Evolution: Parte 3 escrita por Hairo


Capítulo 1
Sinal de Alerta


Notas iniciais do capítulo

E então, preparados para a Parte 3?

Começamos em um ritmo um pouco mais devagar do que o final da Parte 2, mas logo logo o ritmo aumenta, vocês vão ver ;)

Sem mais, bem vindos e boa leitura!



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Capítulo 1 – Sinal de Alerta

Dois dias após a saída do grande centro metropolitano de Zaffre, o grupo composto por Dave, Eevee, Jake e Mary Jane seguia na estrada em direção a cidade de Celadon, a outra grande metrópole do continente de Kanto. O cenário que os cercava não poderia ser melhor. Desde a saída da cidade os amigos caminhavam por uma estrada larga de terra batida, cercados por uma vegetação verde de grama que se estendia pela planície até onde seus olhos podiam alcançar. As pequenas plantas e arbustos espalhados pela borda da estrada perfumavam o ar com o aroma de terra e grama e em alguns momentos, quando cruzavam algum tipo de arbusto florido, podia-se sentir o doce aroma perfumado das flores. A chuva poderia ser uma ameaça para os viajantes daquela parte da estrada, uma vez que não seria fácil achar um terreno com uma cobertura razoável com que se proteger, porém não havia a mínima ameaça no céu. As nuvens eram escassas e brancas como o algodão enquanto passeavam pelo pano azul claro que vinha cobrindo o teto do mundo durante toda a semana. O sol brilhava acima da cabeça dos garotos, mas uma corrente fresca de vento cruzava o campo de modo que era impossível reclamar do calor, mesmo que se passasse todo o dia caminhando.

Mary Jane seguia a frete do trio com seus óculos escuros refletindo a imagem a sua frente e um leve sorriso agradável brincando na sua boca, mas Dave e Jake seguiam um passo atrás, olhando para o chão e com rostos inexpressivos. Como se por reflexo, com intervalos de minutos o menino mais novo olhava furtivamente para trás, como se esperasse que alguém aparecesse no horizonte seguindo na direção deles, mas ninguém nunca aparecia. Dave pouco falava e a monotonia da viagem era tanta que Eevee havia desistido de viajar nos ombros dos treinadores e agora seguia caminhando alegre ao lado da menina ruiva, aproveitando o bom tempo e a paisagem agradável. Tanto o Pokémon quanto Mary Jane já tinham tentado conversar com Dave, e o menino fora educado e tranqüilo em todas as vezes, mas se limitava a respostas curtas e nenhum assunto realmente durava tempo o suficiente para distraí-lo. Pelo menos em uma coisa todo o grupo havia concordado tacitamente: a simples menção ao nome de Mindy era estritamente proibida. Nos dois dias de viagem até aquele momento o nome da garota não surgiu sequer uma vez e apesar estar constantemente na cabeça de ambos os meninos do grupo, nenhum deles tinha coragem para falar do assunto.

Quando o sol começara a descer do topo do céu, Mary Jane resolveu que era hora de parar para o almoço. A ruiva, como esperado, havia tomado a liderança do grupo desde a saída de Zaffre, frente ao desanimo dos dois companheiros, mas ela insistia em não tomar nenhuma decisão sozinha, o que era uma novidade para o resto.

- Então, meninos, o que vocês acham de pararmos em algum canto para almoçar?

Dave e Jake se entreolharam e de repente pareceram perceber estar com fome. Antes que pudessem responder, o estomago de Jake deu um grande e sonoro ronco, arrancando gargalhadas de Eevee.

- Acho que isso é um sim – sorriu Mary, olhando em volta procurando algum ponto onde a grama fosse um pouco mais baixa para que eles pudessem estender um pano e montar um breve acampamento para a refeição.

- Acho que não seria uma boa idéia acender uma fogueira hoje. O campo está muito limpo e seria realmente difícil encontrar lenha. Podemos comer um almoço frio sem queimar nada em volta e apenas descansar um pouco para seguir viagem. – dizia ela, enquanto esticava o pescoço para um ponto especifico a direita da estrada – Acho que aquele ponto ali está bom não é?

Dave e Jake ainda estavam se acostumando ao fato de que Mary Jane realmente pedia a opinião dos dois em assuntos triviais como quando parar para o almoço, o que preparar e onde instalar o acampamento. Não que Mindy não se importasse com a opinião deles, mas ela sempre tomava as decisões sozinhas, sem muita consulta. Caso os meninos tivessem alguma objeção, cabia a eles falar. Nunca tinham pensado que isso pudesse realmente fazer muita diferença, mas o simples fato de serem perguntados já os fazia se sentir mais importantes dentro do grupo. O problema é que assim que pensavam em coisas como essas eles se sentiam culpados, como se subitamente julgassem a garota que eles queriam tanto que estivesse junto deles.

- Acho que está ótimo – disse Jake, tomando à dianteira e se instalando num pequeno espaço de mato baixo, a cerca de cinco metros da estrada.

