Child of Nature escrita por Serena


Capítulo 8
A Instrutora de tiro com Arco




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/615589/chapter/8





Angélica, acompanhada pelo centauro Quíron, chegou correndo na direção do aglomerado de dríades, que permaneciam em silêncio enquanto Rosephyll se despedia da falecida amiga. Quíron veio trotando lentamente e, com uma expressão de angústia, analisou o tronco de carvalho cortado ao meio. Depois disso, alternou olhares por todas aquelas dríades até parar o olho em Maslow, ajoelhado frente à dríade do carvalho.

– Alguém aqui viu alguma coisa antes disso acontecer? – perguntou Quíron, autoritário. Seus olhos negros focavam o carvalho como se soubesse de alguma coisa e estivesse guardando algum maldito segredo. Maslow percebeu isso no momento em que o viu nos preparativos da Captura à Bandeira. É por isso que ele estava agindo estranho esse tempo todo.

– Sr. Quíron – sibilou Maslow na tentativa de chamar a atenção do centauro. Falhando, preferiu elevar a voz. – Você sabe de alguma coisa?

Angélica deu um chute de alerta no tornozelo de Maslow, que não se arrependeu do que acabara de fazer. Os olhos do centauro se estreitaram para os olhos de Maslow em uma feição chocada, embora tenha se apagado do seu rosto muito rápido. Quíron coçou sua barba e voltou a falar, calmamente:

– Quero vocês na Casa Grande, às nove da noite. Ao invés de irem para a cantoria na fogueira, permito que me encontrem para que eu esclareça umas coisas – disse Quíron – Agora, eu cuido disso, vão almoçar. Encontro vocês a noite.

Maslow e Angélica concordaram com a cabeça, chocados pela atitude do centauro. Um pouco lentos demais, foram caminhando até o pavilhão do refeitório, em silêncio por grande parte do perímetro. Foi Maslow que preferiu quebrar o silêncio, isso porque não estava se sentindo confortável.

– Então... – começou ele. – O que será que Quíron nos tem a dizer?

– Não faço a mínima ideia – respondeu Angélica, intrigada. Ela mordeu o lábio inferior e olhou para o garoto com o canto dos olhos, finalizando os pensamentos com um longo suspiro. – Estou com fome, espero que tenha pudim.


O almoço foi deveras cansativo, especialmente para Maslow e Angélica, que sentaram juntos pela primeira vez. Claro que as mesas geralmente são separadas pelos chalés, mas nenhum dos dois estava se sentindo disposto a respeitar aquela regra no momento. O Sr. D. ao menos se importou com o fato da dupla estar sentada na mesa de Despina — cuja estava vazia, como sempre.

Aaron e seus subalternos estavam conversando quase aos berros, com risadas fúteis e assuntos mais fúteis ainda. Maslow definitivamente não servia para ser filho de Ares e, se fosse, com certeza não andaria com a panelinha odiosa de seu arqui-inimigo e nem seria frívolo como ele.

– Você está bem? – perguntou Angélica, se deliciando com um pedaço de pudim caramelizado.

– Estou – disse Maslow. Aaron e ele tiveram um contato visual e, depois disso, Aaron não parou de alternar olhares entre ele e Angélica. Claro, ele estava com raiva porque Maslow estava com a garota dos sonhos de Aaron, conquanto estivesse, ou deveria ter, pelo menos um pouco de ciência de que nunca encostaria um dedo nela.

– Parece preocupado – continuou Angélica, analisando a planície dos campos de morangos. Em um bocejo, a garota comeu o último pedaço do pudim. – Não sei, às vezes pode ser impressão minha. Mesmo que eu tenha conhecimento o suficiente das emoções e em expressões faciais para que possa detectá-lo como preocupado e angustiado. Vamos, fale o que está acontecendo!

– Tá bom, sua cínica – disse Maslow, sorrindo. Notou que Angélica também sorriu, como se adorasse ser chamada desse jeito. – Sei lá, eu estou meio preocupado com o que Quíron vai falar. Não quero descobrir que ele não é quem pensamos ser.

– Relaxa, Maslow – falou Angélica, resvalando os dedos no gume de sua faca mágica. – Quíron jamais faria algo assim, ele é muito importante e sábio. Tenha ciência de que os deuses nunca colocariam um louco para proteger seus filhos... – Maslow lançou um olhar risonho para o Sr. D. – tá, Dionísio é um pouquinho louco, mas o que importa? Ele também não seria capaz de matar ninguém aqui dentro. Talvez, no máximo, lançar uma maldição.

