Evolution: Parte 3 escrita por Hairo


Capítulo 12
Refúgio


Notas iniciais do capítulo

Galera, esse capítulo é longo e pode ser um pouco mais lento do que os últimos, mas isso não significa que seja menos importante.

Espero que curtam a visita dos nossos amigos ao ginásio de Fuschia!

Boa leitura



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Capítulo 12 – Refúgio

Dave tirou a bandagem do abdômen pela ultima vez, ou pelo menos era isso que lhe dizia Aya. Por uma semana ele fora obrigado a trocar a bandagem três vezes ao dia, usando-a apertada, dificultando cada movimento que tentava fazer com seu corpo. Era incrível como até mesmo respirar se provara mais difícil com a bandagem e ele acabou por ter que evitar exercícios físicos mais pesados durante todo esse tempo. Ainda assim, Aya e seu irmão lhe permitiam treinar livremente seus Pokemons além de ir e vir livremente por toda a extensão do ginásio e suas acomodações.

Dave nunca vira um lugar tão amplo. Tinha certeza de que toda a área do ginásio superava e muito mil metros quadrados, não se atrevendo a tentar adivinhar o tamanho exato. Lá existiam diversas áreas gramadas, pequenos bosques com nascentes, riachos e pequenos lagos, além de um número surpreendente de pequenas casas e cômodos espalhados por toda a extensão da imensa área do ginásio. Percebeu que muitas pessoas vivam e trabalhavam ali, mas eles não haviam lhe falado uma única vez desde que chegara ali e mantinham-se praticamente invisíveis para o garoto.

Na casa principal, a maior construção do ginásio, abrigando a arena interna do local, além dos cômodos principais de Koga e sua irmã, Dave nunca vira um único empregado, e a menina havia lhe contado que ela e Koga eram responsáveis por tudo ali, desde a limpeza e organização até a comida e a higiene de modo que os dois garotos foram instruídos a também cuidar de certas tarefas mais simples, enquanto ela mesma se oferecia para fazer aquelas que julgava que eles não seriam capazes de fazer, devido ao seu estado de saúde e a sua recuperação.

Dave não conseguia imaginar o porquê daquilo tudo, mas ela disse que aquele ginásio não era um local para se explorar alguém, e sim para se aprender a viver em paz consigo mesmo. Uma vez chegou a usar a palavra templo, mas Koga logo a interrompeu, dizendo que aquilo não seria apropriado. Um templo é normalmente ligado a um Deus, uma religião ou um ser superior e ali eles não defendiam nenhuma daquelas ideias. “Este é apenas um lugar onde as pessoas aprendem a viver em paz e reconhecer que não existe ninguém acima de ninguém” dizia ele. Em seu primeiro dia, Dave lhe perguntou por que ele era líder de um ginásio, se ele não era superior a ninguém e ficou surpreso quando ouviu o homem lhe dizer calmamente:

– Não sou superior a você nem a ninguém porque sou líder desse ginásio rapaz. Sou apenas alguém escolhido para lhe oferecer um teste. Servir como uma barreira no seu caminho para que você possa ultrapassar. Todos os que chegam aqui tem o potencial, exatamente o mesmo potencial, para vencer e perder. Tudo depende de como cada um conduz a si mesmo.

Dave lutou por um tempo para entender tudo o que aquele homem tentava lhe falar, mas depois de uma semana, sua paciência já estava se esgotando e, apesar das insistentes afirmativas de Koga, ele começava a acreditar que a capacidade mental daquele homem era infinitamente superior a sua e, por isso, decidiu que não valia a pena travar intensos debates filosóficos internos sem nunca sair do lugar, uma vez que nunca conseguiria entende-lo.

Esticou os braços para cima e dobrou lentamente o corpo para frente, de olhos fechados, esperando o incomodo e a resistência causados pela dor, mas nada veio, e logo ele se viu quase alcançando os dedos dos pés com os dedos das mãos. Ficou maravilhado com o fato de que podia se movimentar livremente de novo e girou o torço, explorando todas as direções com um imenso sorriso no rosto. Eevee lhe retribuiu o sorriso sentado a sua frente.

– Estou ótimo! Muito obrigado Aya! – disse ele, enquanto a mulher lhe fazia um lento aceno com a cabeça em reconhecimento.

Dave não era o único que se beneficiava dos cuidados do ginásio. Jake estava surpreendentemente melhor e as únicas marcas que carregava era um pequeno inchaço no seu olho machucado. Todos os seus cortes e arranhões eram agora cicatrizes que, de acordo com o líder, deveriam curar-se sozinhos daqui para frente e em pouco tempo não estariam mais visíveis. Dave não podia acreditar na sorte que dera ao encontrar Aya e Koga e agradecia mentalmente todos os dias pelos momentos de calma e paz que eles lhe ofereciam, além de todo o cuidado.

Concordara em ficar ali até se recuperar de seus ferimentos e agora a hora de seguir viagem estava se aproximando, mas por algum motivo ele não desejava partir. A segurança e a paz que sentia ali eram sentimentos completamente novos para ele e ele duvidava que fosse conseguir reviver aquilo em qualquer outro lugar. Se eu pudesse, ficaria aqui para sempre concluiu ele, fixando seu olhar em Eevee.

O único que não parecia compartilhar daquele sentimento era exatamente ele. O pequeno Pokémon marrom não demonstrara qualquer tipo de inimizade para com Koga e Aya, principalmente depois de tudo que eles fizeram por ele e seus amigos, mas Dave sentia que o amigo não estava confortável ali, sempre sério, preocupado e olhando pelas costas. Não saia do lado de Dave por um momento sequer do dia, inclusive esperando o menino à porta do banheiro, e era difícil vê-lo brincando com Growlithe ou qualquer outro de seus amigos Pokemons como sempre fazia nas horas das refeições e intervalos entre treinamentos.

Se não fosse pela lembrança constante que o seu Pokémon representava de que eles não passavam de meros convidados naquele lugar, Dave poderia muito bem ter aceitado a hospitalidade de Koga por muito mais tempo, mas dentro de alguns dias esperava que Jake estivesse completamente recuperado, sem nenhuma marca, e então Dave desafiaria Koga e seguiria viagem na direção de Veridian. De acordo com o mapa, Fuschia ficava muito próximo do fim da cadeia de montanhas que praticamente dividia o continente de Kanto, e Veridian estaria do outro lado da cadeia, o que representaria uma das mais longas viagens que Dave fizera até aquele momento. Dave já havia perdido bastante tempo em Celadon e agora mais tempo em Fuschia de modo que os meses que lhe restavam para a liga Pokémon e as quatro insígnias seguintes que ainda lhe faltavam começavam a fazer uma sombra no conforto do rapaz em relação ao calendário.

Apesar de tudo, ele acreditava que caso não se permitisse passar períodos alongados de tempo no mesmo lugar como vinha fazendo recentemente, ele conseguiria todas as insígnias e, com sorte, ainda teria algum tempo para treinar exclusivamente para a Liga Pokémon.

– Dave, meu irmão pediu para que eu convidasse a você e ao Jake para almoçar conosco hoje, se vocês puderem. Ele disse que tinha algo para conversar com você – disse a moça, para surpresa de Dave. Tanto ele quanto Jake normalmente comiam no quarto que dividiam, apenas com seus Pokemons. Aya sempre trazia os pratos, mas ele nunca comera com a companhia de Koga.

Na verdade o líder do ginásio era bastante reservado e estava quase sempre ocupado de mais para dar atenção aos seus convidados e até Aya, por estar em treinamento com seu irmão e mestre desde que voltara para casa, também era bastante inacessível. Na viagem até ali a mulher lhe explicara que Casper e Koga eram amigos e companheiros há muito tempo atrás, e que Koga a havia enviado para treinar com Casper, mas agora ela estava retornando para casa pois Zaffre não era mais um local seguro. Desde que chegaram, entretanto, Dave havia descoberto muito pouco sobre ela e sobre seu irmão, e, agora que parava para pensar, tinha muitas perguntas a fazer.

– Claro, pode contar comigo. Irei falar com o Jake – disse ele, animado.

– Obrigada – disse a mulher, mais uma vez acenando em reconhecimento e levantando-se para sair da sala – Estaremos esperando vocês no salão principal em uma hora.

Dave concordou e saiu pela porta do lado oposto da sala. Os caminhos naquele lugar ainda lhe eram muito estranhos e confusos e o menino se viu perdido diversas vezes entre as falsas paredes, barreiras invisíveis e armadilhas no chão. Entretanto, depois de uma semana, ele acreditava que começava a conhecer pelo menos o caminho até o seu quarto e para as dependências que ele mais visitava, como os banheiros e um corredor externo que apresentava uma vista ao mesmo tempo aterrorizante e linda.

