Evolution: Parte 3 escrita por Hairo


Capítulo 2
O Interrogatório


Notas iniciais do capítulo

Galera, esse capítulo é bem importante, tem várias dicas e informações, apesar do aparente ritmo diferente.

Espero que gostem! Boa leitura!



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Capítulo 2 – O Interrogatório

Dave passou aquela noite deitado no sofá ao lado da cama de Oddish, enquanto Jake e Mary Jane dormiam em quartos separados que a enfermeira lhes designou. O menino queria ficar sozinho e acompanhar a recuperação do Pokémon que ele mesmo ferira, mesmo que sem intenção, lhe pareceu a coisa certa a fazer. A noite seria longa e ele teria dificuldades para dormir, mas também não queria passá-la discutindo o que aconteceu e o que estava para acontecer com nenhum de seus amigos. Ele tinha que pensar e engolir tudo o que descobrira naquela noite, para se preparar sozinho para o dia seguinte. A informação mais importante que descobrira, para ele, fora o fato de Mindy ter mentido para ele quando disse que contou a sua mãe sobre seus planos. Parando para pensar, foi uma jogada esperta da garota e muito estúpida de Dave. Susan nunca concordaria com o fato de sua filha partir de encontro à maior corporação criminal do continente atrás de informações do pai perdido. E Mindy por sua vez, sabia que a mãe podia dificultar as coisas e sabia que Dave poderia tentar falar com Susan para impedi-la de continuar com a viagem. Ela fora muito inteligente, mas manipulara o garoto com uma frieza que ele desconhecia até então e aquilo não conseguia sair de sua cabeça.

Outro fator importante fora o alerta dado pela doutora sobre a Equipe Rocket. Dave tinha que ser constantemente lembrado do quão organizada e poderosa essa organização realmente era. E0 não conseguia acreditar ainda que ele mesmo era o alvo principal das buscas. Como eles conseguiam seqüestrar e torturar professores de laboratórios famosos, líderes de ginásios, e ainda assim não conseguiam capturar ele e seu Eevee era algo que ele talvez nunca descobrisse. Não sabia se dava crédito a si mesmo por se manter fora de suas garras até agora, ou se apenas tremia de medo frente a todos os novos fatos ocorrendo. O cerco estava se fechando, rapidamente, e o garoto só conseguia pensar em quando eles finalmente o capturariam. Será que já havia sido preso e não sabia? Será que já tinha mais saída e estava caminhando lentamente para o seu fim sem saber? A Equipe Rocket poderia estar seguindo-o nesse exato momento e monitorando cada passo seu, e ele não teria como saber. O medo do rapaz era tanto que ele até mesmo cogitou duvidar da integridade de seus companheiros de viagem, lembrando do olhar estranho da Dra. Susan para Mary Jane, mas logo descartou essa possibilidade, chamando-se de louco e paranóico. Aquilo provavelmente era o cansaço e o stress falando juntos. Se não pudesse confiar em seus amigos, não poderia confiar em ninguém.

Como se não fosse o suficiente, ainda havia o fato de ele estar sendo procurado pela polícia. Entendera que Casper e Aya haviam sumido e que os indícios apontavam para mais um seqüestro da Equipe Rocket, mas não sabia como a polícia poderia ter ligado esses fatos a ele. Pegou-se imaginando se a polícia havia descoberto as origens de seu Eevee e a importância dele para a Equipe Rocket, e se por isso pretendiam proteger ele e seu treinador. A idéia não parecia ruim, mas o garoto duvidava que um policial pudesse segui-los em viagem e ele não estava disposto a aceitar a idéia de abandonar a sua viagem e seu sonho de vencer a liga Pokémon. Proteção policial estava fora de questão. Ao mesmo tempo, ele se sentia extremamente egoísta por insistir em seguir o seu sonho, mesmo que isso representasse menos segurança a seu amigo.

Quando o dia se levantou no horizonte claro, Dave não se lembrava quanto tempo havia dormido. Pareceram-lhe apenas alguns minutos quando Chansey entrou no quarto para retomar os cuidados com os Pokemons feridos. Oddish já parecia bastante recuperado e as queimaduras no seu corpo já se mostravam mais superficiais. Até mesmo as suas folhas já haviam crescido novamente e começavam a ganhar a coloração verde típica. A enfermeira apareceu pouco depois para informar-lhe que no dia seguinte pela manhã o Pokémon de planta já poderia receber alta, e o garoto respirou aliviado. Pelo menos o dia começara com uma boa notícia.

Ele saiu para o refeitório e encontrou Jake e Mary Jane já servindo suas refeições. Os dois aparentavam sono, mas pareciam ter descansado bem. De Dave, porém, eles não podiam falar o mesmo. As olheiras eram claras e o cansaço, visível. O garoto pouco falou pelo café, a não ser pelas notícias de Oddish, que foram recebidas com comemoração pelos outros dois. Apenas quando a enfermeira Joy apareceu para lhes avisar que o detetive Henry chegaria dentro de alguns minutos eles entraram realmente no assunto de polícia. Dave olhou para todos com uma seriedade que nenhum dos dois conhecia e falou em um tom de voz grave.

– Não importa o que aconteça, não digam que a Mindy foi para Saffron atrás da Equipe Rocket. Eles irão atrás dela e vão impedi-la.

– Achei que era isso que você queria, Dave – disse Mary Jane, surpresa.

– Não, eu queria a Mindy aqui com a gente, mas não queria que a polícia a trouxesse de volta. Não importa o que eu quero, eu não posso trair ela dessa maneira, e não vou deixar que vocês façam isso também.

Jake parecia absorto em seus próprios pensamentos, mas não deu sinal de discordar do amigo. Mary Jane, porém, se inquietou em sua cadeira.

– Dave, eu não sei se é uma boa idéia mentir para a polícia só por que você acha que isso seria trair a Mindy. Você está maluco?

– Não, a maluca da história é ela. Eu sou leal. Não importa se a polícia a trouxer de volta. De que adianta se ela não vai mais olhar na minha cara?

– Ela vai estar bem! Você é mesmo tão egoísta a ponto de colocar o relacionamento de vocês antes do bem estar dela? – Dave nunca vira Mary Jane falando daquele jeito, mas ele também nunca estivera como estava.