– É, acho que tem razão – sorriu Maslow. – Agora, o que acha de irmos para a aula de tiro com arco? Isso sim vai ser divertido, sempre quis ver se eu tenho alguma habilidade com arco e flecha, ainda mais depois de jogar Tomb Raider e The Last of Us. Quem é o instrutor, aliás?

– Que coisa de nerd. Enfim, a instrutora é Jessica, filha de Apolo – respondeu Angélica, distraída. O coração de Maslow deu um salto. A garota que atirou um par de flechas no braço de sua irmã, Tess, ensinaria tiro com arco para eles! – Credo, Maslow, por que o espanto?

– É que Jessica atirou flechas no braço da minha meio-irmã – disse Maslow.

– Não é por isso que ela vai te atirar flechas também, né babaca? – falou Angélica, em gargalhadas. – Dispensa isso aí, Maslow, a Jessica não é o Aaron. Ela é, aliás, a pessoa mais amigável que já conheci na vida. Depois de você.

Maslow sentiu suas bochechas avermelharem no mesmo momento, mas ousou ignorar a sensação. Somente escoltou as risadas de Angélica e tentou ao máximo mudar o rumo dessa conversa; não queria elogiá-la, isso o deixaria mais tímido.

– Maslow! – Ouviu uma voz familiar chamá-lo e, quando se virou, viu o amigável rosto de Dean, o seu sátiro protetor e melhor amigo. – A gente nem conversa mais! Vamos fazer alguma coisa no tempo livre entre a aula de tiro com arco e o vôlei! Pode ir junto se quiser, Angélica – disse o sátiro, beijando as costas da mão da garota, brincalhão.

– Desde que não façam nada nerd demais, eu topo – riu Angélica.

– Então fechou! – disse Maslow. – Agora nós vamos para a aula da Jessica, nos vemos depois, sátiro Dean. Falouu.

Angélica e Maslow continuaram a caminhada até a aula de tiro com arco e chegaram quase atrasados. Jessica analisou os dois e, em um sorriso malicioso e nada amigável, pediu para que se juntassem ao restante dos campistas. Como filha de Apolo, tem longos cabelos louro-ondulados e queimados por tomar sol demais, a pele brônzea e uma exterioridade bela e liquidante. Chega até mesmo a lembrar um girassol — pelo menos para Maslow.

– A pessoa mais amigável que já conheceu na vida, não é? – caçoou Maslow.

– Não sei, acho que sou a queridinha da instrutora de tiro com arco – Angélica deu um tapa esmagador na parte de trás da cabeça de Maslow. – Vamos, agricultor, pega logo esse arco que a instrutora tá pedindo!

– Entendi o conceito – bradou Maslow, massageando sua nuca.

– Primeiramente, boa tarde a todos – A instrutora se colocou em uma elevação na areia da arena para que pudesse ser vista por todos. Sua voz, embora autoritária, soava como uma brisa de primavera ou como uma serenata romântica num luar de Paris. Em uma gratificante abreviação, era ridiculamente perfeita. – Felizmente, iniciamos hoje o período de espera para o solstício de verão, consequentemente as aulas serão reduzidas para que possamos aproveitar melhor os lazeres das atividades. E, nesse andamento, as aulas de grego antigo e mitologia grega serão suspensas.

Grande parte dos campistas comemoraram e aplaudiram assim que a instrutora terminou a frase, menos os filhos sabichões de Atena e até mesmo Angélica. Um filho de Hipnos dormia num banco, com a cabeça caída sobre o próprio ombro — Maslow logo concluiu que aquele garoto teria uma grande dor no pescoço quando acordasse.

– Silêncio! – berrou Jessica em ar de superioridade. Todos se calaram. – Ei, você, por que ainda não pegou o seu arco? – disse a instrutora para um garoto de cabelos escuros e sobrancelhas tão perfeitas que chegava a ser estranho.

– Ah, me desculpe, estava distraído com meu reflexo no espelho – disse ele.

Marica – berrou Aaron. Todos o olharam com desprezo, e o garoto das sobrancelhas feitas se agilizou em virar-se para ele. Com uma das sobrancelhas levantadas e um olhar de ascendência, apenas o disse, com desdém:

– Do que você me chamou?

– Você quer mesmo que eu repita? – disse Aaron com uma expressão indiferente. – Pois bem, eu te chamei de marica, cara. Acho que seria bom se você tirasse um pouco de cera do seu ouvido ou vai acabar plantando couves-flores neles – Um dos irmãos subalternos de Aaron ofereceu sua mão para que fizesse um toca aqui.