Dois dos lados da área do ginásio eram delimitados por um precipício muito alto, que dava vista para a floresta de Fuschia centenas de metro abaixo, por onde Dave havia chegado. Não muito distante dali estava a cidade, pacata, calma e pequena. O ginásio propriamente dito ficava cerca de quatrocentos metros acima do nível do mar, e lá de cima podia-se enxergar o horizonte como Dave nunca havia antes visto, com a exceção da vista das costas do Pidgeot de Mary Jane.

Esse é realmente um lugar espetacular pensava o menino pela centésima vez desde que chegara ali, quando entrava novamente em seu quarto. Jake estava sentado à mesa de madeira no canto do quarto, de costas para o menino que regressava, e parecia concentrado de mais em alguma coisa para perceber que o amigo havia chegado.

– Jake, o Koga disse que hoje quer almoçar conosco, dentro uma hora no salão principal. Estranho, não? – Perguntou Dave, agachando-se e deitando no colchão de penas estendido no chão do quarto. Aquela era a sua cama e ele não tinha do que reclamar – Jake, você me ouviu? – voltou a perguntar o garoto, depois de receber o silencio como resposta.

Jake pareceu então perceber a chegada de Jake e levantou-se para encarar o amigo, visivelmente assustado, mas com um leve inicio de sorriso a brincar na ponta de seus lábios. Os olhos estavam muito arregalados, mas brilhavam estranhamente enquanto ele segurava uma revista em suas mãos.

– O que houve Jake? Onde você conseguiu essa revista? – perguntou Dave, curioso.

– Você não vai acreditar Dave. Eu estava andando por ai e devo ter virado em um corredor errado. Me perdi novamente e comecei a rodar pelo ginásio a procura do nosso quarto, Dave. Foi então que eu a encontrei... – disse Dave, claramente maravilhado. Cada vez mais o sorriso tomava conta de seu rosto – Eu entrei numa porta para ver se era a nossa, você sabe como todas as portas aqui são iguais né? E acabou que não era. Era um quarto maior e todo mobiliado, com estantes lotadas de livros e mais livros. Parecia uma biblioteca Dave, uma enorme biblioteca! Sabe como eu sei que não era uma biblioteca? – perguntou o menino, não dando tempo para que seu amigo esboçasse uma resposta – Porque tinha uma cama lá. Uma cama mal arrumada. Era um quarto Dave! Um quarto! No começo eu achei que fosse o quarto de Koga, mas ele estava empoeirado de mais e eu duvido que o Koga não limpe seu próprio quarto, ou permita que Aya não o faça. Não, aquele quarto era de outra pessoa.

– De quem? – disse Dave, já sem paciência para o discurso interminável do garoto.

– Não sei, e não importa! – disse ele, finalmente deixando a felicidade tomar conta de si e praticamente pulando pelo quarto – O que importa foi o que eu encontrei na mesa de estudos Dave, aberta. Olha isso! Veja por você mesmo! Eu estou feliz de mais para falar...

Com isso, Jake jogou a revista no colo de Dave. A revista se abriu no ar e caiu bagunçada no colo do menino, obrigando-o a ajeitá-la com pressa e curiosidade. Quando finalmente conseguiu fechá-la não acreditou no que estava vendo. Não apenas aquela era a edição mais recente da Trainerdex, revista de Cardo editada pelo professor Noah, a grande figura da capa era uma foto de Mindy. A menina estava com seu Charmeleon ao lado e ela se mostrava diferente de todas as outras fotos que ele vira na revista anteriormente, tiradas antes dela sair em jornada. Não havia como enganá-lo. Aquela foto era definitivamente recente.

Como se tudo isso não fosse o suficiente, a menina estava envolta nada mais, nada menos, que um Dratini. No título da capa, em grandes letras garrafais, lia-se “Em busca de Lendas”. A capa não dizia nada mais sobre a menina, mas trazia alguns comentários menores a volta, como “Veja as novas conquistas e capturas de Rusty Noah” e “Um novo olhar sobre Mary Jane”. No rodapé da capa em uma estreita faixa preta com letras amarelas, lia-se “Continua a investigação sobre o desaparecimento de Dave Hairo”.

Desaparecimento? Mas eu liguei para o professor duas vezes desde que cheguei aqui! Pensou o garoto, até entender que aquela deveria ser a maneira que o Professor encontrara para continuar rodando a revista sem dar mais informações sobre Dave para a Equipe Rocket. Essa não era, entretanto, a notícia de mais impacto para o menino. Dave rapidamente começou a folhear a revista em busca da matéria sobre Mindy com o coração disparado, prestes a pular da boca, enquanto Jake saltitava ao seu lado dizendo coisas como “ela está bem!”, “ela está salva!”.

Dave encontrou uma reportagem de três paginas inteiras com uma grande foto de Mindy e começou a ler furiosamente, enquanto Eevee se postava ao seu lado, sorrindo abertamente pela primeira vez desde que havia chegado ao ginásio.

O garoto de Grené levou dez minutos para ler e reler toda a matéria e então se levantar e começar a caminhar rapidamente de uma ponta a outra do quarto, tentando organizar seus pensamentos e sentimentos. A notícia dizia que a treinadora de Cardo, que havia desaparecido por cerca de um mês, estava envolvida em uma série de eventos próximos a Saffron, mas não dava mais informações sobre o ocorrido. Focava no fato de que ela voltara recentemente a se reportar quando chegara finalmente à zona safari. Dizia que ela havia evoluído seu par de Nidorans durante a viagem em que conseguira a insígnia do pântano em Saffron antes de partir em busca do lendário Pokémon Dratini e que havia suspendido suas lutas por insígnias temporariamente para se concentrar em finalmente encontrar o Pokémon lendário. A matéria parecia incitar o leitor a acreditar no potencial da menina e dava praticamente a entender que seus parentes no laboratório de Cardo tinha lhe dado firmes razões para acreditar que ela seria a única que poderia encontra-lo.

Isso não faz sentido! Disse Dave para si mesmo, ainda sem acreditar no que lia. De onde isso surgiu? A Mindy nunca ia abandonar a busca pelo pai para ir atrás de um Pokémon lendário! Concluiu o garoto, ainda tonto com todas as novas informações.

– Tem alguma coisa errada nisso ai... – disse ele, esperando que fosse apenas um pensamento, mas deixando escapar pela boca.

– Como assim? Errada?! Porquê? – perguntou Jake, subitamente parando e encarando o amigo, incapaz de apagar o sorriso do rosto – Ela está bem, Dave! Largou essa ideia maluca de ir atrás da Equipe Rocket! O que pode ter de errado nisso?

– Exatamente isso, Jake. A Mindy que eu conheço não iria desistir de encontrar o pai da noite pro dia! Nós temos que ir até lá ver o que está acontecendo...

– Sim! Temos! – disse ele, voltando a pular de alegria – Temos que reencontrar ela Dave. E ela ainda está caçando um Dratini! Ela é sensacional... – suspirou o rapaz, perdido em seus próprios pensamentos.

Dave passou os minutos seguintes estudando meticulosamente a revista, focado principalmente na história de Mindy. Não encontrou nada na matéria principal que indicasse o que poderia estar acontecendo com Mindy, mas descobriu que depois do sequestro do Professor e de Casper, a revista havia reportado que ele também havia parado de se reportar perante o laboratório. Além disso, leu na revista que Mary Jane havia também conquistado a insígnia do pântano e que não havia adicionado nenhum outro Pokémon ao time. Rusty, por sua vez, havia feito três novas capturas na ultima semana, incrementando sua coleção atual para o impressionante numero de cinquenta e três.

Eu vou ter que verificar se a Mindy está mesmo na zona safari, o que significa que eu vou ter que sair daqui. Pensou ele, olhando finalmente à volta e se reprimindo levemente por ter de abandonar um lugar que fora tão bom para ele. E isso significa que eu terei que desafiar Koga imediatamente concluiu. E só então ele lembrou-se de que prometera encontrar Aya e Koga para o almoço. Olhou para o relógio e ainda lhe faltavam dois minutos para o horário marcado.

– Vamos Jake! Esqueci que temos que almoçar com o Koga! – disse Dave, pulando da cama e se dirigindo para a porta do quarto, seguido por Eevee.

– Ei, espera ai! Por que a pressa? – disse o menino, correndo para segui-lo de perto.

– Porque nós vamos comer, depois vamos lutar – disse Dave, olhando fixamente para frente, com seu coração disparado no peito – e depois vamos atrás da Mindy.