– Não Mary, estou disposto a respeitar a decisão dela acima de tudo. Se alguém a forçar a voltar ela não vai ficar bem, vai continuar indo atrás do pai, de um jeito ou de outro. Você não a conhece direito, não sabe o quão teimosa ela pode ser. Se ela voltar a força, nada vai segurá-la aqui. Ela vai sair de novo, e dessa vez pode ser ainda mais perigoso.

– Como pode ser mais perigoso? Ir atrás da Equipe Rocket é loucura hoje ou amanhã. Você não quer ao menos uma chance de convencê-la disso?

Dave teve que rir – Eu nunca a convenci de nada, e nem você nem ninguém vai conseguir. E se a polícia ficar sabendo, a Equipe Rocket vai ficar sabendo, ou você acha que eles não têm alguém infiltrado?

Agora era a vez de Jake se pronunciar.

– E a mãe dela, não vai fazer nada? Temos que falar isso para a Dra. Susan também.

Dave concordou com a cabeça, mas a resposta que deu foi inesperada até para ele mesmo.

– Ela já sabe disso. Conhece a filha melhor do que qualquer um e é uma mulher inteligente. Ela vai fazer alguma coisa, mas sozinha. Ela é igual a filha. – ele não podia explicar como sabia daquilo, mas, sem sombra de duvidas, ele sabia.

– Falou o senhor sabe tudo – disse Mary Jane, ainda desconfiada do plano do garoto. Dave ignorou.

– Olha, para todos os efeitos, Mindy decidiu seguir viagem com o primo e não sabemos para onde foram ok? Todo mundo tem que falar a mesma história ta bom? Prometam.

Jake foi o primeiro a prometer, prontamente, mas Mary Jane hesitou por alguns segundos. A idéia de acompanhar os meninos até Celadon não envolvia se meter em uma investigação policial, nem ao menos mentir para um detetive da polícia. Entretanto, o olhar duro de Dave prevaleceu, e a menina finalmente cedeu.

– Prometo – disse ela, no momento em que a enfermeira de cabelos rosa voltava ao aposento anunciando a chegada do policial. Dave respirou aliviado pela segunda vez.

Antes de ir para o salão de entrada o treinador de Grené fez um último pedido aos demais – Ah, e uma última coisa: ninguém diz uma palavra sobre o Eevee tudo bem? – Os outros dois assentiram e ele seguiu em frente.

O trio de amigos saiu do refeitório e se deparou com um homeme mais alto e menos musculoso do que esperavam. O detetive Henry tinha quase dois metros de altura, mas parecia nunca ter passado muito tempo em uma academia. Seus cabelos levemente grisalhos indicavam que a idade já começava a se manifestar para o policial e o seu leve sobrepeso indicavam que sua carreira não lhe exigia muito na parte física. Entretanto o seu semblante demonstrava experiência e seriedade. Vestia-se com bastante formalidade, com calça e camisa social, um sapato bem polido e um cinto preto com a fivela prateada cintilante. Não usava gravata, mas trazia a cintura uma pistola e uma pokebola, uma ao lado da outra. Ao seu lado, um único policial fardado o acompanhava, um homem de pele escura e músculos que sobressaíam mesmo por baixo de sua farda azul. Por um momento Mary Jane prendeu seu olhar no outro policial, mas então Henry se pronunciou.

– Bom dia – disse ele, sorrindo de leve para os garotos e se aproximando com a mão estendida – Sou o detetive Henry do centro de investigações da polícia Kanto. Vocês devem ser David Hairo, Jacob Amis e Mindy Noah certo?

– Não – disse a menina ruiva, para a surpresa do homem mais velho – Sou Mary Jane Charlton.

– Ora, me desculpe Srta. Charlton, não esperava encontrá-la aqui. Ótimo! Menos um treinador para procurar – O homem fez uma pausa e avaliou as três crianças a sua frente com bastante interesse, aparentemente pensando no que fazer a seguir. Dave e seus amigos esperaram em silencio até que o detetive finalmente voltou a falar – Acho que será melhor entrevistá-los em separado. Enfermeira, será que poderia providenciar uma sala onde podemos conversar a sós?

A enfermeira Joy, sorridente como sempre, assentiu com a cabeça e direcionou o detetive para uma pequena sala que parecia ser destinada a exames e consultas de rotina para Pokemons que não precisavam ser internados. O detetive a seguiu, deixando os três amigos parados no salão de entrada, sem ter idéia do que fazer a seguir. Ele sumiu atrás da porta por alguns segundos e depois, quando a enfermeira o deixou sozinho, ele apareceu à porta e chamou o primeiro nome.

– Senhor Hairo, gostaria de começar conversando com o senhor, se possível. Os outros dois podem esperar ai com o oficial Lawrence. Chamarei vocês logo em seguida.

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Dave entrou na sala com calafrios correndo por seu corpo. A primeira coisa que notou foi que o detetive rapidamente arrumara a sala a seu próprio jeito, botando no canto todo o equipamento médico em cima de uma maca para exames que já pertencia ao cômodo. A sala em si estava praticamente toda vazia com exceção da mesa de vidro com duas cadeiras ao centro e de todo o equipamento médico empilhado em um canto onde Dave não conseguia vê-lo enquanto sentado. A atmosfera silenciosa e a desnecessariamente forte iluminação serviam para deixar o entrevistado mais nervoso a cada segundo que se passava ante da entrevista começar. De algum jeito, o policial conseguiu transformar rapidamente uma sala de exames médicos em uma sala de interrogatório policial.

O detetive já estava sentado em seu lado da mesa, olhando curiosamente para o garoto de Grené quando ele entrou com Eevee no ombro. Ele sorriu amistosamente para Dave e fez um sinal com a mão para que o garoto se sentasse na única cadeira disponível, diretamente frontal a dele. Dave o obedeceu, mas evitou fitar o homem nos olhos até que fosse necessário. Poucas vezes se sentiu tão desconfortável em sua vida. Eevee desceu do ombro do menino e se aninhou em seu colo, deitando e também evitando contato direto com o policial. Interessantemente, a primeira pergunta foi diretamente relacionada ao Pokémon raposa.

– Um belo Eevee, Dave. Você é um felizardo em capturá-lo. Vocês se dão bem?

