Pedro passava na academia, a caminho da Ribalta, quando ouviu uma voz o chamando:

— Pedroo! Chega mais! — A voz era de Karina, que gritava de cima do tatame. O guitarrista ficou surpreso:

— Karina? Tá falando comigo mesmo?

— Tá vendo mais algum cabeludo maluco por aqui? — Brincou ela. Pedro já estava ficando com medo da loira. Pensou por alguns instantes e chegou á conclusão que era melhor apanhar do que fugir, com aquele bando de pessoas o encarando. Deixou o Violão em um canto e lá subiu.

— Tá corajoso hoje hein? — A moça zombou dele novamente.

— Ka, Por que você tá fazendo isso? — Perguntou, em baixo tom, para que só a loira ouvisse.

— Ué, você não me fez passar a maior vergonha na Ribalta aquele dia? Eu só quero retribuir! — Ela cochichou, com um sorriso um tanto malicioso. — E aí, vai encarar ou vai fugir?

— Bom, eu já to aqui mesmo... Vai em frente — O rapaz agora falava com a voz trêmula.

Karina não esperou um mintuto e já partiu pra cima do rapaz. A lutadora não deu um golpe muito forte, apenas o suficiente para o derrubar. Ela caiu sobre ele e estava em posição para acertá-lo com um golpe, até que seus olhos azuis encontraram com os redondos e castanhos dele, que agora estavam repletos de medo. Karina levantou-se, surpreendendo a todos, inclusive a Pedro. Estendeu-lhe a mão, ajudando-o a levantar:
— Vai! — Ordenou.

E assim O guitarrista fez, pegou seu violão, e sentou-se na escada. Deveria ter ido para a Ribalta, mas esperou o treino acabar para falar com a lutadora. Algum tempo depois, Karina saiu do tatame e foi logo em direção á Pedro:

— Você não tinha que estar na Ribalta não? — Perguntou, se sentando ao lado dele.

— Tinha, mas eu também tinha que te fazer uma pergunta. Será que eu posso? — Fitou a imensidão azul que o encarava.

— Bom, você ficou aqui esse tempo todo, seria injusto eu não te dar esse direito. — O tom agressivo e irônico peculiar de Ka agora davam lugar a uma voz serena.

— Por que você não me bateu, lá em cima? — Pausou — Você teve a chance de me dar uma surra, e não fez. Por que?

A pergunta pareceu pegar Karina de jeito. A menina queria simplesmente responder que talvez não o odiasse tanto quanto parecia. Mas não foi bem isso que ela disse:

— Eu não precisei. Só queria mostrar que você era um frouxo! — Desviou o olhar — Nada mais.
Pedro se decepcionou um pouco com a resposta, e os dois abaixaram levemente as cabeças. Até que ouviram risadas se aproximando. Eram João e Bianca, que se surpreenderam com os amigos parados no caminho.

— Ah! entendi tudo! Por isso você não foi pra Ribalta, né senhor Pedro? — Bianca apontou para o casal, atribuindo o motivo da falta do amigo á sua tarde com Ká. João a cutucou de leve, a repreendendo, ao se dar conta de que a irmã estava constrangida.

— Olha quem fala. Nem sentiu minha falta. Tá toda alegre aí com esse seu novo parceiro de Ribalta — O cabeludo devolveu a provocação da melhor amiga. Agora era ela quem estava com vergonha. Karina riu, e em seguida perguntou:

— Qual é o motivo dessas risadas todas de vocês hein?

— É que, eu atuei só pra ajudar a Bianquinha a ensaiar, mas acabei entrando pra Ribalta. — Explicou o novo estudante de artes.

— E mandou muito bem, recebeu elogios e tudo mais! — A atriz complementou, lançando um sorriso, que foi retribuido por Johnny rápidamente.

— Maneiro Brother! — Pedro deu um toque, daqueles estilo "soquinho" em João. —Seremos colegas agora. Pra comemorar, eu sugiro que a gente vá tomar alguma coisa no perfeitão, vocês topam? — Convidou.

Os três amigos do Guitarrista concordaram e eles foram até o Perfeitão, restaurante dos pais dele. O clima era de total descontração entre o grupo que conversava em uma das mesas. Duca passou pela frente do estabelecimento, observando tudo, e ficou irado. Como a Bianca poderia estar tão feliz daquele jeito se o namoro deles estava em crise? Concluiu que a moça só poderia estar gostando daquele garoto esquisito, e furioso colocou o capacete e saiu com sua moto.