♡ Capítulo 10

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A melodia aos poucos começava a ganhar forma. Notas, harmonia, o tempo certo, os dígitos nas devidas cordas e casas, e, claro, com a ajuda da palheta e do outro que estava ao seu lado... Tudo isso influenciava a sair alguma sinfonia dali.

Castiel, apesar de estar tocando violão, prestava total atenção no outro a sua frente. Nathaniel realmente era um cara inteligente, aprendia com facilidade as coisas. Não que ele estivesse tocando guitarra como o Jimi Hendrix, mas para quem teve apenas duas aulas e alguns estudos em casa, ele estava indo muito bem. Errava uma vez e outra na hora de trocar de nota, ou perdia o tempo certo e a melodia, mas nada que não desse para ‘concertar’ com o tempo.

Por um momento, até pensou ter visto uma luz no fim do túnel. Talvez tivessem alguma chance de não perder a apresentação do próximo sábado! Isso até o animou. Era como se Nath fosse a luz no final do seu túnel, iluminando tudo com a luz da esperança que ainda lhe restava.

Credo, que gay!

Nunca pensou que depositaria todas as suas chances em Nathaniel. Essa vida realmente dava voltas; hoje entendia o real significado da frase “nunca diga nunca”. Era uma verdade universal, sem dúvidas!

Cas decidiu parar de embromar e ensinar apenas o que ele precisava saber para sábado. Já havia ensinado o básico sobre notas e acordes, então agora estavam treinando as músicas que tocariam na apresentação. Iniciaram o treino com as músicas que não eram da autoria de Lysandre, pegando as cifras na internet e mostrando para ele tudo bem certinho, ensinando como ler uma cifra e tudo mais.

Lysandre e Castiel haviam decidido que tocariam apenas duas músicas da autoria deles, o restante seria apenas melodias regravadas. O lado bom disso, neste momento, é que as músicas escolhidas eram bem fáceis. O lado ruim é que tinha algumas que Castiel não curtia (sério; quem curte My Cheminal Romance? Essa banda é tão gay e sem graça; mas como tocariam para uma galera de pub, sabiam que esse pessoal adorava músicas de amor mal resolvido!).

When you go [Quando você partir]

Would you even turn to say [Você se viraria para dizer?]

''I don't love you ["Eu não te amo]

Like I did [Como eu amei]

Yesterday'' [Ontem"]

Castiel, particularmente, não gostava daquela música. Não apenas por causa da letra melancólica e emotiva demais, mas porque aquele tipo de banda e aquele estilo de música realmente não condiziam com seu gosto particular. Entretanto... Por algum motivo estava sendo agradável ensinar o outro a tocá-la, por mais que Nathaniel pecasse vez ou outra na hora de trocar de nota.

– Algum problema? - O ruivo perguntou ao erguer a cabeça, deixando de fitar as cordas da guitarra para mirar os orbes dourados.

– Eu não acho que você tenha ido ruim na prova de álgebra. - Comentou quase que 'do nada'.

Nathaniel ergueu uma sobrancelha negra, não entendendo o porquê daquele comentário aleatório. Ainda mais no meio de mais uma aula de música.

– O professor de álgebra veio falar comigo. Ou melhor, com você! E... Droga, você acha mesmo que foi ruim por tirar uma droga de um oito e meio?!

O ruivo abriu os lábios para falar alguma coisa, mas nada, nenhuma palavra veio até si. Estava sem resposta.

– Eu não entendo essa droga de fixação por notas altas! – Disse levemente irritado. Nem sabia o motivo de estar falando aquilo, nem era da sua conta, mas sentia uma vontade enorme de falar aquilo. De expor que um oito e meio não era uma nota baixa, e que ele não precisava daquele desespero todo! Não precisava!

– E-eu... – O outro tentou responder, respirando fundo. Por que Castiel simplesmente não ignorava aquele fato? – Eu só quero melhorar um pouco, Castiel. Só isso. E o professor que é um pouco exagerado também... Não ligue para isso. – Sorriu sem jeito, buscando encerrar o assunto e mostrar que estava tudo bem.

Mas não estava tudo bem.

Fazia muito tempo que não estava tudo bem.

– Que seja! – Deu de ombros. – Mas, e quanto às provas? O que faremos? Ainda não falamos sobre isso.

Nathaniel ficou ainda mais surpreso com aquela pergunta. Não imaginava que Castiel estaria disposto a se preocupar quanto àquilo. Certo estava o ajudando em relação á guitarra, mas... Bem, mas Castiel era bem egoísta e egocêntrico. Não imaginou que ele fosse se preocupar com as provas. Coçou a nuca, levemente sem ação por alguns segundos, até conseguir enfim respondê-lo:

– Eu pensei em eu fazer a prova por mim e você por você mesmo. Afinal, nós ainda escrevemos com nossa própria letra, não vai ser difícil. Na hora de entregarmos a prova o professor nunca observa nada mesmo, basta deixar a prova sobre a mesa dele e sair. Então... Acho que não precisamos nos preocupar com isso. Basta assinar a prova com seu nome.