O menino tentou disfarçar o medo que passava por sua cabeça enquanto olhava pela primeira vez para a figura assustadora do detetive a sua frente. Henry sorria estranhamente, tentando ser educado e deixá-lo confortável, mas a figura do homem era desconcertante e assustava mais do que acalmava. Dave era uma pilha de nervos.

– Sim – se limitou a responder o menino.

– Não se preocupe, isso não tem nada a ver com o caso. Só estou tentando te deixar mais confortável – disse o homem, para alívio do garoto.

Não fora a conversa trivial que de fato o relaxara, mas sim não ter que falar de seu Eevee. Entretanto, o policial não precisava saber disso e provavelmente seria melhor que ele achasse que fora sua técnica e carisma natural que deixaram o treinador sentindo-se mais leve. Já acariciando Eevee, Dave se ajeitou melhor na cadeira, se preparando para o que viria a seguir. Henry mexeu em um bolso interno de sua veste e tirou um pequeno aparelho cinza, que colocou em cima da mesa entre os dois.

– Se importa se eu gravar a sua entrevista rapaz? É para podermos analisá-la novamente depois sem ter que te incomodar novamente – perguntou o homem, recebendo um aceno positivo de cabeça como resposta – Ótimo! Então vamos começar.

Dave se ajeitou novamente, procurando a melhor posição para que se sentisse mais à vontade.

– Rapaz, você sabe do que se trata a investigação?

– Pelo que eu entendi, trata da Equipe Rocket...

– Quase lá. No momento o ponto central da investigação é o desaparecimento de Casper, o líder do ginásio de Zaffre, e de sua assistente e aluna pessoal Aya. Suspeitamos sim que tenha sido um trabalho da Equipe Rocket, pois as circunstancias são muito parecidas com o desaparecimento do Professor Noah em Cardo há algum tempo atrás, comprovadamente conduzido pela Equipe Rocket.

Dave assentiu com a cabeça, instigando o detetive a continuar.

– Dave, preciso saber primeiro exatamente quando você chegou a Zaffre e quando deixou a cidade.

– Bom, eu cheguei há cerca de 4 dias – disse Dave, pensativo – e deixei a cidade há 3.

– Então você quer dizer que passou apenas um dia em Zaffre, 3 dias atrás?

– Exato senhor – disse Dave, se perguntando o porquê da expressão de interesse do detetive.

– Interessante. Você foi ao ginásio da cidade não é? Quando foi a ultima vez que viu Casper ou Aya?

– Bom, o Casper eu vi logo após a luta. Ele nos acompanhou até a saída social de seu ginásio e foi muito gentil comigo. Depois de sair do ginásio, não o vi mais. Já em relação a Aya foi no centro Pokémon, durante a tarde do dia em que cheguei. Ela oficiou uma luta minha, mas a batalha não chegou a terminar e eu me encaminhei para o quarto sem me despedir dela. Foi a ultima vez que a vi.

– Então a última vez que viu os dois fora há 4 dias. – O homem tomou algumas anotações sobre as respostas do menino e Dave se perguntou o porquê das notas, uma vez que o interrogatório estava sendo gravado. O detetive não tardou a prosseguir – Dave você sabe se algum dos dois esteve envolvido em algum tipo de conflito ultimamente?

O garoto parou para pensar, tentando se lembrar de todo o tempo que passara com os desaparecidos.

– Olha, quanto ao Casper não me lembro de nada, mas ele pode ter tido vários conflitos com outros treinadores desafiantes. Já a Aya teve uma leve discussão com o meu adversário na batalha que mencionei, mas o problema não era sério.

– Uma leve discussão? Sobre o que?

– Bom, ele ensinou que eu pudesse ter conseguido minha insígnia de maneira injusta, tendo sido favorecido no ginásio, e ela se sentiu ofendida. A ofensa era direcionada a mim, mas ela acabou tomando as dores do ginásio.

– Sim, entendo – disse Henry, tomando mais notas – e quem era esse seu adversário?

Agora o rumo das conversas estava seguindo por um caminho perigoso. Falar de Rusty podia levar diretamente a falar de Mindy, e Dave não queria que a polícia se metesse no caminho da garota. Ele tomou alguns segundos para responder, e isso acabou por atrair a atenção do policial.

– O nome dele é Rusty Noah.

– Ah sim, o menino Noah. Estamos procurando ele também. Sabe para onde ele foi?

– Não – mentiu Dave – como eu disse, nós brigamos e eu acabei por não saber por onde ele faria o seu caminho.

– Entendo. E vocês brigaram por quê?

– Por nada. Somos rivais e ele me provocou de mais. Chegou uma hora que a batalha era mais de provocações do que de Pokemons. Então deixei tudo de lado.

– Provavelmente foi uma jogada inteligente. Não se deve perder tempo com essas coisas.

Dave assentiu com a cabeça, começando a sentir o suor escorrer por sua testa e por suas costas. Não sabia que conseguia mentir desse jeito, tão friamente, principalmente para um oficial de justiça. Henry tomava novas notas, dessa vez mais apressado, enquanto o menino respirava por alguns segundos.

– Relaxe já está acabando. Responda-me só mais algumas coisas Dave, você conhece a Equipe Rocket certo?

– Certo

– Como e por quê?

– Bom, os conheci na estrada de Grené para Cardo quando fui abordado por um dos seus agentes. Foi no mesmo dia em que conheci a Mindy. Ela me ajudou a escapar dele. Depois tivemos o incidente no torneio, onde eu consegui encontrar a Mindy depois dela ter sido raptada. Depois disso tive alguns encontros com membros, sempre tentando roubar meus Pokemons. Acho que isso é um problema que todos os treinadores enfrentam hoje em dia, não?

– Infelizmente – disse o detetive

– E, aproveitando que você falou sobre a Mindy, saberia me dizer onde ela está? Gostaria de falar com ela.

– Não. Ela decidiu seguir viagem com o primo e, como eu disse, não sei para onde foram. Desculpe.

– Tudo bem, você esteve ótimo, não se preocupe. Você tem mais alguma coisa a relatar? Algum detalhe que eu não tenha perguntado?

– Não, acredito que é só o que sei – respondeu o menino, sem acreditar que aquilo estava de fato acabando. Fora mais fácil do que antecipara.