Os outros dois o seguiram, colocando suas bolsas no chão e sacando suas Pokebolas. Mary Jane tirou uma toalha de dentro da bolsa e a esticou no chão, começando a pegar pequenos potes com ingredientes para a refeição. O lugar que tinha apenas os três amigos e Eevee subitamente ganhou vida e se encheu de vozes de todos os Pokemons liberados de suas Pokebolas. Jake liberou sua Squirtle e sua Butterfree verde, Dave liberou todo seu time, com Sandslash, Pidgeotto, Poliwag e Hunter, que se juntaram a Eevee, enquanto Mary Jane liberou seu grande e majestoso Pidgeot e sua altiva Ponyta. O grupo era grande e bastante diversificado, em tipos e personalidades, e Pidgeot e Ponyta foram aceitos muito bem pelos outros, apesar do pouco tempo juntos. Pidgeotto, principalmente, se animara muito com a presença de um Pidgeot no grupo e não escondia sua admiração pelo outro, que, por sua vez, recebia muito bem o Pokémon menos evoluído, sempre solicito e compreensivo. Já a égua de fogo capturado recentemente por Mary Jane se mostrou inicialmente tímida, mas a tempestiva Squirtle de Jake conseguiu, no primeiro almoço juntos, fazer com que ela fugisse incessantemente de suas brincadeiras com a água. Dave e Jake inicialmente haviam reclamado com a pequena tartaruga, que, obviamente, não dera ouvido para eles, porém a própria Mary Jane parecia se divertir. Tudo culminou quando a paciência de Ponyta se esgotou e, vencendo a timidez, ela parou de fugir de repente, dando um coice na tartaruga que corria atrás dela. A cena chocou a todos por um instante, mas quando todo o grupo de Pokemons não se agüentou de tanto rir enquanto a pequena tartaruga tentava se por de pé há alguns metros de distancia, tudo ficou bem. Agora, por incrível que pareça, Ponyta parece mais a vontade conversando com o Poliwag de Dave e até mesmo a Squirtle de Jake.

- Dave, o que você quer no seu sanduiche – perguntou a sorridente Mary Jane enquanto o garoto se sentava olhando fixamente para a estrada.

- Não sei MJ, tanto faz.

A menina suspirou pesadamente olhando do amigo para a estrada logo a frente dele, e então voltando a encará-lo.

- Ela não vai aparecer aqui arrependida sabe? Ela tomou uma decisão e se eu a conheço pelo menos um pouco, sei que ela não vai desistir assim tão fácil e voltar correndo.

Dave encarou a amiga por um momento, pego completamente de surpresa. Ele não vinha tentando esconder o que pensava, mas aquela era a primeira vez que alguém falava de Mindy na viajem.

- Eu sei, – admitiu o rapaz – mas é impossível não imaginar que ela vai aparecer de novo para me dizer que a gente está andando muito devagar, e que chegaremos em Celadon ano que vem se continuarmos nesse ritmo.

Mary Jane riu.

- Nós não estamos tão devagar sabe. Pelo menos eu acho que não. Mas se você quiser chegar a Celadon rápido podemos estar lá amanhã de manhã. Vocês sabem muito bem disso – disse ela, olhado com o canto do olho para o grande pássaro pousado a alguns metros dele, aparentemente entretido em uma conversa com Pidgeotto.

Ao entender a proposta da ruiva Jake estremeceu, enquanto Dave balançou negativamente a cabeça.

- Já disse que não quero sair da estrada Mary, desculpe. Eu sei que não é assim que você costuma viajar, mas, verdade seja dita, eu não estou com tanta pressa assim...

- Verdade seja dita, você ainda está esperando encontrar a Mindy nessa estrada – disse MJ, desistindo do menino e voltando a se concentrar no sanduiche que montava para ele. Foi Jake quem falou dessa vez.

- Não é que a gente espere que ela apareça na estrada Mary, mas não queremos que a estrada acabe. Ela nos deu Celadon, Fuschia, Veridian e Pewter. Essa é a nossa estrada. Mas e se chegarmos ao fim sem encontrá-la?

Dave levantou a cabeça e olhou para o garoto mais novo, que retribuiu o olhar e ali eles entenderam um ao outro, pela primeira vez. Ambos deram um pequeno sorriso e voltaram a se concentrar na comida.

- Homens... – bufou Mary Jane, se levantando com um grande pacote de ração de viagem Pokémon nas mãos – Vou dar o almoço pros Pokemons. Sirvam-se com o que quiserem – e saiu com um pequeno sorriso nos rosto.

Jake sentou ao lado de Dave e começou a montar o seu sanduiche.

- Ela é legal, a MJ... – disse o garoto mais novo.

- Muito, não é?

- Eu estive tentando entender por que a Mindy não gosta dela...

Dave sorriu lembrando-se do ultimo dia do concurso de treinadores iniciantes em Cardo. O Charmander de Mindy e o Pidgeotto de Mary Jane travaram uma das batalhas mais emocionantes que Dave não conseguira assistir. O menino estava tão empolgado em ganhar uma Pokedex que mal conseguiu prestar atenção na luta.

- A MJ ganhou da Mindy na frente da cidade inteira de Cardo, dentro do laboratório do avô dela...

- Nossa! Está explicado – disse Jake – Eu estava achando que era tudo ciúmes...

Assim que deixou as ultimas palavras escaparem a expressão de Jake se contraiu desagradavelmente. Ele não pretendera trazer a tona o romance entre Dave e Mindy. Não conseguira tratar disso nem consigo mesmo, muito menos com Dave. As palavras simplesmente escaparam da sua boca. Dave, por sua vez, olhou para Mary Jane, ao longe, servindo a ração de Eevee e acariciando seu pelo.

- Talvez...

Nesse momento Squirtle surgiu atrás da menina ruiva, sorrateiramente, se aproximando com cautela, passo a passo. Pressentindo o problema, Jake aproveitou a chance de mudar de assunto.

- MJ, cuidado! – alertou o menino, mas foi tarde de mais. Enquanto a menina se virava, Squirtle deu um salto e lançou um forte jato d’água que acertou a menina em cheio no rosto, fazendo-a cair sentada, derramar no chão mais da metade da comida restante no pacote que segurava e encharcado-a da cabeça aos pés.

- Eu tentei avisar... – disse Jake, correndo para ajudar a garota enquanto Dave ria sentado.