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Koga e Aya já estavam sentados sobre seus joelhos à mesa baixa onde o jantar já havia sido servido, quando Dave e Jake chegaram ao salão principal com alguns minutos de atraso. Os dois meninos pararam na entrada do cômodo, curvaram levemente seus troncos como em cumprimento aos anfitriões e sentaram-se do lado oposto da mesa, de frente para os dois irmãos. Eevee foi para o canto da sala, onde um pequeno recipiente redondo havia sido preenchido com o que parecia ser ração para Pokémon. Koga vestia seu quimono de cor azul escura e seus cabelos negros espetados destoavam de sua aparência séria e concentrada.

– Bem vindos – disse ele, simplesmente.

– Obrigado – repetiram os dois meninos juntos. Aprenderam naquela semana que as formalidades eram levadas muito a sério naquele ginásio – Pedimos desculpas pelo atraso.

Koga sorriu em reconhecimento do gesto do menino, aparentemente satisfeito com a pequena gentileza dos rapazes. Ele não teria mencionado o atraso, sabendo que seria insensível cobrar dos garotos toda a educação e cumprimento estrito das regras que levara a vida inteira para entender e aprender, mas Dave e Jake sabiam que o homem havia percebido o atraso, mesmo que curto, dos dois, e que isso o incomodava em algum nível. Como convidados em sua casa, o mínimo que podiam fazer era se desculpar.

– Não há de que, rapazes. Sintam-se livres para se servir – disse ele, tomando por si a iniciativa e colocando uma porção de arroz com ervas em seu prato. A refeição consistiria de arroz com ervas, salmão ao molho rose e pequenos pedaços de couve flor e brócolis.

– Senhor Koga, sua irmã nos disse que você tinha algo para conversar conosco. O que houve?

– Fique tranquilo e tenha paciência, Dave. Tudo a seu devido tempo. Primeiramente vamos comer e em seguida vamos conversar – disse Koga, terminando de se servir e estudando a impaciência de Dave antes de se focar em sua própria comida.

– Sim, claro – concordou o rapaz, a contragosto. Gostaria de tratar logo de tudo o que tinha a tratar com Koga para então poder desafiá-lo. Sua cabeça ainda trabalhava muito rápido depois das descobertas daquela manhã para que ele esperasse por muito mais tempo.

Eles comeram em silencio e Dave fora o primeiro a acabar, seguido de Jake e Eevee, que logo se juntou ao seu treinador na mesa. Os meninos tiveram que esperar e negar as ofertas de Koga e Aya para que comecem mais enquanto os dois irmãos se serviram mais duas vezes, antes de finalmente se darem por satisfeitos. Tinham tomado dois jarros de água inteiros durante a refeição, tudo na mais serena calma e tranquilidade, tomando o tempo que fosse preciso para mastigar perfeitamente cada garfada enquanto Dave se inquietava a frente deles. Os meninos já estavam praticamente arrancando os cabelos quando finalmente os irmãos se deram por satisfeitos.

– Espero que tenham aproveitado a comida – disse Koga, limpando a boca com um guardanapo de pano e voltando a encarar Dave com um sorriso.

– Estava ótima – disse Jake, forçando um sorriso, enquanto Dave agradecia com a cabeça.

– Senhor, agora que terminamos... – começou Dave antes que Koga o interrompe-se.

– Claro Dave, agora nós podemos conversar. Eu gostaria de, primeiramente, agradecer toda a confiança que você depositou em mim e em minha irmã nessa última semana – disse o líder, pegando Dave despreparado – Sabemos que você vem sendo perseguido recentemente e Aya viu quando você teve de resgatar o Jake da Equipe Rocket.

Dave sorriu e apenas acenou positivamente com a cabeça em agradecimento, sabendo que Koga ainda não havia acabado.

– Em segundo lugar, gostaria de lhe dar um aviso, meu rapaz. Não confie novamente em alguém como confiou em mim Dave – Mais uma vez Dave se viu despreparado para o que o líder lhe dizia – Você deu sorte por ser encontrado por um amigo, rapaz, mas não podemos contar sempre com a sorte. Se você está sendo perseguido rapaz, se é alvo de uma organização como a Equipe Rocket, deveria saber que todas as pessoas que conhecer durante a viagem podem ser agentes disfarçados.

– Mas, eu... – começou Dave, mas Koga o silenciou com um dedo e voltou a falar.

– Finalmente, tendo dito tudo isso, gostaria de lhe fazer uma pergunta, Dave. Gostaria de saber se você sabe precisamente o motivo pelo qual está sendo perseguido.

Dave respirou fundo e fitou intensamente Koga, fazendo forças para não denunciar com os olhos o segredo de seu Eevee. Confiava no líder, mas ele mesmo havia acabado de lhe avisar para não confiar tanto nas pessoas.

– Não, não sei – mentiu Dave, e Koga lhe sorriu, olhando dele para Eevee, que se encolheu, e então olhando para Dave novamente.

– Muito bem Dave. Vejo que aprende rápido, mas não presta tanta atenção assim. É bom que seja cauteloso, mas acabei de lhe dizer que sou amigo – disse o líder, com calma – Você sabe muito bem que um dos Pokemons que o acompanham é de grande valor para a maior organização criminosa de nosso continente. E eu sei que você sabe. O que realmente gostaria de saber de você é se você sabe o porquê que o seu Eevee é tão valioso para eles...

Dave respirou fundo, encarando seriamente o líder a sua frente enquanto tentava pensar se deveria mesmo confiar naquele homem. Como ele sabe que a Equipe Rocket está atrás do Eevee?

– Não sei – disse Dave, ainda incerto se deveria dizer mais.

– Não mesmo? – disse Koga, pela primeira vez estudando com mais cuidado o rosto do rapaz a procura de sinais de que ele estaria mentindo – Aya me diz que viu a sua ultima luta contra a Equipe Rocket e que Eevee deu uma demonstração bastante impressionante de poder e habilidade... – disse o homem.

– Sem contar na sua recuperação quase imediata depois de ter sido atingido pelo pó do sono do meu Venonat – completou Aya, ao lado do irmão.

Dave viu que não tinha saída, se não confessar a força e a capacidade de seu Pokémon. Não gostaria de revela-los a ninguém, principalmente a um adversário que ele pretendia enfrentar muito em breve, mas Aya havia presenciado a luta de Eevee contra Jack e Jody e o fato de que Eevee havia se recuperado do pó do sono com facilidade.

– Bem... – começou ele, procurando as palavras – ele é bem forte, e vive me surpreendendo nas batalhas. Talvez seja por isso... – disse ele, escolhendo não comentar sobre a desconfiança de que Eevee possuía a habilidade de trocar de peles. O professor Noah havia descartado aquela possibilidade, mas o rapaz não conseguia encontrar outra explicação plausível para as recuperações milagrosas de seu amigo.

– Sinto lhe informar que acho pouco provável que esse seja o verdadeiro motivo Dave – disse Koga, finalmente decidindo acreditar no rapaz – Acho pouco provável que a Equipe Rocket se envide de tantos esforços apenas para capturar um Pokémon poderoso. Alguns agentes menores talvez se dedicassem a isso, mas os escalões mais altos sabem que qualquer Pokémon pode ser poderoso, se bem treinado e desenvolvido...

– Agentes menores? Altos escalões? – disse Jake, claramente confuso.

– Ora Jake, claro que sim. A Equipe Rocket, assim como todas as grandes empresas e organizações, possuem escalões de poder. Os pequenos roubos e operações que atormentam a vida cotidiana dos treinadores e das cidades são normalmente causadas por agentes menores em busca de pequenas glórias. Mas existem escalões mais altos da organização, envolvidos em missões e projetos mais perigosos e complicados.

– E você acha que estamos sendo perseguidos por esses escalões mais altos? – disse Dave, apreensivo.

– Com toda certeza rapaz. Aya me contou sobre o ataque que sofreram, e eu soube de toda a confusão de que você e seu Eevee foram obrigados a escapar durante sua viagem. Não tenho duvidas de que você é um dos principais alvos dos mais altos escalões da Equipe Rocket. O que me intriga é porque todo esse interesse no seu pequeno Eevee, e como você continua livre em sua jornada, mesmo sendo um alvo de tanta prioridade – disse Koga, como que se pensando alto.

– Me desculpe, senhor – disse Jake, com um tom um pouco mais alterado – mas como você sabe disso tudo?

– Ora Jake, meu irmão é um líder muito mais informado do que a maioria. Você se surpreenderia com tudo o que ele sabe. Além disso, eu vi quando Casper foi sequestrado. Estava escondida no ginásio e vi quando um agente o levou, inconsciente. Tentei ajudar, mas cheguei tarde de mais... – disse Aya, tristonha.

