Evolution: Parte 3 escrita por Hairo


Capítulo 11
Fugitivos


Notas iniciais do capítulo

E aí galera? Prontos para mais surpresas?

Esse é um capítulo que eu gosto pois revela algumas coisas que eu venho armando desde a parte 2 =)

Espero que gostem!
Boa leitura!



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Capítulo 11 – Fugitivos

Dave, Eevee e Growlithe caminhavam lentamente por entre a floresta em direção ao Centro Pokémon para onde Dave havia mandado Sandslash. Growlithe seguia animado à frente do grupo, abanando o rabo e sempre correndo a frente, apenas para voltar quando se afastava um pouco de mais. Dave temia que o cachorro Pokémon fosse sumir na próxima corrida, afinal Dave nunca chegara a capturá-lo, mas no fundo o menino sabia que tinha ali um novo amigo, e que mesmo que ele ainda não tivesse a sua Pokebola, tudo seria apenas uma questão de tempo.

De repente ele se viu lembrando-se de Mary Jane e de sua filosofia até então um pouco estranha para o garoto. Ela apenas levava consigo Pokemons com quem criasse algum tipo de relação de amizade e afinidade antes de capturá-los. Agora, vendo Growlithe em sua frente, Dave começava a entender porque a menina o fazia. Ele não gostava menos de nenhum de seus outros Pokemons, nem daria a Growlithe nenhum tipo de preferencia, mas a sua relação era, desde o inicio, diferente. Dave conquistara a confiança do Pokémon, não simplesmente vencera ele em uma batalha. Possuir essa conexão com o Pokémon antes mesmo de capturá-lo apenas faria com que fosse muito mais fácil entende-lo e até mesmo treiná-lo.

A luz do dia ia se amenizando à medida que o tempo passava e Dave começava a ficar preocupado. O grupo já estava caminhando há uma hora e ele esperava que logo estivessem alcançando o seu destino. Apesar de tudo, ele ainda estava muito preocupado. Não vira Jake desde que eles haviam se separado e tudo indicava que a Equipe Rocket havia machucado o menino. Ele estremecia apenas em lembrar-se da mancha de sangue do garoto que ele encontrara na busca.

Como se não bastasse, Dave percebeu que Eevee também estava mais cansado do que o normal. Tendo demonstrado tanta velocidade, técnica e poder na batalha contra os dois fortes Pokemons da Equipe Rocket, Dave não estava surpreso de vê-lo menos animado, caminhando lentamente ao seu lado, sem compartilhar muito de toda a agitação de Growlithe. Além de tudo, Dave ainda caminhava com a mão constantemente na barriga, sentido uma pontada de dor a cada passo que dava. Até mesmo respirar estava mais difícil desde que sofrera o impacto dos ataques combinados de Marowak e Dodrio. Ele sabia que tinha alguma coisa errada com ele e que ele precisava urgentemente de um médico, mas não ousava parar até reencontrar Jake e seus Pokemons.

Devido ao cansaço e as condições em que estavam, o trio caminhava com muito mais lentidão do que pretendiam e depois de cerca de duas horas ainda não haviam chegado ao ponto de encontro marcado. Já haviam deixado a mata fechada e encontrado a trilha que deveria leva-los até lá, mas Dave tinha que admitir que talvez tivesse errado na sua previsão de distância pelo mapa. Só espero que não tenha errado por muito pensava o garoto, caminhando com dificuldade e segurando a barriga.

O dia chegou ao fim, a lua se escondeu por trás de algumas nuvens e Growlithe parou ao lado de Dave e fungou o ar, como se procurando alguma coisa. Dave não deu atenção ao cachorro, que parecia achar algo novo para farejar a cada cinco minutos, mas em seguida ele partiu correndo para o lado esquerdo do menino, saindo da trilha e mergulhando mais uma vez na mata fechada.

– Ei! Onde você vai?

Eevee não seguiu o cachorro, mas levantou seus ouvidos e tentou se concentrar no que ouvia. Dave parou por um instante, agradecido por ter uma desculpa para respirar por alguns minutos e esperou pela volta do amigo. O Pokémon tomou alguns minutos para voltar e Dave voltava a temer se separar dele quando viu a pelagem laranja com listras pretas surgir do arbusto por onde desaparecera. O filhote Pokémon latiu e abanou o rabo e Dave lhe sorriu.

– O que foi? Achou alguma coisa interessante Growlithe?

– Growl! Growl! – latiu ele, olhando claramente para Eevee.

O Pokémon de Dave pareceu parar, pensativo, e então lhe respondeu, começando uma conversa agitada enquanto Dave olhava de um lado para o outro, tentando entender o que eles diziam. A pior parte de ser um treinador é quando seus Pokemons começam a conversar entre si e você não sabe o que fazer pensou o menino, frustrado por se ver de fora da discussão que os amigos travavam.

– Da para alguém me dizer o que está acontecendo? – disse Dave, depois de perder a paciência.

Eevee então olhou para seu treinador e pareceu pensar no que fazer a seguir. Aparentemente ele estava confuso, mas então fez um aceno com a cabeça e começou a andar novamente na direção para onde iam, dessa vez com um passo mais acelerado.

– Ei! Espera, por que está andando rápido? - disse Dave, ainda perdido, fazendo um esforço para acompanhar seu Pokémon.

Seu abdômen doía-lhe ainda mais, mas Eevee não se refreou nem voltou a explicar para o menino porque a súbita pressa para retomar a viagem. Apenas lhe respondeu positivamente quando ele disse que estava tudo bem e insistiu para que eles continuassem a caminhar a um ritmo elevado, lançando, de minuto a minuto, olhares furtivos para trás, como se a espera de um perseguidor pela noite.

