Child of Nature escrita por Serena


Capítulo 7
O assassinato da Dríade




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O restante da alvorada de segunda-feira não podia ter sido mais desanimado. Tudo bem que Maslow estava muito feliz por ter começado o dia tão bem com seus irmãos no ritual para Deméter, mas passar uma manhã aturando uma inspeção de chalés para partir direto para uma tediosa aula de grego antigo não era, com certeza, muito agradável.

Porém, agora, os campistas teriam um tempo livre para se organizarem para o almoço, e o menino já não parava de pensar em como Angélica poderia estar depois do incidente do dia anterior. Por isso, durante sua caminhada diária pela trilha, tentava ao máximo detectar algum sinal da filha de Nêmesis pelo perímetro.

O que menos ansiava naquele momento era dar de cara com Aaron, ainda que estivesse informado de que ele poderia estar na ala hospitalar — principalmente depois de ter desmaiado pela mística energia de Deméter — ou pelo menos passando o dia no seu chalé para que pudesse se reformar do acontecido.

– Maslow? – A inequívoca voz de Angélica chamou pelo nome do garoto. Aquela mísera impressão de regurgitar o que comeu no café da manhã o abalou por alguns segundos, acompanhada de velozes batidas cardíacas.

Maslow virou o rosto para trás e encarou por alguns segundos aquele rosto estonteante de Angélica. Ela hesitou em falar, ainda mais por estar sendo observada daquele jeito. De algum jeito, nem ela nem Maslow ousaram em dizer qualquer coisa por pelo menos cinco segundos.

– E-então, Maslow, oi – disse Angélica, ofegante. – Vim até você para agradecer por ontem; o que diabos tiver acontecido. E... meus parabéns por ser reclamado, aliás, eu... agradeço mesmo. Acho que agora vou ter que te salvar outra vez – e finalizou a frase com um sorriso torto.

Maslow concluiu que Angélica estava sem graça. Sem graça por tê-la visto daquela maneira.

– Ah, de nada – disse Maslow. Observou que sua perna estava enfaixada por esparadrapos semelhantes aos de Tess, mas eles ainda estavam úmidos por algumas gotas de sangue. – O que aconteceu aí? Na sua perna, digo...

– Aquela força sobrenatural me jogou para um galho resistente e afiado o suficiente para que perfurasse a minha coxa – disse Angélica, em pausas. Maslow arregalou os olhos, sem graça, e a garota logo alertou-se, em uma risadinha. – Mas relaxa, eu estou bem, Quíron já me tratou com cuidado e agora posso andar como gente outra vez.

– Bom, tudo bem – Maslow sorriu e analisou outra vez o cordão preto cheio de pedrinhas enfeitadas. Já havia notado que muita gente do acampamento usava aquilo e estava muito curioso para saber o que eram. – O que são esses cordões no pescoço dos campistas? Observei que muitos os usam e as pedrinhas parecem ter algum significado.

– É um colar de contas – disse Angélica. Maslow ficou confuso e a garota instantaneamente percebeu. – As pedrinhas são contas, e as contas simbolizam cada ano que passamos no acampamento. Os símbolos gravados nelas simbolizam o acontecimento mais importante do ano, como essa harpia aqui – Ela fez uma pausa curta e segurou a conta cuidadosamente com a ponta dos dedos, como se fosse algo sagrado para ela. –, que simboliza uma vez em que uma harpia defendeu uma filha de Íris da morte certa. A harpia foi congratulada pela própria Íris e a deu até mesmo uma bênção. Achei que Quíron já tivesse lhe descrevido para que elas servem.

– Elas são incríveis! – disse Maslow. – Quer dizer então que você... uma, duas, três, q... passou seis anos no acampamento? Com quantos anos você chegou aqui? Não parece ter a mesma idade de Rupert e...

– É uma longa história que prefiro não... não vivê-la outra vez – respondeu ela. – É, eu estou aqui faz seis anos, porque meu pai morreu na tentativa de me proteger e prefiro ficar aqui, no acampamento, onde é o meu verdadeiro e único lar. Eu e Rupert temos a mesma contagem de contas porque, bem, chegamos aqui juntos. O mesmo sátiro nos trouxe, o sátiro Dean. Eu era apenas... apenas uma criança inocente quando cheguei aqui.

– Sinto muito, Angélica – murmurou Maslow.