É, aquela ideia poderia dar certo.

– Hm, entendi. – Murmurou o loiro, voltando á olhar para o violão e tocar novamente no ritmo da música que estavam tocando á minutos atrás. Tinham uma apresentação para o próximo sábado, nem deveria ficar ali perdendo tempo.

Não deveria perguntar e dizer aquelas coisas.

Não deveria se importar com Nathaniel.

Não deveria. Não podia. Mas estava.

Tudo isso porque estava no corpo dele. Apenas por isso.

– Obrigado por se preocupar. – Nath falou num tom baixinho de voz, ainda fitando as cordas da guitarra e voltando a dedilhar novamente o objeto. – Ou melhor... Por perguntar. Porque, afinal, você não está preocupado com isso, claro. – Tratou de corrigir-se antes de ganhar uma piadinha infame de Castiel como resposta, rindo consigo mesmo daquela sua fala patética e desnecessária.

– Claro que eu não me preocuparia. – Castiel devolveu a mesma risada sem sal, voltando mais uma vez ao ensaio, buscando não se envolver naquele assunto e não falar mais nada.

E assim, resolveram passar o resto da tarde tocando guitarra e violão, sem mencionar qualquer outro assunto. Afinal, Nathaniel não dava aberturas para falar sobre o porquê daquela fixação toda, e Castiel já não estava mais a fim de perguntar e falar mais nada.

♡ ♥

A cada momento ficava mais complicada aquela vivência com Nathaniel. Castiel sentia-se levemente perdido, já que ainda detestava com todas as suas forças aquele loiro certinho, entretanto, diante daquela situação começava a se perguntar algumas coisas quanto á ele.

O problema é que isso fazia com que Castiel se sentisse um babaca.

Porra, qual a necessidade daquela pergunta sobre as notas, justamente na hora do ensaio? Por que aquele assunto estava martelando com tanta força a sua cabeça?

Naquele instante, o loiro estava deitado na cama do quarto (como sempre, com a desculpa de “vou estudar”). Virou um pouco o rosto e fitou aquela mesinha de estudos, cheias de livros, papeis e anotações. Realmente conseguia ver a imagem dele sentado ali, durante horas e horas estudando. Castiel levantou-se e andou até ali, observando sem muito interesse os papeis espalhados em cima da mesinha. Exercícios, livros, anotações...

Bufou com toda aquela monotonia que deveria ser a vida do loiro. Ainda estava se sentindo meio cansado do ensaio, então não teve saco para xeretar aqueles papeis, nos quais Castiel tinha a certeza absoluta que era apenas coisas do colégio. Em seguida voltou o olhar para a mochila, na qual o loiro havia jogado pelo chão logo quando chegou, andando até a mesma e pegando o seu entretenimento de mais cedo. O celular de Nathaniel.

Foda-se. Iria stalkea-lo sim, sua curiosidade era muito maior que seu bom senso.

Não tardou para ir até o aplicativo de mensagens e procurar pela conversa com o tal Davi. Davi. Só em pensar nesse nome Castiel já fazia uma careta de desagrado. Definitivamente não havia ido com a cara dele. Sequer o conhecia, e estava muito curioso para saber de onde Nathaniel conhecia aquele sujeito, já que ele aparentemente não tinha vida fora da Sweet Amoris e da cozinha de sua casa.

Davi:
Nath, você foi incrível ontem! (12:04)

Nathaniel:

Exagero seu, Davi, haha! Mas obrigado! Você também se saiu muito bem no treino. (12:06✓✓)

Davi:
Eu sempre tenho tempo para treinar, você sabe! Mas você é sempre bom, mesmo dizendo que treina apenas por lá na academia. (12:06)

Nathaniel:

Obrigado mesmo, hahaha! Mas ainda acho que você é bem melhor. Na verdade acho que preciso treinar mais um bocado até chegar ao seu nível, rs. (12:06✓✓)

Davi:
Sinceramente, acho que você já está do meu nível, por mais que eu treine boxe á mais tempo. Sério mesmo, você está se saindo muito bem e deveria pensar mais nisso profissionalmente. (12:07)

Nathaniel:

Boxe profissionalmente? Ah não, não! (12:07✓✓)

Quer dizer, eu acho um esporte muito bom, realmente bom mesmo! Me tira o estresse e me ajuda a pensar melhor! Mas não nasci para seguir o boxe como uma carreira (12:07✓✓)

Davi:
Bom, se é só como esporte de boa, mas eu realmente te acho muito bom nisso. (12:08)

Na verdade, não sei se tenha alguma coisa que você não seja bom, rs. (12:08)

É inteligente, um dos melhores alunos do seu colégio, bonito... Você realmente nasceu com sorte, Nath! rs (12:08)

Nathaniel:

Você está exagerando, Davi. Eu não sou isso tudo rsrs (12:08✓✓)

Bem, tenho que voltar para os estudos aqui. Em falar nisso, até me dei mal em uma matéria, acho que vou ficar algumas semanas distante da academia (12:09✓✓)

Manda abraço pro pessoal, depois eu te vejo ou te chamo :)(12:09✓✓)

O que? Boxe? Mas que porra de conversa era aquela?!