– Acalme-se Aya, e fique quieta – ordenou Koga, duramente, passando por cima daquelas informações como se ela não tivesse dito nada – Como disse, há muito o que não sei Dave, mas essa não é a primeira vez que lido com a Equipe Rocket. Meu ginásio já serviu de refugio mais de uma vez as pessoas que fugiam deles, e todas as vezes fomos capazes de esconde-los e protege-los, enquanto eles estivessem sob o nosso teto.

– Então você já protegeu outras pessoas que eram perseguidas? – disse Dave, espantado com tudo aquilo que lhe falavam – Quem? Porque?

– Isso não vem ao caso rapaz – desconversou Koga – O objetivo real dessa conversa Dave, era oferecer-lhe o mesmo refugio. Quero lhe oferecer minha casa e minha proteção rapaz, até que possamos descobrir tudo o que está acontecendo.

Dave e Jake se surpreenderam com a oferta do líder do ginásio, mal podendo acreditar no que estavam ouvindo. Quer dizer que Koga, além de líder de ginásio, era capaz de manter a Equipe Rocket afastada de seu ginásio e proteger até mesmo os mais valiosos alvos da organização? Como ele podia fazer isso era um mistério que Dave adoraria descobrir, apenas se pudesse.

– Muito obrigado senhor, de verdade – disse Dave com um sorriso – mas eu não posso aceitar a sua oferta. Sou um treinador Pokémon e preciso seguir viagem. Não posso ficar parado em um lugar só até resolvermos isso. Tenho minhas insígnias a conseguir e pretendo participar da Liga Pokémon...

– Dave, tudo isso são objetivos secundários meu caro rapaz. Não pode dizer que priorizaria esses objetivos menores à segurança do seu Pokémon e de seus amigos. Você está se colocando em um grande risco.

Dave sentiu-se levemente ofendido com as palavras do líder, mas tinha que admitir que ele tinha razão. O problema era que não conhecia o líder bem o suficiente para arriscar desistir de seus sonhos para ficar sob a proteção dele. Além disso, precisava chegar a zona safari o mais rápido possível para reencontrar Mindy. E por que os meus sonhos tem que ser considerados objetivos secundários?!

– Desculpe senhor, mas realmente não posso fazer isso – disse Dave, tentando se manter educado – Sou-lhe muito grato por tudo o que fizeram por mim aqui. O senhor foi verdadeiramente bondoso e gentil, mas não pretendo desistir de meus sonhos ainda.

Koga parecia contrariado, encarando o menino com surpresa. Ele pensara que o rapaz iria aceitar sua proteção sem nenhum tipo de protesto, e não esperava ter de convencê-lo de que aquela era a melhor opção.

– Rapaz, você me decepcionou muito. Esperava uma decisão mais madura e responsável de você. Você, seus amigos e seu Pokémon estarão em grande risco fora desse ginásio, e você parece que não se importa com mais nada se não seus próprios objetivos de glória!

Agora Koga havia ido longe de mais, e Dave não pretendia deixar que ele lhe acusasse daquela maneira. Até mesmo Eevee pulou do colo do amigo e encarou duramente o homem mais velho, com um olhar cheio de desaprovação.

– Koga, eu já lhe disse que sou eternamente grato pela sua ajuda, mas não posso deixar que fale dessa maneira comigo. Estou em perigo desde que saí de casa, em Grené, e sempre soube disso. Cheguei até aqui não foi?! Pois pretendo ir muito mais longe. E por isso gostaria de desafiá-lo para uma luta pela insígnia da alma! – disse Dave, levantando-se e encarando o líder de ginásio fundo nos olhos.

– Mesmo que me vença, rapaz, você acabou de provar não é digno da insígnia da alma. Um treinador como você deveria ter vergonha de lutar por insígnias... – disse Koga, se levantando também e assustando até mesmo Aya. Dave, entretanto, havia aprendido naquela semana no ginásio que o líder era muito duro, principalmente consigo mesmo, quando a questão era o cumprimento das regras. Ele não era como Apis, que agiria daquele modo inconsequentemente. Koga era mais calculista e estrito e Dave sabia como convencê-lo a lutar

– Da ultima vez que chequei Koga, um líder era obrigado a aceitar todos os desafios – disse Dave, com um leve sorriso no rosto.

– Tudo bem rapaz, nós vamos lutar – disse Koga, finalmente – Mas você não vai me vencer, e depois da luta, ficará aqui para treinar até que consiga a vitória.

– Não precisarei de mais tempo – disse Dave, confiante – Você vai ver do que eu sou capaz...

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– Dave, não lute com meu irmão agora! – pedia Aya, caminhando ao lado do menino em direção a uma das arenas externas do ginásio. Koga havia escolhido lutar ao ar livre, e Dave gostava da ideia. Aya, entretanto, insistia que a luta não era uma boa escolha – Eu nunca vi meu irmão assim, Dave. Ele está irritado e determinado a te manter aqui em segurança...

– Não sei por que ele está determinado, Aya, mas não é a minha segurança que preocupa ele – disparou Dave, fazendo a menina arregalar os olhos.

– Mas é claro que é! – insistiu ela

– Aya, o seu irmão é um grande líder de ginásio e sempre me pareceu inteligente e sábio. Ele não se agiria dessa maneira apenas pela segurança de um menino e um Pokémon que ele não conhece direito. Acredite em mim, ele tem algum outro motivo para me querer preso aqui...

A mulher de cabelos verdes congelou no mesmo lugar, estarrecida com as palavras do menino.

– É uma pena que você pense assim, Dave. Você não conhece meu irmão como eu – disse ela por entre a respiração, desistindo de acompanhar o garoto que seguia com Eevee em seus ombros e Jake do seu outro lado. Ambos estavam prontos para seguir viagem assim que a luta terminasse.

Qualquer que seja o resultado dela... penso Dave, focado na única coisa que lhe importava naquele momento, a vitória. Ele e Jake haviam conversado e os dois concordaram que ganhando ou perdendo a luta pela insígnia da alma, eles deveriam abandonar o ginásio e seguir para a zona safari para encontrar Mindy. O mapa mostrava que se eles realmente encontrassem a menina, ainda existiram outros ginásios fora da rota estabelecida por Mindy que poderiam lhe dar as insígnias de que precisava.

Concordaram também que Eevee deveria ser mantido de fora da luta, tendo em vista o recente interesse de Koga no Pokémon de Dave e na quantidade de informações que Koga possuía sobre a Equipe Rocket. Dave sabia que Koga havia se declarado seu amigo e prometido que Dave poderia confiar nele, mas o único conselho que o líder lhe dera que Dave pretendia seguir era o de ter mais cuidado em quem ele depositava sua confiança. A pequena raposa protestou contra a decisão do menino, mas no fim foi convencida a deixar que Dave e os outros Pokemons enfrentassem os desafios que a luta prometia.

Ainda assim, Dave não pretendia deixar que Koga o vencesse. A derrota para Erika e a batalha interrompida entre ele e Rusty ainda lhe doíam na memória, e ele pouco fizera para vencer Jack e Jody, deixando todo o trabalho nas mãos de Eevee. Essa era a batalha que deveria recoloca-lo no caminho das vitórias, um caminho de onde ele nunca deveria ter saído. Recentemente ele havia treinado intensamente com todos os seus Pokemons, exatamente para garantir que os resultados positivos voltassem a acontecer.

Koga já estava postado em sua área de treinador quando Dave chegou ao campo Pokémon. O chão era de terra com tufos de grama, mas Dave não se deixou enganar, sabendo que a terra era apenas superficial. Eles estavam em uma montanha e a rocha era o elemento predominante naquele terreno. O céu, por sua vez, estava azul, com poucas nuvens, e o inicio de tarde estava ensolarado e fresco.

Aya, surpreendentemente, já estava postada no lugar dos juízes pronta para comandar a luta, o que apenas serviu para reforçar a teoria da dupla de garotos de que aquele lugar estava infestado de passagens secretas e atalhos escondidos dos quais eles ainda não sabiam.

– Eu sei que pensa que está preparado rapaz, mas você ainda precisa de mais treinamento para me vencer. Eu posso lhe dar esse tempo e toda a ajuda a minha disposição, mas apenas se resolver ficar por aqui Dave.

– Eu não seria tão apressado para falar essas coisas Koga. Afinal, você nunca me viu lutar – disse Dave, confiante. Ele percebeu que Koga deixou que seu olhar se demorasse em Eevee e pensou ver uma pontada de apreensão no fundo dos olhos do líder – Não se preocupe Koga, o Eevee vai ficar na plateia hoje. Somos só eu e você.