A viagem seguiu normalmente durante a tarde. Depois de levantar acampamento o pequeno grupo de amigos recolhera seus Pokemons e voltaram à estrada com animo revigorado e com as barrigas satisfeitas. Apesar do desanimo dos dois meninos, um pouco mais de conversa fluiu entre eles quando Eevee, por volta das duas da tarde, voltou a se acomodar no ombro de seu treinador, parte por já estar um pouco cansado, parte porque o garoto se mostrava um pouco menos deprimido.

Mary Jane por sua vez parecia um pouco mais aliviada. Agora caminhando lado a lado com os garotos, ela começava a sentir a atmosfera um pouco mais leve e agradecia por estar conseguindo de fato ajudar Dave e Jake após o abandono de Mindy. Fora para isso que ela aceitara pela primeira vez ter algum acompanhante na viagem e esse era o único motivo de estar caminhando tão lentamente em direção a Celadon. Desde que seu Pidgeotto evoluíra em Pidgeot ela raramente fazia longas caminhadas. A facilidade de transporte nas costas do grande Pokémon tornara a sua rotina muito mais fácil, dando-a tempo para explorar diferentes áreas e regiões em vez de seguir preocupada com ginásios e insígnias. Ultimamente, com a recente adição de Ponyta a sua equipe, a menina por vezes optava por cavalgar, mas ainda assim se movia mais rápido do que a pé. Aquela lentidão não apenas a cansava fisicamente, mas também começava a incomodá-la profundamente. Dave e Jake, entretanto, se recusavam a voar em seu Pidgeot todas as vezes que a menina sugeria o assunto, e havia muito pouco que ela pudesse fazer. Não queria causar mais problemas para eles tão no início do caminho e, se tudo corresse bem, Dave e Jake estariam em condições de seguir sozinhos de Celadon, de onde ela planejava continuar sozinha. Ela apenas tinha se oferecido a seguir com os dois até lá, mas, a cada passo que dava, temia que eles esperassem que ela mudasse de idéia. Não tinha nada contra os garotos, mas não se sentia bem presa a um grupo em suas viagens.

O sol avançava no céu e o clima ia ficando cada vez mais agradável, tornando a caminhada algo até prazeroso para os viajantes. O ambiente a sua volta não apresentava grandes mudanças, mas no horizonte algumas poucas colinas começavam a se destacar enquanto, em volta dos meninos, algumas árvores começavam a figurar com mais freqüência. Quando a noite começava a se aproximar a estrada começou a fazer uma leve curva para o leste e um leve som de água corrente podia ser ouvido ao longe. Normalmente Dave e Jake não se importariam com o barulho e nem ao menos o reconheceriam, mas agora, estando em constante contato com um mapa, sabiam que deviam estar se aproximando do rio que cortava o caminho até Celadon, o que queria dizer que cerca de um terço da viagem tinha sido completado. Em comum acordo, eles decidiram montar acampamento fora da estrada, perto de um trio de arvores que oferecia uma boa cobertura, além de possibilitar a criação de uma fogueira. No dia seguinte, poderiam atravessar o rio e seguir viagem.

Assim que chegaram ao ponto escolhido para o acampamento Jake sorriu, percebendo que próximo as árvores, por todos os lados, cresciam um numero anormal de ervas que, segundo o garoto, poderiam ser muito uteis não só no café da manhã do dia seguinte, como também no resto do caminho.

- Amanhã de manhã eu cozinho alguma coisa com elas. Não tenho certeza absoluta de qual erva é, mas ela com certeza é comestível, e com alguma sorte, pode ser usada medicinalmente. Muitas das ervas encontradas nas estradas podem ser potentes remédios para Pokemons. Quando chegarmos a um centro Pokémon vou perguntar para a Enfermeira Joy. Ela com certeza saberá me ajudar.

- Tem um centro Pokémon não muito depois do rio. A gente pode almoçar lá amanhã e você pergunta pra ela Jake – Disse Mary Jane, enquanto apoiava sua mochila próxima a uma das árvores.

A noite caiu mais rápido do que o esperado e o grupo logo tinha apenas a luz da lua e das estrelas como iluminação. A ausência de nuvens, entretanto, não fazia disso um grande problema e Dave se viu por vários momentos perdido em pensamentos observando o céu maravilhosamente estrelado. Ele se deitou na grama, um pouco distanciado dos amigos, e colocou os dois braços atrás da cabeça. Não sabia nem há quanto tempo estava ali quando Mary Jane deitou ao seu lado.

- Onde está o Jake?

- Ele está ali atrás com a Butterfree. Os dois parecem estar conversando sobre alguma coisa. Não sei como os Pokemons dele têm paciência para ouvi-lo falar tanto – disse a menina, sorrindo enquanto também apreciava o bonito céu daquela noite.

- Eu acho que eu nunca vi tantas estrelas no céu. Será que a gente já viajou tanto assim para que as constelações mudassem?

- Não, claro que não! – exclamou a ruiva, com um sorriso – Você é que nunca olhou direito...

- Como assim?

- Olha, quando você vive em uma cidade, mesmo que não seja muito grande, você acaba sendo vitima de uma coisa chamada poluição luminosa. Não é nada de mais, nem prejudica muito ninguém, mas quando você tem certa quantidade de luzes na terra, perto dos seus olhos, como as luzes dos postes, faróis, casas e prédios, fica mais difícil de perceber a luz das estrelas, principalmente das menores, mais antigas e mais longínquas. As luzes da cidade meio que ofuscam a luz das estrelas, mas quando você vai para o campo e não tem luz nenhuma por quilômetros de distancia, o céu praticamente se acende todo.

- Você sempre sabe de tudo não é?! – disse Dave, arrancando um leve sorriso da amiga – então me explica essa: eu moro no campo há anos, numa fazenda. Como é que eu nunca vi tanta estrela assim?