E assim, com Growlithe na retaguarda e Eevee liderando o caminho, cerca de três horas depois de terem saído do acampamento da Equipe Rocket o trio avistou ao longe na estrada o pequeno prédio com um enorme letreiro com a letra “P” iluminada em vermelho. Dave estava um pouco assustado com a estranha mudança de atitude de seu Pokémon e se via também constantemente olhando para trás, mas não conteve o sorriso com a vista de seu destino e Eevee também ficou visivelmente mais relaxado e aliviado. Logo Dave veria Jake e seus Pokemons novamente. Logo eles estariam dentro da segurança de um Centro Pokémon.

Enquanto isso, não muito atrás deles, uma sombra se movia pela noite, pulando de galho em galho, seguindo passo a passo o caminho do grupo. Uma das sombras era humana, de cabelos compridos, presos em um único rabo de cavalo enquanto outra tinha uma forma pequena e praticamente esférica, com exceção para seus pés e suas antenas. Elas observaram de longe enquanto Dave, Growlithe e Eevee adentraram o Centro Pokémon. E então pararam, estáticas e imóveis na árvore em que estavam, apenas observando.

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Assim que passou pela de vidro do Centro Pokémon Dave viu seu Sandslash sentado no chão da área de espera. O Pokémon parecia concentrado, como se meditando, mas pulou de pé e correu na direção de seu treinador assim que o viu. Estava claramente sorrindo e aliviado em vê-lo.

– Slash! Slash!

– Sandslash, você está bem! – disse Dave, esquecendo-se da dor e agachando para um abraço firme no seu Pokémon. Um grande peso havia sido tirado das costas do menino naquele momento, mas outras coisas ainda lhe pesavam – Conseguiu pegar Jake? E Pidgeotto?

Para o grande alívio do rapaz, o Pokémon respondeu afirmativamente com cabeça e Dave se deixou cair sentado no chão com a notícia. Seu plano então havia dado certo. Tudo correra como ele esperava e, finalmente, tudo estava bem. O menino até mesmo se permitiu uma pontada de orgulho enquanto Eevee pulava feliz ao seu lado e Growlithe latia abanando o rabo, aproximando-se novamente e lambendo o rosto de Dave. Entretanto, foi a Sandslash que Dave se dirigiu.

– Você foi extraordinário Sandslash. Você nem imagina o quanto eu fiquei preocupado com você, mas sabia que você seria capaz de resolver tudo. Estou muito orgulhoso, de verdade – disse ele, dando mais um abraço no primeiro Pokémon que capturara em sua jornada. Ainda lembrava-se que havia se espetado na primeira vez que o abraçara depois da evolução, mas agora eles já estavam acostumados. Com a exceção de Eevee, nenhum outro Pokémon estivera tanto tempo com Dave e o menino sentiu-se realmente mal por se separar dele na situação em que se encontravam. Se alguma coisa tivesse dado errado, talvez o reencontro não fosse possível.

Quando a enfermeira Joy voltou ao salão de entrada em seu centro Pokémon, ela encontrou um menino sujo de lama e sangue, ralado e arranhado, visivelmente exausto, sentado no chão a meio caminho da entrada e da sala de espera, abraçado com Sandslash enquanto um Eevee e um Growlithe pulavam ao seu lado. A moça se aproximou sorrindo, apesar de tudo, e parou ao lado do rapaz, que ainda não havia percebido ela ali.

– Então você deve ser o Dave, treinador do Sandslash não é? – disse ela, ganhando a atenção do garoto.

– Sim, sou eu – disse Dave, finalmente percebendo na enfermeira e se levantando para cumprimentá-la. Quando o fez, uma pontada de dor lhe voltou ao abdômen, e ele levou uma das mãos instintivamente a barriga, deixando o incômodo transparecer pelo seu rosto – Como sabe meu nome?

– Ora, o Jake me falou – disse ela, pegando um Pokebola em seu balcão e estendendo ao menino – Imagino que esse Pidgeotto seja seu também...

– Sim! Muito obrigado! – disse o rapaz, finalmente recuperando seu Pokémon pássaro e fazendo uma nota mental para nunca mais emprestar o seu Pokémon a alguém, a não ser em casos de emergência – Quer dizer que o Jake esta bem?!

– De certo modo, pode-se dizer que poderia estar pior... – disse a enfermeira, fazendo com que o sorriso do menino esmorecesse.

– Como assim?

– Jake está bastante machucado Dave, mais do que o normal. Ele está acordado e consegue andar, apesar de com alguma dificuldade, mas ele sofreu bastante. Ele não quis me falar o que aconteceu...

Dave sentiu um forte aperto no coração ouvindo o relato da moça e tentou se controlar. Então a Equipe Rocket realmente o machucou... Eles nunca tinham feito isso antes... pensou o garoto, lembrando-se de todas as outras vezes que um de seus amigos fora raptado por Jack e Jody. O fato de Eevee já ter vigado Jake há algumas horas pouco fez para amenizar a raiva e a culpa que ele sentia.

– Você pode ajuda-lo? – perguntou Dave, esperançoso. A moça, entretanto, não estava lhe sorrindo.

– Sinto muito Dave, mas não posso. Sou uma enfermeira Pokémon, não de humanos. Fiz o que pude por ele. Dei-lhe gelo, remendei seus machucados e utilizei todos os recursos que pude aqui para lhe amenizar a dor, mas apenas em um hospital ele receberá o tratamento que precisa...

– Um hospital? – perguntou o menino, desamparado. Ele nem mesmo sabia onde o hospital mais próximo ficava. Enquanto pensava, mais uma pontada de dor no abdômen o surpreendeu, fazendo com que ele franzisse o rosto mais uma vez, o que não passou despercebido pela enfermeira.

– Sim, Dave, um hospital para humanos. Ele está acordado, é capaz e falar, ver e agir normalmente, mas os hematomas indicam que sofreu algo muito grave. Ele precisa de atenção médica profissional, e logo. E pelo que estou vendo, você também precisa Dave.

– Eu? Não é nada, pode deixar – disse ele, tentando despistar a mulher.