Henry se levantou sorrindo mais abertamente dessa vez e Dave fez o mesmo, fazendo Eevee pular para o chão. O detetive cumprimentou o Pokémon com o olhar, e esse lhe retribuiu com um sorriso. Em seguida, Dave e o homem mais velho apertaram as mãos e se despediram, mas não sem antes Henry lhe fazer mais alguns pedidos.

– Qualquer coisa que se lembrar, não hesite em entrar em contato com a polícia. A delegacia de qualquer cidade vai conseguir entrar em contato comigo. E, por favor, espere na sala de esperas em frente a UTI Pokémon. Não posso deixar que você encontre seus amigos antes de falar com eles tudo bem?

Esse último pedido pegou Dave de surpresa, mas Henry já estava abrindo a porta e o conduzindo para o lado de fora, fazendo-o virar a direita e seguir pelo mesmo corredor que viera, mas para o outro lado, deixando Mary Jane e Jake para trás. Henry o acompanhou até a sala de espera, onde Dave se despediu pela ultima vez e entrou na UTI, indo visitar Oddish. O detetive voltou para a sala de interrogatório e chamou o próximo nome: Jacob Amis.

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Quando Jake entrou na sala ele ainda tremia de nervoso. Sentiu-se preso em um cubículo apertado, sem espaço para se mexer ou respirar, mesmo que a sala fosse realmente espaçosa o suficiente. Até o posicionamento da luz ele achava estranho, como se estivesse, de algum modo, direcionada direta e intencionalmente para ele. Sua respiração era pesada e barulhenta, sua pele suava e seus passos eram curtos e hesitantes. Nem mesmo a tentativa de ser receptivo do detetive funcionou corretamente. O garoto estava visivelmente nervoso, e talvez até mesmo apavorado.

– Bom dia Jacob. Posso te chamar de Jake não é? – perguntou o detetive enquanto o menino entrava.

Jake apenas assentiu com a cabeça, tentando evitar o contato visual com o policial o máximo possível. Se o homem não fosse mais experiente, ele poderia jurar que seu interrogado tinha encontrado algo incrivelmente curioso no chão.

– Por que não se senta Jake? Fique à vontade.

O menino obedeceu sem dizer uma palavra, puxando a cadeira para trás e arrastando-a pelo chão, produzindo um alto e agudo som que faria os pelos do pescoço de qualquer um se eriçar. Ele apertou os olhos com o barulho, permitindo que calafrio percorresse seu corpo, até que finalmente se sentou, ainda fitando o piso da sala. Amistoso, Henry tentou continuar.

– Jake, não há por que ficar nervoso. Quem não deve, não teme.

Pela primeira vez o garoto levantou os olhos, encarando diretamente o detetive por alguns segundos, com olhos arregalados, antes de responder.

– Eu... Não... Não estou com medo. – Sua voz traía o que dizia.

– Que ótimo – Henry fingiu acreditar – Bom, eu só tenho algumas perguntas a lhe fazer e você está livre tudo bem? Se importa se eu gravar a entrevista?

Quando o garoto concordou, Henry continuou mais animado, confiante de que conseguiria extrair alguma coisa do rapaz, mesmo que pouca, se apenas ele prosseguisse com cautela e sensibilidade.

– Jake, porque não começa me confirmando quando você chegou e saiu de Cardo? – Uma pergunta simples e obvia deve ajudá-lo a se acalmar.

– Chegamos há três dias detetive, e saímos dois dias atrás – disse o garoto, com a voz tremula.

A expressão de Henry mudou drasticamente com a resposta. Suas sobrancelhas se levantaram e ele ficou sem ação por um minuto, até que Jake voltou a falar.

– Não! Desculpe-me, calculei errado. Nós saímos de Zaffre há três dias, o que significa que chegamos há quatro. Realmente, me desculpe detetive. Eu não estou mentindo nem omitindo nada, eu realmente só calculei errado! Fui muito estúpido, eu sei! Não devia ter cometido esse erro. Me desculpe! Você acredita em mim não é? Sabe que eu estou falando a verdade não sabe? Pode perguntar pro Dave, ele vai te confirmar...

Henry não sabia se estava mais surpreso com a resposta errada do menino ou com a sua reação a ela. Erros como o que Jake cometera eram comuns em interrogatórios. A pessoa fica nervosa e começa a responder sem pensar muito, e logo depois corrige o erro. Se Henry tivesse algum motivo para suspeitar de qualquer um dos três talvez o erro fosse relevante, mas como não tinha, era algo completamente escusável. O problema é que o menino não lhe dava a oportunidade de lhe falar isso.

–... Sabe, eu fico muito nervoso e acabo começando a falar um monte de besteiras. Minha mãe sempre fala isso e meus amigos também, podem perguntar a eles. Eu não sei de nada. Desculpe inspetor, eu...

– Tudo bem Jake! Relaxa! – disparou o policial em um tom mais forte, finalmente calando o garoto. Os olhos de Jake se arregalaram imediatamente, mas Henry logo descontraiu a face e voltou a falar em um tom normal – Eu confirmei sua história com o Dave. Entendo o seu erro. É normal. Acredito em você...

Jake aliviou-se na cadeira, mas ainda tinha dificuldades em olhar para o policial. Fitou longamente a parede ao seu lado enquanto o homem mais velho suspirava e dava continuidade às perguntas.

– Quando foi a última vez que viu Casper ou Aya?

Jake parou para pensar longamente dessa vez, certificando-se de que os fatos que relataria estariam certos.

– Bom, o Casper eu vi durante a batalha do Dave. Cara muito inteligente ele, mas também me pareceu gentil. Sabe lutar muito bem e seu ginásio é incrível! Ele nos convidou para ficarmos um pouco e conhecermos as instalações. Nos mostrou também a área interna do ginásio. Depois Aya nos levou a saída comum e nos despedimos dele. Foi a ultima vez que o vi. Já Aya, bem, ela seguiu com a gente até o Centro Pokémon, inclusive quando o Dave estava tentando ligar para Cardo. Sabe, o telefone não atendeu porque o Professor estava no hospital. Loucura não é? Ai o Rusty apareceu e resolveu chamar o Dave para uma batalha. Foi muito tenso sabe. Eles não se dão muito bem o Rusty e o Dave...

