João parou ao perceber que Bianca o perseguia. Virou-se de frente a ela, que começou a se explicar. Sua respiração estava um pouco ofegante:

— Desculpa! Eu não queria ter feito você passar por isso. Eu não ia contar pra ele. Mas a mentira estava acabando comigo!

— Tá tudo bem! — Mentiu. Ele estava chateado. Não sabia ao certo se era pela revelação do segredo ou por vê-la nos braços de Duca.

— Não tá! Dá pra ver na sua cara... — A atriz insistiu, encarando o cuidadosamente.

— É, Não tá. Mas vai ficar! Quem errou fui eu, você fez o certo. Eu mereci. Além do mais, eu não queria te causar problemas, e parece que você já resolveu o seu... — Suspirou. Virou-se, e continuou seu caminho, deixando a menina para trás.

A expressão, e as palavras de João pareciam ter aborrecido Bianca, mais do que ela esperava. Sentiu vontade de chorar mas seu orgulho não a deixou. Ela tinha deixado a mentira para trás e se resolvido com o namorado. Supostamente deveria estar alegre. Foi até a casa de Duca para tentar afastar seus pensamentos sobre o gamer. Bianca bateu na porta e quem atendeu foi Dona Dalva:

— Oi querida, tudo bem? — As duas se abraçaram.

— Tudo sim Dona Dalva. Eu queria falar com o Du, ele tá em casa?

— Claro linda. Ele está lá em cima, tomando banho. Pode esperar no quarto se quiser.

— Tá bom então Dona Dalva, obrigada.

A morena subiu rapidamente. Sentou-se na cama para aguardar. Sentiu um leve movimento, logo percebendo que era o celular do namorado vibrando. Nunca fora do tipo que gosta de invadir a privacidade alheia, mas a curiosidade e a demora de Carlos a fizeram pegar o aparelho. Desbloqueou a tela e percebeu que havia uma mensagem:

"E aí Carlos, Tudo bem? Sei que aquela nossa noite foi bem casual, mas passei naquele barzinho mais cedo e não pude deixar de lembrar de você, de nós. Estive pensando se você não estaria a fim de outra casualidade daquelas. Meu AP te aguarda novamente rs. Beijos.
De: Natália"

Demorou alguns minutos para poder acreditar no que acabara de ler. Pensou em sair dali o mais rápido possível, mas não quis ir sem antes conversar com o lutador. Duca chegou ao quarto, apenas enrolado em uma toalha.

— Oi amor, demorei muito? — Parou de falar ao perceber o semblante caído da namorada. Estava vermelha, e seus olhos marejavam. — O Que foi, linda? — Tentou abraça-la, mas ela empurrou seu braço, se esquivando.

— Não me chama mais assim! — Tentou- se recompor, sem sucesso. — Duca... em todos esses anos... eu nunca pensei que gente terminaria assim! — As lágrimas escorriam sem parar de seu rosto.

— Assim como Bi? Não to te entendendo! — Dissimular agora era a única coisa que lhe restava. Já tinha percebido que a namorada havia descoberto tudo.

— Você é um péssimo ator! E não adianta tentar se explicar, por que é um péssimo mentiroso também. Não vai adiantar em nada! — Ela limpava o choro com a face da mão.

Duca teve a certeza que tudo estava acabado. Ficou ali sentado, estático. Bianca jogou o celular no colo dele e saiu correndo. Esqueceu até de se despedir da avó do lutador.

***

Bianca chegou até a academia e sentou-se em baixo da escada. O lugar era vazio, e por incrível que pareça, ninguém podia vê-la. Ela chorava copiosamente, perdeu a noção do tempo que passou ali.

Os alunos da Ribalta já estavam indo embora. João passou conversando com Pedro. O guitarrista se dispersou do amigo dizendo que teria que ajudar no Perfeitão, e os dois se despediram. Johnny ia andando, quando ouviu alguns soluços baixissímos, vindos de baixo da escada.

