Child of Nature escrita por Serena


Capítulo 11
Auxílio da sabedoria




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/615589/chapter/11



Maslow ficou em um estado tão profundo de choque que Daniel, o instrutor de luta com espadas, perdeu sua paciência e quase puxou o garoto pelo braço para que fosse ao meio da arena. Entretanto, Daniel somente bradou em alto e bom som para que ele abandonasse o piripaque e lutasse contra Aaron como um homem.

Mas ele estava com medo e não queria apanhar para seu inimigo.

Sentia que aquilo era um plano de vingança de Aaron. Não podia ficar com medo. Aaron era o filho do deus da guerra. Maslow só um esguio filho da deusa da agricultura. Dava para sentir a diferença. O deus da guerra era especialista em qualquer tipo de arma. Enquanto isso, Maslow era especialista em... plantar e colher com uma foice?

– Que foi, Maslow, tá com medo? – perguntou Aaron em implicância. Maslow negou com a cabeça e, em comando do instrutor, pegou uma espada e um escudo de uma pilha de armas no chão. Angélica observava tudo com preocupação.

Contudo, Aaron não fez o mesmo que Maslow. Um filho de Hefesto havia forjado uma espada especial para ele e o garoto parecia não precisar de um escudo. Quando foi passar pelo aglomerado de campistas, a miúda Sansa o parou com o cotovelo.

– Para te dar sorte – Sansa, a filha sortuda de Tique, tirou um cordão com um pingente de ferradura do pescoço e colocou no de Maslow rapidamente. No mesmo momento ele se sentira capaz de derrotar Aaron. Maslow abriu um sorriso breve e a agradeceu em silêncio. Sansa não era louca. Sansa era legal.

– Finalmente – resmungou Aaron assim que Maslow botou seus pés no meio da arena.

O instrutor explicou tudo, mas Maslow não conseguiu prestar muita atenção. Não era apenas seu déficit de atenção acentuando no pior momento. Era seu medo. Seu medo estava o espairecendo e suas mãos e joelhos sacudiam. Suava frio. Ele estava em desespero profundo e não sabia o que fazer.

– Comecem! – berrou o instrutor.

Maslow caiu em si assim que Aaron estocou a lâmina da espada contra ele, porém conseguiu bloqueá-la com o escudo a tempo. Sentiu um calor descomunal passar por seu abdômen e não demorou a perceber que o centro de seu escudo estava derretendo. A lâmina pegava fogo, quase como magma. Aquilo era injustiça e Angélica já estava dando uma grande bronca em Daniel, o qual nem se importava muito com ela.

Maslow desabou no chão assim que Aaron o deteve com três golpes ágeis e dolorosos na região do tórax. Ele gritou, mas não demorou para levantar. Não ia desistir nem se necessitasse. Devolveu dois golpes lentos na direção de Aaron, mas ele desviou sem delongas.

Maslow! – gritou uma filha de Atena. Seus olhos cinzentos se arregalaram e ela arremessou um grande escudo de bronze celestial mesclado a aço na direção do garoto. Ele o agarrou no ar e, por incrível que parecesse, era leve como uma pena. Maslow largou o antigo escudo e instintivamente encaixou o novo no punho esquerdo.

– Valeu! – gritou Maslow.

Aaron estocou a lâmina agilmente contra o tórax do garoto, o qual conseguiu sem problemas bloquear o ataque. Dessa vez o escudo não reagiu de um modo que fizesse sentido à física. O fogo que a lâmina ampliava se transformou em fumaça assim que se chocou contra o escudo. Era um efeito do item mágico da filha de Atena; era imune ao fogo! Ele teve um auxílio enorme da filha de Atena e não poderia estar mais agradecido por isso.

Conseguiu detectar um fulminante sorriso de malícia se abrir no lábio da garota antes de levar um corte cáustico no antebraço.

A dor era tão ruim quanto a que sentira quando Aaron o perfurou com sua lança.

Mas não se deteu. As palavras que sua mãe havia dito na noite anterior o inspiraram como nunca. O cordão de Sansa brilhava e Maslow, sem pensar muito bem, arremessou o escudo contra a cabeça de Aaron com a maior força que podia e, aproveitando o atordoamento do adversário, perfurou seu ombro com a mísera espada de ferro. Humilhado, Aaron caiu no chão.

– Já acabou? – perguntou Maslow, ofegante. Colocou o pé esquerdo no corpo de Aaron em deboche e todos o aplaudiram. O instrutor fez uma expressão carrancuda assim que Angélica, em um sorriso mais que satisfeito, berrou para ele meia dúzia de ofensas catastróficas. – Bem, Aaron, acho que você deveria pensar duas vezes antes de ser humilhado outra vez.


Algumas horas mais tarde, depois de todos os campistas pararem de segui-lo para perguntarem como ele havia feito aquilo, Maslow foi devolver o cordão de ferradura para Sansa e agradecer à prole de Atena pelo grande auxílio na batalha. O nome dela era Melissa e era a garota mais inteligente que já conheceu. Seus assuntos eram sérios e persuasivos, porém ela conseguia colocar uma pitadinha de bom humor em tudo. Conversaram durante o tempo livre inteiro, mas foram obrigados a cessar a conversa para irem polir as armaduras.

– Oi, Maslow.

Maslow não identificou o timbre da voz logo de cara. Teve que virar o rosto na sua direção para perceber que era Angélica. Seus olhos absurdamente azuis correram entre Maslow e Melissa e, séria, começou a polir um elmo com um úmido pano branco.