– Jake, a última vez que você viu a Aya? – interrompeu o detetive – se atenha aos fatos e responda a pergunta, por favor.

– Acho que foi quando saí do campo de batalha atrás do Dave. Nem me despedi dela direito. Ela parecia... – começou o garoto, mas ao ver a expressão do detetive, ele se calou e voltou a fitar o chão.

– Você achou alguma coisa estranha na Aya durante o tempo em que esteve com ela?

– Muitas! Sabe primeiro que ela tem o cabelo verde. E ela é nova de mais para estar tão próxima do líder. Eu já estive num ginásio sabe, em Auburn, e para você chegar a ser aprendiz direto do líder demorava bastante e você tinha que ter um nível muito bom. E aqui em Zaffre eu ouvi que o líder não tomava aprendizes, o que significa que ela deveria ser especial. Mas ela parecia ser uma menina legal no fundo. Bastante nervosa, mas...

– Jake, eu só perguntei se ela disse alguma coisa estranha. O perfil dela eu já tracei com pessoas que a conheciam melhor... – a paciência do detetive começava a se esgotar.

– Mas, eu achei que agora era para falar mais sobre...

– Não, não era.

– Bom, ela não disse nada estranho senhor – disse Jake, deixando a cabeça cair mais uma vez, triste.

Henry suspirou alto olhando o menino cabisbaixo. Ele parecia ter se acalmado enquanto falava e agora apenas ficara visivelmente chateado com a reação do policial. Ele não gostava daquilo. O homem sempre fora gentil e atencioso, com bastante tato com seus interrogados. Era conhecido na policia por isso. Ainda assim, aquele garoto conseguira tira-lo um pouco do sério. Ele decidiu terminar a entrevista por ali.

– Quer saber, decidi que você não raptou nenhum dos dois – disse ele, sorrindo ironicamente para o garoto– pode ir.

– O que?! Você achava que eu tinha seqüestrado eles? Mas por quê? O que eu fiz para você achar isso? Eu nem teria como...

– Eu sei! Era uma brincadeira. Pode ir, a entrevista acabou! – disse o homem, não acreditando no que acabava de ver. Como os amigos agüentavam viajar com ele era algo que nem o melhor dos investigadores descobriria.

– Ah... – disse Jake – então tudo bem. Achei que teriam mais perguntas, só isso...

– Não tem, a não ser que você tenha alguma coisa a falar... – respondeu Henry, mal podendo esperar para ver o menino fora da sala.

Entretanto o menino hesitou longamente, com o olhar fixo pela primeira vez no homem que há pouco o questionava e agora fazia curtas e rápidas anotações eu seu bloco de papel. O coração do garoto disparara e ele voltara a tremer. De repente, ele voltou a falar.

– Na verdade, eu tenho sim – disse, pegando o detetive de surpresa – Mas você tem que me prometer não contar a ninguém que fui eu quem te falou.

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– Srta. Charlton! – Chamou Henry em voz alta, pouco depois de liberar Jake e conduzi-lo a sala de telefones, onde ele pedira para ser conduzido. Por algum motivo não queria ficar na sala de espera. O detetive ainda tentava limpar da cabeça as informações que o menino tinha lhe dado para se concentrar no próximo passo de sua investigação e de sua missão naquela manhã: a entrevista com Mary Jane Charlton.

A menina ruiva entrou e aceitou prontamente o convite que o homem fez para que ela se sentasse. Não tinha dito nenhuma palavra, mas parecia confortável em seu lugar enquanto observava o cômodo com os olhos. Se Henry não estivesse ainda perdido em seus próprios pensamentos ele diria que tinha visto a sombra de um sorriso no rosto da garota, mas ele sumiu rapidamente e o policial nunca poderia ter certeza. Decidiu iniciar.

– Srta. Charlton...

– Mary Jane, por favor – disse ela, rapidamente.

– Desculpe, Mary Jane. Como você está?

– Muito bem obrigada detetive. Como vai a investigação?

Henry estranhou a naturalidade com que a menina lidava com a situação. Normalmente os seus interrogados não reagiam tão bem à pressão de ser questionado, sobre o que quer que fosse.

– Desculpe Srta, mas não posso revelar informações sobre uma investigação em andamento.

Agora, com certeza absoluta, a menina sorria.

– Claro, que estupidez a minha. Desculpe detetive, eu deveria desconfiar...

– Não tem problema. Você já colaborou com a polícia em alguns incidentes anteriormente, estou certo?

Mary Jane abriu mais o seu sorriso e confirmou com a cabeça.

– Já estive em muitos lugares e gosto de ajudar. Sempre fui muito bem recebida pela polícia

– Muito bem, então preciso que me ajude mais uma vez. Vamos começar? Imagino que não tenha problema se eu gravar a entrevista – disse ele - Diga-me Srta, quando chegou a Zaffre e quando deixou a cidade?

– Há 6 dias. Cheguei voando no meu Pidgeot e estive lá até 3 dias atrás, quando sai com Dave e Jake.

– Certo, então chegou sozinha a cidade e saiu acompanhada. Diga-me, porque se demorou mais do que os outros, e porque decidiu acompanhá-los?

Mary Jane ponderou suas respostas por alguns segundos antes de voltar a falar.

– Bom, demorei na cidade porque encontrei um clima agradável. Conheci Aya e achei que ela era uma pessoa interessante e que valeria a pena conhecê-la um pouco mais. Também encontrei Rusty, um treinador de Cardo, que me disse que sua prima estava a caminho da cidade e que ele a esperava, então achei que seria uma boa idéia fazer o mesmo. Conheci Mindy no torneio de Cardo e sabia que ela estava com Dave, um bom amigo meu.

– Entendo. E porque decidiu acompanhá-los?

Ah sim... – disse ela, tentando encontrar um jeito melhor de responder a pergunta. Sabia que história deveria contar, mas não sabia o quanto Dave tinha sido aberto quanto a sua relação com a garota. Na duvida, achou melhor falar meias verdades – A Mindy seguiu por algum caminho desconhecido com o primo e deixou os amigos. Por mais que o Dave não goste de admitir ele gosta dela e sente sua falta. Achei que a presença de uma amiga poderia ajudá-lo.