- Primeiramente, você pode até morar numa fazenda, mas ela é bem próxima de uma cidade, mesmo que uma pequena como Grené. Aqui a gente está no meio do nada...

- Mesmo assim, o céu não devia estar tão diferente – disse o menino, teimosamente.

- Me deixa terminar! – disse ela, demorando alguns segundos, como se escolhendo as palavras seguintes – E em segundo lugar, bom, ninguém presta tanta atenção no céu quanto um apaixonado, e me arrisco a dizer que essa é a primeira vez que você se sente assim. Foi mais ou menos o que eu quis dizer quando falei que você nunca tinha olhado direito.

Dave ficou sem resposta por alguns segundos e então deixou a cabeça virar para o lado, observando a amiga que continuava a olhar para o céu. Um sorriso doloroso pintava o seu rosto quando uma suave brisa gelada bateu. Mary Jane se encolheu em um gesto reflexo e Dave percebeu que também estava com frio, o que era sinal de que a noite começava a avançar com mais força. Rapidamente ele se pôs de pé, assustando a amiga.

- Vou começar a preparar a fogueira para podermos jantar e dormir – disse ele enquanto se afastava.

Andou em direção as três árvores e acariciou Eevee que parecia estar dormindo perto da mochila do garoto. Ele conhecia bem demais a pequena raposa para saber que ele estava apenas relaxando então chamou-o para caminhar em busca de gravetos e pequenos pedaços de madeira que pudesses estar soltos nas poucas árvores no terreno em volta do acampamento. A caminhada fora rápida e em menos de trinta minutos o garoto e seu Pokémon voltaram sorridentes com uma quantidade aceitável de lenha. Não serviria para um grande fogo e estava longe do ideal, mas naquele lugar não se podia fazer muito a mais do que aquilo, de modo que eles voltaram relativamente satisfeitos. Talvez sentissem um pouco de frio no final da noite, mas isso era algo com que eles já estavam acostumados.

Dave chamou Mary Jane que para sua surpresa continuava deitada observando o céu no mesmo lugar em que ele a deixara. Jake por sua vez já estava remexendo a sua mochila em busca do que cozinhar para a janta. O garoto de Grené arrumou toda a lenha no chão, e pediu que Mary Jane liberasse sua Ponyta para que pudessem acender o fogo com mais facilidade. A simples presença do cavalo de fogo já aquecia agradavelmente o ambiente, mas Jake impediu-o de acender a fogueira no ultimo momento, quando ele já estava agachado e pronto para liberar suas chamas.

- Espere! Espere! Dave, porque você não monta isso em outro lugar? Aqui está bem cima desse pé de ervas!

Dave, de fato, tinha montado a fogueira apoiada em parte nas folhas de erva que Jake falara, mas apenas o fizera por não ter outra opção. Se olhassem em volta, era realmente difícil encontrar uma clareira com espaço suficiente para acender o fogo sem queimar nenhuma erva, e, sendo assim, ele preferira acender o mais próximo possível do acampamento, para que as chamas os aquecessem também durante a noite, enquanto elas durassem pelo menos.

- Não da Jake. Olha em volta. Não tem lugar nenhum sem erva! – disse o menino mais velho, apontando para o terreno a sua volta. Jake virou por todo o lado e percebeu que o que o amigo dissera era realmente verdade.

- Você podia pelo menos me deixar colhe-las antes de montar a fogueira, assim a gente não desperdiçava nada!

Dave percebeu que aquilo era verdade e se desculpou com o menino enquanto coçava a cabeça, mas mesmo assim disse que não desmontaria a lenha para que a erva fosse colhida. Havia bastante por toda a volta e não havia necessidade do trabalho extra. Ele até mesmo argumentou que a erva queimada poderia dar um sabor a mais para o que quer que eles fossem cozinhar.

- Além disso, eu estou morrendo de fome – disse ele, em tom de ponto final – Ponyta, pode acender.

O cavalo de fogo obedeceu, soprando fogo na madeira que se acendeu rapidamente e começou a crepitar. Logo em seguida, porém, Dave percebeu que havia cometido um erro. De alguma maneira que nenhum dos três amigos podia explicar, a fogueira começou a tremer nervosamente, e a terra em baixo do fogo começou a se remexer até que, de repente, a planta de ervas pulou do solo, revelando que por baixo, um bulbo escuro dava base para as folhas que surgiam da terra.

Todos pularam para trás com o fato, tentando organizar o que acontecera naqueles últimos segundos de modo que tudo pudesse fazer sentido. Assim que acenderam o fogo a planta de ervas também se acendeu, ganhando vida e pulando da terra para agora correr de um lado para o outro fazendo um barulho estridente e alto, que assustava. Jake foi o primeiro a colocar as peças juntas e entender o que estava acontecendo.

- Isso é um Pokémon! – disse ele, enquanto as plantas de ervas por todo o lado começavam a se agitar e saltar da terra, imediatamente correndo para tentar, inutilmente, ajudar a planta em fogo.

- Um o que?! – disse Dave, olhando desesperadamente para o lado enquanto dezenas de Pokemons corriam e formavam um circulo, tentando ajudar o amigo em chamas. Mary Jane foi mais rápida que Dave e sacou sua pokedex, apontando para as pequenas criaturas que a pouco eram plantas inofensivas.

“Oddish, o Pokémon Erva. Primordialmente um Pokémon noturno, Oddish se enterra na terra durante o dia de modo a absorver nutrientes da terra. Apenas o conjunto de folhas acima de sua cabeça fica visível, sendo facilmente confundido com um agrupamento de ervas. Essa técnica é muito útil para escapar de predadores e inimigos. Se incomodado ou arrancado da terra, pode soltar um grito bastante alto.”

- Bota alto nisso – disse a ruiva, quando a voz mecanizada do aparelho se calou.