– E aí? – respondeu Maslow, sorrindo.

– Você foi bem contra Aaron – disse ela secamente. Melissa se despediu silenciosamente e deu um sorrisinho sem graça para Angélica. Gesticulou com as mãos para que se vissem mais tarde. – Acho que isso foi pelo auxílio de Sansa e a... garota ali.

– Melissa.

– Tanto faz – cortou Angélica. Ela começou a polir o elmo com mais força e não demorou pra derrubá-lo no chão. Resmungou um xingamento e o encaixou na armadura outra vez. Maslow não disse mais nada, assim que terminou de polir a armadura foi peregrinar pelo acampamento.

Por que Angélica fora tão rude em relação a Melissa? Não era ciúme, Maslow sabia muito bem que Angélica não gostava dele a ponto de sentir algo como ciúme. Como sempre, acenou para Nyalia no meio de seus pensamentos e ela acenou de volta em seu característico sorriso agradável.

Mas uma coisa o pegou de surpresa. Estava perdido no tempo. Que dia era aquele?

Detectou Melissa conversando com suas irmãs e se aproximou o suficiente para que ela intuísse sua presença. Pediu licença para as garotas e respondeu a Maslow sua dúvida. Era quinta-feira. O dia seguinte seria mais uma agradável Captura à Bandeira. Ótimo.

– Está animado com a Captura à Bandeira? – perguntou ela.

– Nem um pouco – respondeu Maslow, rindo. Melissa deu uma risadinha tranquila e foram se sentar na grama próxima do trapiche do lago de canoagem. – Como alguém pode ficar animado com algo como aquilo? Que coisa de masoquista!

– Sei lá, eu acho bem divertido, tá? – bradou Melissa. – Ainda mais quando a prole de Atena é líder. Sou uma estrategista nata, desculpa aí.

– Metida – disse Maslow.

Melissa riu e no mesmo momento Maslow sentiu algo o puxando com violência pelo colarinho. Depressa ele conseguiu ver o rosto furioso de Aaron. Seus olhos estavam em chamas como nunca e suas mãos estavam tão quentes que praticamente acinzentaram o colarinho de Maslow.

– Agora sim você tá ferrado, seu merdinha – berrou Aaron. Ele levantou sua lança flamejante perto do rosto de Maslow, o qual pôde sentir seu calor insuportável. Melissa se levantou e apertou de leve uma pulseira dourada. Em um veloz giro em circunferência, ela se transformou em seu grande escudo.

– Porra, Aaron, você já não foi humilhado o bastante? – falou Maslow, sem paciência para os joguinhos de seu inimigo. Aaron ignorou completamente o seu comentário e jogou o garoto no chão com força, de nuca. Ele ficou atordoado por um tempo antes de notar que Aaron estava prestes a perfurar sua cara com a lança. Maslow girou para o lado e a arma fincou no gramado.

Melissa atingiu Aaron com uma escudada, mas não cometeu nenhum tipo de dano.

Aaron foi dar um soco no rosto da garota, mas ela não se deteve. Ela se abaixou e o proferiu uma rasteira perfeita. Ele caiu no chão, o qual levantou em fúria. Não era como o Aaron comum, que foi abatido por Sam com os chicotes ou por Maslow com uma espada no ombro. Ele estava possuído por um ódio que o fortalecia. Como a adrenalina para alguns.

– Que merda tá acontecendo aqui? – Jessica, a instrutora de tiro com arco, invadiu o campo de batalha triunfante. Seus cabelos ondulados e loiros voejavam com o vento e ela desencaixou o arco do tronco. Ela tirou uma flecha brilhante da aljava presa à coxa e a colocou lentamente no descanso. – Aaron, está arrumando outra típica encrenca? Já havia falado com você a respeito disso, garoto, avisei que a próxima encrenca seria as portas para três flechadas dolorosas.

Aaron virou seus olhos flamejantes para Jessica e não demorou para avançar contra ela. Ele atirou sua lança contra seu peito, mas ela não a atingiu. Jessica ficou banhada com a luz solar e, como um flash, praticamente voou pelo ar para desviar.

– Não creio que você ia tentar me matar, Aaron – Jessica disse aquilo com tanta naturalidade que Maslow ficou preocupado, já se levantando para transformar seu cordão em sua foice. Não foi necessário. Jessica atirou três flechas ao mesmo tempo contra Aaron.

Aaron não foi atingido. Ele desviou como um tigre de todas as flechas e a lança foi voejando para sua mão direita. Maslow não estava acreditando, achava que Aaron era um fraco de merda que bancava o fortão. Mas não, ele estava possuído pelo mais impuro ódio e estava mais forte do que nunca.

– Aaron, que merda, para! – gritou Jessica. Seus olhos se tornaram tão brilhantes quanto o sol e o acampamento inteiro se mobilizou para fechar os olhos ou tapá-los com as mãos. Até o Sr. D. e Quíron começaram a se aproximar para ver o que estava acontecendo.

Maslow não tinha noção de como os semideuses podiam ser fortes quando experientes.

A mais pura e bela luz do sol explodiu na direção de Aaron. Surgiam como feixes do peito de Jessica, a qual gritava em fúria de braços abertos. Tudo ficou quente e ventos impetuosos vinham de todos os lados. Aaron não tinha como desviar daquilo. Ele foi atingido por cerca de sete feixes e arremessado para longe. Aquilo o faria, com toda a certeza, aprender uma lição de vida.

Maslow não podia mexer mais com Aaron.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Child of Nature" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.