de um minuto se passou e Dave ainda tremia, incapaz de movimentar um musculo sequer. O suor lhe escorria pelo corpo e se acumulava nas suas roupas, mas ele não conseguia ter noção de mais nada do que estava acontecendo. Era impossivel tomar uma decisão.

– Peter, o menino parece não entender que estamos falando a verdade - disse Gabrielle, finalmente desviando o olhar de Dave. Ela compartilhou um olhar com Blaine, ainda impassivel, antes de continuar. - Porque não prova para ele do que estamos falando sério?

– Parem! Parem com isso! - ouviu-se Mindy berrar de novo, entre lágrimas.

Peter acenou positivamente com a cabeça e deu um chute na parte lateral do joelho direito de Kato, fazendo com que o cientista caisse no chão imediatamente, com uma exclamação de dor. Ele se desequilibrou por um momento, mas Peter segurou seus ombros, o mantendo firme. Abaixou então e pegou a Pokebola de Alakazam de seu cinto.

–Diga adeus, Kato...

E então jogou a Pokebola no abismo.

– Não! - berrou Kato, surpreso - Não!

O tempo pareceu parar enquanto Dave observava a pequena esfera vermelha e branca girar no ar e mergulhar para o fundo do abismo de onde nunca mais voltaria. Correu até a borda sem acreditar nos seus olhos, perdido em meio ao susto e a falta de palavras, e viu a Pokebola de Alakazam, aquele que tanto o ajudara em seus treinamentos e que fora tão importante para Kato, desaparecer em meio a lava, deixando de existir.

Até mesmo Mindy parou de gritar e se debater, sem reação, como se atingida para por um golpe no estomago. Jack e Jody arregalaram os olhos, claramente surpresos também, e Blaine virara o rosto, incapaz de assistir ao que acontecera. Os unicos que continuavam a sorrir eram Peter e Gabrielle.

– Entendeu agora Dave? Vou te dar mais uma chance, e então jogamos o homem e tomamos o Eevee de você. Agradeça por não te jogarmos la também... Você está testando a minha paciencia...

A mulher de pele escura o olhava duramente, mas ele não conseguia parar de fitar a lava em que a Pokebola havia desaparecido. Nunca, antes, ele havia presenciado a morte de um Pokemon.

– Não desista Dave! - disse a voz de Kato, cheia de raiva - Não de a esses monstros a sensação de vitó...

Peter calou o homem com um soco no rosto, mas Dave já havia entendido. Olhou para ele, caido, sangrando, completamente derrotado, e então para Mindy, com uma aparencia destroçada pela tristeza de tal maneira que ele nunca desejava ver de novo. Olhou novamente para Eevee em seu colo, aquele que o salvara sem nem te-lo conhecido. Aquele que lhe acompanhara desde o primeiro dia, e que o salvara tantas vezes antes. Aquele que havia sido seu melhor amigo em toda a sua vida, e que, acima de tudo, havia sido um exemplo para ele. Aquele que sempre tomava a decisão certa, e sempre pensava naqueles de quem gostava primeiro, e percebeu que se o Pokémon estivesse acordado, e coubesse a ele aquela decisão, nada daquilo estaria acontecendo. Talvez Alakazam ainda estivesse vivo.

Toda aquela dor, todo aquele sofrimento poderia ser evitado pelo seu sacrificio, e Dave sabia que o Pokemon não teria sequer hesitado em se doar por ele e seus amigos. O garoto já não tinha esperanças de ficar com ele, de fugir são e salvo. Tudo estava perdido. Ele só precisava adimitir isso.

Deixou mais lágrimas cairem, e então andou até Gabrielle estendendo-o a ela, olhando-a nos olhos.

– Muito bem - disse ela -Vejo que pelo menos um pouco de bom senso ainda lhe resta. Uma sabia escolha rapaz. Você nunca mais será incomodado por nós de novo. Lhes garantimos isso.

Ela estendeu as maos e envolveu Eevee, e Dave sentiu o vazio deixado pelo Pokemon em seus braços quando ela o levantou. Um vazio que talvez nunca mais fosse preenchido. A mulher se virou de costas e fez um sinal com as mãos, convidando seus agentes e Pokemons a segui-la. Blaine foi o primeiro, seguido por Trance e Linda, Jody e Jack. Peter ficou por ultimo, soltando as algemas que prendiam Kato. Mindy e Jake estavam no chão, jogados, olhando para Dave sem saber o que falar. Não havia maneira de expressar o que havia acabado de acontecer. Dave já soferera algumas derrotas na vida, mas nenhum golpe havia sido tão duro.

Peter tirou as algemas e Kato permaneceu de joelhos, olhando para o vazio do abismo por onde seu primeiro e unico Pokémon havia sdo jogado.

– Não se preocupe, vocês se verão logo - disse ele.

E então se abaixou e empurrou as costas de Kato com toda a força que conseguiu reunir.

– Não! Pai! - gritou Mindy, enquanto observava o homem perder o equilibrio e se precipitar pelo grande buraco no chão. O gritou fez com que Blaine virasse de costas, a tempo de observar o que acontecia.

Kato tentou se segurar no ar sem sucesso, pego de surpresa pelo golpe de Peter. Sentiu então seu corpo despencar e cair em direção ao mar vermelho e fervente. Mindy levantou-se e correu até a borda, desesperada. Dave correu atras dela e parou ao seu lado, ajoelhados na pedra olhando para baixo enquanto viam o exato momento em que o corpo do especialista Pokemon se chocava contra a lava.

Ambos gritaram, mas suas vozes mal podiam ser ouvidas, escondidas pelos gritos de agonia que o homem conseguiu dar antes de mergulhar por inteiro. O som ecoou pelo ambiente por mais um tempo indefinido, mas ficaria para sempre gravado na cabeça dos dois. Mindy agarrou as pernas de Dave e chorou copiosamente com a cabeça contra seu peito, enquanto o menino olhava desesperado para o vazio, incapaz de acreditar.

A voz de Kato nunca mais seria ouvida, mas o seu grito acompanharia os garotos pelo resto de suas vidas.


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Notas finais do capítulo

E então? Tenso?

Quero ouvir a opinião de vocês nos comentários!
Até o próximo capítulo.



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