O lado oculto - Herdeiro escrita por De La Rosa


Capítulo 2
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

E aqui começa a nossa aventura.



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Casper

A noite anterior fora terrível, o velho pesadelo que o vinha visitando todas as noites aparentemente havia resolvido lhe fazer uma última visita de despedida, ou talvez para lembrá-lo que onde quer que ele fosse o velho pesadelo estaria lá para o acompanhá-lo. Casper já estava se animando por passar quatro noites sem ter sonho nenhum, lhe ocorrendo a agradável ideia de que havia se livrado da coisa. O urso sempre era o mesmo com olhos vermelhos e desejosos, focinho avantajado e sujo de sangue, enormes presas de vampiro saltadas para fora da boca cheia de dentes. Por mais que Casper corresse o mais rápido que pudesse por uma floresta assombrosamente escura o urso sempre o pegava e na hora da mordida fatal o garoto sempre acordava com a cama inundada de suor. O pesadelo era sempre igual, e para Casper sempre durava uma eternidade.

– Estamos atrasados – gritou sua mãe do andar de baixo.

– Já estou indo – berrou Casper enfiando na mala um porta retrato sem nenhuma foto. Ele fez força para fechar o zíper e saiu às pressas arrastando as rodinhas da mala pelo assoalho do corredor.

– Estou pronto – Disse para sua mãe que estava parada no meio da sala com os olhos fixos em seu relógio de pulso, acertando a hora.

– Eu não confio mais nessa bugiganga do século passado – disse ela nervosa – Francamente.

– Mãe! – Exclamou Casper impaciente.

– Ah, claro, vamos. Hanne já está no carro.

***

Lincoln Polk era uma das quatro primeiras Academias de seres não humanos a surgir no mundo há mais de cinco séculos atrás. Ela ficava ao norte e era a mais próxima da casa de Casper. Esse era seu primeiro ano como um estudante na Academia, pois Casper estava prestes a completar 12 anos e isso já era o suficiente para dizer que ele estava pronto para encarar os ensinamentos do mundo real, como sempre lhe dizia seu pai. Mas a verdade era que ele não estava nada preparado, para dizer a verdade Casper estava apavorado, a inquietação interior fazia seu estomago revirar em uma sinfonia desafinada. O pesadelo da noite passada só fez piorar o medo fazendo com que ele ficasse a noite toda olhando para o teto azulado de seu quarto esperando a noite ir embora.
Apesar de sua irmã Hanne ter lhe falado durante toda as férias só a parte boa sobre a Academia, ele sabia que a parte ruim deveria não fazer valer apena ir para um lugar como aquele. Afinal, nada tem só um lado bom.

– Tome muito cuidado com as regras – dizia Hanne – E se por algum motivo precisar quebrar qualquer uma delas, tenha certeza que nunca será descoberto.

De certa forma o conselho da irmã o apavorava ainda mais. Sua pequena cidade já havia ficado para trás e a cada novo quilômetro rodado seu coração acelerava mais do que o carro. Casper queria gritar para sua mãe parar o carro, abrir a porta do passageiro e sair correndo de volta para sua casa. Os seus vinte segundos de coragem já tinham ido embora desde que ele colocou os pés dentro do carro. Ele não entendia o motivo pelo qual era obrigado a ir estudar naquele internato de feras.

– Porque eu não posso estudar em uma escola com pessoas normais – Perguntou Casper em um murmúrio olhando para sua mãe cuja concentração estava totalmente voltada para a estrada, enquanto que Hanne sentada ao lado trocava apressadamente as estações de rádio.

– Nós já conversamos sobre isso, querido! – Disse sua mãe lhe dando uma breve olhada com o canto dos olhos.

– Mas eu não entendo – bufou ele.