O grupo ficou estático por cerca de um segundo, surpreso pelo desenrolar de eventos, até que Dave puxou-os de volta a realidade. Havia um Pokémon queimando a sua frente e eles precisavam fazer alguma coisa.

- Poliwag, apague esse Oddish imediatamente! – disse ele, liberando seu Pokémon aquático.

O pequeno girino correu em auxilio do Pokémon de planta, mas, ao se aproximar do circulo de outros Oddishes que tentavam pensar em um jeito de ajudar, foi interrompido. Três deles se viraram com olhares ameaçadores, impedindo a passagem do Pokémon de Dave.

- O que está acontecendo? Nós queremos ajudar! – exclamou o menino, nervoso.

- Eles não confiam na gente Dave! Acham que a gente fez isso de propósito e que vamos machucar mais eles.

Antes que o jovem terminasse de falar, porém, Mary Jane ficou de pé e incitou Ponyta contra os Oddishes superprotetores.

- Ponyta, abra caminho!

O cavalo de fogo se aproximou perigosamente do circulo de Pokemons de planta, fazendo com que o calor de suas chamas fosse sentido. Assustados, eles imediatamente deram passos para o lado, permitindo que Poliwag passasse. O girino rapidamente acertou um jato de água com força moderada nas chamas do Oddish, que agora já havia caído no chão, desacordado. Não demorou mais de um minuto para que o fogo se apagasse, mas o dano já estava feito e Oddish já estava gravemente ferido. Dave e Jake correram para próximo do Pokémon queimado e os outros esboçaram uma reação negativa, mas a presença de Ponyta os refreou.

- Eu prometo que não quero machucar ele! – disse Dave em voz alta, sem tirar os olhos do Pokémon ferido.

- Ele precisa ser levado para o Centro Pokémon, e rápido – disse Jake, observando as queimaduras nas folhas e no bulbo de Oddish.

Dave recolheu seu Poliwag e pegou Oddish no colo, o que causou outro forte protesto do grupo de Pokemons de planta a sua volta. Um deles correu em direção a Dave decidido e Ponyta teve que relinchar e bater com as patas fortemente no chão para afastá-lo. Vendo aquilo, em pé no meio de todos eles, Dave não conseguiu controlar a sua raiva.

- EU ESTOU TENTANDO AJUDAR O AMIGO DE VOCÊS! DEIXEM-ME LEVÁ-LO AO MÉDICO IMEDIATAMENTE, OU EU NÃO SEI O QUE PODE ACONTECER COM ELE!

O grupo de Pokemons pareceu se assustar com a reação do menino e mesmo não estando satisfeitos, não causaram mais problemas para o garoto.

- Dave, leve a Ponyta e siga para o Centro Pokémon. Eu e Jake vamos andando e encontramos você lá mais tarde.

- Não posso levar o Oddish no meio do fogo da Ponyta novamente. Isso pode ser pior para ele.

- Bom então leve meu Pidgeot.

Sem encontrar nenhuma outra objeção, Dave aceitou a idéia da menina, que rapidamente liberou seu grande pássaro da Pokebola. Ele estendeu as asas, se esticando, e soltou um grande pio típico de sua espécie antes de se virar para sua treinadora.

- Pidgeot, leve Dave e Oddish para o Centro Pokémon do outro lado do rio o mais rápido possível.

O pássaro assentiu com a cabeça e Dave se pegou pensando que seria ótimo se seu Pidgeotto evoluísse e pudesse fazer coisas como essa. Ele não se sentia completamente seguro subindo nas costas do Pokémon de outra pessoa, mesmo que essa outra pessoa fosse amiga, como Mary Jane, mas sendo seu próprio Pokémon ele acreditava que aproveitaria bastante as possibilidades. Agora, porém, não era a hora de se preocupar com isso. Ele tinha um Pokémon em precários estado de saúde nos braços. Não havia discussão. Ele teria de ir voando até o próximo centro Pokémon. Antes, porém, de montar no pássaro, ele passou perto de sua cabeça e fez apenas um único pedido.

- Voe o mais rápido que puder – disse – mas tente não ir muito alto – e subiu.

Ele nunca havia se sentido tão estranho e inseguro antes. Passara as pernas seguras por volta do grosso pescoço do Pokémon de Mary Jane, mas não conseguiu envolver-lhe de modo a se prender seguramente. Apoiou Oddish nas penas do pássaro enquanto tirava uma camisa reserva de sua mochila para envolver o Pokémon ferido sem lhe causar maiores danos nas queimaduras. Aproveitou para amarrar um pedaço do pano à sua mão, de modo a se assegurar de que Oddish não lhe fugiria ao controle em meio ao vôo. Em seguida, agarrou fortemente as penas do corpo de Pidgeot e assentiu com a cabeça para Mary Jane, que observava tudo com apreensão. Ao lado dela, o imenso grupo de outros Oddishes apresentava um misto de perturbação e preocupação ao ver seu amigo ser levado por um humano para algum lugar desconhecido. Jake arrumava a bagunça causada pela confusão para poder acompanhar Mary Jane e encontrar Dave em algumas horas, no Centro Pokémon.

- Voe Pidgeot! – ordenou a menina ruiva, e de repente Dave sentiu as grandes asas da criatura abaixo dele se abrirem em uma envergadura grande de mais para se acreditar. Ele bateu as asas em direção ao chão e os cabelos de Mary Jane esvoaçaram quando, com um forte tranco, o pássaro levantou vôo. Dave tentava não tremer enquanto se agarrava com todas as forças às penas do Pokémon pássaro com uma das mãos, enquanto mantinha Oddish firmemente apertado contra o seu corpo com a outra. A adrenalina corria por suas veias loucamente enquanto eles começaram a ganhar velocidade a poucos metros do chão, como Dave havia pedido inicialmente. Em segundos, Dave já podia sentir o vento frio da noite cortar-lhe o rosto enquanto ele se pressionava contra o corpo do Pidgeot. Eles estavam a menos de dez metros do chão, mas ainda assim a queda traia efeitos desastrosos e Dave temia levantar o corpo tendo apenas uma das mãos livres para se equilibrar. Mesmo com toda a situação preocupantes, o menino não podia negar que aquele momento era emocionante. Voar era um sentimento indescritível.