–Muito legal da sua parte – cumprimentou o policial, estudando o rosto da menina. Ela não dava nenhum sinal de estar mentindo. Anotando algumas coisas, ele prosseguiu.

– Mary, você disse que achava Aya interessante. Porque diz isso?

– Bom, passei pouco tempo com ela, infelizmente, então não a conheci muito bem, mas ela disse que seu irmão lhe mandou treinar com Casper, o que era bastante interessante. Para ter acesso tão direto a um ginásio o irmão dela deve ser importante no mundo Pokémon e ter contatos. E se ele é mesmo importante, não indicaria a um líder alguém que não tinha alguma coisa a oferecer. Queria ver o que ela realmente tinha de especial. Além disso, ela era durona, mas ao mesmo tempo gentil e amigável. Uma pessoa boa.

– Entendo – disse o detetive, ainda assustado com a desenvoltura da garota – então você está dizendo que ela não apresentou nenhum comportamento estranho, nem falou nada de suspeito para você?

Mary Jane estranhou o tom da pergunta e pressentiu que aquilo fora o mais próximo de uma acusação que o detetive ser permitira chegar.

– Não sei nada do desaparecimento, caso contrário seria a primeira pessoa a relatar o que sei – disse a menina, séria.

Henry a estudou por alguns minutos, em todos os aspectos que pôde. Seu cabelo ruivo chamava a atenção e combinava com o seu estilo leve e desleixado, mas a garota conseguia ainda assim parecer arrumada e até mesmo bonita para a sua idade. Ela sabia se cuidar muito bem e era bem mais inteligente do que ele esperava. Com certeza ela fora mais uma surpresa do dia. De repente, o policial percebeu que não tinha a menor idéia de como continuar a entrevista.

– Srta...

– Não precisa me chamar de Srta, já disse – a ruiva riu.

– Claro, desculpe. Mary, acho que por hoje é só, mas talvez eu precise falar mais com você, tudo bem?

– Sem problemas, ficarei feliz em ajudar no que puder. Sabe como me encontrar?

– Apenas se apresente nos centro Pokémon das cidades por que passar tudo bem? Qualquer coisa, lhe procurarei assim.

A menina assentiu com a cabeça, sorrindo como sempre.

– Algo mais? – perguntou Henry quando viu uma sombra de duvida de repente cruzar o rosto da menina. O seu sorriso foi gradativamente desaparecendo enquanto ela lutou consigo mesma, mesmo que por alguns segundos, para se levantar da cadeira. Mesmo assim, ela conseguiu.

– Não, nada mais – disse ela, virando-se de costa e encaminhando-se para a porta.

– Mary Jane, qualquer informação é importante. Por favor, se souber alguma coisa espero que fale.

Já com a mão na maçaneta, a garota se virou para o detetive.

– Eu sei de alguma coisa que talvez não tenha muito a ver com o seqüestro, mas que ainda assim acho que você deveria saber.

Henry assentiu com a cabeça, instigando-a a continuar.

– Você não pode contar que eu te falei isso ok? – perguntou a menina, e então voltou a se sentar.

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Dave foi chamado pela enfermeira Joy, que lhe avisou que Mary Jane o estava esperando do lado de fora da UTI. O menino se levantou e deixou Oddish sob os cuidados da mulher. Ela se mostrava otimista em relação ao Pokémon e dizia que essa tarde ele seria transferido para enfermaria regular e confirmara amanhã já receberia alta e poderia voltar à vida selvagem. O menino saíra da unidade de tratamento intensivo sorridente para encontrar uma Mary Jane aparentemente nervosa, sentada no corredor. Ela não tremia nem suava, mas apresentava um semblante sério e perdido, desfocado, com as mãos apoiadas no rosto de um modo que ele nunca vira antes. Ela demorou alguns segundos extras para perceber a presença do garoto.

– O que houve MJ? Está tudo bem?

– O que? – disse ela, se levantando rapidamente e sorrindo para o garoto – comigo? Está, claro!

– Como foi a entrevista?

– Muito bem – disse a menina – como está o Oddish?

Dave sorriu

– Está bem. A enfermeira disse que hoje mesmo ele sai da UTI.

– Que ótimo! - comemorou ela, sorrindo como sempre sorria.

Nesse momento Jake reapareceu, seguido pelo oficial que acompanha o detetive.

– Oi gente.

– Jake? – Mary Jane olhou para o menino com um misto de surpresa e não entendimento – Onde você estava? A sua entrevista foi antes da minha.

– Ah eu estava nervoso e queria falar com meus pais – disse o rapaz, com um sorriso amarelo no rosto. Tanto Dave e Mary Jane perceberam que tinha mais na história que o garoto contava.

– Tem certeza? O que houve Jake? – perguntou Dave.

– Nada, só o nervosismo mesmo. Nunca tinha sido interrogado pela polícia. É bastante tenso.

– Entendo – disse o garoto, ainda estranhando a reação do amigo mais novo – qualquer coisa pode falar com a gente também. Você sabe não é?

Tanto Jake quanto Mary Jane ficaram surpresos com o que Dave falara, mas ninguém ousou discordar. Jake nunca tinha sido alvo de uma manifestação direta de amizade de Dave e de repente sentiu-se estranho, enquanto Mary Jane foi surpreendida ao se incluir no termo “com a gente” que o menino falara. Ela mal conhecia Jake e já estava sendo incluída como uma de suas melhores amigas. Nesse momento, porém, o detetive Henry finalmente apareceu pelo corredor.

– Crianças, eu tenho que falar com vocês uma ultima vez, agora em grupo – a expressão do homem era séria e decida – sentem-se, por favor.

Rapidamente e sem entender o que se passava Jake, Dave e Mary Jane se sentaram nas cadeiras postadas no corredor da UTI, originalmente destinadas a pessoas que esperava noticias de seus Pokemons amados que estava em situações graves. Henry não se sentou, em vez disso caminhava de um lado para o outro na frente dos garotos.

– Vocês não foram completamente honestos comigo hoje, e não só sei disso, como também sei o porquê – o policial olhou demoradamente para cada um deles enquanto continuava a caminhar em sua frente. Os três demonstravam surpresa e espanto. Ele preferiu aproveitar-se para continuar falando. – Sei muito bem qual a direção que o Sr. e a Srta. Noah escolheram seguir. Esperava que você, como um quase namorado da garota Dave, me contasse sobre o perigo que ela corre.