Koga então sorriu, sacando uma de suas Pokebolas e a jogando no ar.

– Pois bem, então vamos começar – disse ele, enquanto seu Golbat era liberado no ar.

Aya, pega de surpresa pelo movimento de seu irmão, se apressou em narrar as regras do combate.

– Esse será um combate de dois contra dois sem substituições valendo a insígnia da alma. Os dois estão prontos?

Dave acenou positivamente com cabeça mantendo os olhos no oponente, completamente focado na luta. Passou as mãos por todas as suas Pokebolas sem hesitar e então parou sobre a última. Gostaria de testar Growlithe em um combate direto, mas ainda lembrava-se das lambidas que recebera quando lhe oferecera uma Pokebola pela primeira vez há poucos dias. Talvez aquela luta não seria a melhor oportunidade para fazer um teste. Sacou então outra e a jogou para o alto.

– Poliwag essa é com você!

– Comecem! – disse Aya, quase simultaneamente com seu irmão, que já ordenava o primeiro ataque.

– Golbat, comece com um ataque de asas!

– Poliwag, evasiva e jato de água!

Golbat mergulhou em velocidade na direção do Pokémon girino enquanto suas asas brilhavam com uma luz prateada, mas Poliwag conseguiu se movimentar rapidamente, saltando para o lado e disparando uma forte rajada de água na direção do oponente. Golbat, entretanto, desviou-se com habilidade, fazendo uma espiral no ar e tomando novamente a direção do Pokémon de Dave, mantendo-se na ofensiva. Poliwag saltou novamente e apenas não foi atingido pelo ataque do morcego evoluído por questão de segundos.

– Golbat, tente acertá-lo com Swift!

Dave sorriu ao ouvir o nome do ataque e sentiu que nem ao menos precisaria ordenar uma estratégia defensiva. Swift era exatamente o mesmo movimento que ele usava com Sandslash quando queria treinar a agilidade e a precisão do jato de água de seu Pokémon. Poliwag começou imediatamente a atingir todas as estrelas brilhantes que Golbat lançava de suas asas com seus jatos de água, surpreendendo Koga por ter reagido sem nem ao menos precisar de comandos.

– Golbat, aumente a velocidade!

– Concentre-se Poliwag!

A batalha entre estrelas e jatos de água ficava mais alucinante à medida que Golbat aumentava a velocidade do ataque lançando até três estrelas por segundo, muito mais rápido do que Sandslash jamais jogara, e Dave percebeu que seu Pokémon começava a ter dificuldades para se defender. Ele estava prestes a ordenar uma mudança de estratégias quando a primeira estrela furou o bloqueio e o atingiu em cheio, fazendo com que ele desse alguns passos para trás. A partir daí, outras duas conseguiram furar seu bloqueio e Dave, mesmo surpreso por ver seu Pokémon resistir bravamente ao ataque sem interromper a estratégia defensiva, sabia que precisava tomar uma atitude.

– Poliwag, tente contra-atacar com uma rajada de bolhas! – disse Dave, torcendo para que seu movimento funcionasse. As bolhas eram mais numerosas e poderiam ser eficientes contra a velocidade das estrelas brilhantes, mas Dave nunca havia tentado isso antes.

Poliwag ainda foi atingido mais três vezes sem se deixar abalar até que lançou uma incrível rajada de bolhas na direção de Golbat. O movimento fora muito bem sucedido, pois não apenas as bolhas estouraram-se contra cada uma das estrelas de Golbat, por serem muito mais numerosas, mas muitas também atingiram diretamente o Pokémon voador, obrigando-o a interromper seu ataque. O Pokémon, entretanto, parecia não ter sofrido muitos danos com os efeitos da técnica de Poliwag.

Koga parecia contrariado, como se não esperasse que fosse encontrar muitas dificuldades na batalha e agora procurasse um jeito de finalizá-la o quanto antes.

– Golbat, vamos agilizar essa luta. Use um Ás de asas!

– O que?! – disse Dave, enquanto observava Golbat voar com velocidade para o alto e executar uma manobra estranha, antes de mergulhar com força e se transformar em um borrão cor de prata. Poliwag foi atingido e jogado para longe antes mesmo que ele conseguisse gritar cuidado.

– Poli! – Gritou o pequeno Pokémon enquanto era projetado no ar e pousava próximo aos pés de seu treinador. Aquele ataque fora tão rápido e potente que Dave nem ao menos viu o momento em que seu Pokémon foi atingido.

– Poliwag, você está bem? – perguntou o rapaz apreensivo, enquanto observava seu Pokémon lutar para voltar a ficar em pé. Com um olho fechado, o pequeno girino tremeu, e por um momento todos pensaram tê-lo visto cair derrotado no chão, mas ele conseguiu se colocar sobre os pés e voltou a encarar Golbat, voando alto pelos céus azuis – Muito bem Poliwag! Você foi sensacional! Vamos vencer essa luta!

– Não ficaria tão confiante se fosse você, Dave – disse Koga, visivelmente decepcionado depois que Poliwag se mostrara mais resistente do que aparentava ser – Golbat, use o guinchar!

Golbat, no ar, começou a emitir um alto som agudo que percorreu as paredes das montanhas a volta fazendo tudo tremer. O eco das paredes rochosas servia apenas para amplificar o volume e o alcance do terrível som, que fez com que até mesmo Aya e Dave caíssem no chão com as mãos nos ouvidos. Poliwag parecia desnorteado na sua área do campo, de olhos fechados tentando inutilmente bloquear o som.

– Muito bem, agora use a bola das sombras! – ordenou Koga, aparentemente o único que não havia sido afetado pelo grito de seu Pokémon.

Ele planejando com maestria seu golpe final e sua expressão era a da mais absoluta confiança, quando seu Pokémon parou de gritar e o som ainda ecoou por alguns segundos extras pelas paredes das montanhas a sua volta. Eram exatamente esses segundos que ele precisava para que Golbat criasse e lançasse a bola de energia negra e roxa de sua boca na direção de seu oponente.

Dave não havia ao menos ouvido enquanto Koga ordenando o ataque, mas reconheceu a técnica que seu Eevee já havia utilizado anteriormente quando a esfera de energia fora lançada na direção de seu Pokémon. Ele sabia que era tarde de mais para que pudesse fazer alguma coisa, mas ainda assim gritou um aviso de cuidado quando a bola estava a menos de um metro do alvo.

Nesse momento, entretanto, algo de diferente aconteceu e uma forte luz branca brilhou por segundos antes de ser envolvida pela energia negra da técnica de Golbat. Ouviu-se um forte som de explosão enquanto uma incrível rajada de vento fez com que a roupa de todos voassem para trás e uma enorme nuvem de poeira se levantasse do local onde Poliwag fora atingido pelo bola das sombras de Golbat.

Dave já estava convencido em chamar seu Pokémon de volta e pensando no próximo round quando voltou a enxergar, ainda com um pouco de dificuldade, o centro do campo de batalha. Não acreditou em seus olhos quando ali, no centro, de pé sobre duas pernas bem desenvolvidas, um Pokémon azul de corpo redondo, dois olhos destacados no topo de sua barriga em espiral, duas pernas e dois braços que terminavam em mãos que em muito se assemelhavam a uma luva de boxe branca tomava o lugar de seu Poliwag. Ele evoluiu! Ele virou um Poliwhrill! Pensou Dave, incrédulo.

– Não acredito – deixou escapar Koga, também surpreso pela evolução do Pokémon oponente justamente quando achava que a batalha havia terminado – Ok, Golbat, isso complica um pouco as coisas, mas na verdade muda muito pouco. Nós estávamos vencemos antes e podemos fazer de novo. Volte a usar o ataque de asas!

– Poliwhrill, use a Hipnose!

Golbat mergulhos na direção de Poliwhrill, mas em vez de sair da direção do morcego, o Pokémon estufou a barriga e lançou suas ondas hipnóticas na direção do Pokémon morcego. Koga, entretanto, sorriu e ordenou que Golbat apenas fechasse os olhos. De olhos fechados, o Pokémon do ginásio atingiu diretamente Poliwhrill, lançando-o para trás.

– Dave, o Golbat é um morcego! Eles têm sensores potentes e não precisam usar os olhos para enxergar! – gritou Jake da arquibancada, enquanto Dave ralhava consigo mesmo por não ter se lembrado disso antes. Ele agradeceu mentalmente por toda a resistência de seu Pokémon enquanto ele observava Poliwhrill se colocando novamente de pé. Golbat, entretanto, já mergulhava novamente e Dave percebeu que não teria tempo de se desviar. Teve então uma ideia que julgou arriscada, mas que poderia lhe render a vitória.

