Grell tirou os olhos do diário em choque. Ele... me... a-a-amava?... pensou o ruivo com lágrimas correndo sua face e pingando sobre as frágeis folhas do diário. O mundo pareceu desacelerar naquele instante, ambos os corações batiam sem ritmo e suas respirações pareciam querer comprimir o ar que insistia em sair por entre seus lábios.

O moreno ergueu o rosto com certa dificuldade e voltou-se para Grell com um olhar frio e triste.

— creio que jamais irá perdoar-me por agir de maneira tão imbecil — murmurou William expulsando as palavras de sua garganta. O ruivo virou-se abruptamente para ele com os olhos arregalados.

— O que é dizendo? Wiru! se tem alguém que deve perdão a alguém aqui sou eu! — exclamou Grell erguendo as mãos em direção ao rosto de William, mas sem tocá-lo. O moreno soltou em suspiro ofegante, talvez surpreso por causa da atitude do outro.

Ficaram eles nesta posição até quando o ruivo, reuniu coragem de onde não possuía, foi de encontro aos desejados lábios inexpressivos e pálidos do supervisor.

O primeiro toque foi superficial, apenas um encosto entre suas bocas de uma maneira desajeitada e até quase infantil, porém algo além de uma faísca percorreu os corpos e mentes de ambos. Esperança.

Os dois ainda compartilhavam do contato inicial, porém suas mentes já estavam distantes. Não exatamente distantes, mas não estavam pensando exatamente no que estava acontecendo. Permaneceram com os olhos fechados mesmo após afastarem os lábios milimetricamente.

O que devo fazer? Será que devo me afastar? Pensava Grell confuso. Ele não reage... será que fui muito rápido? Oh não e se ele achar que faço isso por pena? O ruivo apavorou-se com tal ideia, mas antes que pudesse reagir sentiu o toque macio da mão enluvada de William em seu rosto.

O moreno deslizou a mão pela bochecha de Grell até seu queixo, inclinando-o suavemente. O ruivo abriu os olhos e deparou-se com um sorriso genuíno nos lábios lineares. Grell entreabriu sua boca enquanto William selou ambos os lábios num verdadeiro beijo.

Grell sorriu em sua mente enquanto retribuía aquele beijo que era doce e amargo, suave e intenso, apaixonado e desejado. O moreno envolveu a cintura do ruivo, trazendo-o para mais perto de si enquanto travavam uma batalha pela dominação das bocas um do outro.

Um riso abafado foi ouvido vindo da porta e eles se separaram, olhando assustados para a direção de onde vinha o som.

— Podem pagar! — Exclamou Eric Slingby do outro lado da porta olhando para os dois shinigamis mais novos que estavam com ele. Grell e William coraram violentamente ao notar a presença deles ali.

— Que droga Slingby-senpai, tinha certeza de que o Sutcliff-senpai ia levar uma surra do supervisor... — murmurou Ronald retirando sua carteira de seu bolso e estendendo uma nota de 20 libras para o mais velho.

— Não deveria ter duvidado de você Eric. Sinto muito — disse Alan cabisbaixo, fazendo um biquinho. O mais velho prendeu a respiração e depois a soltou, colocando uma mão sobre o ombro do colega.

— Olha você pode me pagar... depois. — disse Eric com um sorriso de lado e olhando dentro dos olhos de Alan. O mais novo corou abruptamente e deu um sorriso tímido. Ronald ficou boquiaberto e em um pequeno estado de choque.

— Eric Slingby, Alan Humphries e Ronald Knox, O que fazem aqui? — Exclamou William com uma expressão séria e ao mesmo tempo envergonhada. Os três se voltaram para o supervisor ao lembrarem-se de sua presença ali.

— Nah, isso é invasão de domicílio, saiam daqui seus bakas! — gritou Grell, mais vermelho que seu cabelo (N/A: se é que é possível), enquanto tentava esconder seu corpo no roupão fino. William tinha ódio nos olhos e fitou os três subordinados. Alan e Ronald abaixaram suas cabeças, envergonhados, enquanto Eric ignorou o olhar e sorriu de maneira debochada.

— Gomen’nasai Sutcliff-senpai e Spears-senpai — disseram em coro os dois mais novos, curvados. Eric revirou os olhos.