No que pareceu pouco mais de um minuto para o garoto de Grené, eles cruzaram o rio que cortava a estrada e Dave levantou levemente a cabeça, para olhar para as escuras águas logo abaixo, correndo com uma velocidade impressionante, mas, alguns segundos depois o rio ia ficando para trás e já era possível ver algumas luzes acesas em um pequeno edifício logo a frente. Pidgeot começou a perder altitude gradativamente, sem se deixar desacelerar, até que menos de cinco minutos depois de levantar vôo Dave se viu pousando no chão gramado ao lado do Centro Pokémon.

Com o cabelo bagunçado, Dave conseguiu com alguma dificuldade se recompor e se levantar. A urgência da situação contribuiu para que, lentamente, o garoto se soltasse do grande pássaro e saltasse para o chão. Seus músculos e articulações estavam duros e era impossível não tremer. Tocar o chão firme parecia irreal e a lenta velocidade dos passos era algo quase inimaginável minutos atrás. Dave ainda tinha os olhos arregalados e a respiração fortemente ofegante quando se aproximou da porta do edifício com Oddish no seu colo.

- Muito... Obrigado – disse ele, se virando para Pidgeot antes de entrar no prédio. O Pokémon era grande de mais para o salão e teria que esperar do lado de fora. – Espere ai ok?

- Pidge! – exclamou ele, assentindo a cabeça para o garoto.

Em seguida, já mais recuperado, Dave apressou-se a passar pelas portas e ir em direção ao balcão, onde uma enfermeira Joy arrumava cuidadosamente os papéis na mesa.

- Enfermeira, tenho uma emergência! – disse ele, colocando Oddish em cima do balcão com cuidado e desenrolando a sua camisa do corpo queimado do Pokémon, que continuava desacordado, apesar de ainda estar respirando.

A mulher de cabelos rosa deu um rápido olhar para o corpo queimado do Pokémon de planta e em seguida para o treinador antes de sacar rapidamente o telefone e pedir uma maca e pomada para queimaduras o mais rápido possível. Em seguida, séria, ela voltou a olhar para Dave.

- Como?

- Eu e meus amigos montamos acampamento perto de umas arvores e achamos que estávamos cercados de Ervas. Estávamos acendendo uma fogueira quando descobrimos que eram Oddishes enterrados. Foi um acidente...

- Entendo. Pode me dizer se foi algum Pokémon em especifico que causou as queimaduras?

- A Ponyta da minha amiga nos ajudou a acender a fogueira.

- Muito bem – disse a mulher de cabelos rosa. Ela voltou a examinar o Pokémon ferido e depois encarou novamente Dave. Dessa vez, porém era diferente. A mulher apresentava um interesse nas feições do menino que ele nunca vira em uma enfermeira e ele começou a se sentir incomodado, como se tivesse algo no rosto. Levou a mão instintivamente a bochecha assim que ela voltou a lhe falar.

- Você já esteve aqui antes? Acho que já vi o seu rosto em algum lugar...

- Eu não... – começou Dave, mas naquele momento uma porta ao lado do balcão se abriu e uma Chansey surgiu, empurrando uma pequena maca onde repousava um pote de plástico com um creme de coloração clara.

A enfermeira sacudiu a cabeça e tirou os olhos do rosto de Dave, voltando a focalizar na situação de Oddish. Ela levantou o Pokémon de planta pelo pano da camisa de Dave e transportou-o suavemente para a maca, antes de liberar a camisa do menino e devolve-la a ele. Em seguida, desapareceu por trás da porta, já aplicando a pomada pelo corpo do Pokémon erva, mas não sem antes pedir que Dave esperasse na sala de espera.

Dave não conseguia ficar parado, devido à imensa quantidade de adrenalina correndo em sua corrente sanguínea, portanto, apesar de tentar ficar na sala de esperas, a tarefa se mostrou impossível. Assim ele se encaminhou para o lado de fora, de modo a fazer companhia a Pidgeot. O pássaro parecia concentrado na noite e não se comunicava de maneira nenhuma com Dave, mas permitiu que o garoto acariciasse suas penas coloridas enquanto o tempo passava. O garoto por sua vez, começara a se acalmar lentamente, deixando que a preocupação com Oddish e outros assuntos tomassem conta de sua cabeça. Chegou até mesmo a se desculpar com Pidgeot por ter se segurado com tanta força em suas penas. Com certeza aquilo deveria ter incomodado, mas o Pokémon não demonstrou nenhum tipo de reclamação ou mágoa. No geral, ele parecia ter um bom coração. Dave chegou até mesmo a se preocupar com Mary Jane e Jake viajando no escuro da noite até lembrar que eles tinham Ponyta com eles, o que deveria facilitar a viagem. Ele não fazia idéia da hora em que chegara ao Centro, mas lhe parecera cerca de uma hora até que ele decidiu voltar para dentro do edifício para saber do Pokémon que tentava ajudar. Assim que atravessou a porta, ele viu a enfermeira Joy de volta ao balcão e correu em sua direção em busca de novas noticias.

- Ah, ai está você – disse ela ao avistar o garoto – estive te procurando. Não se preocupe com o Oddish, ele precisa repousar e pode ficar aqui por um tempo, mas logo estará novamente recuperado. As queimaduras foram bem fortes, mas como você o trouxe tão rapidamente, elas serão curadas sem muitos problemas.

