De Repente Pobre escrita por Tay Pereira


Capítulo 11
Capítulo 11 - Primeiro Emprego




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Isso parece uma loucura. Na verdade, é uma loucura. Jamais pensei que chegaria a esse ponto; nunca pensei que faria isso.

Realmente devo agradecer ao Gabriel e a Lily pela brilhante ideia de eu procurar um emprego. Nunca na minha vida pensei que chegaria o dia em que trabalharia para alguém, para ter meu próprio dinheiro. Afinal, eu tinha tudo.

Mas isso tudo ficou no passado, o fato agora é que estou andando sem parar por toda a cidade colocando currículos meus em vários estabelecimentos.

Já estava sem nenhum currículo em mãos quando Gabriel buzinou pra mim e acabou me dando uma carona.

– E aí como foi?

– Péssimo.

– Onde fica a positividade? – ele segura o riso.

– Isso não tem graça!

– E quem está rindo?

– Olha a sua cara! – apontei para ele.

– Desculpa, é que é engraçado ver toda essa “animação” de sua parte.

– Duvido que alguém me contrate.

– Por quê?

– Não tenho experiência em nada.

– Sempre tem a primeira vez pra tudo nessa vida.

– Está vindo de onde?

– Estava na casa do Thomas.

– Hum.

– Ele perguntou de você.

– Hum.

– Só vai dizer isso?

– Quer que eu fale o que?

Gabriel dá de ombros.

– O que achou dele?

– Vai dar uma de cupido, Gabriel? – pergunto, rindo.

Ele me encara.

– Não, só por curiosidade.

– Nunca falei com ele direito, nem conheço ele direito.

– Ainda não esqueceu o seu ex?

– Não quero falar sobre isso.

– Tudo bem – disse. – Em qual dos empregos que você mandou currículo, você mais se interessou?

Pensei um pouco na resposta.

– Acho que... Nenhum.

Gabriel riu.

– Não vai tão ruim, como você está pensando.

– Lê pensamentos agora?

– Não, mas trabalhar tem seus lados positivos.

– Não é o fato de eu não gostar de trabalhar, mas sim o fato de não saber se conseguirei alguém que me queira como empregada.

– Não tem fé que você vai conseguir um emprego bom?

Dei de ombros. Realmente toda essa história não me importa, mas como estou morando com Amália não seria legal ser sustentada por ela sendo que tenho idade e condições físicas para trabalhar para ajudar nas despesas.

– Só espero que o destino não apronte para mim – falei.

Uma semana se passou desde que entreguei aqueles currículos e ninguém me chamou pra nada, nem mesmo para entregar aqueles panfletos de empréstimos no meio da calçada.

– Hannah! – Amália me chamou. – Telefone para você!

Fui atender a ligação e descubro que um salão de cabelereiro está me procurando pra preencher a vaga de recepcionista.

Ótimo. Vou ser recepcionista agora. Melhor que nada, não é?

No dia seguinte, acabei me atrasando para o primeiro dia no meu primeiro emprego como recepcionista. Com meia hora de atraso e sem tomar café da manhã, cheguei lá e fui recebida por uma patroa com uma cara de mau humor.

– Se tem algo que eu não suporto, simplesmente odeio são atrasos, senhorita.

Receber bronca nos primeiros segundos ali, eu mereço.

– Isso não irá se repetir, senhora – respondi.

– Assim espero.

Em seguida, fui para trás do balcão; atender as clientes que chegavam. Tudo estava indo bem – pelo menos, eu acho – até que apareceu nada mais, nada menos que Ada; a mãe de Isa ali. Só mais isso pra completar o meu dia perfeito.

Logo que a vi, me abaixei e me escondi atrás do balcão.

– Olá! Onde está a recepcionista deste lugar? – questiona a mulher.

Prendo meu cabelo em um coque e coloco um óculos escuros que encontrei ali.

– Bom dia – falei sorrindo e tentando mudar minha voz.

– Bom dia – diz ela, me encarando. – Tenho horário marcado para hidratação.

– Okay.

Logo chegou outra mulher e disse que tem horário para corte e hidratação. Anotei os dois e depois entreguei para Bárbara, minha patroa.

Um tempo depois, Bárbara pediu pra eu ajuda-la na massagem capilar de Ada. Fui lá enquanto ela cuidava dos cabelos da outra cliente.

– Por que está de óculos escuros se estamos em um local fechado? – pergunta Ada.