– Você me manda um amigo no estado em que Jake estava, carregado por um de seus Pokemons, depois aparece na minha porta horas depois com outros dois Pokemons, sujo, enlameado, ralado, visivelmente exausto e com dores no corpo, e espera que eu acredite que você não tem nada? Vamos Dave, levante sua camisa e me deixe dar uma olhada em você.

O menino franziu a testa e relutou por um momento, mas sabia que a mulher de cabelos rosa tinha razão. No fim das contas, não faria grande diferença que ela desse uma olhada em seus machucados. Ele então levantou a camisa até o peitoral, deixando o abdômen e parte da caixa torácica a vista. Até então ele mesmo não tinha olhado as duas manchas roxas que ocupavam a maior parte de seu corpo.

– Muito bem, isso é o que você chama de nada? – perguntou ela, em tom de deboche – Venha comigo Dave, eu vou enfaixar isso ai e vamos colocar um pouco de gelo. Depois, quando chegarem a um hospital, você e Jake devem fazer exames para fraturas e outras lesões mais graves. Por hoje, o melhor a fazer é descansar.

– Mas eu preciso ver o Jake...

– O Jake está dormindo agora – disse ela – ele estava terrivelmente cansado e sem energias. Coloquei-o em um quarto com duas camas de chão, sem beliches, esperando que você fosse aparecer. Colocarei você lá mais tarde, mas só depois de tomarmos conta de seus hematomas.

Dave não podia dizer que estava feliz, mas sentiu-se estranho em ter alguém cuidado dele daquela maneira. Desde que saíra de casa, nunca alguém havia lhe tratado com tanto cuidado e atenção, e logo ele percebeu que talvez pudesse vir a gostar dessa enfermeira Joy mais do que da grande maioria que encontrara em sua viagem. Como as pessoas podem ser tão parecidas e tão diferentes? Pensou ele, enquanto se encaminhava para a sala de primeiros socorros com ela, seguidos de perto por Eevee, Growlithe e Sandslash.

– Depois de você, eu posso dar uma olhada em seus Pokemons, se quiser – disse ela, sorrindo-lhe. Ele agradeceu a oferta e voltou a encarar seus amigos que o seguiam, pensando no que ele seria sem a ajuda deles. Foi então que percebeu o olhar nervoso de Eevee e lembrou-se de um detalhe.

– Pensando bem – disse ele – Não precisa gastar tempo com o Eevee. Ele está bem e vai dormir comigo hoje. Cuide apenas dos outros, por favor.

– Mas Dave, seu Eevee está claramente cansado – disse ela, mais uma vez – Não posso deixar de dar uma olhada nele...

– Desculpe enfermeira, mas eu vou ter que insistir – disse Dave, um pouco mais sério. Odiava ter que ser mais incisivo com uma moça tão gentil e carinhosa. Ele sabia que ela não pretendia nada de mau, mas não podia deixar que ela examinasse Eevee. Por mais curioso que estivesse, sabia que o Pokémon nunca consentiria, e ele aprendera há muito tempo a respeitar os seus desejos – Sou o treinador dele e digo que hoje ele vai dormir comigo. Tudo o que ele precisa é de um bom descanso.

A enfermeira então encarou Dave fundo nos olhos, tentando inutilmente adivinhar o que quer que o menino estivesse escondendo. Sabia que muita coisa estava errada ali, mas nada mais podia fazer se não respeitar a decisão do menino. Concordou então, um pouco a contragosto, e se concentrou em cuidar dos machucados de Dave.

Primeiramente, ela lhe indicou um banheiro onde ele poderia tomar um mais do que necessário banho, pelo qual ele agradeceu profundamente. Em seguida, sentou o rapaz em uma cadeira em uma de suas salas de consulta, pediu que ele despisse a camisa e pressionou dois pacotes de gel congelado contra seus hematomas. Dave estremeceu com o gelado toque do gel, mas ela o convenceu a segurá-los ali firmemente. Talvez fosse tarde de mais para que um tratamento com gelo fizesse efeito, mas era a única coisa que ela poderia tentar. Em seguida, ela pegou um grande rolo de gaze e fita adesiva, prendendo os pacotes congelados contra o abdômen do menino e o envolvendo por inteiro.

– Você vai deixar isso ai enquanto janta. Antes de dormir, volte aqui que eu vou retirar os pacotes de gelo e enfaixar melhor, para garantir que você não movimente a toa uma área que muito provavelmente tem uma lesão mais séria.

Dave agradeceu a doce enfermeira e já ia se encaminhando para fora da sala, ansioso por rever Jake. Sabia que o menino estava dormindo, mas precisava ver com os próprios olhos o que quer que a equipe Rocket tivesse feito com seu amigo. Ele precisava ver o que o menino havia sofrido por sua causa.

– Dave, não está se esquecendo de alguma coisa? – disse a enfermeira quando ele alcançou a porta. O menino olhou para trás confuso, sem entender, até que ela lhe explicou, sorrindo – Suas Pokebolas, lembra-se? Prometi cuidar de seus Pokemons...

– Ah! Sim! – disse o menino, pegando as três que estavam presas ao seu cinto e entregando nas mãos de Joy – aqui estão Poliwag, Oddish e Pidgeotto.

– Eu vou precisar da de Sandslash e da do Growlithe também, ou você não vai querer que eu de uma olhada neles também?

– Sim! Claro... – disse o menino sacando a Pokebola de Sandslash e procurando, por um segundo, a de Growlithe. Ele se permitiu um pequeno sorriso quando percebeu o que fazia e entregou uma única Pokebola à enfermeira, que o olhou confusa antes dele explicar – Sabe o que é? O Growlithe não tem exatamente uma Pokebola – disse o menino, coçando a cabeça – Eu não o capturei propriamente. A gente só ficou amigo...

Rindo, a mulher chamou o pequeno Pokémon cachorro para perto e se dirigiu amigavelmente ao garoto a sua frente – Então você tem sorte rapaz. Todo mundo sabe que os Growlithes são Pokemons extremamente leais aos seus treinadores, mas o que nem todos percebem é que eles são inseparáveis dos seus verdadeiros amigos...

