O Rei de Nova Midgard: Sangue escrita por Xampz


Capítulo 13
XII


Notas iniciais do capítulo

As pessoas temem aquilo que não consegue compreender.



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Ymir

Sir Edmund era silencioso. Cavalgava um pouco mais à frente de Ymir. Sua face estava coberta pela máscara de sua armadura. Ymir nunca o vira e ouvira sua voz apenas uma vez, quando falava com o Jovem Rei.

“Eu irei escoltá-lo até as terras fluviais, Vossa Graça”, Dissera o Cavaleiro à Siegfried Berthold. Ele até parecia relutante. Após dias de viagem, se alimentando de pão duro e caçando apenas coelhos, Ymir já estava com caibrãs. Será que ele nunca vai falar comigo?

— Ei, Sir? – Disse Ymir, quando não aguentou mais. Sir Edmund apenas soltou um grunhido e virou a cabeça para ouvir melhor. Ele não era grande, nem perto do Gigante Hodrik; mas seu ar era ameaçador. Ele tinha músculos, isso se podia ver. – Você não foi ordenado que não falasse comigo.

— Quieto. – Sua voz era grossa. A simples resposta irritou Ymir.

— Qual o seu problema? Porque não fala comigo? A viagem ficará mais suportável se conversarmos ou...

Sir Edmund parou o cavalo. – Não gosto de seus truques, mago. Não tente me hipnotizar ou algo do tipo. Minha missão é simples, levá-lo até esse Wiz Skoll e já posso voltar.

Ele tem medo da minha magia, compreendeu de súbito Ymir. Existia muitas pessoas assim em Nova Midgard. Foi o rei Sigurd Olaf, no começo de seu reinado, que permitiu que os magos se instalassem no Palácio que viraria sua casa. Existia preconceitos e muitos não aceitavam a magia, se recusavam a acreditar nela ou pior, achavam que os magos eram servos do mal. Magos eram poucos e viviam se escondendo por Nova Midgard, até que Sigurd Olaf os aceitou como povo igual aos outros. Mas, ainda assim, muitas famílias se recusavam a aceitar a magia. O Jovem Rei é muito esperto. Porque ele mandaria alguém assim para escoltá-lo? Pois Sir Edmund deveria lidar com seu preconceito para crescer como pessoa e cavaleiro.

— Já entendi, Sir. Prometo que não irei causar-lhe nenhum mal. – Disse o aprendiz com calma.

— Minha espada pode facilmente degolá-lo, mas recebi ordens e pretendo cumprí-las.

Cavalgaram até quase o anoitecer, quando pararam em uma estalagem para descansar. Não faltava muito para chegarem na entrada do castelo subterraneo, onde Wiz Skoll treinava seus aprendizes. A viagem até ali fora cansativa e entediante, como Ymir previra. Sir Edmund quase nunca falava, nem ao comer, quando os dois estavam sozinhos. O aprendiz de mago tentara conversar com o Cavaleiro novamente, mas sem sucesso. Estavam se preparando para sair quando um servo da estalagem derrubou uma lanterna por descuido.  A chama da lanterna se espalhou, para a surpresa de todos.

— Droga! – Gritou o estalajandeiro. – Imbecil! O clima está seco e as madeiras não são tão resistentes, isso vai se espalhar rapidamente! – Ele e mais algumas pessoas correram até a cozinha e começaram a jogar agua no fogo, sem sucesso.

— Não vai adiantar. – Disse Sir Edmund. Ymir concordava com ele. Outras pessoas tentavam usar toalhas para impedir o avanço do fogo, mas também era sem sucesso. A fumaça também começava a se espalhar. – Vamos embora. – Disse o Cavaleiro.

— O que? – Disse Ymir, surpreso.

— Eu tenho uma missão, e quero terminar o mais rapido possivel para voltar pra Cidade do Rei.

— Só pode estar de brincadeira. – Ymir correu e virou uma mesa perto do fogo. – Escutem! Parem e escutem!

— O que está fazendo?!– Escutou a voz do Cavaleiro.

— Eu vou salvá-los! Vou botar o fogo em um só ponto, joguem a água lá! – Ymir sentia os olhares desconfiados, mas esperou que ouvissem. Ele correu para o canto onde começou o pequeno incêndio, derrubou uma mesa retângular e se abaixou atrás dela.

Esvaziou sua mente e concentrou-se no fogo. Tentou controlar o que estava fazendo, pensou nos ensinamentos que estariam por vir, e pensou no que teria que enfrentar por vir. O fogo moveu-se e se compactou em uma bola pulsante de fogo. Não havia muito, mas deixá-lo todo em um só lugar, sem queimar as coisas em volta, era dificil, e Ymir não tinha certeza se aquilo ia funcionar.