– O governo está promovendo esse tipo de experimento desde a época de... – ela fez uma pausa e um silêncio incomodo se instalou como um mal cheiro dentro do carro. Casper sabia que sua mãe iria mencionar seu irmão Dimitri. E ele sentiu-se culpado por de alguma maneira ter feito ela se lembrar do filho morto. Hanne logo lançou sobre ele um olhar de repreensão.

– Bem – disse sua mãe tentando manter um tom animador na voz. - Esse tipo de experimento do governo é para que a paz entre as raças possa continuar. A guerra dos trezentos anos quase acabou com qualquer tipo de vida na Terra. O governo quer promover cada vez mais a interação entre as raças. E é por isso que todas as academias espalhadas pelo mundo começaram a aceitar humanos.

– Você até gosta de me ver usando magia – disse Hanne se intrometendo na conversa - A fraternidade Tamers é a melhor, espero que você tenha sido colocado nela – piscou para Casper. Para sua irmã parecia a melhor coisa do mundo voltar para um lugar como aquele, talvez ela já estivesse acostumada, afinal Hanne estava no último ano.

– Mas eu já sei toda essa história e ainda não entendo – falou desanimado.

– É simples – disse sua mãe com os olhos fixos na estrada – Você é filho de um dos membros do governo e nós apoiamos totalmente o seu pai, por esse motivo precisamos ser um exemplo – e aquilo encerrava todo o assunto.

Casper amarrou a cara e olhou carrancudo para a janela, o medo crescente estava se misturando com a raiva. Ele ficou olhando para a vegetação que circundava a estrada e totalmente entediado ele adormeceu.

***

– Casper...Casper, acorde que já chegamos! – preguiçosamente ele foi abrindo os olhos, coçou lhes com as mãos. A imagem de Hanne ganhou foco em sua frente, ela estava sorrindo, seu cabelo castanho caindo sobre os ombros.

– O que? – Indagou Casper.

– Chegamos na Academia, vamos – disse com excitação saindo do carro.

Ele olhou ao redor e se deu conta que estava em um gigantesco estacionamento. Havia um muro enorme que o fez ficar boquiaberto. Casper saiu do carro com hesitação, sua mãe e Hanne estavam tirando as malas do porta-malas. Um letreiro enorme acima daquilo que ele definiu que era uma antiga muralha, estava escrito:


Academia Lincoln Polk

As letras eram bem simples, com certeza ele já tinha visto melhores. Casper deu uma boa espiada ao redor e arregalou os olhos com a quantidade de pessoas e carros, o burburinho de vozes apressadas, abraços de despedida, reencontros de amigos. Ele viu pessoas de orelhas pontudas, “Elfos”, pensou. Garotos e garotas da sua mesma idade que como Casper tinham olhares curiosos e temerosos. As pessoas estavam se dirigindo para dentro da Academia, passando pelos três enormes portões de acesso. Casper lembrou-se dos portões dos antigos castelos, eles eram muito parecidos.

– Hey mocinho – disse Hanne – Nós precisamos de uma ajudinha aqui.

Ele se apressou em pegar sua mala novinha, totalmente entupida de coisas que ele achou necessário trazer, uma delas lá no fundo de tudo e indispensável, seu skate. Se pudesse teria trazido o próprio quarto.

– Você quer que eu entre com você, querido? – perguntou sua mãe fechando o porta malas.

Casper deu de ombros, ele não queria dizer que não quando na verdade ele estava apavorado, seu coração batendo descompassado e as mãos lisas de suor, mas um sim poderia mostrar o quanto ele era medroso e demonstrar medo no meio de uma multidão de vampiros, lobisomens, bruxos e elfos não estava em seus planos.

– Eu acompanho ele até o dormitório – Disse Hanne dando um abraço em sua mãe antes que Casper pudesse dizer alguma coisa. Ele mal conseguiu abraçar sua mãe, seu corpo estava rígido como uma máquina enferrujada.

– Você está bem? Perguntou sua mãe realmente preocupada. Ele apenas grunhiu – Vai ficar tudo bem querido – Disse dando lhe um beijo quente no rosto.