E então ela saiu por uma segunda porta, para as instalações internas do Centro Pokémon, levando todos os Pokemons de Dave consigo, menos Eevee. Dave sorriu e voltou a se encaminhar finalmente para seu quarto, com o frio toque dos pacotes de gelo praticamente queimando sua pele por baixo da gaze e da camisa. De acordo com a enfermeira, Jake estava dormindo no quarto de número três, uma das poucas acomodações do singelo Centro.

Dave não demorou a encontrar seu caminho pelo lugar, pequeno como era, e logo encontrou o corredor dos quartos. Seu coração batia forte enquanto ele dava os poucos passos para cobrir a distancia dos dois primeiros quartos, chegando em frente à porta do seu e também do de Jake. Ele parou encarando porta de madeira e admirou o pequeno número indicativo do quarto, tentando inutilmente olha no sentido inverso do olho mágico da porta, enquanto brincava com a chave que recebera da enfermeira nas mãos. Agora que estava ali, sentia-se muito nervoso com a perspectiva de entrar.

Foi Eevee que fez um sinal com a cabeça e finalmente deu ao menino a coragem que ele precisava. Com um longo suspiro, ele colocou a chave na fechadura, girou, ouviu o pino destrancando a porta e então girou a maçaneta, dando o primeiro passo para dentro do quarto escuro.

Jake estava deitado na cama à esquerda e uma fraca luz brilhava em um lampião à gás que estava postado ao lado de um aparelho de telefone, no centro da pequena mesa de madeira que dividia as camas. A cortina fechada protegia o quarto da maior parte da luz da noite que tentava, insistentemente, entrar. A cama a direita estava vazia e foi lá que Dave se sentou com as pernas tremendo levemente, e levou as mãos à boca, surpreso e triste com o estado do menino. Ele tinha um olho bastante inchado, fechado pelo hematoma, e Dave podia ver diversos outros curativos pelos braços e pernas do garoto. Tinha uma faixa enrolada na cabeça e, mesmo com a fraca luz trepidante do lampião, Dave foi capaz de ver alguns dos hematomas roxos e vermelhos que cobriam o corpo do menino.

O que eles fizeram com você?! Pensou Dave, aterrorizado pelo estado do rapaz. Eevee subiu à mesa e observou o garoto mais de perto, claramente triste, mas com algo a mais em sua expressão que Dave pensou ser uma mistura de culpa e raiva. A proximidade com a luz fazia com que a longa sombra do pequeno Pokémon se projetasse sobre o rapaz que, apesar de tudo, dormia profundamente. Eevee deixou escapar um baixo lamento agudo e Dave pensou ter visto uma lágrima lhe escapar dos olhos, mas foi distraído quando Jake se mexeu.

– Eevee? Dave? – disse o garoto, abrindo muito levemente seu olho bom e olhando para o amigo sentado do outro lado da cama, ainda com as duas mãos a boca, sem reação. Ele ameaçou levantar, mas Dave levantou-se primeiro.

– Não, não levante. Está tudo bem – disse o garoto, sentando-se na cama do amigo, ao seu lado – Está tudo bem agora. Você vai ficar bem...

– Onde você estava Dave? – disse Jake, aparentemente grogue de sono. Provavelmente sob o efeito de um dos calmantes e amenizadores de dor que a enfermeira lhe dera – Porque demorou tanto?

– Me desculpe Jake... – disse o garoto, ainda em choque com o estado do rapaz – Me desculpe de verdade. Foi aquele remédio... – Dave calou-se por um momento, engasgando com as palavras e meio que torcendo para que o amigo se dedicasse a um discurso sobre como aquilo ajudaria a analisar os efeitos de um remédio Pokémon em humanos, mas ele sabia que o rapaz não seria capaz disso naquele momento. Nunca pensou que fosse querer tanto ouvir um dos longos discursos do rapaz – Isso não importa agora. O que importa é que você está bem. Eu consegui te salvar.

– É, eu acho que sim – disse Jake, esboçando um leve sorriso.

– O que eles fizeram com você Jake? O que eles queriam?

– O de sempre Dave... Eles queriam o Eevee... – disse Jake, e nessa hora Eevee pulou para seu lado também e Jake o encarou por alguns segundos antes de continuar – Mas eu não disse nada Dave. Não disse nada... – mentiu ele. E então deixou a cabeça girar para o lado e voltou a fechar o olho.

Dave ficou ali por cerca de uma hora antes de conseguir deixar o quarto para comer alguma coisa. Nunca uma imagem o tinha feito sentir tanta culpa ou remorso quanto a figura de seu amigo deitado naquela cama, completamente enfaixado e machucado, tentando lhe proteger. Sentia que Eevee também estava profundamente abalado e queria poder reconfortá-lo e dizer que aquilo não era culpa sua, mas não conseguia. A verdade era que ele também se sentia culpado, e nunca iria se perdoar por ter deixado que alguém machucasse um de seus amigos para tentar chegar a ele.

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Dave achou que fosse ter dificuldades para dormir naquela noite e temia horrendos pesadelos, mas se surpreendeu quando finalmente deitou-se depois de trocar os curativos. Nem mesmo as ataduras apertadas que limitavam o movimento de seu corpo foram suficientes para manter o menino acordado mais do que cinco minutos depois que deitara na cama. A última coisa que ele lembrou ter visto fora Eevee, sentado em cima da mesa e olhando para o lado de fora pela fresta que ele mesmo abrira na cortina, como se em guarda.