– Lamento ter que fazer isso – Em um suspiro preguiçoso, o garoto liberou de seu pulso um chicote preto laminado. Foram precisos dois golpes no tórax de Aaron para que ele caísse no chão. Os estalos ecoaram por todo o campo – Pensa duas vezes antes de zoar um filho de Afrodite, seu maldito babaca.

Todos gritaram, em coro, congratulações para o filho de Afrodite e, em um sorriso de orgulho próprio, sugou o chicote de volta para o pulso, que se enrolou como uma cobra — outro item mágico. Maslow queria muito um item mágico, mas sentia que, logo, sua mãe lhe presentearia com um.

– Os dois já pararam? – disse Jessica, revirando os olhos. Nem parecia se importar com um Aaron sangrando no chão, já devia estar acostumada com as encrencas do garoto. – Enfim, agora pegue um arco, Sam. – O filho de Afrodite concordou com a cabeça e pegou um dos arcos dispostos organizadamente no almoxarifado da arena.

– Alguém me leve para a ala hospitalar! – tossiu falsamente Aaron. – Esse garoto vai se ver comigo, vai ver!

Sam virou-se para Aaron e ameaçou socá-lo bem no queixo. Aaron deu um berro de desespero enquanto seus irmãos o ofereciam os ombros para apoiar-se. Jessica ignorou-os outra vez e começou a mostrar algumas técnicas de segurar o arco, a mirar e a atirar.

– Primeiro, segurem o arco pela empunhadura – disse Jessica. – Assim não, Ellie, você tem que segurar pela empunhadura. Repita meus movimentos, não é tão difícil assim. – Ellie, a garota a quem ela estava alertando para que mudasse a posição, ajeitou o modo que segurava e Jessica suspirou. – Ok, assim está bom. Agora, retirem suas flechas da aljava e coloquem-na no descanso de flecha do arco, isso somente para que evite que a flecha escorregue para baixo. Isso mesmo.

Jessica contornou os campistas, todos usando os arcos em harmonia. Parava na frente de alguns para murmurar algumas observações ou para ajudá-los a se posicionarem e, quando terminou as recomendações àqueles mais atrasados, voltou para a elevação na areia.

– Muito bem – disse a instrutora. – Agora, estão vendo aqueles alvos, certo?

Todos disseram que sim em coro, e Jessica retomou o fôlego.

– Tudo bem. Agora, tentem mirar no seu próprio alvo – disse. – Tem alvos o suficiente para todos vocês, portanto não quero briguinhas por possessão. Depressa, o tempo da minha aula está bem curto comparado aos outros meses! Bem, quando vocês estiverem certos de que vão acertar, soltem. Que a flecha sortuda encontre o alvo. Isso é para você, Sansa.

– Quem é Sansa? – sussurrou Maslow para Angélica.

– Sansa é aquela garota de cabelos castanhos e olhos cinzentos – disse Angélica. Não foi difícil para Maslow detectá-la com o olhar, porque ela usava um punhado de cordões no pescoço, rabanetes na parte de trás dos seus tênis e, no seu cabelo, vários trevos de quatro folhas. Não poderia esquecer de descrever seu short estampado por ferraduras – Ela é filha de Tique, a deusa do destino. Ela é... tipo, muito sortuda.

– O que rabanetes têm a ver com sorte? – perguntou Maslow, confuso.

– Sei lá, acho que isso é porque ela é absolutamente loooouca – disse Angélica.

Maslow riu e puxou o cordel do arco para mirar no alvo. Estreitou os olhos na direção do alvo e, um pouco hesitante, soltou a flecha. A flecha cortou o ar e acertou o último estágio do alvo — a parte branca. Maslow se contentou com isso, porque ele pelo menos acertou o alvo.

Sansa mirou no alvo, mas segurava a flecha sem firmeza. Bastou ela espirrar por puro descuido para que a flecha rasgasse o ar e saísse totalmente fora da rota do alvo. Entretanto, de alguma forma, a flecha tenha feito piruetas pelo ar e, contornando o alvo, acertou o meio.

– Ei! – bradou Maslow para Angélica. – Como... você viu isso?

– Não menti quando falei que ela é muito sortuda – Angélica riu, e foi terminada a aula de tiro com arco. Maslow não continha a ansiedade para o que seria dito naquela noite.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Child of Nature" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.