— Agora! – Gritou.

Para sua surpresa, o primeiro a jogar água foi Sir Edmund. Era uma grande bacia. Outros jogaram água, e Ymir podia ver que usavam qualquer coisa que achavam, incluindo panelas e xícaras. O fogo foi se apagando até ficar um pequeno foco que continuava a queimar. Só tenho que empurrar a mesa para apagar o fogo, pensou. Mas sua cabeça doía e ele hesitou. Viu um pé empurrar a mesa e apagar o fogo. Era Sir Edmund. Ymir olhou em volta, haviam brasas por toda parte. Vão ter que reconstruir uma boa parte da estalagem, mas não vai ruir. Ouviu o som de uma espada sendo desembainhada.

— Garoto. – Ouviu o Cavaleiro, se virou e o viu com espada em punho. – Não sou só eu que não gosto de você.

Em frente a ele, três homens empunhavam armas e olhavam com raiva.

— É um bruxo! – Gritou um dos homens, que portava um pequeno machado de cortar lenha. Outro estava com uma faca e o terceiro com uma espada longa, que não parecia apenas um aldeão comum. Também usava uma cota de malha cinza.

— Vamos matá-lo, ou ele vai nos destruir. – Disse o terceiro. Ymir ouviu a voz de uma mulher defendê-lo, mais atrás, e outras vozes concordando com ele.

— Deve ter sido ele que causou o incêndio para começar só para ganhar nossa confiança! – Disse um dos homens armados. – Não fique no nosso caminho, Cavaleiro Real!

— Vai ajudá-los, Sir? – Perguntou Ymir, irônico.

— Não seja idiota. Tenho uma missão a cumprir, e vou deixar essa passar, pois você salvou a estalagem.

Os homens avançaram. Sir Edmund desviou do machado e atacou o homem com a faca. Rapidamente o liquidou, e afastou um golpe de espada na hora certa. Sua espada cortou o ar, em direção a têmpora do inimigo, que defendeu-se com a própria. O inimigo com o machado tentou atacá-lo por trás, mas Sir Edmund foi mais rápido, cortando a mão do inimigo e o chutando, virando-se a tempo de defender os avanços do homem com a cota de malha. O inimgio pressionava, mas Edmund bloqueava todos os ataques. Foi quando Ymir avistou o perigo. O homem com a mão decepada pegou a faca no chão com a outra e atacou o Sir. Pensando rapidamente e movendo  seu dedo em forma de gancho, Ymir usou o vento para puxá-lo e o derrubar. Sir Edmund ouviu o inimgio cair e fincou rapidamente sua espada no coração dele. Voltando para a luta com o terceiro, Sir Edmund o cortou na coxa direita, mas abaixou a guarda quando um aldeão atirou uma pedra em sua direção. O inimigo também o atingiu, abrindo um corte em sua barriga. Edmund cerrou os olhos e acertou com o cabo da espada sua cabeça. O homem tonteou e Sir Edmund o matou, cortando sua garganta. O cavaleiro sangrava. Ymir levantou-se com dificuldade e correu até ele.

— Água, alguém!

— O que vai fazer? Não use sua magia em mim! – Falou o homem, nervoso.

— Alguém aqui sabe custurar um ferimento? – Perguntou Ymir, ignorando os protestos do Sir.

— Eu – Disse um homem.

— Meu Rei? É você? – Sir Edmund parecia estar delirando, mas quando olhou, Ymir percebeu que o homem era muito parecido com a descrição que ouvira do antigo rei, Tyr Berthold.

— Bem, eu vou usar a água para limpar o ferimento, custure-o por favor. – Disse Ymir, ignorando a aparência do homem por um momento.

— Certo.

Ymir acalmou-se e concentrou-se na tranquilidade do Palácio, no sorriso de Irpa, na alegria que sentia jogando xadrez com o Jovem Rei. A água fluía facilmente. Concentrou no ferimento e o começou a limpar. Sir Edmund soltou grunhidos de negação, ou talvez dor, Ymir não sabia. Mas ele não se importava, iria salvá-lo.

— Pode começar. – Falou.


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Notas finais do capítulo

Sempre haverão preconceitos, o que podemos fazer é tentar lidar do melhor jeito possível, e pensar se nós mesmos não estaríamos agindo dessa maneira com pessoas do próprio cotidiano. Era isso o que o Jovem Rei queria fazer com Sir Edmund, dando a ele essa missão.


"O mensageiro chegou apressado. Era o mesmo mensageiro que contou sobre o desertor, Wotan Gerhadt. Siegfried o reconheceria de longe. Certa vez li em um livro a frase “Asas escuras, palavras escuras”, pensou o Jovem Rei, lembrando-se dos corvos mensageiros."



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