Dave imaginou que seu Pokémon dormiria logo depois, para descansar do dia agitado que tivera. Ele vira como a batalha com a Equipe Rocket havia deixado a pequena raposa cansada. Apesar disso, depois que chegaram ao Centro Pokémon os sinais de cansaço haviam sumido. Dave pensou que ele tivesse recuperado um pouco do fôlego na sua caminhada a passos lentos até lá, mas tinha certeza de que o Pokémon desabaria em um sono profundo assim que tivesse uma chance. Entretanto, o menino não conseguiu disfarçar sua surpresa quando abriu os olhos e viu seu Pokémon postado exatamente no mesmo lugar, sentado na mesma posição, como se imóvel desde a noite anterior. A luz do sol já iluminava o quarto e o lampião havia se apagado, mas Eevee seguia vigiando a floresta ao lado de fora. Dave sentou-se na cama e o pequeno Pokémon olhou para ele com um pequeno sorriso. Jake ainda estava dormindo em sua cama.

– Eevee, você por acaso dormiu sentado ai? – disse Dave, coçando os olhos com sono. A bandagem em sua barriga continuava a lhe apertar e ele sentia um incomodo extremo com uma coceira próxima ao umbigo. Tentou coçar por cima do curativo e decepcionou-se ao perceber que isso em nada lhe aliviava.

Eevee sorriu para seu treinador e finalmente abandonou a mesa, pulando da mesa para seu colo e lhe lambendo o rosto, mas Dave continuava preocupado com seu Pokémon.

– Você deve estar exausto... – disse ele, levantando-se e abrindo um pouco mais a cortina para espiar do lado de fora. A floresta parecia mais normal do que nunca, com uma leve brisa balançando algumas folhas, a grama brilhante em volta do centro Pokémon, bem cuidada pela enfermeira e sua Chancey e um Pidgey solitário ciscando próximo à estrada. Nada que pudesse explicar a vigília de seu amigo.

Eevee bocejou, mas não deu nenhum outro indicio de estar com sono ou minimamente cansado e Dave decidiu que ele mesmo já tinha muito com o que se preocupar. Perguntou Eevee se ele estava bem e quando o Pokémon balançou a cabeça positivamente, ele resolveu que acreditaria em sua palavra. Se existia alguém em que Dave tinha certeza que poderia confiar, era em seu primeiro Pokémon.

Dave se espreguiçou e se arrependeu em seguida, sentindo seu abdômen reclamar agudamente. Voltou a se encolher e trocou de roupa, tirando seu pijama e vestindo uma camisa limpa e sua jaqueta verde. Estava pegando sua escova de dente quando decidiu que antes disso tomaria seu café da manhã. Estava faminto e não pretendia esperar que Jake acordasse. Não sabia nem ao menos se ele iria acordar em breve, e estava decidido a deixá-lo descansar o quanto precisasse.

Chamou Eevee, que pulou imediatamente em seu colo, e abriu a porta do quarto, se encaminhando pelo corredor. Deu novamente os poucos passos que tanto haviam lhe custado na noite anterior e congelou por um segundo assim que saiu do corredor dos quartos. Ali, poucos metros a sua frente, sentada na mesma mesa em que o rapaz jantara na noite anterior, estava uma mulher vestida com um kimono vermelho e usando seus cabelos verdes presos em um longo rabo de cavalo.

Dave, recuperando os movimentos, se jogou contra a parede do corredor e se escondeu, respirando pesadamente e tentando se recompor do susto. Eevee também arregalou os olhos e perdeu o ar, saltando para o chão, mas ficando atrás de Dave, ainda mais escondido do raio de visão da jovem mulher. É a Aya! A Aya está aqui! Pensou ele, em desespero. Por um segundo, aquele foi o único pensamento que ecoou em sua mente e então a adrenalina do susto surtiu efeito e o menino percebeu que não poderia ficar parado. Com passos rápidos, tentando não fazer barulho de mais, ele se encaminhou de volta ao seu quarto e trancou a porta por trás de si. Pronto, o primeiro passo já foi. Pensou ele, tomando alguns segundos para respirar e arrumar seus pensamentos. Olhou então para Eevee, desconfiado.

– Era por isso que você estava agindo estranho ontem não era? Por isso que você ficou na janela? – perguntou o menino, mais em tom de acusação. Eevee apenas afirmou com a cabeça – Porque você não disse nada?!

O Pokémon saltou para a cama vazia e andou de uma ponta a outra, não se dando ao trabalho de responder ao treinador. Seria complicado de mais fazê-lo entender e eles não tinham muito tempo. Dave o acompanhou esperando a resposta que não veio, e decidiu também não continuar no assunto. Aquilo não levaria a lugar nenhum. Eles tinham um sério problema nas mãos e precisavam decidir o que fazer a seguir. Jake estava machucado e ainda dormindo e Aya estava a poucos metros, no salão do Centro Pokémon. Todas as informações que tinham apontavam para o fato de que ela era uma agente rocket e que estava atrás de Eevee, e ele havia acabado de escapar do ultimo ataque da organização. Além disso, ela não é o Jack nem a Jody. Eu não a conheço e não sei do que é capaz pensou o menino, lembrando-se de Peter, o ultimo agente rocket que encontrara além da dupla que o perseguia. Ele ainda era novato, mas lembrava de ter tido mais problemas do que jamais tivera com os outros dois.

Uma grande parte do garoto ainda tentava se convencer a enfrentar o inimigo de frente e lutar. Ela era apenas uma e Dave tinha consigo seis Pokemons prontos a defendê-lo, mas ele tinha que considerar que também não sabia com quantos Pokemons sua adversaria contava e, na verdade, nem ao menos sabia se ela estava de fato sozinha. Olhando para Jake ainda adormecido e machucado, ele concluiu que enfrentá-la assim poderia terminar em outro evento catastrófico, e ele não estava disposto a arriscar.

Decidiu então coletar o máximo de informações que pode. Correu para a mesa do quarto e pegou o telefone, discando rapidamente para a recepção e rezando para que eles naquele Centro tão pequeno eles não fossem capazes de identificar automaticamente de que quarto as chamadas estavam vindo. O numero chamou duas vezes até a voz da enfermeira atender em um singelo “Recepção, em que posso ajuda-lo?”.

