João sentou-se ao lado da moça:

— Bianca, aconteceu alguma coisa? — Perguntou.

— Ah, eu tive uma briga com meu namorado, só isso... — A bela tentou disfarçar o que sentia, embora nem ela mesma soubesse exatamente o que a afligia.

— Ele não sabe nada sobre o... — O gamer tentou perguntar, assustado com a possibilidade do lutador ter descoberto sobre o beijo. A menina foi rápida com a resposta, o interrompendo:

— NÃO! — Os dois mantiveram-se em silêncio por alguns segundos.

— Que estranho, ver você aí, com essa carinha... — Pausou — Eu meio que me acostumei a te ver sorrindo, empolgada. — João enunciou, mirando-a. Havia agora uma distância menor entre seus rostos.

— Bem vindo ao mundo real. Nele, nem tudo e perfeito. As pessoas sofrem! — A moça respondeu, seca.

— Não precisa me explicar isso não, porque eu já aprendi há muito tempo! — O garoto curvou o pescoço, e arqueou as sobrancelhas. A possibilidade de esconder sua vulnerabilidade foi por água abaixo. A moça se arrependeu das palavras proferidas ao ver a expressão do garoto, e o questionou:

— Do que você tá falando? De alguma situação específica? — Tentou tirar alguma história de vida dele, sem sucesso.

— Nada não, esquece! — Desconversou — Só queria ver você sorrir de novo, Bianquinha... — O rapaz agora melhorou o semblante, e acariciou suavemente o rosto da atriz, que ficou um pouco envergonhada com o novo apelido. — O que eu posso fazer pra te animar?

— Ah João — suspirou — No momento não tem nada que você possa fa... Olha! Até tenho uma sugestão: Que tal você me acompanhar até a Ribalta mais uma vez? — Um meio sorriso agora se instalou nos lábios de Bianca, que estendeu a mão ao rapaz. A única coisa que a faria esquecer daquela briga seria sua paixão: Atuar. E levar aqueles belos olhos verdes a tira colo não seria nada mal.

— Eu aceito o convite! O jovem Spinelli pegou na mão de Bianca e assim foram até a Ribalta. Duca, que passava por ali para pegar algo, observou a cena, incrédulo.

***

Ao chegar na Ribalta, Edgar anunciou que os alunos ensaiariam para os possiveís papéis definitivos, deixando á Bianca a tarefa de interpretar Julieta. Bianca sempre fazia dupla com Pedro para os ensaios, mas o melhor amigo não tinha comparecido na aula, o que a levou a pedir ajuda do acompanhante para as falas de Romeu.

— Eu vou aceitar, mas é só pra te arrancar uma gargalhada. Por que eu tenho certeza que você vai rir de mim atuando! — Ela achou graça. Em seguida, os dois pediram a Edgar ás falas de Romeu, O menino pareceu decora-las rápido. Se concentraram, e logo começaram a ensaiar:

Bianca (Julieta): — Romeu, juras que me tens amor?

João (Romeu): — Senhora, juro pela santa lua!

Bianca (Julieta): — Não jures pela lua, essa inconstante, que muda de semblante a cada mês.

João (Romeu): — E por que devo jurar?

Bianca (Julieta): — Jures por ti, que é objeto de minha idolatria. Assim eu acreditaria.

João se aproximou de Bianca, pegou em uma de suas mãos, a elevando um pouco. Olhou profundamente em seus olhos, declamando, com a voz empostada:

João (Romeu): — Pela minha alma. Oh! minha paixão. Juro que é sincero o amor em meu coração!

Os dois se encararam durante alguns segundos, que pareceram longos para eles. Tanto os olhos castanhos, quanto os verdes brilhavam como nunca. Os corações á essa altura já estavam acelerados, mas os jovens permaneceram estáticos. O silêncio logo foi substituido pelas palmas dos alunos e professores (os tirando do transe), inclusive de Dandara, que assistia encantada á cena. Depois dos aplausos, a professora de música se aproximou, fazendo uma pergunta:

— Hey, rapaz, como é o teu nome?

— É joão — Ele estendeu a mão, meio tímido.

A professora correspondeu ao aperto de mãos, e ficou muda por alguns instantes, voltando rapidamente ao assunto:

— Que cena mais linda que acabei de presenciar aqui! Eu já conhecia o talento da Bianca, mas o seu, me deixou impressionada. O mais engraçado é que eu nunca tinha te visto por aqui!

— Ah, é que eu não estudo aqui não. — Explicou.

— Mas deveria. Você se saíria um ótimo Romeu! — Edgar interrompeu o diálogo — O convite já está feito.

João pensou por alguns instantes. Considerou a atmosfera tranquila que o lugar lhe proporcionava. Observou Bianca, que não parava de o encarar, anseando por sua resposta. Fitou mais alguns segundos os olhos castanhos da moça e respondeu:

— Eu aceito!