Dave não sabia para onde olhar enquanto sua mente trabalhava com muita velocidade e seu coração pulava por todos os lados de seu corpo. Como o detetive sabia disso era um grande mistério, e um desastre na visão de Dave, que podia não só atrapalhar a missão de Mindy, mas ainda colocá-la em maior perigo ainda. O garoto só foi tirado desse pensamento quando percebeu que Henry, que estava visivelmente mais nervoso do que quando o entrevistara, havia parado de andar bem a sua frente e agora fitava quase com um sorriso seu Eevee, que estava mais uma vez em seu colo. O Pokémon se aconchegou em um instinto de proteção contra o corpo do treinador, o que chamou a atenção do menino para o que acontecia.

– Além disso, Sr. Hairo, estive olhando a sua ficha e conduzindo uma pequena investigação. Você saiu de sua cidade no auge das ações da Equipe Rocket pela sua área. Dizem que eles estavam atrás de um Pokémon perdido. Um Eevee de valor inestimável para eles. Soube também que teve problemas posteriores com eles, não tão costumeiros como você me relatou – Dave tremia enquanto o homem o encarava fixamente – Diga-me senhor Hairo, porque eu não deveria concluir que esse seu Eevee não é o mesmo que a Equipe Rocket procura? E porque você seria o alvo numero um de uma organização criminosa e não contaria isso a policia?!

O treinador de Grené não sabia o que falar enquanto seus amigos estavam sem ar ao seu lado. Henry ficara vermelho enquanto falava e agora era uma pilha de nervos que voltara a caminhar de um lado para o outro, massageando a têmpora enquanto respirava rápida e pesadamente. O coração de Dave dava saltos enquanto ele se sentia tonto e sem saber como prosseguir. Tudo o que ele tentara esconder fora descoberto e ele não tinha a menor idéia de como. Até mesmo o fato de ele ter tido um inicio de relacionamento com Mindy o detetive descobrira. As únicas pessoas que sabiam disso eram Mary Jane, Jake ou a própria Mindy. Isso significava que ou o detetive tinha encontrado Mindy ou algum de seus amigos tinha lhe denunciado. Ele não sabia no que acreditar. Depois de cerca de dois minutos de um silencio perturbador, Henry voltou a falar.

– Senhor Hairo, não vou lhe designar uma proteção extra nem especial. Imagino que o senhor não queira ser seguido por um policial por onde for e não posso forçá-lo a isso.

Dave concordou com a cabeça, ainda estupefato.

– Mas vou lhe pedir que passe pelo posto de polícia em todas as cidades que passar daqui para frente, avisando que chegou, e que passe novamente antes de sair, dizendo para onde pretende ir. De acordo?

Mais uma vez ele balançou a cabeça positivamente.

– Ótimo. Agora todos vocês fiquem atentos, e saibam que da próxima vez que mentirem para a polícia poderão enfrentar problemas maiores por isso, entenderam?

– Tudo bem – disse Mary Jane, subitamente pálida de susto e de intimidação.

– Um último alerta – disse o policial, fixando-se sériamente no grupo de crianças amendrontadas sentadas a sua frente. O que ele ia dizer a seguir não os ajudaria emocionalmente no momento, mas poderia lhes salvar a vida no futuro – Desconfiamos de que os seqüestros tenham sido feitos com ajuda de algum agente infiltrado. Normalmente a Equipe Rocket trabalha assim. Porém Casper vivia sozinho e a única pessoa que tinha acesso facilmente a ele era Aya, o que nos leva a considerá-la uma forte suspeita.

– A Aya? Impossível! – disse Mary Jane, mas o detetive não lhe deu muita chance de continuar.

– Na verdade eu não devia estar contando isso para vocês, mas como ela os conheceu é possível que apareça de novo em seu caminho. Principalmente pelo fato de a Equipe Rocket estar procurando por você, Dave. Mas o fato é que não temos noticia de seu paradeiro, e seqüestros duplos não é um procedimento comum quando se trata da Equipe Rocket. Já a possibilidade de um agente infiltrado se encaixa perfeitamente. E ela era uma das poucas pessoas com acesso suficiente ao Casper. Não posso lhes dar muitos detalhes, mas vocês já pegaram o recado: Se a virem, tomem bastante cuidado, ok? E não deixem de nos avisar.

Ainda em choque, os três concordaram com a cabeça mais uma vez, e, em seguida, Henry girou nos seus calcanhares, chamou o oficial que lhe acompanhava com um gesto da mão e desapareceu pelo corredor, deixando os três amigos perplexos, assustados e surpresos. As informações eram muitas e as possibilidades maiores ainda. Tudo o que eles tinham combinado não dizer fora descoberto e tudo o que eles planejavam fazer talvez tivesse que ser mudado. Pelo menos, por um lado, Dave se sentiu aliviado de poder continuar sua jornada sem um policial atrás de cada passo seu, mas ainda assim a descoberta das intenções de Mindy representava um problema que ele não esperava encontrar. Não apenas agora a garota teria mais problemas e pessoas dispostas a atrapalhá-la e impedi-la de conseguir o que quer, Dave descobrira que talvez não pudesse confiar em um de seus dois amigos. Além disso, era possível que uma nova ameaça estivesse tomando forma na pessoa de Aya, que estava desaparecida e poderia muito bem estar seguindo cada passo do grupo desde Zaffre. Tomado de uma súbita raiva, o menino olhou para os lados para ver os rostos inexpressivos e paralisados de seus companheiros de viajem, e em seguida levantou e seguiu rapidamente em direção a recepção. Eevee pulou de seu colo e o seguiu rapidamente, acompanhado por Mary Jane e depois por Jake, alguns passos atrás.

– Ei! – disse a menina, mas Dave não respondeu.

O menino de Grené pediu a chave de um quarto livre para um e a enfermeira Joy lhe deu uma, sem fazer mais perguntas. A expressão de seu rosto dizia por si só que ele já enfrentara a quantidade limite de perguntas naquela manhã. Quando entendeu o que se passava, Mary Jane e Jake correram em sua direção.