– Não diga o meu nome por nada em voz alta! Finja que está falando com outra pessoa, por favor! – disse Dave, muito rápido, torcendo para que a enfermeira lhe ajudasse. Ela tomou um segundo, aparentemente assustada com o tom da ligação, mas então voltou a falar.

– Tudo bem, quem fala? – disse a enfermeira, com um tom desconfiado.

– Enfermeira, aqui é o Dave. Por favor, não diga nada. Essa moça no refeitório pode estar atrás de mim...

– Entendo, claro... – disse a enfermeira, surpreendentemente cooperativa. Dave nunca gostara tanto de uma enfermeira Joy – Mas ainda não me disse em que posso ajudá-lo.

– Me responde uma coisa. Ela perguntou sobre mim ou deu alguma descrição?

– Não, nada. Tudo está muito bem – disse a enfermeira, tentando soar o mais normal possível.

– Ótimo! – disse Dave, respirando mais uma vez e tomando uma decisão – enfermeira, eu preciso que você traga os nossos Pokemons para o quarto discretamente. Vou sair pela janela. Você consegue fazer isso? – disse Dave, esperançoso.

– Claro, sem problemas. Tudo estará pronto em alguns instantes. – disse ela, desligando finalmente a ligação.

Ainda um pouco abalado com a séria de acontecimentos inesperados, ele seguiu para acordar Jake. Era a ultima coisa que queria fazer, pois sabia que o menino precisava de descanso, mas não tinha outra opção. Eu fugiria sozinho, mas eles apenas iriam te capturar de novo pensou olhando para o amigo. Chamou o nome do garoto e o cutucou no ombro, torcendo para que não houvesse um hematoma escondido por baixo da camisa. O menino logo em seguida abriu levemente o único olho que estava bom. A noite tinha surtido um bom efeito no outro, diminuindo em parte o inchaço, mas o olho em si continuava fechado.

– O que houve? – perguntou o menino sonolento, ainda deitado.

– Aya. O que houve foi a Aya... – disse Dave, deixando que o nome pairasse no ar. Jake congelou por um instante, arregalou os olhos e deixou o queixo cair, abrindo a boca sem falar nada.

– A Aya? Ela achou a gente? – perguntou ele, finalmente, com medo secreto de ser ele o procurado pela menina que trabalhava para a Equipe Rocket.

– Ela está aqui, no Centro Pokémon – começou Dave, antes de ser interrompido pela exclamação de Jake.

– O que?!

– Isso mesmo Jake, mas fale baixo. Já falei com a enfermeira e ela me confirmou que Aya ainda não perguntou sobre nós. Ela vai trazer discretamente os nossos Pokemons aqui e nós vamos fugir pela janela. Com um toque de sorte isso tudo foi só uma coincidência e nós estaremos longe dela logo.

Jake parecia estarrecido por um momento e depois o medo tomou conta de sua expressão. A Aya não é a Jody pensou o menino, se vendo novamente em desespero, será que ela está atrás de mim como o Jack? Jody não deve ter tido tempo de informar que estava tudo bem... concluiu ele, em pânico. Dave percebeu o terror do amigo e tentou acalmá-lo.

– Vai ficar tudo bem. Estamos juntos agora, eu e você, e com os nossos Pokemons, nos pegar não vai ser tão fácil. Não vou deixar que levem o Eevee ou você de novo – disse o menino, decidido.

Em seguida, Dave ouviu três batidas ocas na porta e se levantou de um pulo. Olhou pelo olho mágico e viu os cabelos cor de rosa da enfermeira do lado de fora. Destrancou a porta e abriu, permitindo que a enfermeira entrasse a passos largos, visivelmente agitada com aquela confusão. Dave respirou aliviado quando viu suas quatro Pokebolas e as três Pokebolas de Jake nas mãos da mulher. Estava prestes a perguntar pelo seu mais novo Pokémon, mas a mulher fora mais rápida.

–Eu expliquei tudo para o Growlithe e vai encontrar vocês lá fora. Como ele não tem Pokebola, era a única maneira de sermos discretos – Dave sorriu com a inteligência da mulher – Tem certeza que é a Aya que está atrás de vocês? Não me diga que é ela a responsável por tudo isso...

– Sim, ela está atrás de nós desde Zaffre e eu tenho quase certeza que ela trabalha para as pessoas que fizeram isso com a gente – disse Dave decidido, enquanto uma percebia uma estranha duvida passar pelo rosto da enfermeira – Porque enfermeira?

A enfermeira Joy olhou para os lados como que perdida, tentando organizar os seus pensamentos. Dave acompanhou o rosto da mulher com grande apreensão e teve certeza de a ter ouvido falar por entre a respiração, como que um pensamento em voz alta: “Zaffre? Será que ela mudou tanto?”

– Porque enfermeira? – repetiu Dave, com um pouco mais de entusiasmo – Você a conhece?!

– Eu... – a mulher hesitou, e então olhou fundo nos olhos de Dave – Sim, conheço, mas não a vejo há algum tempo, desde que era mais nova. Mas se ela estiver mesmo atrás de vocês, não tenho tempo para ficar aqui te explicando. Se ela está aqui, ela provavelmente sabe que você está aqui também. Se nós conseguirmos enganá-la e faze-la acreditar nisso por tempo o suficiente, talvez você consiga fugir – o tom da mulher era definitivo e assustado enquanto ela corria e abria a janela com pressa – Corra Dave, mantenha-se fora da estrada e cuidado com seus rastros.

Dave hesitou, confuso de mais com o que estava acontecendo. Para ele não fazia sentido como aquela enfermeira poderia conhecer Aya. E pela reação de surpresa e espanto da mulher, ela não a conheceu enquanto agente da Equipe Rocket, mas antes. Aya era jovem e se já era uma agente, deveria ter sido recrutada ainda mais jovem. Isso significava que ela deveria ser uma criança quando a jovem enfermeira a conheceu. Mas, então, como ela sabe que ele tinha grandes motivos para temê-la? Quem é essa pessoa?!

