Soco, soco, chute.

Soco, soco, chute.

Essa é, provavelmente, a quadragésima vez que repito o padrão.
Estou na sala de treinamento batendo num boneco, que me encara sem vida, no entanto, em minha mente ele tem um rosto e um nome.
Lyudmila Tavlichenko. A cruel responsável pela criação e monitoramento da Sala Vermelha, o lugar onde fui torturada por anos até me tornar a fria assassina que ilustra meu passado.
Dra. Hoeffman, minha "psicanalista" (digo entre aspas porque não acredito realmente na análise psicológica), diz que devo nomear as coisas que me irritam e descontar a raiva lá, nos bonecos sem vida.
Assim como todo o resto, obedeço calada, achando bem inútil para dizer a verdade, e volto ao padrão.
Soco, soco, chute.
Soco, soco, chute.
...
Por volta de 7h15 saio da sala estampada de suor e com as bochechas da cor dos meus cabelos. No corredor encontro Wanda, e assim que me vê ela faz uma cara assustada e toma coragem para me parar.
Eu sinceramente não sei porque ela age como se eu quissesse socá-la num beco.
– Hm, bom dia? - digo.
– Olá, Natasha...digo, Agente Romanoff. Hmm, não vai para o café ?
– Você pode me chamar de Natasha quando não estivermos treinando ok? - tento ser simpática.
– Como quiser, senhorra.
A garota perdeu o irmão a pouco mais de um mês e meio, deve estar sendo um longo período sozinha. Sinto uma compaixão, rara do meu comportamento, mesmo assim a atitude dela me irrita, pois beira à pena.
– Hmm.. Acho que vou tomar aquele café. Nos vemos às 8h lá fora, certo?
Ela acena e sai.
...
Esse horário é o mais cheio no refeitório, e corro no banheiro antes de entrar.
Lá, lavo o rosto e as mãos, deixando a água fria me refrescar.
De volta ao refeitório, passo na bancada, pegando café, aveia, e banana.
Na volta, sento no que Stark define de "Mesa VIP" , ou como eu chamo, "Mesa dos Vingadores Idosos : Preferencial".
Steve me cumprimenta, ele está acabando um prato de...mingau?
A piada me escapa dos lábios :
– Comida para maiores de 70 ?
Ele ri.
– Temos que tomar providências quando os dentes não funcionam tão bem mais.
Ele diz, entrando na brincadeira e rimos juntos.
– Então, o que vamos treinar hoje? Sinto que eles estão cada vez mais animados - ele recomeça.
– Eu não sei. Hoje é dia de usarmos o simulador, então deviamos formar duas filas e então mandá-los em duplas ou trios. Não sei se estão prontos para irem sozinhos. Charlotte passou uma vez e quase quebrou o braço naquela braçadeira, lembra?
– É... Trios não. Duplas.
Será melhor eles aprenderem a divisão de tarefas com um grupo pequeno, depois no final do mês, podemos fazer uma tabela e formar dois times e então...
– Eu tenho certeza que esse é um assunto muito importante- Stark o interrompe com o sarcasmo habitual -...mas acho que vocês tem que vir comigo. Agora.
Seguimos ele pelo elevador, e assim que ele aperta no terceiro andar eu pergunto:
– Por que a pressa?
– Hill acha que descobriu uma pista do invasor de ontem.
– E você sabe qual é?
– É o que vamos descobrir, ruivinha.
Ele diz e como uma deixa, as portas abrem e chegamos no andar.
...
Hill está na tela de um computador enorme e quando nos vê, diz:
– Bom dia a todos! Trabalhamos toda a noite no invasor, e acho que temos uma pista.
– Acha? - diz Stark.
– Bom, durante a madrugada alguém tentou logar a SHIELD numa rede privada em Detroit.
– Mas isso qualquer adolescente de hoje consegue fazer.
– Eu sei, Stark, porém esses dias vêm circulando boatos de uma organização secreta. Em Detroit. São muitas evidências a serem ignoradas. Pode ser coincidência ou algo sério. Dois agentes já foram mandados pra lá, mas Fury me ligou de manhã, e quando eu o contei, ele pediu que a agente Romanoff entrasse no caso.
Nesse instante, eu, que permanecia a muito tempo dispersada da conversa dos dois, reagi, meio espantada:
– Eu? Mas por quê?
– Fury não deu mais explicações.
Só disse que você era necessária lá. Algo que só você poderia ajudar.
– Mas eu nunca nem fui em Detroit.
– Agora vai. Preciso que saía imediatamente.
E ah, ele mencionou algo como você levar duas pessoas.
Eu assinto e me viro para sair, quando ela continua:
– E uma delas é a telepáta, Maximoff.
...
Após o choque inicial de que tenho uma missão com Wanda, rapidamente pegamos algumas coordenadas e Steve me pede para ser a outra pessoa que irei precisar. Eu aceito mais que rapidamente, antes ele que Stark.
Saímos para fazer os preparativos, e, na hora do almoço estamos prontos.
Sam Wilson e um outro instrutor cuidaram das aulas da manhã e eu e Steve liberamos Wanda do treino, e explicamos à ela da missão.
"Eu, numa missão de verdade? Não sou tão experiente. Tem certeza que vão me levar?" , eu confesso que o comentário dela me irrita, como se Fury já tivesse alguma vez explicado o porquê de escolher as pessoas. Por incrível que pareça, Hill e Steve permaneceram muito interessados em explicá-la os detalhes, e dado que minha presença era inútil, pedi licença para resolver umas coisas antes de sair.
Precisava fazer uma ligação. Para alguém que não vejo a um longo tempo. Que por acaso, deve estar em Detroit.
– Oi...Bobbi?
– Tasha !! Quanto tempo!
– Pois é... Você me mandou um email outro dia, dizendo que estava em Detroit fazendo uma...pesquisa?
– Sim. É só uma tese ainda, encontrei algumas pessoas da SHIELD aqui, está sendo bem promissor até agora.
– Ótimo! Escuta, eu tenho que falar rápido porque estou saindo numa missão...para Detroit.
– Sério? Você pode ficar comigo, eu tenho um sofá incrível.
Eu rio.
– Sim, era isso mesmo que eu ia te pedir, mas...
– Ah não, mas o quê?
– Bom, é que eu não estou...sozinha.O que você diria de "abrigar" um ex-soldado musculoso de 70 anos e uma jovem telepáta inexperiente?
Ela ri antes de responder.
– Bom, eu diria que será como nos velhos tempos!