– Dave, o que está acontecendo? Porque você vai mudar de quarto?! – os dois falavam juntos e pareciam desesperados, mas Dave não falou uma palavra sequer e, em vez disso, se dirigiu para o quarto que divida com Jake.

Abriu a porta com um estrondo, ainda sobre os protestos desesperados dos outros dois. O único que não dizia nada era Eevee, que apenas o observava com tristeza. O menino pegou todos os seus pertences e se virou para sair novamente do quarto, dando de frente com Mary Jane que estava logo atrás dele. Sem se desculpar, ele abriu caminho e voltou ao corredor, logo entrando em um quarto mais ao fundo do prédio do centro e se trancando lá dentro. O único que o alcançara antes dele se isolar fora Eevee.

– Dave, abre a porta! Fala com a gente – dizia Mary Jane, sem saber o que fazer diante da situação inesperada.

– Isso Dave! Fala com a gente! O que aconteceu?! Explica para gente, por favor! – Dizia Jake, também bastante perturbado.

Nada, entretanto, fez com que o menino saísse de seu quarto naquela manhã ou ao menos respondesse aos apelos dos amigos, que até mesmo ameaçaram abandoná-lo ali e seguir viagem. Eventualmente os dois desistiram de bater e deixaram o menino em paz, algo pelo que Dave agradeceu profundamente. Acima de tudo, ele precisava pensar.

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No Quartel General da Equipe Rocket, Jack discou o numero de contato do supervisor G e esperou enquanto a chamada era completada. Jody estava no banho e tinha pedido que ele se encarregasse de entregar as novidades ao seu superior daquela vez, pois ela precisava relaxar e pensar. Disse que não demoraria, mas o homem sabia que era mentira. Sua parceira gostava de longos banhos, principalmente quando precisava pensar. Não se surpreenderia se entrasse no banheiro e a encontrasse na banheira, relaxando. Sua imaginação foi interrompida quando a voz mecanizada do supervisor se fez ouvir.

– Agente Jack, eu imagino que tenha o novo relatório sobre o garoto Hairo e nosso Eevee, sim?

– Isso mesmo senhor – respondeu o homem, satisfeito. Tinha noticias relativamente interessante.

– Bom, o grupo sofreu uma mudança desde a última vez que checamos. Parece que a garota Noah se separou do grupo, o que pode vir a ser um problema no futuro. Entretanto, por enquanto nada de importante mudou.

– Entendo. Isso pode ser um problema sim, mas acho que agimos bem e a tempo. Com sorte tudo dará certo. – complementou o semblante escuro no videofone – Algo mais?

– Sim, claro. Eles estão no Centro Pokémon logo após o rio entre Zaffre e Celadon. Devem seguir viagem ainda hoje, ou talvez amanhã.

– Talvez amanhã? Porque razão eles passariam mais de um dia em um Centro Pokémon no meio da estrada? – supervisor parecia surpreso, e Jack sorriu. Sabia que tinha informações relevantes.

– Parece que eles foram interrogados pela polícia sobre o desaparecimento do líder de Ginásio de Zaffre senhor. Aparentemente a polícia desconfia de que nós estamos por trás disso.

O supervisor pareceu pensar por um momento antes de continuar e Jack ficou calado, observando e esperando.

– Muito bom Jack, isso é uma informação nova. Vou checar porque nosso informante na polícia não nos alertou disso antes. Imagino que seja o mesmo detetive que cuidou do caso do Professor Noah, não é?

– Exatamente senhor. Então quer dizer que nós estamos mesmo por trás desses seqüestros também? – O agente Rocket já suspeitava fortemente de que a polícia estava na trilha certa, mas não tinha tido nenhuma informação quanto a novos seqüestros.

– Só houve um seqüestro Jack, que não lhe concerne. Apesar disso, seu alvo parece ter sido envolvido, então não vejo mal em lhe informar que sim, nós seqüestramos o velho Casper. Não ouse comentar disso com ninguém mais, a não ser Jody, e se contente em receber apenas essa informação. Não lhe direi mais nada – o tom de seu comandante estava ligeiramente irritado e Jack percebeu que talvez não fosse uma boa idéia forçar o assunto, mas ainda havia uma coisa lhe incomodando.

– Entendo senhor, mas a questão é que a aluna do líder também está desaparecida. Houve mais de um seqüestro, não?

– Sei que ela sumiu, mas não Jack, foi somente um seqüestro. Não me peça para lhe explicar mais, não ouviu o que acabei de dizer?!

– Desculpe senhor – o tom de Jack foi submisso e ele abaixou a cabeça, compreendendo que talvez fosse melhor ficar de fora dessa questão. Agradeceu pelo fato de Jody ter ido tomar banho e não estar ali. Ela com certeza insistiria em saber mais. Depois de tomar um minuto para processar todas as informações que recebia, o supervisor G resolveu continuar.

– Eevee já demonstrou alguma coisa extraordinária?

– Não exatamente Senhor, pelo menos não nos foi passado nada.

– Muito bem, da próxima vez, pergunte – o tom do supervisor continuava firme e forte o que fez Jack entender que aquela era uma ordem direta e importante. Não poderia esquecê-la. Por um momento, voltou a desejar que Jody estivesse ali com ele. O supervisor continuou – alguma idéia do paradeiro da menina Noah?

– Não senhor. Aparentemente ela seguiu viagem com o seu primo, Rusty Noah, mas não sabemos para onde foram.

– Bom, não deve ser nada de importante, mas descubram.

Jack assentiu com a cabeça antes de continuar.

– Aparentemente uma nova integrante segue com Dave. Mary Jane Charlton, a vencedora do torneio de iniciantes de Cardo. Seu time consiste em um Ponyta e um Pidgeot.

– Interessante – disse o superior, em tom pensativo – investigue um pouco mais sobre essa garota também. Use de todas as nossas fontes. Caso alguém aqui de dentro não queira lhes dar informações, diga-lhes o meu codinome. Vocês não imaginam como uma única letra pode abrir portas. Boa sorte.

E com isso o supervisor G desligou o telefone.


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Notas finais do capítulo

E aí, o que acharam? As coisas não são tão simples quanto parecem não é?

Tomara que tenham curtido.
Espero vocês nos comentários!



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