Dave respirou aliviado, mas a enfermeira não parecia ter acabado.

- Você disse que foi a Ponyta da sua amiga que o queimou certo.

- Sim, isso mesmo. Ela está vindo para cá agora mesmo. Porque?

- Está? Ótimo. Por acaso o seu nome é David Hairo?

O garoto foi pego de surpresa pela pergunta. Era estranho não apenas o fato da mulher querer saber o seu nome, mas principalmente o fato de já sabê-lo. Ele tomou alguns segundos para responder, apenas confirmando com a cabeça.

- Que ótimo. O detetive acertou quando disse que você passaria por aqui. Vou chamá-lo imediatamente.

- Espere, detetive? – perguntou Dave, sem entender o que estava acontecendo.

- Sim, a polícia de Zaffre está procurando por vocês e seus amigos e me pediu que os avisassem se vocês passassem por aqui. Também me pediram para avisar-lhe que os espere aqui. Eles têm de falar com vocês.

O rapaz nem ao menos sabia para onde olhar enquanto a enfermeira pegava o telefone e discava, provavelmente para a polícia. O que eles poderiam querer com Dave era algo inimaginável e o fato de quererem que seus amigos estivessem junto era ainda mais estranho. Sem saber o que pensar, Dave apenas observou enquanto a mulher informava um detetive aparentemente chamado Henry que os meninos que ele procurava haviam acabado de chegar ao Centro e que provavelmente passariam a noite ali. Ela se manteve sorridente e o tom da rápida conversa foi leve e até descontraído, o que Dave interpretou como um bom sinal. O problema é que o fato de a polícia estar lhe procurando dificilmente poderia ser interpretado da mesma maneira.

- O detetive me pediu para avisar-lhe que estará aqui cedo pela manhã, e ordenou que o senhor o espere por ele. Me pediu também para acomodá-lo bem.

Dave ainda não havia assimilado a noticia propriamente quando Mary Jane, Jake e Eevee chegaram, cerca de duas horas depois. Várias idéias já haviam lhe passado pela cabeça, uma mais improvável do que a outra, sobre como agir perante aquela informação. Talvez fosse a Equipe Rocket disfarçada de policiais, em mais uma tentativa de recuperar o Eevee, mas era pouco provável que eles pedissem que os outros componentes do grupo estivessem juntos. Seria muito mais fácil lidar com Dave sozinho. Além disso, eles não esperariam até a manhã seguinte para atacar. Mary Jane argumentou que talvez o pedido fosse para que Dave passasse a noite no Centro, para que eles pudessem atacar de surpresa, mas ainda assim o pedido pela presença dos outros componentes do grupo não se encaixava.

Imaginou ter cometido algum delito ou desrespeitado alguma lei em Zaffre, mas não se lembrava de nada que pudesse causar uma investigação por parte de um detetive, ou que trouxesse os policiais até aquele ponto, longe da metrópole, apenas para interrogá-lo. Pensaram em fugir dali naquela mesma noite, mas, se fosse mesmo a Equipe Rocket, não conseguiriam ir muito longe antes de serem novamente interceptados e, caso fosse realmente a polícia, aquilo poderia causar uma série de novos problemas, até mesmo nas próximas cidades. Nem Mary Jane, nem Jake conseguiram pensar em alguma coisa, portanto, tudo o que decidiram fazer foi esperar.

- Dave – começou Jake, com um tremor na voz que indicava a incerteza que sentia em relação ao que iria falar – o que você acha de ligar para Cardo? Será que o Professor já está melhor?

Mary Jane olhou feio para o garoto mais novo, sabendo as verdadeiras intenções por trás dessa ligação aparentemente inocente e bem intencionada. Para ela os garotos deviam para de se preocupar com a menina que abandonou os amigos para seguir em um caminho imprudente e insano. Dave, entretanto, adorou a idéia, e ela preferiu não dizer nada. Discutir sobre esse assunto agora era garantia de derrota e causaria um stress desnecessário. Os três se encaminharam para a sala de telefones em passos grandes e acelerados e Dave até mesmo hesitou antes de tomar a cadeira em frente ao videofone, lembrando que aquele sempre fora o lugar de Mindy, que não estava apenas ligando para o laboratório, mas sim para casa. O telefone tocou quatro vezes e o menino já esperava que ninguém o atendesse quando a voz e a imagem de Susan Noah apareceram na tale a sua frente.

A imagem primeiramente chocou o rapaz, que conhecera a Dra. como uma mulher forte e decidida, assim como a filha. Na verdade ele sempre imaginara que quando Mindy ficasse mais velha ela se tornaria incrivelmente parecida com sua mãe. A mulher sempre se apresentou bem, com uma maquiagem bem feita e o cabelo arrumado, além da expressão de seriedade e do ar de confiança que ela passava. Até mesmo quando estava julgando o torneio ela cuidava bem da aparência. Hoje, entretanto, uma mulher diferente atendia a chamada do garoto, com olhos marcados pelo cansaço, sinal claro de que havia tido pouco tempo para dormir nos últimos dias, se é que tinha dormido em algum momento recentemente. Seu cabelo estava desarrumado, fora de lugar e as vestes de laboratório estavam sujas e gastas. A expressão do seu rosto demonstrava um cansaço profundo e o rapaz pensou ver no fundo de seus olhos caídos uma pontada de tristeza.

- Boa noite Dave, fico muito feliz em vê-lo bem. Estive esperando sua ligação. – cumprimentou ela coma voz cansada.

- Boa noite Doutora. Liguei para saber como estão as coisas. O Professor está bem? A Mindy me contou o que aconteceu...