— Eu tenho direito de fazer isso! Se não fosse por mim Grell poderia ainda estar naquele armário de vassouras. — murmurou o loiro cruzando os braços, irritado.

— Humph! Que grosseiro Eric, é esse tipo de coisas que tem ensinado ao seu uke, digo, ao Alan? — provocou Grell com um sorriso malicioso nos lábios, deixando amostra seus dentes pontiagudos. Eric se sobressaltou e Alan corou novamente. Ronald segurou o riso pressionando as mãos contra a boca enquanto William sorria, por dentro.

— Nah Sutcliff-senpai! — gemeu Alan escondendo o rosto com as mãos. — N-não diga isso... n-não é verdade... — gaguejou o menino.

— Não me diga então que Eric-senpai é o uke? — disse Ronald entre as gargalhadas. Eric se enfureceu e colocou sua deathscythe no pescoço do mais novo que parou instantaneamente de rir.

— O assunto não é minha relação com Alan e sim o momento "caliente" de vocês há alguns minutos! — Exclamou o meio-loiro olhando para o supervisor e para Grell. — Então... qual é a vocês? — questionou Eric curioso.

William não sabia o que dizer e Grell muito menos. Eles se entreolharam, tantas perguntas, tantas respostas, tantos sentimentos reprimidos estavam sendo transmitidos naquele olhar. Grell virou-se para William, que fez o mesmo, e sorriu de forma carinhosa. O moreno olhou para Grell e tomou as mãos do ruivo nas suas, que a propósito estavam trêmulas, e beijou-as ternamente. Grell corou levemente e puxou as mãos unidas para perto de seus lábios, também depositando ali um beijo casto. Os dedos se entrelaçaram e William trouxe suavemente o ruivo para perto de si, envolvendo-o com seus braços. Abraçado ao moreno, Grell ergueu sua face, pois mesmo com saltos era mais baixo que William, e olhou nos olhos dele.

— E-eu... T-te.... A... — As palavras trêmulas não precisaram sair para que William reagisse aplicando outro beijo no ruivo, sendo que desta vez em seus lábios.

Grell, agora completamente rendido nos braços do moreno, começou a chorar. William estava exultante, mas ao sentir o gosto das lágrimas salgadas, uma onda de um sentimento como preocupação quebrou em sua mente e fez com que decidisse separar aquele carinho.

— Qual o problema ruivinha? — perguntou o moreno acariciando uma mecha da ruiva franja. Grell fungou baixinho ahw... Wiru, só você para me deixar assim... pensou consigo mesmo sorrindo de maneira doce, tal como uma garotinha apaixonada.

— Fala... — disse este ultimo com um tom manhoso. William elevou a mão direita e segurou delicadamente o queixo de Grell para poder encarar seus orbes verdes. O mesmo brilho de 100 anos atrás... disse o moreno a si mesmo tentando formular algum discurso ou pelo menos uma frase coesa que pudesse transmitir todos os sentimentos.

— Gureru-san... — murmurou ele timidamente. Isso é ridículo nós já nos beijamos e eu não consigo dizer-te... repreendeu-se mentalmente. Em um súbito de corajem o moreno, que tinha seu nariz encostado ao do ruivo, disse — Koishiteru.

— Wiru Koishiteru! — exclamou o ruivo prendendo-se novamente aos lábios de William. Mais lágrimas rolavam em sua face e agora elas se misturavam as de William, sendo de ambos a mais pura felicidade.

Um barulho alto pode ser ouvido vindo da cozinha e o novo casal se voltou para o lugar. Lá, Eric acabara de abrir um espumante e derramava-o em cinco taças próprias para champanhe.

Grell estava feliz, sentado no colo de William que sorria abertamente e segurava ambas as taças. Eric tinha um dos braços por cima dos ombros de Alan e o menor tinha as faces coradas. Ronald estava largado no chão, desmaiado e babando, agarrado a uma garrafa de vinho que derramava o liquido roxo no carpete.

No final, não importava mais o que aconteceu naquela exata noite um século antes, importava apenas que eles estavam felizes e onde deveriam estar, com quem deveriam estar e tudo graças ao diário da academia.