– É, eu também – murmurou Angélica de volta. Abriu um sorriso abatido, mas Maslow notou que era o mais franco que podia fazer. Mas, quando ela reparou a altura do sol, se assustou. – Está na hora do almoço... precisamos ir.

Foi uma extensa e divertida caminhada até o pavilhão do refeitório, no entanto eles não a fizeram em silêncio. Conversaram sobre basicamente tudo durante quase todo o trajeto e, agora, Maslow não conseguia mesmo tirar seus olhos de Angélica. Ela era perfeita.

– Você faz muitas perguntas, Maslow – riu Angélica, desviando o olhar para uma aglomeração de ninfas dríades. Uma delas, deitada no chão, chorava com tanta amargura que Maslow simplesmente não podia deixar passar por despercebido. Confiante, foi driblando as ninfas até a dríade.

– O que tá acontecendo? – indagou Maslow para a ninfa que chorava, mas ela soluçava tanto que não conseguia falar nada. A volta de seus olhos, que deviam estar perfeitas e coradas, estavam quase roxas, e sua pele pálida e doentia.

Aquilo aconteceu – Uma ninfa da roseira, aos prantos, apontou para um tronco de carvalho brutalmente cortado ao meio e uma dor aflorou no peito de Maslow. A árvore daquela ninfa fora cortada, ela iria morrer logo. Mas... quem teria feito tal blasfêmia? Nenhum mortal poderia passar pela barreira. Foi alguém do acampamento, Maslow estava certo disso.

– Ah, não... – sibilou Maslow. Angélica logo se agachou ao seu lado e ele não poderia ousar em soltar alguma lágrima. Ainda assim, não sabia ao certo o que fazer, mas uma ideia floresceu na sua cabeça. – Oh, mãe... Deméter. Poupe a vida desta ninfa, a poupe. Não deixe que os atos desse campista ou quem diabos tenha sido influenciem na vida dessa dríade. Por mim, não a deixe morrer.

Foram longos minutos de espera. A dríade do carvalho estava sem fôlego e algumas raízes escaparam do solo para puxá-la para debaixo da terra. Deméter precisaria operar agora, ou a dríade iria falecer. Ele estava ciente que Deméter poderia não salvar a dríade.

E não a salvou.

– Eu... – Angélica encostou no ombro de Maslow, que não conteve as lágrimas de empatia. – Sinto muito, Maslow, por não ter conseguido salvá-la... acho que o fato de você ter tentado já foi muita coisa. Sua mãe não pode contrariar a morte, ainda mais uma desse jeito.

– Precisamos contar a Quíron – engasgou-se Maslow.

– Não, não, não! – A dríade da roseira debruçou-se sobre a ninfa morta. Suas lágrimas escorreram pela vegetação que a puxava, que pareceram dar a ela mais tempo para se despedir. Aquela cena rachou ainda mais o coração de Maslow. – Por favor, não morra! Você é minha... minha melhor amiga... não pode fazer isso comigo, Drysoak, não... não morra!

– Por que alguém faria algo assim? – exclamou Maslow, um pouco rouco pelo choro – Alguém viu pelo menos alguma coisa de estranho antes do carvalho ter sido cortado? Que diabos... que diabos tá acontecendo aqui?

– Fique aqui, Maslow – Angélica se levantou e suspirou, com uma visível pena de Maslow que destacava em seus olhos. – Eu vou procurar Quíron, ele... ele vai saber o que fazer. – Maslow concordou com a cabeça e acariciou os cabelos volumosos e rebeldes da dríade. Sua pele era bronzeada, como uma pessoa que viveu a vida no Havaí, mesmo que estivesse pálida.

– Eu sinto muito – disse Maslow para a dríade da roseira. – Sei que ela era muito importante para você... aliás, qual é o seu nome? – Maslow tentou confortá-la, e ela correu os olhos verdes para os de Maslow. Tinha a aparência de uma garota normal, baixa e esguia, com cabelos verdes como as folhas das árvores e tinha uma grande coleção de rosas e pétalas nele.

– Rosephyll – disse a dríade da roseira, rouca, secando as lágrimas dos olhos – Ela era como uma irmã para mim, e... não sei se conseguirei viver sem ela – e voltou a chorar. Agora Maslow não poderia de forma alguma deixar aquilo passar despercebido.

Terminantemente Maslow não sabia por que atraía tantas desventuras.


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