Que conversa mais cheia de mimimi! “Nath, você é incrível, bla bla bla”. Ah, foda-se! Que cara mais baba-ovo, puta que pariu! Se a conversa não fosse com o representante, acharia que aquele mané estaria cantando ele. Mas que porra!!! O pior é que o representante era super atencioso com ele. Até mandava carinhas e emoticons pela conversa!

Subiu mais um pouco o histórico da conversa, notando que eles falavam bastante sobre boxe e algumas outras coisas, mas no geral, ou o assunto era boxe, ou era com o babaca elogiando Nathaniel.

Credo, esse cara até disse que ele era bonito!

Puta que pariu, em que mundo esse cara vive para achar o representante bonito?!

E desde quando Nathaniel praticava boxe?! Ainda estava custando á acreditar naquilo! Mas, o pior de tudo, é que o tal babaca parecia conhecer bem o loiro quanto ao esporte, eles conversavam bastante sobre aquilo.

Era como se Castiel não soubesse quase nada sobre Nathaniel.

E ele realmente não sabia quase nada.

♡ ♥

Depois de trocar a água e dar ração para Dragon, Nathaniel resolveu praticar mais um pouco o instrumento antes de estudar mais para a prova de segunda feira e ir dormir. Aos poucos a música saia cada vez melhor. Pouco á pouco a melodia ia se encaixando no ritmo certo, no momento certo.

O ruivo sorriu com isso. Nunca imaginou que fosse tão divertido assim aprender a tocar um instrumento de cordas. Castiel tinha um pouco de sorte em poder ter momentos assim na sua vida...

Não que estivesse com inveja do delinquente, claro que não! Mas... Por um momento, até notou que ele tinha momentos relativamente bons consigo mesmo. Ele poderia ensaiar o tanto que ele quisesse. Poderia dedicar seu tempo naquilo que gostava. Era realmente agradável isso. Até se perguntou se Castiel fazia muito isso, passava horas e horas ensaiando e tocando guitarra.

Vai ver era até por isso que ele chegava tão tarde na escola, deveria ir dormir tarde, praticando. Não que isso fosse uma desculpa, claro! Nath passava horas da madrugada estudando ou lendo, e conseguia chegar cedo!

Mas... bem, isso era uma bela de uma justificativa para suas notas. O talento dele era outro completamente do seu. Enquanto o loiro era bom com as matérias e os estudos, o ruivo era um exímio na guitarra. Por um momento Nath até começou a ver que Cas tinha algum talento, algum... Ponto positivo. É. Por mais estranho que fosse admitir isso, Castiel tinha um (pequeno e quase invisível) ponto positivo.

Mordeu o lábio inferior ao pensar nisso e quase arrebentou uma corda. Por que diabos estava pensando tanto nisso? Era tão estranho... Por estar vivendo a vida de seu maior rival, era mesmo difícil parar de pensar nele. Afinal, tinha que ser ele agora, literalmente falando. E, pela primeira vez na vida, via algo além da carranca e acidez do ruivo.

Suspirou pesadamente e tirou a guitarra de seu colo, desligando a caixa de som na qual a mesma estava conectada. Havia passado tempo demais naquilo, deveria parar de pensar na vida alheia e voltar para a sua realidade. Na segunda teriam uma prova de álgebra e Nathaniel sabia que não podia vacilar! Logo guardou a guitarra e procurou pelos livros de Castiel (nos quais tinha guardado com mais cuidado ao limpar o quarto do ruivo, tirando-os debaixo da cama e guardando-os). Entretanto, quando sentou-se na cama e começou a abrir os livros, ouviu a campainha e aquilo tirou sua atenção.

Que estranho, que pode ser á essa hora na casa de Castiel? – Pensou consigo mesmo e levantou-se, andando até a sala e fitando pelo visor da porta que tinha para o lado de fora quem era a tal visita.

Não... Essa não. Sério mesmo?!

Nathaniel ficou quase um minuto paralisado no lugar, quase petrificado, sem ação. Escutou mais várias vezes a campainha tocar e só depois de vários segundos que voltou para si e resolveu abrir a porta. Até porque tinha que abrir, não poderia deixá-los do lado de fora...

– Filho! – Valérie gritou ao ver o mais novo, quando o mesmo abriu a porta, sorrindo de orelha á orelha e dando um abraço de urso no mesmo. – Que saudades! Viemos te visitar, gostou da surpresa?! – A ruiva falou eufórica, quase sufocando o seu “filho”. Ela estava acompanhada de Louis, que também deixava transparecer um sorriso caloroso.

E Nathaniel continuava quase como uma estátua em meio ao abraço sufocador da ruiva. Afinal... Como deveria agir diante dos pais de Castiel?

Continua...