Porque não quero que você me descubra e vá contar pra sua filhinha a que nível eu cheguei.

– Meu olho amanheceu com conjuntivite – menti enquanto mastigava meu chiclete distraidamente.

– Nossa! Isso é horrível – lamentou ela, fechando os olhos.

– Ó sim é.

Foi tudo de repente. Depois de ter resmungado uma resposta pra ela, vejo o chiclete que estava em minha boca no cabelo dela no momento que estava massageando os fios o que fez o chiclete se espalhar.

– Droga – murmurei.

Tento tirar, mas não consigo de nenhuma forma. Aquela coisa só esticava, no entanto, não dava nenhum sinal que desgrudaria da cabeça de Ada.

– Não, isso não pode estar acontecendo – resmunguei.

– O que aconteceu? – Ada pergunta.

– Nada não, fique tranquila senhora.

Fechei os olhos e pensei em uma solução.

Tesoura!

Rapidamente peguei uma tesoura e tento cortar o chiclete teimoso que não quis sair por bem da cabeça dela. Todavia, Bárbara chegou antes que eu fizesse tal coisa.

– O que você pensa que está fazendo, garota? – gritou ela.

Olhei para tesoura em minhas mãos e para a cabeça de Ada.

– Solucionar um pequeno problema – apontei em direção ao chiclete.

Bárbara faz uma cara de surpresa, que logo se transforma em uma cara de zangada.

– O que houve? – Ada abre os olhos.

Onde está o buraco que enfio minha cabeça dentro?

– Um problema, mas prometo que logo será resolvido – respondeu Bárbara e puxou pelo braço até um canto do salão. – O que você tem na cabeça garota? Sabe quem é essa mulher e o que ela pode fazer contra o salão depois disso?

– Foi um acidente!

– Ah claro! Não podia fechar essa boca?

– Eu ia saber que essa coisa ia cair no cabelo dela? – gritei.

– Como é que é? – ouvimos Ada gritar.

Agora já era. Estava muito, muito ferrada.

– O que vocês fizeram com o meu cabelo? – gritou ela, se olhando no espelho.

– Um alongamento com... Chiclete! – respondi.

Ada vem pra cima de mim, pronta para me bate, mas Bárbara se põe na frente.

– Violência não levará a nada, senhora. Tentaremos resolver o seu problema.

– Tentaremos não, vocês vão. Ou então, verão o processo que irei lançar contra esse salão e principalmente, contra essa garota idiota! – ela aponta pra mim.

– Desculpa senhora...

– Suas desculpas não mudarão a situação do meu cabelo – os olhos dela já estavam cheios de lágrimas.

Senti um aperto no coração. O que foi que eu fiz? Estava me sentindo horrível com isso.

– Sinto muito – murmurei.

– Yohannah, vai embora – ordena Bárbara. – Você não tem nenhuma chance de continuar nesse emprego.

Assenti e logo sinto os óculos escuros serem tirados violentamente de meu rosto.

– Yohannah Sartory! – gritou Ada. – Não acredito que foi você que fez isso comigo.

Fechei os olhos e respirei fundo. Falta muito pra esse dia acabar?

– Já pedi desculpas.

– Como pode?

– Foi um acidente!

– A melhor amiga de minha filha fazer isso comigo. Aonde o mundo irá parar?

– Antes de mais nada, não sou mais a melhor amiga de sua amada filha.

– Não?

– Se informe melhor da próxima vez – falei. - Nunca tive nada contra a senhora, não teria motivos pra ter feito o que fiz se não fosse por acidente.

Ela me encara.

– Não importa, o que importa é que quero que vocês tirem essa coisa nojenta da minha cabeça.

Bárbara me olha de maneira intimidadora, logo entendo que chegou a hora de sair do salão. Sai dali sem ninguém dizer mais nada para mim, e começo a fazer o trajeto até em casa.

– Foi as três horas mais longas da minha vida – falei. – Como previsto, comecei muito bem no meu primeiro emprego.

– Falando sozinha? – alguém pergunta, se pondo ao meu lado.

Dei um pequeno sorriso ao ver Thomas.

– Um pequeno costume – respondi.

– Interessante.

– O que faz por aqui?

– Vim almoçar em um restaurante. E você?

– Voltando pra casa de uma manhã maluca.

– Aceita almoçar comigo?

Pensei a respeito e sorrindo, respondi:

– Adoraria! – afinal, estou morrendo de fome por não ter tomado café da manhã antes de sair de casa.


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