- Ele está melhorando, devagar, mas está melhorando. Ainda não voltou a trabalhar – a mulher pontuava frases soltas enquanto corria o olho pela imagem do telefone, observando algo com muita curiosidade - Agora eu estou cuidando de todo o laboratório, mas o importante é que ele vai ficar bem. O que me preocupa agora são vocês, garotos. Onde está a Mindy, Dave?

O ar pareceu sumir no Centro Pokémon quando eles ouviram a pergunta de Susan. Dave arregalou os olhos e deixou o queixo cair enquanto seu coração disparava. Ele olhou para o lado e viu Jake em situação parecida, olhando estarrecido para a expressão preocupada da Dra. do outro lado da tela. Mary Jane absorveu a surpresa mais facilmente e se limitou a balançar a cabeça negativamente, olhando para o chão. Dave olhou para a amiga em busca de ajuda, mas ela nada podia fazer e apenas encolheu os ombros. Susan percebeu que alguma coisa estava errada.

- Dave, onde está a minha filha?! Por favor, me diga que nada aconteceu com ela!

- Desculpe Dra. mas ela disse que tinha conversado com a Sra. – o rapaz não sabia o que dizer – Nós achávamos que você sabia...

- Sabia o que Dave?! O que aconteceu com a minha filha?!

O rosto pálido e cansado da mulher de repente ficara vermelho. Os músculos de seu corpo se enrijeceram visivelmente e um leve tremor começou a percorrer seu corpo enquanto os olhos já vermelhos de cansaço se enchiam de lágrimas. Apesar disso, ela não chorou, esperando nervosamente a resposta de Dave.

- Ela partiu com o Rusty para Saffron Dra. Ela foi atrás da Equipe Rocket para saber mais sobre o pai dela.

Susan pareceu perder o ar e não mais se conteve, deixando algumas lágrimas solitárias escorrerem pelo seu rosto enquanto ela absorvia silenciosamente o que Dave tinha a dizer. Ao não obter uma resposta imediata da mulher, o menino de Grené começou a contar tudo o que Mindy havia lhe falado, desde a aparição de Rusty em Zaffre até a triste despedida da morena do grupo. Ele contou que seu primo parecia apoiar a decisão da garota e que ela disse ter contatado a família e convencido vocês de que isso era a melhor coisa a fazer. Susan ia perdendo novamente a cor à medida que o rapaz fazia seu relato, impedindo mais lágrimas de descerem e escutando tudo no mais profundo silêncio. Quando o menino terminou, passaram-se alguns segundos até que ela voltasse a falar.

- Ela foi atrás da Equipe Rocket? – perguntou, e Dave balançou positivamente a cabeça.

- E foi sozinha?

- Não, o Rusty está com ela – voltou a dizer Dave, mas a Dra. balançou a cabeça como se aquilo não fizesse grande diferença. Olhando para baixo, Dave pensou ouvi-la sussurrar algo como “minha culpa” antes de voltar a olhar-lhes diretamente nos olhos.

- Bom, tenho que continuar a trabalhar e a resolver os problemas do laboratório, mas existem algumas coisas que preciso falar com você Dave – o tom da mulher mudara repentinamente e ela agora falava como se nada do que acabara de acontecer existisse. O menino não sabia como reagir à mudança súbita e nada respondeu, o que a Dra. tomou como um sinal para que continuasse - A polícia de Zaffre me procurou querendo saber de vocês. Parece que eles precisam falar com vocês sobre alguns desaparecimentos que ocorreram em Zaffre. Eles já conseguiram encontrá-los?

- Sim. A Enfermeira Joy havia sido avisada que passaríamos por aqui e já convidou os policiais a virem. Amanhã de manhã eles vêm aqui. Eles procuraram a senhora?!

- Sim, procuraram. Não se preocupe com eles, provavelmente farão apenas perguntas. O detetive responsável é um homem bom, o mesmo que investigou e encontrou o papai.

- Isso quer dizer que eles estão investigando a Equipe Rocket?! – exclamou Jake, surpreso.

- Isso mesmo. Aparentemente Casper, o líder de ginásio de Zaffre, fora seqüestrado do mesmo jeito que o Professor Noah, e as suspeitas são de que a Equipe Rocket esteja por trás do desaparecimento. O estranho é que dessa vez a sua ajudante também está desaparecida. Acho que se chama Maya...

- Aya! – corrigiu Mary Jane – Ela também foi seqüestrada?

- É o que parece, mas não posso dar mais informações abertamente. Os policiais cuidarão disso. O importante é que vocês fiquem atentos. Não quero que os próximos a desaparecer sejam vocês.

- Tudo bem, ficaremos de olhos abertos – finalmente respondeu Dave, mas Susan balançou negativamente a cabeça.

- Não basta ficar de olhos abertos garoto! Estamos lidando com gente poderosa. Temos um sistema de segurança bastante moderno e ainda assim o Professor foi raptado. Um líder de ginásio parece ter seguido o mesmo caminho. Você precisa sumir Dave, ser difícil de encontrar. E precisa ter cuidado com quem sabe onde você está. – quando disse isso, a mulher olhou de relance para Mary Jane, que levantou as sobrancelhas surpresa – Ninguém vai te impedir de continuar viajando por ai, mas você precisa ter certeza de que quem está a sua volta é de confiança, e precisa tomar o máximo de cuidado, entendeu?

- Entendi – Disse Dave, assustado com o tom de alerta e susto na voz da mulher. Se o objetivo dela era assustá-lo, ela havia obtido sucesso.

- Ótimo, então tenho que ir. Cuide-se – e, sem mais, ela desligou o telefone.


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Notas finais do capítulo

E então, curtiram?

Vou tentar botar capítulos de 3 em 3 dias até o fim. Como a fic já está pronta, isso não deve se mostrar um problema.

Espero vocês nos comentários, galera!



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