– Vamos Dave, rápido! – disse Jake, já pulando da janela com alguma dificuldade devido aos seus machucados. O menino mais novo trouxe o amigo de volta à realidade e Dave percebeu que teria que pensar nisso mais tarde. Agora era hora de correr.

Jogou a mochila nas costas e agradeceu rapidamente a enfermeira, que apenas insistiu para que ele saísse com pressa, e então pulou a janela, caindo de pé na grama ainda molhada de orvalho pelo lado de fora. Eevee o seguia de perto, mantendo o ritmo do garoto e olhando constantemente para trás. Growlithe já deveria estar ali, mas Dave sabia que ele poderia encontrar o grupo com suas habilidades para farejar e decidiu não esperar perto de mais do centro Pokémon, mergulhando pelas árvores e logo perdendo o pequeno prédio de madeira de vista. Eu tenho que botar o Growlithe numa Pokebola logo pensou ele, preocupado com o amigo.

Dave e Jake se moviam com dificuldades. Era impossível para o menino mais novo correr e Dave descobriu uma faixa imobilizadora em seu tornozelo, escondida por baixo das meias e da borda da calça. De acordo com o aspirante a pesquisador, ele havia torcido o pé enquanto lutava para não ser capturado por Jack. Caminharam o mais rápido que puderam por cerca de vinte minutos, até que Dave decidiu parar para respirar.

O ritmo acelerado de seu coração acelerava ainda mais a sua respiração, que por sua vez fazia com que seu peito e seu tórax machucado reclamassem vibrantemente. Jake estava claramente em uma situação pior e se jogou sentado em uma das muitas árvores à volta. Dave então decidiu esperar por alguns minutos que Growlithe os alcançasse. Se eles saíram praticamente juntos do Centro Pokémon, o filhote Pokémon não deveria estar muito atrás deles.

E como o esperado, em poucos minutos Dave não conteve um grande sorriso quando ouviu o alto latido do Pokémon vindo da direção pela qual eles haviam corrido. Mesmo sabendo que o Pokémon não tardaria a encontra-los ali, seu coração temia pela segurança do seu mais novo amigo. Recentemente ele havia aprendido da maneira mais difícil que é um grande risco separa-se de seus Pokemons. Growlithe surgiu por entre as árvores pouco depois, correndo na direção do amigo agachado, pronto para recebê-lo de braços abertos.

– Que bom que você está bem amigão – disse Dave, sorrindo enquanto recebia as lambidas corriqueiras do cachorro.

– Ei! Quem é esse?! – perguntou Jake, confuso.

– Esse é o Growlithe! – disse Dave, percebendo que não havia mencionado o Pokémon para Jake – Growlithe, esse é Jake. Queria muito contar todas as historias para vocês e os apresentar melhor, mas acho que agora não é a hora de parar e fazer isso. Agora que todos estão aqui, temos que nos apressar – disse ele decidido.

– Eu não acho que correr é uma boa ideia – disse uma voz que Dave, Jake e Eevee sabiam conhecer. Growlithe mostrou os dentes e latiu desafiadoramente, Eevee se colocou em posição de ataque e Dave e Jake viraram-se enquanto um calafrio percorria as suas espinhas simultaneamente – Vocês não vão conseguir fugir de mim novamente – disse Aya, agachada por cima de um galho, a mais de três metros de altura, bem a frente deles.

A mulher usava os mesmos quimonos vermelhos de sempre com as bordas negras e uma malha trançada por baixo. Calçava sandálias de dedo feitas de algo parecido com palha, por cima de uma cumprida meia de cor vermelha que subia até praticamente o seu joelho. Seus antebraços estavam cobertos por um tipo de bracelete longo, feito de couro também vermelho e ela brincava com algo similar a um disco pontudo preto nas mãos, sorrindo confiante. Ao seu lado, um Venonat encarava os meninos abaixo.

Droga! Foi a única coisa que Dave conseguiu pensar instantaneamente. A mulher os havia encurralado e eles não tinham para onde correr.

– Como você encontrou a gente? – disparou Jake, tremendo ao seu lado. O terror de ser novamente torturado dominava todos os seus pensamentos.

– Ora, encontrei os seus rastros ontem pela manhã Dave. Um Rhyhorn corria agitado pela floresta, como se com medo de alguma coisa, e quando fui checar o que era, mal acreditei que você estava lá com seu Growlithe e o Eevee – Ela sorria de maneira displicente e se demorou perigosamente enquanto encarava Eevee - e apenas o segui desde então. Sabia que você estava no Centro Pokémon, por isso estranhei quando vi Growlithe saindo pela porta dos fundos, como um fugitivo. Diga-me Dave, do que está correndo tanto?

Ela pulou do galho em que estava para o chão, seguida por seu Pokémon, e Dave deu um passo para trás assustado. Entretanto, a mulher e Pokémon caíram em pé como se pulasse de três metros de altura há anos. Ela é perigosa pensou Dave, encarando-a não posso ficar aqui parado esperando. Tenho que fazer alguma coisa.

– Você sabe muito bem do que eu estou correndo. Growlithe use o lança-chamas naquele inseto! – ordenou Dave e seu Pokémon correu para frente, abriu a boca e cuspiu uma forte rajada de fogo na direção de Venonat.

Dave percebeu com satisfação enquanto a surpresa e o susto percorrerem o rosto de Aya assim que ela escutou o ataque, mas seus reflexos deveriam estar bem apurados, porque ela foi capaz de ordenar um movimento evasivo enquanto ela e Venonat pulavam cada um para um lado.

– Ei! O que você pensa que está fazendo? – disse ela, rolando e se levantando rapidamente.

– Continue Growlithe! Pegue ele!

Mais uma vez Venonat conseguiu se desviar do ataque do Pokémon de fogo e mais uma vez a surpresa ficou clara no rosto da mulher de kimono e cabelos verdes.

– Venonat, desvie e use o pó do sono! – ordenou Aya, e a pequena bola de pelos roxos se lançou para a esquerda, fazendo com que seu corpo vibrasse com força e lançando uma cortina de pó roxo, brilhando na direção do Pokémon de Dave.