– Rápido, atinja-o com um jato de água!

Enquanto Golbat se aproximava com as asas em riste, brilhando prateadas, o Pokémon de água lançou uma forte rajada que o atingiu pouco antes dele executar novamente seu ataque. Dessa vez foi Golbat que foi lançado longe, mas Dave já havia comandado o ataque seguinte, surpreendendo Koga e todos ali presentes.

– Poliwhrill, faça a dança da chuva!

– O que?! – disse Koga, sem entender, enquanto observara os olhos redondos do Pokémon adversário brilharem com a cor azul e o via girar sobre si mesmo lentamente, com os braços abertos. Imediatamente duas nuvens cinza formaram-se baixas, cobrindo pouco mais do que a área do campo de batalha, e em seguida uma leve chuva começou a cair – O que você espera conseguir com isso Dave?

– Apenas observe – disse o rapaz, concentrado no que viria a seguir – Agora use o granizo!

Koga congelou quando percebeu a armadilha que o menino havia criado. O ataque de gelo seria altamente efetivo contra seu Golbat e a chuva, além de fortalecer Poliwhrill, apenas fazia com que executar o ataque fosse mais fácil. Koga lembrava-se de que uma vez viu aquele mesmo movimento ser ensinado daquela exata maneira. Um Pokémon aquático fazia chover para que o outro se concentrasse em transformar a água da chuva em gelo. Se Poliwhrill ainda não havia dominado totalmente a técnica do granizo, isso não seria um problema na chuva.

Agora era todo o corpo de Poliwhrill que brilhava com a cor azul enquanto ele foi suspenso no ar e sumiu momentaneamente por entre as nuvens bem baixas. Subitamente a água que caia do céu congelou, e pedaços afiados de gelo, brilhantes em prateado, foram lançados cheios de velocidade do céu em direção ao Pokémon morcego.

– Golbat, vá atrás dele no céu! – ordenou Koga, que tinha perdido o Pokémon de Dave de vista.

Golbat conseguiu desviar-se dos primeiros enquanto voava com velocidade em direção às nuvens de chuva, fazendo com que Dave mordesse o lábio inferior com a apreensão, mas a rajada de gelo se intensificou e depois de ser atingido pela primeira vez, Golbat perdeu o controle do voo e passou a ser um alvo fácil. O ataque surtiu o efeito esperado e o morcego foi atingido dezenas de vezes enquanto voava sem direção, até que mergulhou uma ultima vez em direção ao chão, já desacordado.

Koga recolheu-o antes que ele atingisse a terra molhada enquanto Poliwhrill interrompeu seu ataque e voltou a descer dos céus, caindo sobre as suas novas pernas no chão. Koga parecia visivelmente abalado com a derrota inesperada de seu Pokémon enquanto Dave parecia extasiado não apenas com a vitória, mas com seu novo Pokémon e com o sucesso da estratégia que criara. Poliwag ainda havia demonstrado alguma insegurança da ultima vez que tentara aquele movimento em treinamento, mas a evolução parecia ter-lhe ajudado.

Koga, por sua vez, tinha de admitir que não esperava uma demonstração de habilidade daquele nível vinda do rapaz, mas ele não pretendia perder aquela luta. Sacou então uma segunda Pokebola e pareceu pensar um segundo a mais sobre a escolha, antes de finalmente liberar seu novo Pokémon.

– Muk vamos acabar com isso!

Assim que a Pokebola liberou o próximo adversário de Dave, o menino se surpreendeu ao ver a imensa massa de lodo que formava o Pokémon. Ele já tinha visto fotos e lido, mesmo que pouco, sobre aquela espécie, mas nunca havia visto um ao vivo. Tinha a impressão de que aquele Muk era ainda maior do que normal, ocupando uma área de quase dois metros quadrados de pura gosma roxa que parecia escorrer pelo seu corpo constantemente. Apesar disso, conseguia distinguir perfeitamente a boca enorme do Pokémon, assim como dois olhos pequenos e dois braços.

Ele é grande, e em se tratando do Koga, tenho certeza que é muito perigoso, mas os Muks são lentos de mais para se mover pensou Dave, concentrado. Talvez eu consiga explorar isso. Os segundos que ele levou raciocinando, Koga levou ordenando o primeiro ataque.

– Muk, use a rajada de lodo!

O grande Pokémon venenoso soltou uma grande exclamação, e, com a boca aberta, cuspiu uma forte rajada de uma substancia marrom enegrecida, com um cheiro praticamente insuportável na direção de seu adversário, mas Poliwhril saltou para o lado e toda a sujeira foi cair do lado de fora do campo, há poucos metros de onde Dave estava.

– Poliwhril, use a rajada de bolhas!

– Muk, contra-ataque com as bombas de lodo!

Poliwhril se postou e rapidamente disparou a forte rajada de bolhas destrutivas de sua barriga em direção ao oponente, mas Muk manteve a boca aberta, seus olhos começaram a brilhar, e ele lançou uma incrível sequencia de pequenas bolas da substância enegrecida que vinha soltando antes. Mesmo com o numero de bolhas, o Pokémon de Koga foi capaz de estourar todas com suas bombas de lodo e prosseguiu com o ataque contra Poliwhril. Dave, então, resolveu tentar algo novo com seu novo Pokémon.

– Poliwhril, use seus socos para se defender.

O Pokémon aquático posicionou suas pernas e começou a gingar desferindo socos com as duas mãos todas as vezes que uma das bombas de lodo chegava perto, destruindo-a antes que o atingisse. Dave observou com orgulho as habilidades do novo membro de seu time enquanto ele se protegia com bastante eficiência do ataque do líder de ginásio. Koga, entretanto, parecia inabalado pela falta de sucesso de seu ataque.

– Muk, prepare uma onda de lodo!

Dave preparou-se para o ataque seguinte de seu oponente, mas para a sua surpresa, ele não parou de lançar suas bombas de lodo enquanto seu corpo começava a brilhar com um contorno lilás. Poliwhril se viu obrigado a manter-se em posição para continuar se defendendo das bombas enquanto seu adversário preparava o próximo movimento.

Em seguida, o corpo de Muk foi envolto por uma incrível bola roxa e, no segundo seguinte, uma imensa onde de lodo foi lançada da bolha na direção de Poliwhril. Dave tentou ordenar um salto evasivo, mas a onda tinha quase um metro de largura e atingiu o Pokémon do menino no ar, derrubando-o no chão e encharcando-o com a substancia suja, fedorenta e venenosa.

– Dave, a pele de seu Poliwhril não é grossa, meu rapaz, principalmente na área da barriga. Como um bom treinador, acredito que saiba disso – disse Koga, com um sorriso no rosto – Assim como eu acredito que saiba que o lodo dos Muks é venenoso e quando eles são bem treinados, é ainda mais perigoso. Essa luta esta com os momentos contados rapaz, e seu Pokémon cairá em breve. Porque não reconhece isso e o chama da volta?

Dave mordeu os lábios e encarou Poliwhril, que ainda estava estendido no chão. Ele tentara se levantar, mas escorregara em todo o lodo a sua volta e voltara a cair, espalhando mais gosma roxa pelo campo. Seu corpo inteiro era uma mistura e azul e branco com o roxo da gosma, e por mais que ele tentasse limpar com as mãos, apenas conseguia sujar-se mais. Apesar disso, conseguiu novamente colocar-se de pé e voltou a encarar desafiadoramente o adversário, passando confiança ao seu treinador.

– Vamos acabar com você antes que o veneno faça efeito – disse Dave – Poliwhril, lave esse monte de gosma nojenta daqui! Use o jato de agua no Muk!

O Pokémon de Dave lançou um poderoso jato de água, mas dessa vez foi o Pokémon de Koga que nem ao menos precisou de ordens para reagir, lançando por sua vez a rajada de lodo, que explodiu contra a água no meio do campo, desfazendo o ataque de Poliwag. Dave mordeu mais uma vez o lábio, tentando estudar o que fazer em seguida, enquanto água e lodo lutavam no meio do campo. Ele parece se proteger bem de ataques à distância e até agora lutou sem nem ao menos sair do lugar, apenas virando o corpo para onde Poliwhril estava. Talvez eu possa...

O pensamento de Dave foi interrompido quando seu Poliwhril fraquejou e caiu sobre um dos joelhos, aparentemente sozinho. Seu ataque foi interrompido e para horror de Dave ele foi mais uma vez atingido por Muk, agora com a rajada de lodo. Além do impacto que o lançou para trás, derrubando-o novamente na arena suja, Poliwhril mais uma vez sofreu um ataque direto do lodo envenenado.

