Child of Nature escrita por Serena


Capítulo 10
A foice funesta




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A enigmática mulher assentiu tão lentamente com a cabeça que o garoto até ficou em dúvida se ela ao menos se moveu. Maslow não teve outra reação além de correr até ela o mais rápido possível para que pudesse abraçá-la. Ela, pasma com a reação imprevista do filho, até chegou a largar a foice púrpura e também se sentia na dúvida do que fazer. Maslow estava chorando como uma criança e suas lágrimas escorriam pelo bolero de pelo de lobo de sua mãe. Era nítido nos olhos verdes da mulher a culpa por todos aqueles anos de abandono. Mas por que ela estava ali? Uma deusa. Deméter. Uma deusa desceu do Olimpo apenas para ver... conhecer Maslow, um desajeitado e simples garoto russo-texano.

– Me... – Deméter se engasgou com um soluço choroso. – Me perdoe, meu filho.

Maslow não conseguiu dizer nada, muito menos esboçar qualquer tipo de reação alternativa. Somente abraçou a mãe mais forte e, em seguida, retrocedeu alguns passos para enxergar melhor o rosto dela. Nunca imaginou ou tentou instituir algum tipo de roteiro para um hipotético dia em que sua mãe o descobriria. Achava, antes de saber de sua divindade, que ela havia morrido ou que era desumana o suficiente para não querer conhecê-lo.

Mas... ela estava ali. Parada em sua frente.

– Eu tenho... – Deméter limpou a garganta e limpou as lágrimas do rosto com as tênues costas da mão. – Eu tenho uma coisa para você, Maslow.

– O quê? – perguntou ele em seguida.

Deméter se agachou delicadamente e apanhou um graveto de mais ou menos dez centímetros do gramado. Era quase tão fino quanto um alfinete e aparentemente inútil. O garoto pensou por longos segundos que Deméter estava caçoando com a sua cara, porém ela estava séria demais para isso e não fazia o feitio da deusa da agricultura. Sua personalidade era óbvia. Seriedade e responsabilidade.

– Um... graveto? – resmungou Maslow, ainda um pouco convicto de que ela não estava brincando.

– Espere – Deméter abriu um sorriso sem graça. Bastaram poucos segundos para que conseguintes vibrações no graveto alarmassem a atenção de Maslow. Folhagens se materializaram na superfície do mísero graveto e se enlaçaram por toda sua estrutura castanha. Uma lâmina brônzea, claramente olimpiana, se mesclou com a prata mortal, contornando-se em lua. Era uma foice. Um item mágico! – Te presenteio com a foice funesta, meu filho.

– E... – Maslow engoliu em seco. – Para que ela serve? Claro, além de ser uma mais que adequada ferramenta de agricultura.

– É uma excelente aliada em combate. Além de ferir monstros, fere também mortais – disse Deméter, transmitindo certo grau de importância na voz doce. – O cabo é feito de carvalho celestial e por isso não quebra. Ela é totalmente confortável para uso e a lâmina é banhada por pétalas de papoulas mágicas que, com o contato, faz qualquer um dormir. Contudo, um aviso: ela irá ganhando intensidade conforme você for ganhando experiência. Aliás, se você apertar o botão da ponta do cabo, ela se torna um belo cordão que pode ser enrolado no pulso e no pescoço. Em forma de cordão, você nunca a perderá. Além disso, te darei uma bênção.

Maslow ficou cativado. Sua mãe estava lhe presenteando com um item mágico e, como se não fosse o suficiente, com uma bênção! Como antes, com Nyalia, estava muito mais do que feliz, porque nunca fora acostumado a ganhar muitos presentes. Nada de mimos. Afinal, o Sr. Aharkov nunca fora um cara muito rico. Agora, sentia que devia habituar-se a isso.

Valeu, mãe! – disse Maslow, ofegante por um baque repentino. – Obrigado mesmo! É... incrível.

– Não se detenha, Maslow. Seja forte. Lembre-se que eu estarei sempre disposta a atender suas orações. Infelizmente não poderei vê-lo com frequência – disse Deméter, triste. Seus olhos observaram o lago por um tempo e fez-se silêncio.

Maslow concordou com a cabeça e, renovado, envolveu seus braços em volta da mãe o mais forte que podia. Depois de um pequeno andamento, ela beijou a testa do filho e desapareceu pela floresta. O garoto conseguiu detectar um brilho descomunal vindo dentre as árvores que foi logo contido por um feixe de luz, o qual ia direto ao céu, breve e quase imperceptível.

– Eu te amo, mãe – disse o garoto.


No dia seguinte, nada fazia muito sentido para Maslow. Ele conhecera sua mãe. Pronto. Foi tudo tão rápido que chegou a ser burlesco. Ganhou um item mágico — ótimo — e uma bênção — legal —, mas isso não queria dizer que ele fora comprado. Sua mãe precisava de muito mais que isso para que o conquistasse como filho. Não, ela precisava comparecer, mesmo que fosse uma raridade.

A primeira aula do dia seria luta com espadas. Ele não ficou muito animado com a notícia.

A arena estava meio vazia quando Maslow entrou pelo grandioso portal. Não demorou muito para que três dúzias de semideuses invadissem os portões e praticamente aniquilassem o silêncio por completo. Agito era um pouco desconfortável para Maslow — ainda mais pela manhã —, mas preferiu não rezingar.

– Quem é o instrutor de luta com espadas? – perguntou Maslow para Sam, o filho de Afrodite.

– Daniel – disse Sam em um longo bocejo enquanto se admirava pelo reflexo da espada – Filho de Ares.

Ares. Aquele nome o abalou de modo que qualquer outro não o abalaria. Era um irmão de Aaron. Droga. Ele faria qualquer coisa para acabar com Maslow de alguma forma, mesmo sendo a merda de um instrutor. Agora sim. Agora sim Maslow estava desanimado com a notícia.

– Tá tudo bem? – perguntou Sam.

– Sim, eu acho – disse Maslow, ainda um pouco atordoado. Conseguiu identificar Angélica de longe, com um rabo de cavalo curto e um ar descomunal de superioridade. Seus olhos azuis corriam por todos ali presentes, como se quisessem falar alguma coisa. – É que... sei lá, não me dou muito bem com as proles de Ares. Principalmente com o Aaron.

– Relaxa, Maslow – exclamou Sam, despreocupado. – Ele é só um babaca.

– Eu sei – falou Maslow. – Mas é um babaca com uma maldita lança flamejante.

No momento que Sam deu uma risada, o suposto instrutor de luta com espadas adentrou a arena. Aaron o acompanhava e estava com os braços enfaixados e com o peito coberto por um colete de batalha. Seus olhos estavam em chamas e não disfarçou ao alterar olhares entre Maslow e Sam. O ódio era manifesto.

Puta merda, pensou Maslow.

– Silêncio – bradou Daniel. Sua voz soava firme e nada simpática e quase instantaneamente toda a multidão se calou. Cerca de cinco segundos depois, ele quebrou o silêncio. – Hoje a aula será diferente das outras. Ao invés de vocês ficarem cravando suas lâminas nos bonecos, irão ter a oportunidade de lutarem entre vocês. Portanto, sem mais delongas, Aaron irá escolher um oponente.

O coração de Maslow deu um salto. Já esperava o que iria acontecer, como se tudo passasse claro em sua cabeça. Era algo... óbvio.

– Eu escolho Maslow Aharkov – disse Aaron, com certo cinismo na voz.


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