Se aproximou do barulho, e foi surpreendido. Havia uma menina toda encolhida, com os braços em volta dos joelhos, e com a face escondida. O rapaz logo percebeu de quem se tratava, e ficou ali parado por alguns segundos, esperando alguma reação dela. Bianca levantou a cabeça e deparou-se com ele. Não conseguiu parar de chorar, ou falar algo. Sem perguntar nada, o menino ali se assentou também, envolvendo-a em um abraço. Ficaram um tempo assim, abraçados. Sua cabeça sobre o ombro dele. Os braços dele envolvendo a menina. Aos poucos ela foi se acalmando.

— Obrigada! — Foi a primeira palavra que saiu de sua boca. Acompanhada de um sorriso de gratidão.— Você não vai perguntar o que aconteceu?

— Eu prefiro esperar que você tenha vontade de me contar!

— Eu terminei com o Duca... — Suspirou — Não é legal falar isso mas... ele me traiu. E pensar que ele jogou todos esses anos fora... — Bianca voltou a chorar e João a aninhou em seu peito. Ele ficou indignado com a informação. Como aquele lutador teve a coragem de fazer uma coisa dessas? Trocá-la por qualquer pessoa, mesmo que fosse por Sophie Charlotte, era um absurdo.

— Só podem ter sido os socos que ele levou na cabeça! — Pensou alto.

— O que?

— Nada não. — Ele abaixou a cabeça, disfarçando.

Permaneceram mais um tempo ali, até a moça se recompor. Os dois estavam saindo dali, quando Duca apareceu. O sangue de Jonhhy ferveu. Uma coragem insana tomou conta do corpo dele.

— Como você pôde fazer isso cara? — Perguntou. logo inferindo um soco no rosto de Carlos, como que um reflexo.

O golpe não surtiu muito efeito, além de provocar a ira do lutador. Os dois começaram uma briga feia ali mesmo. João golpeou mais algumas vezes. Duca agarrou seu pescoço e socou com força o rosto do nerd duas vezes. Bianca entrou em desespero com a situação. Ela gritava sem parar. Enfim Gael chegou e separou os jovens.

— O que tá acontecendo aqui? O que é isso Duca? Vem pra minha sala já. Vamos conversar! — O mestre reprovou a atitude, e tirou o ex-namorado da filha dali.

Um dos golpes que joão levou deixou um corte em seu supercílio. Bianca observou, preocupada:

— Ai não! você tá sangrando. Me deixa te ajudar.

Ela o acompanhou até o seu quarto do hostel.

— Tem algum curativo aqui? — Perguntou, tateando várias coisas no quarto.

— Naquela gaveta ali, eu acho. — Ele apontou. A moça logo achou uma caixinha de primeiros socorros, provavelmente fornecida pelo hostel.

— Olha pra mim! — Disse ela, após se sentar próxima a ele na cama. Pegou em seu queixo e levantou seu rosto. — Acho que vai ter que dar pontos. Você tem muita sorte de eu ter feito um curso de primeiros socorros e ter aprendido isso. — Ele sorriu fraco.

A moça pediu que ele a acompanhasse até prerto á pia. Ele sentou no balcão, arqueando-se para que seu rosto ficasse a altura da moça. Bianca deu uns três pontos. Ela passou algo como um anti-inflamatório no local, pressionando levemente com os dedos. Arrancou uma reclamação.

— Ai!

— Quem mandou você ser maluco? Agora aguenta a dor! — Eles sorriram um pro outro. — To tentando entender até agora o que deu em você. — A moça encarou-o. Seus narizes quase se tocavam.

— Eu aguento essa dor! Foi por isso que eu fiz aquilo. Eu prefiro mil vezes a dor que eu to sentindo agora do que ver você chorar daquele jeito.

Ele a encarou profundamente. A moça, se perdeu naquelas orbes verdes, que estavam numa proximidade enorme dos seus castanhos olhos. Ela foi se aproximando aos poucos, fechando os olhos. Ele fez o mesmo. Seus lábios roçaram um no outro. As línguas se encontraram, e dançaram num mesmo ritmo. A moça erguia um pouco os pés para alcançar o nerd, que ainda estava sentado no balcão. Ele arqueado, pegava em sua cintura, a trazendo para mais perto de si. Ela acariciava sua nuca.