– Vamos Dave, você é mais esperto do que isso – disse Koga, agora quase rindo – você sabe que seu Pokémon falhou graças ao meu veneno. Ele foi atingido e não vai durar muito mais tempo...

– Então temos que acabar com isso rápido – disse Dave – Poliwhril, ataque com um soco duplo!

O Pokémon recém-evoluído de Dave lutou para ficar de pé e se lançou em uma rápida corrida em direção ao seu grande oponente, parado no mesmo lugar desde que saíra da Pokebola. Koga abriu ainda mais o sorriso, observando enquanto Poliwhril quase escorregava no lodo e se aproximava com a guarda aberta, pronto para desferir o que seria um poderoso soco. Ele tomou um segundo para escolher entre as tantas opções de defesa que tinha, até que finalmente se decidiu.

– Muk, escudo ácido e choque venenoso! – ordenou, e imediatamente o Pokémon brilhou com uma áurea roxa. Para a surpresa de Dave, assim que Poliwhril se aproximou o suficiente para atingi-lo com um soco, seu corpo virou liquido e Muk caiu pela arena, espalhando-se ainda mais. O golpe do Pokémon de Dave atravessou o corpo liquido de Muk e dessa vez Poliwhril realmente escorregou no corpo do adversário, fazendo Dave duvidar se o escorregão fora natural ou causado pelo Muk derretido. Em seguida, o liquido voltou a se reagrupar e formar novamente o corpo do Pokémon de sujeira, que, com o seu oponente caído a poucos centímetros dele, descarregou uma forte corrente de energia no corpo do Pokémon aquático, suspendendo-o momentaneamente no ar antes de deixá-lo cair novamente, exclamando de dor.

– Poliwhril! – gritou Dave, surpreendido com o movimento do adversário – Não!

– Prepare-se para encobri-lo Muk! – disse Koga, com o olhar fixo em Dave.

Dave percebeu quando Muk se postou ao lado de seu oponente e se preparou para encobri-lo. Ele sabia que assim que o adversário desferisse o golpe seu Pokémon não aguentaria mais a luta, mas Poliwhril se mostrou valente e lutou para se colocar de pé.

– Dave, não continue com isso. Ele está claramente envenenado e foi atingido diretamente por diversas vezes, inclusive enquanto Poliwag. Se Muk encobri-lo, você não poderá chama-lo de volta. Essa é a sua ultima chance – disse Koga, enquanto Poliwhril conseguia, com um visível esforço para superar a dor, se colocar sob um joelho. Seus braços e pernas tremiam, mas ele ainda não havia desistido da luta. Dave, entretanto, já fora colocado naquela situação diversas vezes antes, e sabia qual seria o certo a fazer. Uma grande parte dele ainda queria gritar um movimento evasivo, mas sabia que o estado de seu Pokémon era preocupante, e ele tinha mais chances de falhar do que de conseguir escapar de Muk. Sacando então sua Pokebola, Dave tomou sua decisão.

– Volte Poliwhril – disse, estendendo a esfera vermelha e branca e recolhendo seu Pokémon com um raio vermelho – Você foi muito bem, de verdade – disse ele, enquanto já pensava em que Pokémon escolher em seguida. Pensou em queimar o corpo de Muk com Growlithe, mas tinha uma desconfiança de que o lodo não era inflamável. Oddish era uma opção questionável contra o grande Muk e seu escudo ácido, e Dave não queria ver Pidgeotto mergulhando com suas garras, asas e bico na pele gosmenta e altamente venenosa no Pokémon de Koga. Percebeu, porém, que a opção que lhe restava, talvez, fosse a melhor de todas.

– Sandslash, vamos ganhar essa insígnia! – disse Dave, liberando seu Pokémon terrestre.

O Pokémon de terra saiu da Pokebola e se postou desafiadoramente no campo de batalha, com as garras afiadas a frente e as duras escamas das costas eriçadas, preparado para a luta. Para Dave, lutar com Sandslash podia não se tão seguro quanto ter Eevee na arena, mas era até mesmo um pouco mais confortável. Sabia que podia contar com a sua dedicação total, assim como a sua grande resistência e pericia, e sabia que o Pokémon conseguia entender e obedecer ao seu treinador pontualmente, com sincronia. Com Sandslash em campo, Dave sentia que a batalha dependia única e exclusivamente dele, e que se o treinador se portasse bem, o Pokémon iria ter um desempenho ainda melhor.

– Muk, volte a atacar com a bomba de lodo!

– Sandslash, use o Swift!

O Pokémon de Koga voltou a abrir a boca e cuspir com incrível força as bombas de lodo na direção do Pokémon de Dave, que respondeu com suas estrelas de energia amarela. Ambos os Pokemons estavam bem treinados e conseguiram se bloquear com habilidade, mas apesar da força indiscutível de Muk, Sandslash era definitivamente mais hábil e conseguia atingi-lo com algumas de suas estrelas. Percebendo a desvantagem de seu Pokémon naquele tipo de briga, Koga mudou suavemente se estratégia.

– Muk mude o ataque para a rajada de lodo!

Dave sabia que a rajada engoliria as estrelas do Pokémon terrestre, mas tinha outra ideia em mente.

– Sandslash, giro rápido no lugar!

O Pokémon de Dave rapidamente se fechou em seu próprio corpo, protegendo-se com suas duras escamas e começou a girar parado no mesmo lugar com grande velocidade. A rajada de lodo o atingiu com força, mas espalhou-se pelo restante do campo inteiro, que mesmo antes já estava completamente sujo. O cheiro do lodo e da sujeira deveria dificultar a luta para Pokemons e treinadores desafiantes, mas Dave e Sandslash estavam focados de mais em cada detalhe da luta para se deixar distrair pelo aroma desagradável. Eevee e Jake, por outro lado, na arquibancada, pareciam prestes a vomitar.

Quando Muk terminou seu ataque, Sandslash diminuiu a velocidade do giro, pulando no ar e voltando a cair de pé, tremendo suas escamas com o objetivo de fazer as ultimas gotas da substancia pegajosa soltarem de sua dura pele. Dave tinha certeza que seu Pokémon não havia sentido o menor efeito do ataque, e estava confiante de que ele não correra o risco de ser envenenado por baixo de suas duras escamas. Girara tão rápido que havia aberto um pequeno buraco no chão onde estivera antes.

– Muito bem, Sandslash! – congratulou Dave, mas Koga não estava com humor para perder tempo na luta.

– Muk, vamos ver se ele consegue se livrar da onda de lodo!

Mais uma vez o Pokémon de Koga se cobriu de uma aura roxa e seu corpo foi envolto por uma bolha de sujeira, até que uma grande onda de lodo roxo foi lançada na direção de seu oponente.

– Rápido, mergulhe! – disse Dave, fazendo com que Koga arregalasse os olhos.

Por um momento o reflexo do líder foi imaginar o Pokémon terrestre mergulhando de cabeça contra a onda de lodo criada por seu Pokémon, mas, ao contrário do líder de ginásio, Sandslash compreendera seu treinador perfeitamente e mergulhara no chão, usando o cavar para se esquivar do ataque de Muk. Boa parte da gosma caiu pelo buraco deixado no chão pelo Pokémon, mas Koga sabia que aquilo era gosma e não água, e que não inundaria o buraco como se ele fosse um ralo. Sandslash estaria a salvo em baixo da terra, e ele teria problemas até que o adversário voltasse à superfície.

Dave parecia satisfeito consigo mesmo, e teve de se lembrar de que a luta ainda não havia terminado. Ele conseguira se defender com sucesso do primeiro ímpeto ofensivo de Koga e ainda conseguira atingi-lo superficialmente com Swift. Agora ele mudara o panorama da partida, tendo a oportunidade de partir para a ofensiva por conta própria, sem tem que se defender constantemente como o líder o vinha obrigando a fazer. Tomou um segundo, e então gritou seu próximo comando para o ar.

– Sandslash, corte essa gosma em pedaços!

Koga sorriu e automaticamente comandou que Muk se defendesse com o escudo ácido segundos antes de Sandslash surgir por trás de Muk com as garras em riste numa tentativa de cortar suas costas. Quando passou sua garra, porém, o corpo de seu adversário tornou-se liquido, escorrendo por entre seus grandes dedos e se espalhando pelo chão.

Dave, entretanto, já esperava o movimento de Koga e Muk e continuou na ofensiva, sem deixar espaço para que seus adversários contra atacassem.