– Vamos – disse Hanne.

Ele deu uma olhada para sua mãe que lhe acenou um tchau melancólico. Engolido pela multidão e ao lado de sua irmã, Casper entrou na Academia Lincoln Polk.

***

O sol já estava quase para se pôr quando Casper e Hanne pararam em frente a torre do relógio, que mais parecia o antigo Big Ben de Londres que agora não passava de ruínas conservadas como patrimônio histórico da humanidade. Logo abaixo da torre havia uma porta de madeira de carvalho com cerca de quatro metros de altura, que estava trancada. A torre era a entrada principal para um prédio comprido que Casper imaginou ser o locar que acontecia a maioria das aulas.

– Por que você parou aqui? – perguntou para Hanne

Fiquei de encontrar alguns amigos – Ela respondeu olhando nervosa para os lados.

– Mas eu preciso saber qual é minha fraternidade – Disse Casper.

– Então agora você está interessado? – Zombou Hanne. Casper deu de ombros.

– Não precisa se preocupar – Acrescentou Hanne que com calma e delicadeza pegou o braço de seu irmão virando o pulso para cima. De imediato Casper abriu a boca incrédulo ao ver uma mancha preta começar a aparecer em sua pele.

– O que é isso? – Disse assustado esfregando a mancha para limpá-la. Hanne soltou uma gargalhada fraca.

– Não adianta fazer isso seu bobo – disse com um sorriso. – Isso é o sinal da sua fraternidade se formando. Olha – e mostrou o próprio pulso para o irmão. A figura era de uma pequena coruja empoleirada em um pedaço de galho, parecia ter sido pintada com tinta preta, fazendo parecer que era apenas a sombra de uma coruja.

– Esse é o sinal da fraternidade Supernatural Tamers. O nosso mascote é uma coruja e todos os alunos de nossa fraternidade tem o mesmo sinal no pulso direito – falou com extremo orgulho.

Casper ficou olhando por alguns minutos o borrão negro que começava a tomar forma em sua pele branca, ele estava maravilhado pois era como se nada estivesse acontecendo em seu braço, não sentia se quer uma mísera coceira no local.

– Como isso é possível? – disse ele de repente.

– Isso sempre acontece com o pessoal do primeiro ano – Falou Hanne em um tom absolutamente normal como alguém que informa a hora para um estranho – Assim que atravessam um dos portões da Academia pela primeira vez, voilà, a figura aparece.

– Olha – exclamou Casper - Meu sinal é um lobo – Disse animado.

Hanne tomou o pulso do irmão e analisou o desenho friamente, ela olhou para Casper com preocupação.

– Algo errado? – Quis saber o garoto com toda a animação indo embora.

– O seu sinal... – disse Hanne com hesitação – É o da fraternidade Silver Stone.

Silver Stone, repetiu ele mentalmente enquanto olhava para o desenho de um lobo na posição de uivo, a sombra de um lobo. O nome da fraternidade não lhe era estranho, havia algo de familiar, mas Casper não conseguia lembrar o que. Hanne olhava para o irmão totalmente confusa.

– Qual é o problema? – Perguntou Casper com impaciência.

– Essa era a mesma fraternidade do Dimitri.

– Ah – deixou escapar com um estalo na garganta. Sua família evitava falar em qualquer assunto que envolvesse seu irmão Dimitri. Particularmente Casper não sabia muito o que deveria sentir a respeito disso já que ele não se lembrava muito do irmão mais velho. Uma das poucas coisas que sabia era que o irmão havia sido dado como morto por volta de 2 anos atrás, durante uma missão do governo que ele estava envolvido. Tudo que sua família recebeu foi só as cinzas de seu irmão.

– De qualquer maneira – disse Hanne finalmente – Eles devem saber o que estão fazendo por ter colocado você na Silver Stone.


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Notas finais do capítulo

Comentários são sempre bem vindos.



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