– Growlithe, cuidado! Tente queimar o pó com suas chamas!

O Pokémon de Dave cuspiu mais uma rajada de labaredas, mas era impossível queimar toda a cortina de pó que Venonat lançara sem algo mais parecido com uma explosão, e logo ele fora coberto pelo pó e atingido pelo ataque da oponente. Growlithe relutou, mas em seguida fechou os olhos e caiu ao chão, em um sono induzido que Dave conhecia até bem de mais para seu próprio gosto. Droga! Pensou novamente, olhando instintivamente para Eevee.

– Eevee, use um ataque rápido! – ordenou o treinador, enquanto a pequena raposa já colocava em ação seu movimento. O ataque atingiu Venonat em cheio, lançando-o contra uma arvore e arrancando uma exclamação de susto de sua treinadora.

– Dave o que você pensa que está fazendo? – gritou ela, mas Eevee já se preparava para um segundo ataque – Venonat, suba na árvore.

Antes de ser atingido o pequeno Pokémon deu um incrível salto e pousou novamente no galho onde ele e sua treinadora se revelaram para o grupo de Dave. Ela olhou estarrecida para os meninos sem saber o que dizer e Dave hesitou por um momento. Porque ela não está atacando? Growlithe está paralisado e é um alvo fácil, mas ela continua apenas da defensiva...

– Eevee, salte atrás dele e use o cabeçada! – Dave não duvidou nem por um segundo que seu Pokémon fosse capaz de saltar tão alto quanto aquele Venonat, mas Aya pensou diferente.

– Venonat, pó do sono novamente!

Mais uma vez o Pokémon se balançou e lançou a sua cortina de pó na direção de Eevee, que surpreendentemente já havia saltado e estava a menos de um metro de alcança-lo. Eevee sentiu o contato com o pó roxo e relutou para fechar os olhos, mas foi finalmente compelido, passando por cima de Venonat, errando o ataque e caindo no chão adormecido com um forte baque surdo.

– Eevee, não! – exclamou Dave, saltando na direção de seu Pokémon adormecido no chão. A queda de toda aquela altura assustara seu treinador. Jake, por sua vez, estava prestes a sacar seu Vulpix quando, percebendo o movimento do menino, Aya se adiantou.

– Espera! Espera! – disse, quase gritando, com as mãos abertas e estendidas em frente ao corpo – o que vocês pensam que está acontecendo? Porque vocês estão me atacando?! Sou eu, Aya, assistente do Casper, líder do ginásio de Zaffre ,lembram?

– Claro que lembramos! – disse o menino mais novo, tentando controlar seu medo – Lembramos também que o Casper foi sequestrado e que você sumiu! Nós sabemos que você é da Equipe Rocket Aya! Estamos apenas nos defendendo!

Jake lançou então seu Pokémon e estava pronto para declarar um novo ataque quando a mulher gritou mais uma vez.

– Não! Ei! Espera! – a expressão de choque e susto ainda dominavam o seu rosto - Eu não sou da Equipe Rocket! Não estou atacando vocês! – disse, fazendo com que Dave, ainda no chão ao lado de Eevee, levantasse os olhos surpreso.

– Não tente enganar a gente Aya. Nós sabemos de tudo! A polícia já nos informou – disse Dave, com o coração disparado em seu peito – Não vou deixar que você leve o Eevee!

A mulher parecia sinceramente confusa e até mesmo ofendida com todas as acusações que os meninos lhe lançaram, mas respirou fundo e olhou profundamente para os dois, sacando sua Pokebola e recolhendo surpreendentemente seu Venonat de cima da árvore.

– Olha só, prestem bem atenção, pois eu não vou repetir – disse, claramente tentando controlar seu temperamento – Desde quando vocês viram um agente rocket sem um “R” escancarado na sua roupa?! E desde quando a policia sabe alguma coisa certa sobre a Equipe Rocket? Se eles soubessem, já teriam feito alguma coisa a respeito! – Seu tom de voz começava a aumentar novamente, mas mais uma vez ela respirou fundo, estendendo dois dedos da mão direita e fazendo um movimento com o braço em frente à seu rosto. Respirou fundo e então voltou a falar, mais serenamente – Eu sei que a Equipe Rocket está atrás de vocês. Eles provavelmente estão atrás de mim também. Mas eu quero ajudar vocês...

Dave e Jake encaravam a mulher sem saber o que fazer em seguida. Não ousavam atacá-la diretamente e ela havia recolhido seu Pokémon. Ela parecia estar sendo genuinamente sincera e eles queriam muito poder confiar nela, Mary Jane havia confiado uma vez e eles não tinham nenhum fato provado que a incriminava realmente, apenas suspeitas, mas ainda assim ela ainda não tinha sido convincente o suficiente. Eles ficaram calados, procurando uma resposta, e então ela decidiu continuar mais uma vez.

– Eu posso ajudar vocês, se vocês quiserem. Eu não moro muito longe daqui. Eu e meu irmão podemos proteger vocês e até mesmo cuidar das suas feridas – disse ela, apontando para os machucados de Dave e Jake – confiem em mim, por favor.

– Nós não vamos a lugar nenhum com você – disse Dave, desafiadoramente.

– Ora, mas nós estamos indo para o mesmo lugar, se não me engano – disse ela, sorrindo finalmente – Minha casa é o ginásio de Fuschia, e o meu irmão é o líder.

Naquele momento era difícil saber quem ficara mais surpreso, Dave e Jake com a revelação da mulher ou a própria Aya, quando viu Eevee acordando lentamente menos de cinco minutos depois de ter sido atingido diretamente com uma potente dose de pó do sono de seu Venonat.


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Notas finais do capítulo

E aí? O que acharam? Reconheceram a personagem? Ela já apareceu umas duas vezes no anime ;)

Tomara que tenham curtido.
Espero todo mundo nos comentários!



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