– Sandslash, use o ataque de areia – disse ele, torcendo para que seu plano tivesse êxito.

Seu Pokémon caiu no chão com força e enfiou suas garras na terra, movendo-se com incrível velocidade e lançando uma grande quantidade de areia em cima do corpo dissolvido de Muk, que aos poucos voltava a tomar forma automaticamente. Koga foi incapaz de esconder sua surpresa, pego desprevenido pela armadilha do menino. Para o lodo de que o corpo de seu Pokémon era composto, poucas coisas poderiam ser tão incomodas e perturbadoras do que a areia.

Quando voltou ao normal, o corpo do Pokémon do líder de ginásio se contorcia em uma agonia constante, com grandes quantidades de areia grudadas, inclusive internamente em seu corpo. Muk usava seus braços para tentar se coçar, e tentou se derreter novamente, sem sucesso. Dave sorriu e percebeu que agora tinha a clara vantagem. Se conduzisse bem a batalha, não teria problemas para vencer.

– Muk, preciso que você supere esse problema! Tente esquecer a areia e se concentrar na luta – ordenou Koga, tentando acalmar seu Pokémon. O grande Pokémon pareceu para de se contorcer e focar em Sandslash, mas Dave sabia que ele estava longe de esquecer-se de toda a areia presa em seu corpo.

– Sandslash, rolo compressor! – ordenou Dave, enquanto via seu Pokémon se enrolar novamente em seu corpo e girar em grande velocidade na direção do oponente.

Koga ordenou que Muk tentasse usar a rajada de lodo para frear o ataque, mas seja pelo ímpeto de Sandslash ou pelo incomodo em seu corpo, o Pokémon não conseguiu ser forte o suficiente para pará-lo e Sandslash cortou por entre a rajada. No ultimo segundo, Muk voltou a dissolver-se, fazendo com que o Pokémon de Dave passasse por entre seu corpo liquido sem causar muitos danos. Dave, entretanto, parecia esperar novamente o movimento, e voltou a atacar.

– Muito bem! Agora tumba de areia!

– O que?! – exclamou Koga, visivelmente despreparado.

Sandslash continuou enrolado em seu corpo e fez um circulo em volta de todo o corpo de Muk, que ainda voltava ao normal. Suas escamas, porém, liberavam jatos de areia e a sua velocidade crescia exponencialmente, até que um grande furacão de areia foi criado no circulo descrito por Sandslash, enquanto Muk ficava preso lá dentro com uma forte tempestade de areia.

A areia bloqueou qualquer possibilidade de ver Muk no centro do circulo, mas seus gritos de agonia podiam ser ouvidos do lado de fora, fazendo com que até mesmo Dave sentisse pena. Não era apenas a vantagem de tipo que o incomodava, mas a própria composição de seu corpo lhe trazia uma grande desvantagem contra qualquer ataque que envolvesse areia. Como se uma gosma de criança caída em uma caixa de areia, o seu corpo retia e absorvia as pequenas partículas de terra, fazendo com que fosse quase impossível remove-las. Atingido ainda quando seu corpo se reconstituía depois do escudo ácido, Dave imaginava que fosse ser necessário um grande procedimento para curar Muk depois dessa batalha.

O menino estava esperando que Koga fosse chamar seu Pokémon de volta, declarando-o vencedor. Podia ver no rosto do líder que ele queria fazê-lo, mas algo o impedia. Seus dentes cerrados e sua expressão preocupada eram claras e podia-se ver o seu sofrimento pela agonia de seu Pokémon, mas ele tentou um ultimo golpe desesperado para se salvar sem ser derrotado.

– Muk, atinja-o com a rajada de lodo!

Surpreso, Dave sentiu seu coração pesar com compaixão pelo adversário, mas não viu outra opção que não ordenar que Sandslash aumentasse a velocidade. O Pokémon terrestre girou tão rápido que Dave chegou a perde-lo de vista enquanto as bombas desesperadas de Muk eram lançadas para fora do circulo, todas sem atingir o alvo. Dave foi obrigado a desviar de uma delas ele mesmo, e pensou ter visto outra explodir contra a parede do circulo, presumidamente em Sandslash, mas as escamas de seu Pokémon deveriam tê-lo protegido, pois a sua velocidade continuou aumentando. A tempestade de areia, por sua vez, aumentava de força proporcionalmente à velocidade de Sandslash e o mesmo acontecia com o volume dos gritos de Muk.

Finalmente, o Pokémon pareceu desistir de lançar as bombas, ou então foi impossibilitado e elas pararam de sair do furacão mesmo contra as ordens de Koga, enquanto Dave observava a decepção e um terrível sentimento de culpa percorrer o rosto do líder rapidamente, antes de serem velados. Ele sacou sua Pokebola, estendeu-a e sem uma palavra recolheu seu Muk, lançando seu raio para o centro do furacão de areia de Sandslash.

Até mesmo Aya parecia em choque com a derrota de seu irmão, olhando para ele como que se esperando sua próxima ordem ou conselho, mas o líder recompôs sua expressão serena e calma e voltou a encarar Dave, sem sorrir. Não esperou que Aya o declarasse vencedor oficialmente, até mesmo por que a mulher parecia incapaz de falar, e se encaminhou para Dave, passando por Sandslash, que acabara de interromper seu giro. Parou exatamente à frente do menino.

– Você lutou bem, me venceu, e sou obrigado a lhe dar a insígnia da alma Dave – disse ele, pegando a mão de Dave e colocando uma insígnia rosa, brilhante, muito semelhante a um coração na palma da mão do menino – mas isso não quer dizer que você a mereça...

Dave não sabia o que dizer e apenas devolveu-lhe um olhar inexpressivo. Koga tinha parecido extremamente irritado e focado em vencer a luta e prender Dave e Eevee no ginásio, mas agora voltar a sua serenidade de costume, com a adição de um toque de extrema gravidade, decepção e algo parecido com preocupação no olhar.

Ele olhou fundo nos olhos de Dave, depois olhou para Eevee e então fechou os olhos, como que se sentido culpado.

– Você tem certeza que não ficará aqui Dave? Faço agora um pedido sincero, de alguém profundamente preocupado com a sua segurança e a de seu Pokémon – disse ele, botando uma das mãos no ombro do rapaz e voltado a encará-lo com força – Prometo Dave, por minha honra, que nós vamos ajudar a te proteger e a descobrir tudo o que faz do seu amigo um Pokémon tão especial...

Dave se viu despreparado para a onda de preocupação e aparente sinceridade do líder de ginásio, e procurou ajuda em Eevee, olhando para seu Pokémon, mas Koga continuava a fitá-lo de perto, sem desviar o olhar. Dave viu seu Pokémon fazer um sinal negativo com a cabeça e viu Jake ao seu lado, mal conseguindo esconder a animação de partir para o reencontro de Mindy, e soube que se pudesse escolher, talvez aceitasse a oferta de Koga, mas, na verdade, não tinha uma escolha.

– Desculpe Koga, mas eu preciso seguir viagem.

Sentiu a mão do líder de ginásio se apertar contra seu ombro como se com raiva antes dele deixar a cabeça cair e o soltar.

– Tudo bem, Dave – disse ele, se afastando de costas e se encaminhando de volta para dentro do ginásio – Eu fico triste por ter de reconhecer que essa escolha é sua.

– Mas... Espere! – disse Aya para o irmão, claramente sem saber como reagir, olhando repetidamente de Koga para Dave, e de volta para Koga.

– Não há mais nada que possamos fazer Aya. Deixe-os ir. Entre agora – disse Koga, e desapareceu por entre uma das portas do prédio principal.

Dave, aliviado, mas profundamente perturbado pelo estranho momento que acabar de viver, agachou-se e acariciou seu Sandslash, congratulando-o pela partida excepcional que acabara de vencer e mostrando-lhe a insígnia em sua mão, incapaz de afastar de sua mente a expressão de decepção e culpa de Koga enquanto o encarava. Logo Eevee se juntou aos outros dois, seguidos de Jake, enquanto Aya seguia o seu irmão com pressa, roubando alguns últimos olhares preocupados para o grupo que partia.

Dave olhou para o ginásio uma ultima vez, tentando absorver um pouco mais da calma e da tranquilidade que pareciam reinar naquele lugar e então se levantou, recolhendo seu Sandslash e se encaminhando para a saída. Apesar de tudo, sentia-se triste por ter que deixar aquele lugar.

–Vamos – disse ele, para Eevee e Jake, respirando fundo e fitando o início da estrada a sua frente – Vamos atrás da Mindy.


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Notas finais do capítulo

E então? Gostaram?

Espero que sim!

Quero ver vocês nos comentários!



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